sábado, 17 de janeiro de 2015

Suplício de Tântalo.






Tão perto e ainda assim tão longe, é o dito popular para designar o que está ali à mão de semear e não conseguimos atingir. Assim está a solução dos problemas econômicos portugueses, tão perto e ainda assim tão longe. Tão perto parece porque, com a Troika tendo-se ido embora, abre-se uma nova perspectiva ao país, fazendo parecer que pode ser diferente do que tinha sido até aqui neste período de tutela dos três organismos que patrocinaram o resgate a Portugal. Tão longe porque a autonomia é uma ilusão, já que com esta avultada dívida não há nada que se possa fazer que livre os portugueses do arbítrio dos credores e das razões imperiosas de equilibrar uma economia que paga a volta de 5% de tudo que produz em juros. É calamitoso, para não dizer pior.

Este Rei da Frígia (ou da Lídia ardente?) nascido de um dos muitos abusos de Zeus, tendo este, do qual nasceu Tântalo, se dado com a princesa Plota, filha do Rei Himas, que sendo considerado filho do Rei Tmolo, herdou-lhe o trono. Não acreditando na omnisciência dos deuses, roubou-lhes os manjares, para testar-lhes, servindo-lhes a carne de seu próprio filho Pélope, descoberto e castigado foi lançado ao Tártaro (local onde o crime encontra seu castigo) num vale cheio de frutos e com fontes fresquíssimas, sendo castigado pelos deuses (para a causa há várias versões além do roubo do manjar) já o castigo era não poder nem comer nem beber. Quando ele se aproximava da água das fontes, esta secava, quando ele se aproximava dos frutos, estes fugiam-lhes. Por isto a expressão título refere-se a tudo aquilo que apesar de aparentemente próximo, não se consegue alcançar.

Enquanto não houver real autonomia Portugal estará sujeito ao suplício de Tântalo, porque ficando, como está,  perto de qualquer solução consistente, esta foge-lhe e fugir-lhe-á sempre porque industriados a pagar uma divida acima das suas possibilidades, não têm margem para cuidar de si, deixando de poderem se alimentar, a única situação que poderia livrar-lhes deste condição, fortalecendo-os para poderem trabalhar mais.. Por isto têm de deixar o Tártaro, porque não cometeram crime para sofrerem tal castigo, estão sujeitos sim a uma contra-ordenação, a uma multa que terão de pagar, mas mesmo o juiz mais intransigente vê-se na contingência de propiciar os meios ao devedor para que ele pague o que deve, oferecendo-lhe tempo e parcelamento, condições necessárias a cumprir, sem as quais, sabe o juiz, o incumprimento é certo. Como mortos e falidos não pagam dívidas, cumprir o pactuado, não é necessariamente cumprir como pactuado, prazos e condições sempre podem se adequar.

Qualquer juiz digno deste nome estará propenso a comutar a sentença alargando prazos e dando condições ao devedor para pagar, aquele que for mais perspicaz retirará logo o contingenciado desta situação de restrição absoluta, para que ele, em melhor condição, livre do suplício, possa seguir vivendo para mais rapidamente cumprir o pactuado. 

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