terça-feira, 4 de dezembro de 2018

China uma presença absoluta em nossos dias.







Dos mercados mundiais a China representa um quarto deles. Sendo 17% da população  mundial, e 15% do PIB mundial, e sendo o seu PIB per capita mais de oito vezes o mundial, tendo assim o maior PIB do Mundo, maior em 25% que o dos EEUU, maior do que todos os países da UE juntos, quem não olhar para China hoje em dia estará muito equivocado. Se eu tivesse vinte/trinta anos, estaria aprendendo chinês.

Muita gente ainda não se deu conta da dimensão da China a todos os níveis, não só a econômica. Não sabem que os EEUU perderam a primazia que vinha mantendo por décadas como a nação mais rica do mundo (PIB). E como a China não é uma economia endividada, e, além do mais abocanha todos os anos grande parte da economia de outros países numa política de investimentos a nível global que ninguém mais tem, sua expansão é imparável. O mundo corre o risco de ser propriedade chinesa, já sendo chinês, pois o mundo já é chinês no sentido de sua liderança e influência em todas as decisões que são tomadas, direta ou indiretamente, se são desse jeito, e não daquele, é por causa da China, e isso fica claro e mostra-se incontornável se analisarmos o impacto dos números que Vos dei no primeiro parágrafo.

Aonde isso nos leva?

Nos leva a uma distorção da realidade mundial como nunca antes foi vista, e a China calada, ou escondida atrás do sorriso do presidente Xi, vai comprando ao retalho nas horas difíceis dos outros países. Nos EEUU foi quando as grandes companhias estavam mal, comprou o patrimônio acionário da maioria delas, mais tarde a dívida americana atingiu um estoque tão grande que era difícil para os mercados suportarem, e a China entrou comprando, hoje está recebendo em juros dessa dívida boa parte da produção norte americana. Bem como, por outro lado, não distorceu sua própria economia com o re-investimento de tão enormes estoques de dinheiro nela, o que seria um enorme erro, pois a saturaria e desalinharia, entre outras coisas. Tudo isso somado, muito para além do enorme poder que representa ser 'dono' da dívida da maior economia do mundo, essa que entretanto a China ultrapassou em valores de produção, ainda que não o tenha feito em valores absolutos, pois conta para o efeito absoluto a pujança econômica de sua industria instalada, e a riqueza individual da população, que nos EEUU é muito maior, com o PIB per capita americano sendo sete vezes o chinês, mas apesar de tudo, o resultado chinês é o da maior potência econômica do mundo, que se consolidará como tal em duas décadas, e a China sabe muito bem disso, por isso quer afirmar sua penetração em todos os mercados.


Com a visita do presidente chinês a Portugal temos de colher as razões que trazem o homem mais poderoso do mundo ao pequeno Portugal, o que possa querer o gigante com o baixote. O território da China é 103 vezes o português, o PIB da China é 64 vezes o PIB português, a população da China é 139 vezes a população portuguesa, qualquer pequena vila chinesa, ou um bairro de Xangai, tem mais gente que Portugal inteiro, e isso traz uma grande lição, porque naquelas 64 vezes do PIB e 139 vezes da população está escondida a realidade mais importante que há para as nações, pois feita a divisão dos dois números temos o PIB per capita, onde Portugal é um grande vencedor. Pois ao dividirmos 64 por 139 temos bem menos de metade, e esta comparação é arrasadora, porque a China quer fazer de cada vila sua um Portugal. Ou seja quer mais que duplicar seu PIB, para atingir toda sua imensa população com a qualidade de vida dos portugueses, um feito que será muito difícil de conseguir, mas que é sua meta, e a China é  muito boa em metas. Sendo a única nação do planeta que tem um objetivo a nível global, e que o vem realizando com investimentos sucessivos pelo mundo fora, sempre em comodities, ou, mais que isso, em valores, mais do que em bens essenciais, coisas essenciais à vida (água, energia, distribuição, etc...). A China olha para um futuro longínquo. Não corre os 100 metros com barreiras, mas corre uma longa maratona que pretende ganhar, calmamente.


