sexta-feira, 23 de janeiro de 2015

O que será um país?






Um país sem pianistas será um país?  E um país sem atores será um país? E sem palhaços? Sem salas onde estes se apresentem? Sem Parques? Sem Jardins? Sem pianos e sem violinos, sem arpas e sem fagotes, será um país? Poderá haver um país sem poetas? Sem cantores? Sem contadores de histórias, e suas histórias? Poderá haver um país sem histórias que contar? Poderá haver um país sem crianças que brinquem inocentemente? No jogo lúdico que as vai definindo?


Há tantos 'países' castrados onde não se canta, e onde caem bombas, onde os palhaços perderam seus narizes, agora vermelhos de sangue, de sangue derramado. Onde os pianos estão mudos ou mutilados,  suas arpas e seus violinos, que exigem prática diária, têm os dedos que os tocavam a tratar de outros assuntos, têm o tempo e as energias misteres de ser com eles despendidos, gastos não em artes, mas em desastres circunstanciais. A vida torna-se um desastre quando perde a lírica, quando perde-se na matéria, porém torna-se muito mais  miserável quando esta matéria em que se perde, se mutila ou desespera.

Os valores da cultura são os principais valores formadores de qualquer nação. Não sendo ainda nação o país que não os consolidou. Os governos que 'brincam' em retirar à cultura meios, em sendo por necessidade, não é brincadeira, é miséria, e em sendo por inversão de prioridades, é por uma miséria ainda maior, a estupidez. A maior estupidez que há é a incompreensão dos valores essenciais a natureza humana. Poderá uma nação ser melhor e mais realizada com menos umas quantas fábricas que lhe produzem uma diminuição efetiva do produto, mas com uma sala de espetáculo a mais que lhe confira mais espaço de expressão.

Toda a falácia do que é bom e válido ser medido em números estabelecidos numa ótica econômica é a miséria das misérias, é desconhecer o que realmente é importante e válido. É acreditar-se que a vida termina na mesa e na casa, como os animais: no pasto e na toca, até estes têm danças, tem jogos, têm música  têm canto, têm divertimento, se assim o é para os seres sem entendimento, que dirá para nós?

Clamam Palestina, Síria, e Ucrânia,  clamam populações excluídas, clamam artistas, músicos, poetas, e atores, e pintores, escultores, dançarinos e cantores, clamam crianças sem folguedos, clamam gentes sem festas, no silêncio imenso dos instrumentos que não tocam, no imobilismo dos corpos que não dançam, no silêncio das vozes que não cantam, na escuridão profunda das almas que não se iluminam.

Um país tem de cantar, tem de dançar, tem de sorrir! Os que perderam esta condição, perderam a condição de país, passaram a ser um território, um aglomerado de casas e pessoas, perderam a condição primeira da nacionalidade: SUA CULTURA EM AÇÂO.

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