Quem viu as declarações do Papa à imprensa, ainda no avião, nesta viagem à Terra Santa, viu a cara do porta-voz do Vaticano, Frederico Lombardi, que apesar de moderno, mente aberta, provincial dos Jesuítas em Itália, homem que ficou quase 12 anos nas telecomunicações, mesmo assim fica assustado (imaginem os outros) impressionado com Francisco ter comparado a ação de quem age como pedófilo, desencaminhando uma criança que dele esperava o divino, ser uma missa negra, ou seja cultuar o demônio, entregar-se ao mal - a mim a comparação parece ótima -mas certamente causará escândalo nos meios eclesiais, porque a verdade nua e crua como a coloca Francisco, incomoda, fustiga, revoluciona, ilumina, e, ademais, confronta a califasia, a afetação e a hipocrisia dos meios da cúria e dos antecessores de Francisco no cargo, com muito poucas exceções. Francisco é mesmo um homem para o século XXI.
Volto a escrever sobre o Papa atual, eu o mais distante dos católicos que alguém pode ser, o mais incrédulo quanto aos sistemas e mais ainda do sistema que tem o encobrimento como única resposta possível em virtude da inimaculável imagem da Igreja católica, porque acredito no Papa Francisco, não por ser Papa, mas por ser Homem, como raramente costumam ser os que ocupam cargos cimeiros neste planetinha azul. Acredito em Fancisco pela sua verdade. Esta resposta da missa negra veio na sequência de outra em que entendia que o assunto do celibato é materia para ser discutida na Igreja, pois não é matéria de fé. Esta sua postura aberta o faz maior, é esta sua resolução de não fugir do mundo, como fizeram quase todos os papas, porque o mundo, esta obra de Deus, é, na verdade, seu último objetivo, e dirigir-se a ele, é não faltar a sua convocação nas matérias que o afligem, não se excusar por detrás da barreira forte e intransponível da coisa divina, é tansformar a coisa divina na coisa humana, posto que o divino ao humano se dirige, esta sua forma de estar é que o eleva a um nível que eu nunca vi em outro papa. A Igreja de Deus é para os homens e neles se realiza, já que quando duas ou mais pessoas se reúne em Seu nome, lá está Jesus, lá é a Igreja, lá está a Igreja, que dos homens não se deve esconder. Francisco não se esconde, e esta sua visita a Jerusalem, deu a prova provada disto. O significado em cada gesto seu espontâneo e verdadeiro, quase mundano, gestos quase mundanos, para que a sua espiritualidade seja plena e atinja seus objetivos. Grande Francisco!
Desde os lugares onde parou, como se dirigiu às pessoas, sua prova de amizade e afeto à todas as religiões, traduzindo-as nas suas amizades pessoais. Alguém já tinha visto um Papa com amigos, que o frequentassem? E, mais ainda, com amigos de outras religiões? Que beijasse mãos em vez de dar a sua a ser beijada? Não, só Francisco! Sou mesmo fã de carteirinha deste homem que Deus fez Papa em momento tão delicado como o que atravessa uma humanidade sem líderes, para mostrar que com verdade e sinceridade, sem califasia, sem afetação, sem presunção de ser um Rei, Príncipe entre os Príncipes da Igreja, mas o seu maior servidor, porque só quem vive para servir serve para viver, como diz a expressão popular, revelando que só o humano nos pode redimir e juntar. E nesta ideia de juntar está eclipsada a de rebanho perdido e disperso, o que nos leva à sua ação pastoral, que acredito deve ser a primeira e mais importante, sem a qual todas as outras ficam falhas e diminuidas, por não trazerem o cunho de verdade que tansforma todos e cada um dos seres humanos em alguém digno de respeito, o cunho do serviço.
Esta singularidade que se tornou Papa, porque a Igreja já não mais podia postergar a limpeza, a grande faxina da qual carece a Eclésia com profundidade, que até a data não teve ninguém com a coragem e independência para fazê-la, e que num momento grave de penúria e resignação, que levou à renúncia de seu antecessor, sem motivações ou caminhos alternativos, os cardeais viram-se constrangidos a eleger esta esperança, por não mais poderem esperar, por não mais poderem postergar os problemas que roem sua casa por dentro, esta singularidade é mais que só a solução encontrada, é também uma proposta de futuro, exatamente por ter a coragem de o ser, na plenitude do que ser, possa requerer de um homem enquanto ser humano. Lançaram todas as espectativa nesta alma, jogaram na possibilidade de haver neste homem as condições necessárias a tarefa, e acho que com a graça de Deus, acertaram em cheio: Habemus Papam!
Gaudium Maximun à parte, o homem por trás da figura do Bispo de Roma, sempre tão fulgurante, é o que me importa, porque, é bem verdade que coagido por dois atentados à sua vida, tendo sucedido um Papa que sabe-se o fim que teve, e que com a escolha de seu duplo nome, na sequência do antecessor tão breve, igual, queria demarcar que iria fazer a tarefa que a morte impediu ao primeiro João Paulo de realizar, é também verdade que paulatinamente em seu longuíssimo episcopado, foi subsituindo quase todo o consistório e o futuro conclave que a sua morte determinaria, abrindo, assim, outras possibilidades, como acabou por ocorrer, independente do interregno bentista, mas, além disto, não teve a coragem necessária para tocar nos pontos fundamentais como faz agora Francisco, sem temer atentados ou a morte que deles pode resultar. Por isto já pedi, e torno a fazê-lo: Orem por Francisco ! Porém, como disse, o Homem com as sandálias do pescador, para mim, é mais importante que as sandálias, é mais importante que ser o Bispo de Roma, pois que essa posição transcendental requer, antes, convições e atitudes que só um Homem forjado na decisão e na fé as terá, para merecer calçar estas sandálias. 'Carpe diem Franciscus'!
Francisco tem demonstrado efetivamente ser este Homem, por ser mais Homem que bispo, e Homem aqui é empregado no sentido de humano, no sentido de ter sintonia com a humanidade e de representá-la primeiramente com a noção inapartável da Eclésia, mas que esta só existe, porque existe humanidade. Ou seja, não há pastores sem rebanhos, e rebanhos em carne e ossos, não ideais, que numa acepção espiritual mereçam todas as preocupações e orações, mas na realidade do mundo não recebam as atenções e respostas esperadas da solidariedade, do amor, da caridade que revitaliza esperanças e, consequentemente, da fé. Sem ter ido a Lampeduza, sem orar pelos atingidos pelas guerras, em sua grande maioria não cristãos, sem denunciar a exclusão social, sem abjurar as faltas da sua Igreja, denunciando-as, sem, em Jerusalem, ter ido orar antes no muro da separação do que no do templo, sem estar presente nos temas fraturantes de nosso tempo indicando um caminho, sem ao falar de pedofilia, se ter lembrado de uma missa negra, Francisco não teria a dimensão que tem, congrassando a dimensão de homem, de lider e de pastor, sendo uma missa branca e luminosa contra as missas negras que escurecem nossas vidas.
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