terça-feira, 20 de maio de 2014

" E o sertão vai virar mar e o mar vai virar sertão"





Há ritmos da vida que são longos o bastante para demorar muito a nossa percepção deles. Muitas gerações foram necessárias, por exemplo, para se notar a periodicidade dos ciclos das manchas solares diferenciados durante o máximo e o mínimo solar estabelecendo o ciclo solar que é um fenômemo com uma intermitência de onze anos. O que significa que mesmo alguém que começasse a observar o fenômeno menino e tivesse uma vida muitíssimo longa, não teria chance de o observar mais que sete vezes, portanto a ciência precisou contar com muita gente, durante muitos séculos, desde que Galileu registrou pimeiramente a ocorrência. Há vários outros fenômenos cuja periodicidade é mais alargada ainda, como a passagem de alguns cometas, muitos dos quais nunca serão observados, por mais que viva o observador, duas vezes, ou até mesmo uma, dependendo da época em que este nascer.

A mudaça na inclinação do eixo da Terra é um desses fenômenos de ciclo muito longo, sendo que o ciclo completo dura 25.868 anos, portanto muito pouco observável. Dos muitos movimentos que faz a Terra, na sua ação vital como qualquer ser vivo, observamos quatro bem  definidos, posto que cíclicos: a rotação que é o que faz ao redor de si mesma e demora um dia, 24 horas, e define os dias e as noites, a translação que é o que faz em redor do Sol e demora 365 dias e um quarto de dia,  uma ano, a nutação que faz por ação da Lua e demora 18,6 anos, e a revolução que faz com todo o sistema em relação ao centro da Via Láctea, que demora doze eras astronõmicas, cada uma era de um signo do zodíaco durando 2.155,75 anos, demorando no total os 25.868 anos da precessão dos equinócios, onde o norte vira sul e volta outra vez a ser norte, completando o ciclo.

Assim a inclinação do eixo da Terra altera-se ao longo deste período, alterando o magnetismo e o clima do planeta, numa escala limitada como estimou o astrônomo Milutin Milakowitch (1879/1958) variando entre os 22,1º e os 24,5º de inclinação, o que altera muita coisa no planeta, entre elas a fisionomia das regiões e sua cobertura florestal determinada pelo clima. Agora entre os outros muitos movimentos não cíclicos a que a Terra está sujeita, recentemente tivemos duas ocorrências exponenciais que encurtaram a duração do dia e, consequentemente, aumentaram a duração da noite, já que alteraram a inclinação do eixo da Terra em cerca de oito centímetros que foram os sismos do Chile de 2010 e o sismo do Nordeste do Japão de 2011.


A maior temperatura de sempre registrada na Groenlândia, 25,9ºC, em 30 de Julho de 2013, é um de muitos indícios de que o clima está mudando, junto com ele fenômenos como os do aquecimento dos oceanos, El Ninho e La Ninha transloucados, o degêlo dos glaciares por todo o mundo, visitei vários na Noruega e é progressivo, criando um ciclo vicioso, quanto menos gêlo, menos branco sobre o planeta, maior absorção de calor, mais calor, menos gêlo, menos gêlo, mais absorção de calor. Todos estes indicativos dizem-nos que o clima está mudando já com alguma rapidez, e que levará com ele a resposta ambiental condizente. Cada clima determina um tipo de ambiente, um tipo de vegetação, um tipo de relação com o meio, que sendo frutos desta determinante imperiosa, molda o espaço do planeta onde se situa. Assim acontecerão coisas curiosas, algumas já estão acontecendo, os animais serão outros, na terrra e nos mares, nos ares também, as plantas serão outras, e, é evidente, a nossa relação com este ambiente será outra inevitavelmente. Um exemplo para que meus leitores portuqueses entendam, o Aléntejo que é uma zona temperada passará a tropical, com uma  feição sub sahariana. A vegetação dos sistemas dunares alentejanos irá aos poucos se modificando, as fitocenoses desenvolvidas se dissiparão diminuindo a sua variedade, espécies psamófitas prevalecerão, provavelmente a maioria ou a totalidade dos rios desaparecerão, deslocando as populações para o resto do país. As cegonhas brancas já se anteciparam e podem servistas já em trás-os-montes. O recurso aos lençóis hertezianos será a primeira reação humana, com custos e alterações de hábitos. O turismo talvez encontre soluções com uma abrangência reduzida, no entanto  mais atrativa com as águas costeiras mais quentes, algo assim como as regiões costeiras turísticas do Egito. Cito este exemplo porque a movimentação climática vai seguir esta direção. No Brasil se dará um deslocamento do polígono das secas desertificando outra regiões mais a sul, com o nordeste de Minas Gerais se tornando mais árido e com esta aridez se deslocando mais para sul. Paracatu e Unaí tornar-se-ão mais próximas em termos de vegetação. Já lá em cima mais à norte do polígono das secas, será como se o Maranhão e sua vegetação rica baixasse umas duas centenas de quilômetros nesta direção, transformando o tropical árido em temperado. O Piauí sofrerá enormes transformações, aumentando a pluviosidade, o Parnaíba terá mais água e poderá ganhar mais afluentes, o buritizal vai se espalhar no Estado, o polígno das secas vai desaparecer do Piauí.

Estes exemplos dão uma boa idéia do que se irá passar outra vez no planeta, pela primeira vez com ele habitado intensamente, modificando regiões e causando impactos difíceis de serem estimados. Na verdade não cumprir-se-á plenamente o prenunciado na música Sobradinho de Sá & Guarabyra, não é preciso sentir " medo que algum dia o mar também vire sertão" pela alteração da inclinação do eixo da Terra, talvez por outras razões ambientais sim, sobretudo a interferência do homem, cheguemos mesmo a isto um dia, mas este é um outro tema...



Leia sobre as alterações ambientais no mar em NEMOS NO MORE...aqui no blog O Olho do Ogre.



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