quarta-feira, 7 de janeiro de 2015

SEISACHTHEIA







Ninguém pode negar aos gregos sua condição de civilização muito desenvolvida, antes, bem antes, que os outros países ao redor do Mediterrâneo sequer tivessem História, exceção feita ao Egito.  Sendo um país multi-insular, desenvolveu em cada ilha uma realidade civilizacional, uma população e uma  ordem muito próprias, que todas juntas dão à Grécia uma riqueza muito difícil de ser igualada por qualquer outra civilização na História da humanidade, por isto os gregos têm uma noção muito particular de como devem funcionar as coisas, e creio que certamente todos temos muito o que aprender com eles.

Quando haviam os hektemorois, aqueles que haviam abdicado de seus Direitos, entregando suas terras, como nos conta Aristóteles, na intenção de pagar suas dívidas, passando a serem hektemorois, os servos ou escravos que cultivavam as suas próprias terras arrendadas em pagamento de dívidas para com os credores, que as possuíam e que mantinham os proprietários a cultivá-las em servidão, ficando com o benefício.

Em Atenas no século VI tendo alastrado a servidão e a escravidão face das dívidas contraídas, destruindo a sociedade ateniense, porque estes que se tornaram servos ou escravos perderam suas atividades econômicas, vindo, consequentemente, a desestruturar  a economia, acabando mesmo até por empobrecer os próprios credores, já que com o grande número de hektemorois que passou a haver, os consumidores quase deixaram de existir, e com isto a economia florescente de Atenas começou a morrer.

Se apercebendo que esta situação só se ia agravar se não fosse feita alguma coisa para acabar com a precariedade em que caíra a economia ateniense, Solón (c,638 - 558 a.C) um legislador, resolveu a questão com o perdão retroativo das dívidas, o que levaria a acabar com a situação dos hektemorois, e, com isto, deixando de existir como servos ou escravos, e voltando a ter uma função econômica, os milhares que dela estavam excluídos, regenerando deste modo a economia ateniense de então.

Corria o ano de 594 a.C, hoje, passados vinte e seis séculos, os gregos, outra vez hektemorois, penso quererem reeditar a Seisachtheia, como ficaram conhecidas as Leis que Solón lançou naquele longíncuo ano, para livrarem-se outra vez da situação de servidão na qual se encontram mergulhados, restabelecendo a sua casa, pois da casa se tratava, e os gregos chamavam assim às regras, por eles criadas, para gerir os desenvolvimentos das relações comerciais. A administração da casa (oikos (casa) nomia gestão) tem sua origem também na Grécia, o que outra vez revela a atenção e consciência dos gregos para com esta realidade, que hoje se encontra má outra vez, entretanto desarranjos econômicos sempre houve ao longo da História, como por exemplo o que se passou na Alemanha no final dos anos vinte do século passado, onde houve enorme perdão das dívidas alemães, o que permitiu a ascensão  de uma figura que também marcou a História, tendo retirado a Alemanha da triste situação em que se encontrava: Adolf Hitler.

Os gregos então, como agora, sabiam que são necessárias soluções criativas e ousadas para evitar a servidão, sendo muitas vezes alto o preço a pagar. Porém hoje a situação é muito diferente, havendo envolvimentos econômicos muito alargados, onde estão incluídos interesses muito contraditórios, não sendo suficiente uma vontade, mas sendo mister muitas. Vontades que entendam que matar a galinha pode permitir um banquete esta noite, mas evita haver ovos todas as manhãs. Hoje não basta um Solón, mas Solón é um dos sete sábios da Grécia pelo seu legado, que contém muito ensinamento, e que sempre vai a tempo de ser recuperado.





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