sexta-feira, 20 de julho de 2018

Ilustre Calouste.





                                                                                                       Morreu há 63 anos.


E ali está ele sentado ao pé da estátua do deus falcão como que re-materializado da foto que tirou junto a estátua do próprio Hórus em sua viagem ao Egito, bem ao canto de seu jardim na sua fundação, onde estão guardados os tesouros que soube juntar ao longo de sua vida, perseguindo sempre a excelência, essa constante transversal em sua vida que o levou a apreciar só o que fosse superlativo. Um homenzinho esquisito, com uma sensibilidade tão apurada que se focava apenas no excepcional, cuja percepção do mundo, ao mesmo tempo longínqua e próxima, relativizava todas as coisas, graduando-as, as hierarquizando com tal precisão milimétrica, que raramente se afastava do essencial para perder o mínimo tempo que fosse com as coisas menores. Faraó, governava para o post-mortem, e dessa ação sua maior  realização, pois que dispôs um túmulo tão grandioso como o maior dos faraós, onde acrescenta no 'after-life', no seu após a morte, vida intensamente. Pois que na tumba onde encerrou toda sua vida acrescentou infinitas possibilidades, tanto ao fruir liberal de seus pertences, como ao desfrutar sempre redivivo de seu patrimônio como fonte de vida e execução permanente de possibilidades. Poderá alguém ambicionar mais para a eternidade?

Ali com o sorriso largo, o mais largo que se pode esperar de um faraó circunspecto, deixa-se ver pelos que passam, na sua posição de guardião, não de seus tesouros, que há outros dispositivos mais adequados para o efeito, mas de uma semente propiciatória de infinitas possibilidades, o destino dado aos recursos que amealhou, que se vão traduzindo na materialização dos sonhos de muitos, os que ali recorrem para criar novas realidades, as retirando do imobilismo das coisas sem futuro para dar-lhes presente. E nesse presente temporal vem residir o outro, dádiva em que materializa sua eternidade.

O homenzinho sistemático, meticuloso, detalhista, sempre preocupado com cada possibilidade, vem trazer vida após a morte, revendo na praça de Espanha, em Lisboa, nos terrenos da fundação, os que em Campolide, fora da muralha, tinham o Palácio da Palhavã, onde por sua vontade plantou-se um jardim que serve de muitos palcos, ele que sempre teve propensão jardineira, e que cuidou de vários jardins, agora na sua Fundação com multiplicação cotilédone de angiospermas em sucessivas frutificações, sendo já seu jardim o mundo, vai adubando múltiplas sementes que desenvolvem-se incessantemente.

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