segunda-feira, 3 de setembro de 2018

T R A G É D I A






Essa a única palavra a definir o que se passou. Eu não gosto de escrever à quente, gosto sempre de deixar passar algum tempo para que pouse a poeira, mas minha alma está amputada, e sinto que devo comentar essa desgraça.

O Brasil é um país com pouca história amealhada, porque ainda não completou dois séculos como nação, não pode dispensar nada, deveria estar comprando documentação dispersa para consolidar sua história.

       INCENDIOU-SE A QUINTA DA BOA VISTA.

Minha casa amada, prazer de minha infância e adolescência, presença constante na minha memória e formação. Morando em Niterói, ia lá praticamente todos os meses pelo menos um fim de semana, rever suas coleções, dar vazão à minha paixão, a tudo aquilo que eu sou hoje como biólogo, como pesquisador da história, como antiquário, e mesmo como pessoa, como cidadão. 20.000.000 de peças.  Insetos que não existem mais na Natureza, peixes, anfíbios, Cndários, moluscos, acordados, aves, mamíferos. Toda a fauna naquele edifício. As múmias egípcias, os registros históricos, eram o registro do começo da História do Brasil como Nação, séculos de trabalho de pesquisa, classificação e estudo. Em biologia é necessário possuir o exemplar da espécie para descreve-la, conhece-la e compara-la. Com esse trabalho se monta a imagem do mundo natural, e esse conhecimento é imprescindível para o futuro da humanidade, que terá cada vez mais que gerir o ambiente do planeta.

Lá estava a documentação de quando a Quinta era a sede do governo do Brasil, de Portugal, de Angola, de Moçambique, Cabo Verde, Timor etc... porque D. João VI lá vivia, era o palácio do rei, foi lá que começou a história do Brasil como nação, primeiro como reino unido, depois como nação independente. Tudo se perdeu. Foi uma imensa perda para o Brasil, uma enorme perda para Portugal, uma grande perda para o Mundo. Se alguém pode conceberr incendiar-se o British Museum, o Louvre, o Janelas Verdes, ou o Ermitage. É a suprema desgraça. É uma perda sem tamanho, sobretudo num país tão pobre de história. Nunca recuperará. A ciência brasileira está de luto. A pesquisa brasileira está amputada. A História brasileira viveu seu pior dia, não só a história em curso, como a arquivada. A museologia e a museografia vivem seu dia mais negro. A memória num país de pouca memória foi apagada num nível sem precedentes. O Brasil não podia ter permitido essa amputação ao planeta.

Quem ama o Brasil, a Natureza, e a Ciência sabe que daqui há séculos vai se falar desse incêndio que nunca podia ter acontecido. TRAGÉDIA MUNDIAL.

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