sexta-feira, 28 de setembro de 2018

O torpe Mapplethorpe.





Pousada a fumaça e poeira que se levantaram em Serralves, nome icônico no mundo das artes em Portugal, podemos estabelecer um quadro mais nítido das ingerências em jogo ao redor das luzes e interesses que estiveram em discussão, motivadas pela virulência da exposição do fotógrafo homossexual norte-americano que morreu de SIDA, e tido como sensível no tratamento de temas controversos.

O que se revelou um fato foi que os temas de Mapplethorpe cumpriram mais uma vez seu desígnio, o de suscitar contestação e dúvidas, expressão pela qual se tornou conhecido o fotógrafo que morreu há 20 anos. Homossexual, teria uma sensibilidade especial para a matéria específica, a qual fotografava, dando visibilidade a uma temática mais reservada, sobretudo durante o período de vida do fotógrafo, e que depois foi ganhando as praças públicas sob a sigla LGBT, dando expressão às diferentes sensibilidades sexuais, deixando de ser uma condição pessoal, para passar a ser uma situação a dever ser reconhecida por todos como temática de interesse geral, uma vez suscitada.

E aí o busilis, tanto do assunto como das fotografias expostas em Serralves, porque trazem à baila assunto hermético, expondo à luz (no caso à luz captada pela câmara fotográfica) expressões que acredito não deveriam estar expostas em Serralves, e que por razões de disfuncionalidade gestora da Fundação, lá foram parar imagens que nunca deveriam lá ser expostas, face do público frequentador da mesma, e da necessidade imperiosa (atendida) de restringir a visibilidade das mesmas ao referido público que maioritariamente visita as exposições lá promovidas.

Faço só uma pergunta: Porque expor algo que nem todos podem ver?

E o verbo empregado em meu questionamento é o poder, não o dever,entendimento acolhido, uma vez que a própria fundação restringiu o acesso. E aqui devo informar ao Dr. Pacheco Pereira que restrição de acesso é uma forma de censura (ainda que concorde com ela) que poderia ser evitada, não fazendo semelhante exposição. Mas Serralves tem de ser moderna, Serralves tem de ser de ponta, e é verdade, e Serralves tem cumprido um papel único no cenário das artes em Portugal, trazendo o que há de mais arrojado, promovendo cultura, espalhando saber, criando educação, nada mais meritório pode haver, mas esta exposição era escusado. Tudo que se faz tem lugar próprio, e as imagens que traz o fotógrafo de especial sensibilidade, terá um público alvo que não são as crianças que frequentam em magotes de avultado número as salas da fundação tripeira.

Erraram todos. E, na fogueira que se acendeu, chamuscou-se a mais respeitável entidade de promoção das artes contemporâneas em Portugal, com muitos dignos nomes enfumaçados pela tisna grudenta que se levantou, e queimou-se de forma irrecuperável o curador da exposição, que surge como um metafórico ícone da trapalhada, mostrando vileza contra o pano de fundo da torpeza da sensibilidade do fotógrafo, não por abordar o tema, seu direito, mas por o crer universal.



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