sexta-feira, 16 de maio de 2014

As penitências do milenário.





Não querendo ser apontado como supersticioso, mas não fugindo de um assunto que é um fato histórico comprovável, faço notar que, por coincidência, ou não, a cada novo século que se inicia, começando um pouquinho antes ou um pouquinho depois do ano um do século novo, mas sempre à volta desta ocorrência, alterando o decorrer dos novos tempos que se contam a partir daí, acontecem  mudanças, que põem tudo de forma radicalmente diferente de como era dantes: Em toda mudança de século há modificações fortes do 'status quo' da humanidade, é um fato, uma coincidência comprovável.

Porque assim é ninguém o sabe, mas o fato é que é assim. Vejam do XVIII para o XIX a revolução francesa e o fenômeno napoleônico que alteraram totalmente as coisas como eram dantes, inaugurando profundas e decisivas mudanças. Do século XV para o século XVI  foram as grandes descobertas, e assim por diante, com maior ou menor repercussão, há alterações a cada virada de século que se registram como sendo períodos de profundas mudanças. É, para dizer o mínimo, curiosa a ocorrência.

Todos os calendários começam a contar a partir de um evento importante, assim é com o Jalali, a hégira ou o nosso gregoriano, e isto, por escolha ou por deferência, é compreensível que seja assim. Está-se a começar a contar o tempo, e, este deve ser contado a partir de um ponto relevante, é a partir de uma referência marcante e memorável que se o deve contar, como é lógico. O que é muito curioso é que hajam ocorrências fortes sempre por volta do começo dos séculos. As há também em outras datas, como a Revolução industrial que é da metade do XVIII (a 1ª), as coisas acontecem quando acontecem, não escolhem hora, quero acreditar. Mas o curioso é que hajam, sempre com importância, as seculares.

Assim sendo era de se esperar que as milenárias fossem, então, mais determinantes ainda, mais esparsas e distantes que são. Pois é, não sabemos porque razão, mas assim se estão verificando. Aspenitências do primeiro para o segundo milênio, até pela estupidez reinante e suas tolas expectativas, além da morte de Éric o Vermelho, e da primeira descoberta da América (Vinland) foram uma decorrência das crenças do fim do mundo, levadas a ação pela burrice generalizada, levando muita gente à morte. Não sei se no oriente tudo isto se verifica, mas por lá conta-se o tempo em outras datas, a partir e a resaliar-se.

Agora nesta virada do segundo para o terceiro milênio em nossa contagem, verificaram-se como maldição estas ocorrências. A reensenada volta do fim do mundo não foi catastrófica como a anterior, porque, se por um lado graças ao calendário Maia foi esperada para mais tarde (2012) que mesmo para o 2001, e, por outro, a incerteza se seria, ou houvera sido, no 2000 ajudaram a desconcentrar a estupidez, bem como ainda, por um outro lado, a maior ilustração das populações em geral contribuiu, livrando o mundo de  trágicas situações por ajuntamentos com mortandade, como na passagem ao final do primeiro  milenário para o segundo. O de que não nos livrou esta, do segundo para o terceiro, foi da ganância humana que provocou a maior crise de sempre, escalonada em três fases. 1ª a do sub-prime. 2ª a das dívidas soberanas. 3ª a da incompetência de lidar com as duas anteriores, a crise da estupidez como eu a chamo (1998, 2002 e 2008 e depois, respectivamente) (*).

Já lá vão 14 anos deste terceiro milênio desde que o começamos a contar, e soltaram-se os quatro cavaleiros do apocalipse com fúria inaudita, e tem-nos aflingido com situações de fome, miséria, falências de pessoas, empresas, cidades e mesmo países, desemprego, bancarrotas, convulsões, inadimplências, faltas de perspectivas econômicas, falta de lideranças, mudanças dos paradigmas existenciais, alterações climáticas profundas, trânsito econômico, deslocando os eixos da economia mundial de Norte/Sul para Leste/Oeste, surgimento de novos ditadores, guerras, insatisfação popular crescente, crimes contra a humanidade, abandono e menosprezo das pessoas à todos os níveis, locais, nacionais e mundiais, tantos nos microcosmos da família ou na rua onde se mora, até o planeta em sua globalidade, havendo enormes migrações, torturas, terrorismos, pestes propagadas por vários organismos e circunstâncias, e mais guerras, e com estas o quarto cavaleiro, em seu cavalo amarelo descorado, começa sua cavalgada mais efetiva. Parece que vivemos um tempo apenas de penitências e expiações.

Nota-se que há uma insatisfação por toda parte, que se manifesta das mais diversas e estranhas formas, desde as primaveras árabes à manifestações de tomada de consciência, como no Brasil, e ainda em outras políticas de confronto como na Venezuela e na China, e em centenas de atos públicos isolados, milhares de atos de grupos de diversos matizes que se formam espontaneamente, e milhões de atos individuais, numa exponencial revolta de sentimentos, percepções e ações políticas  que ocorrem cada vez mais frequentemente. Com tomadas de consciência inesperadas, ab-reptíciamente manifestas nestas cavalgadas loucas, surgidas de forma dolorosa, como a querer expiar culpas generalizadas. Penso que vivemos mesmo um tempo de penitências: As penitências do milenário.

(*) O que  devo ressaltar é que em tempos como este sempre surgiram falsos profetas, apocalípticos muitos deles, como depois da crise de 1929 surgiu um Hitler, após a Revolução francesa surgiu um Napoleão... Devemos estar atentos! 
















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