A sensação de asco generalizada pela exclusão dos «capitães» das comemorações do 25 de Abril na Assembleia da República portuguesa na passagem de seus quarenta anos, fez-se notar em todos os que foram questionados sobre a mesma. A não participação dos militares de Abril na comemoração de sua Revolução, imposta pelo desconforto do atual governo em conceder-lhes a palavra e de sua não aceitação em participar sem fazerem uso dela, é um reflexo da covardia e falta de inteireza de aceitar, em qualquer situação, críticas, e ouvi-las resignadamente, mais que tudo porque o Direito de discordar é da essência da democracia em seu exercício pleno.
Há mais de três semanas a propósito de uma foto que a Associação 25 de Abril pediu-me para constar da exposição que irá fazer comemorativa dos quarenta anos da sua revolução, comentava com uma pergunta : Será que irão comemorar o 25 de Abril sem os do 25 de Abril? a possível ausência dos militares nas comemorações oficiais da data da Revolução dos cravos. Terminava afirmando que, com a cara de pau do costume, iriam excluir os «capitães» para livrarem-se de ouvir as duras críticas que estes têm sobre a atual situação do país. Não deu outra, foram excluídos! Não sem um episódio agravante propiciado pela falta de elevação da atual presidente da instituição que recebe as comemorações. Tudo somado foi a patética exposição das chagas de comportamentos pouco democráticos e maniqueístas.
Pensei em comentar o final da história, com sua atitude, por todos os motivos deplorável, de terem optado pela exclusão. Havia fortes razões para tal artigo, como: 1. A Assembleia da República é a casa do povo e, consequentemente, o local onde comemorar a liberdade reconquistada por este povo. 2. Os que não podem faltar são, evidentemente, aqueles que propiciaram o que se comemorará. 3. Agrava a situação a força da data- 40 anos. 4. Aumenta a solenidade a presença dos que são os seus autores. 5. O ponderável de ser, a ultima oportunidade, quase certamente com suas faculdades plenas, de participação dos principais atores nas muitas e longas comemorações da data (Não estarão no centenário, estarão muito velhos no cinquentenário, se estiverem vivos, logo não poderiam faltar nestes quarenta anos.) a deplorar não estarem presentes por incompreensível. Recusei-me a comentar movido pela repulsa que me causou a decisão. Achei que a notícia por si mesma era suficientemente forte em causar a indignação geral, e que qualquer comentário seria excessivo.
O que ora faz-me pegar da pena é que este sentimento não era só meu, não é só meu. Todas as pessoas que perguntadas, de qualquer quadrante político, ou mesmo sem uma atividade política, ou, ainda, mesmo o cidadão anônimo, foram unânimes em demonstrar seu asco, sua repulsa, quem sabe seu desconsolo, ou, mais forte ainda, sua indignação, por esta decisão. Mesmo fugindo à resposta, até mesmo pela violência da mesma, ou que a mesma requer, sendo mister reprovar o governo e os partidos que o sustenta, seu asco, desta ou daquela forma, ficou patente, como, bem penso, não podia deixar de ser, exceção feita aos que não têm dignidade, e se permitem não ter sentido crítico frente a comportamento tão pequenino.
Uma vez confrontado com a inescusável obrigação de comentar a sensação que se generalizou em toda a sociedade portuguesa, que num crescendo vem patenteando o intolerável da exclusão dos «capitães» fico-me somente pelo registro, posto que a sensação que a todos nós invade é suficientemente eloquente para que devamos acrescentar seja lá o que for.
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