O blog O Olho do Ogre é composto de artigos de opinião sobre economia, política e cidadania, artigos de interesse sobre assuntos diversos com uma visão sociológica, e poesia, posto que a vida se não for cantada, não presta pra nada. O autor. Após algum tempo muitas dessas crônicas passaram a ser publicadas em jornais e revistas portugueses e brasileiros, esporadicamente.
sábado, 15 de junho de 2019
Num mundo superpovoado, não pode haver vazios demográficos.
Excessão feita aos desertos, e às florestas, é mesmo assim... Porque os vazios demográficos existem num país em função de faltas populacionais específicas, em geral decorrências de baixa taxa de natalidade, podendo ocorrer por outras circunstâncias, geográficas, que vão desde razões específicas de pouca hospitalidade, ocasionadas por faltas hídricas, ou características várias do território, até às de ordem cultural, ou religiosa. No mais devemos entender que esses vazios são um convite a que ocorra uma invasão.
Hoje há enormes pressões demográficas em vários pontos do globo, onde ocorrem problemas de sustentabilidade para populações com altos índices positivos e negativos em várias áreas, porque os excessos e as faltas intensas geram desequilíbrio, ou onde haja falta de oportunidades (trabalho, escola, distribuição de bens) bem como das condições de salubridade (saúde, atendimento médico) e mesmo as condições que proporcionam atividades culturais de toda ordem, impulsionando a movimentação das populações, sobretudo as com excesso de gente, ou onde há manifesta miséria, ou guerras, ou ainda intolerância religiosa.
As pressões da superpopulação excitam dois movimentos consequentes, o primeiro a saída das gentes de seu território de origem, e o outro de atração para áreas onde hajam as oportunidades que buscam, sendo essas geralmente ricas e organizadas, bem como ainda outras onde haja necessidade de braços para o trabalho, porque a falta de gente, por alguma das razões que apontei, vai criando um movimento insurgente muitas vezes.
Com essas circunstâncias de desequilíbrio ocorrendo em vários pontos, os movimentos populacionais são cada vez mais frequentes hoje, muito diferentemente do que se passava até a primeira metade do século passado, onde as populações tendiam para a estabilidade, e para permanecerem em seu território geralmente, excessão feita a países colonizadores, e aos tradicionais exportadores de gente, cuja demografia se irá ressentir da perda populacional, mas os remanescentes mantêm seu padrão de vida à custa de não partilhar o bolo, em vez de o fazer crescer, empurrando para fora esses contigentes com as pessoas dispostas a abdicar de usas tradições, costumes e referências, para se irem lançar na aventura de novas terras e novas vidas, na ânsia de encontrar melhores condições, ou de simplesmente se afastarem dos perigos ou impedimentos que as tolhem. Nunca antes na História se ouviu falar tanto de migrantes (imigrantes e emigrantes) refugiados, deslocados e por aí afora.
Em países onde hajam esses espaços tão desejados, é mister que tomem consciência da pressão a que estarão sujeitos, e em vez de tentarem se opor a um fluxo imparável, buscando manter um afastamento obtuso, como se o problema não fosse com eles, e o problema é de todos nós, toca a todos nós, e num mundo globalizado todos devemos tomar nossa parte, acatar a situação, tentando pôr uma ordem conveniente no fluxo que se estabeleça, o que beneficiará as duas partes envolvidas (a que chega e a que a recebe). Primeiro porque se os países têm esses vazios demográficos, necessitam de gente que os preencha, mesmo que pensem que não, segundo porque a pressão não irá desaparecer, mesmo porque o movimento de saída das gentes que buscam novos territórios continuará, sempre enquanto não se extingam as causas que as impulsionam em seu primeiro movimento, o de se afastarem dos problemas que as incomodam, e terceiro porque sempre, ainda, haverá incompatibilidades e intransigências locais por muitas razões (culturais, religiosas, de costumes, etc...) e essas só não gerarão conflitos a jusante, se a recepção dos fluxos migratórios for acolhida de bom grado. E nessa ideia de acolher se encontra a de direcionar, de orientar, de ajudar e ordenar o que esteja acontecendo, em proveito de todos. Esses movimentos são sempre uma mais valia desde que conformemente aproveitados.
Toda e outra qualquer perspectiva é errada, para não dizer estúpida. O que fez a União Europeia de pagar a Turquia para reter o fluxo migratório que vem do oriente em sua direção, é um erro, o que pretende os EEUU com muros, ou com a pressão que coloca sobre o México para que esse contenha o fluxo que o atravessa rumo às fronteiras estadunidenses, é um equívoco, a violência que fez a Hungria, os desequilíbrios do estabelecimento de campos de concentração de refugiados nos países limítrofes a guerras, como ocorre com os fronteiriços à Síria (onde perto de meio milhão não conseguiu fugir e morreu lá) ao Afeganistão, ao Sudão, e ainda outros 50 países em conflito, bem como os sem recursos hídricos, em distúrbios climáticos, ou em condição de miséria ou desequilíbrio institucional, como a Venezuela, a Colômbia e as Filipinas, só agravam o conflito. E o estabelecimento de campos como em França e Itália, é só adiar o problema, porque ele não desaparecerá, e os que lá estão confinados não irão embora, nem retornarão aos seus países de origem, é como num jogo de xadrez, uma vez movida a peça, não há como voltar a jogada. O grande equívoco de hoje em dia, é que os líderes, sua grande maioria, não entenderam que todas as mudanças a que aprouveram patrocinar porque lhes trazia ganho econômico, têm uma componente humana agregada, que muitas vezes se traduz nesses movimentos de gentes de toda parte, que têm de ser suportados, juntamente com as responsabilidades históricas, nisso a que se convencionou chamar de globalização.
Os vazios não se poderão manter, e, países como Portugal que necessitam como do pão para a boca de gente para preencher seus enormes vazios, apesar de tão pequeno, e menos pretendido pela fama de que dispõem outros países ricos como a Alemanha, Inglaterra e França, que os torna polos de atração, mas cuja qualidade de vida não colhem a menor comparação com a qualidade de vida portuguesa, a trigésima quinta riqueza global, e o terceiro país mais seguro do mundo, nesta condição, só batido pela inóspita terra do gelo, ou por umas ilhas isoladas, perdidas no Índico, a Nova Zelândia, onde Moaris e britânicos com a fé cristã, vivem uma segurança forte, mas que não impediu que um louco fuzilasse várias dezenas dentro de duas mesquitas, massacrando aos crentes, o que nunca se passou e não ocorre em Portugal, que deve aproveitar-se dessas numerosas hordas humanas, para resolver seus problemas demográficos, que geram diversos desequilíbrios no país, e que, a longo prazo, irão ser maiores pela falta de peso populacional para fazer rodar as diversas estruturas que dependem de gente para se manterem operacionais, que vão desde os muitos serviços, até a sustentabilidade do sistema de previdência social. E, no outro extremo, gigantes como o Brasil, que já foi a quinta economia do planeta, se quiser voltar a ser, e ainda galgar postos mais altos, vai necessitar de capital humano, para o qual seus 210 milhões não bastam. Gente é o sal da terra, a energia que move as engrenagens, é a saúde das nações.
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