E o que vê a China?


Vê que suas possibilidades são imensas, assim como sabe que seus problemas são enormes, e que para os prevenir tem de agir com muita antecedência. Imaginem só a dimensão da distribuição de alimentos para dar de comer a todos os chineses todos os dias, escuso-me de dar o número de toneladas que têm de ser distribuídas, por que é tão esmagador que tenho medo de afligir meu leitor. Imensa como é, sabe que terá de importar cada vez mais de tudo, em especial alimentos, e que só pode importar mais, se exportar cada vez mais. E é isso que lhe traz a ideia de construir a nova rota da seda.


Uma lição de história.

Portugal é o pai da globalização. E a globalização era então trazer e levar mercadorias por rotas muito longas, por terra e por mar, a lugares muito longínquos, muito distantes entre si, e foi o que a China fez com sua rota da seda que atravessava meio mundo para chegar a Europa, e Portugal o fez com a carreira da Índia, com o comércio das especiarias, com a sua companhia das índias. Foi um prodígio no final do XV, passados cinco séculos de história, estamos confrontados com outra globalização: a instantânea, virtual, digital,  filha da tecnologia cibernética, e ainda outra, onde outras tecnologias permitem a proximidade física dos seres humanos com os vôos de avião, os enormes navios cargueiros, a abertura de rotas mais curtas, e o enorme potencial que se estabeleceu permitindo às pessoas poderem viajar.


Portugal para o mundo.

Dentro daquela necessidade chinesa de exportar, a China viu claramente que era necessário retomar a rota da seda, o histórico e milenar caminho de escoamento de suas mercadorias. E Portugal está na ponta deste caminho, e a sua suposta posição lateral ou excludente, passa destarte a ser central, e pode portanto ser a porta de entrada das mercadorias chinesas no Ocidente, dispondo para isso de um porto moderno e efetivo, Sines, que os chineses vêm como seu caminho preferencial. Quem leu o artigo que Xi Jinping fez publicar, e viu toda a panóplia de acordos (19) que pretende firmar com Portugal, entende perfeitamente que vêm na sequência dos enormes investimentos chineses no país, como uma estratégia de longo prazo, que colocou Portugal como o centro de maior investimento chinês no mundo por razões estratégicas apenas, sem considerar as componentes econômicas que o leva para o quinto lugar no universo dos investimentos chineses fora da China, então entende-se perfeitamente que a China tem um lugar especial para Portugal dentro desta sua estratégia global. Resta saber se Portugal aceitará o lugar. Creio que sim, pois nada nem ninguém poderá impedir a marcha da China.


Enfim o quinto império.

E nessa estratégia que a China tem passando  por Portugal, coloca-o novamente no centro do mundo, o que inclui outras capacidades portuguesas para e pelo mundo. Sua língua, um elo de união universal, presente em todos os continentes. Seu passado de proximidade e capacidade de lidar e entender-se bem com todos os países. Sua dimensão, que nunca o levará a pretender ser um opositor da China. Sua integração total em diversos mercados. Sua participação na UE, como membro. Sua penetração em África e nas Américas. Portugal é certamente um achado chinês, que, evidentemente, terá segundas escolhas, mas que vê em Portugal sua primeiríssima opção. E com isto, no novo mundo que virá, inexoravelmente virá, poderá com ele vir enfim o quinto império, numa posição acessória, é verdade, mas sem população nenhuma nação pode pretender a primazia, uma condição cimeira exige muita gente, e Portugal nunca teve tantas almas. Entretanto as almas lusitanas que custaram a carreira da Índia, a implantação do Brasil, a presença no Índico, ainda clamam por um império que as justifique plenamente.

Sem comentários:

Enviar um comentário