terça-feira, 6 de abril de 2021

O VAZIO DO MEIO.

 




Oca, sem consistência, é a expressão econômica da classe média porque sistematicamente em todos os países do mundo vem perdendo poder de compra, porque vem sendo excluída do processo de retribuição e reconhecimento salarial, sendo remunerada cada vez menos, e, destarte, correspondendo a uma fatia cada vez menor do bolo da riqueza, que se concentra nas mãos das classes superiores.

O fosso aumenta com a ascensão da riqueza das classes superiores, e a concomitante retração das inferiores, aumentando o buraco do meio, onde fica a classe média. Ao mesmo tempo que o número de membros desta classe aumenta, tornando o buraco maior porque concentra no meio, como deve ser, o maior número de participantes da pirâmide social.

Para se ser da classe média os requisitos são ter formação, não necessariamente acadêmica, mas de especialização que o qualifique para serviços com melhor remuneração. Ora cada vez mais essa remuneração aproxima-se dos mínimos pagos em cada país, fazendo por retrair a capacidade econômica dos do meio, gerando o tal vazio a que me refiro. Antes a pirâmide era muito achatada, com quase toda gente fazendo parte de sua base, com um muito pequeno pequeno pináculo onde estavam a nobreza e alguns poucos outros privilegiados. 

Com a 'res' tendo se tornado pública, tendo passado a ser outro o soberano, com a 'coisa' tendo trocado de mãos, e ainda por estes dias comemoramos século e meio da comuna de Paris, evento que demarcou o normal desejo de ascensão das gentes cerca de 80 anos depois de, na sequência da grande revolução do final do século anterior ao da comuna, e suas conquistas, tornarem possível o sonho dos do terceiro estado, que com o Estado nessas novas mãos passa a educar e preparar gerações das classes inferiores, as empurrando para cima, e, com a repartição da riqueza, indo ter um pouco mais do bolo a essas mãos que ascendiam, cultural, e, consequentemente, economicamente.

Tudo mudava, pois criava-se um elevador que pretendia puxar para cima toda gente. Num dado momento a economia neoclássica ponderou e sistematizou que o bolo teria de crescer para poder ser dividido, com um efetivo funcionamento do elevador social, teorizando sobre o que chamou de produtividade marginal do trabalho, a partir de rendimentos marginais crescentes onde sem outros fatores de produção gerava-se um produto extra. Desse modo, com esta nova interpretação, o elevador passou a ter cabineiro, não era mais o cidadão que determinava o andar para onde desejava subir, estava então controlado pela produtividade marginal que permitiria sua ascensão sempre o quanto e quando houvesse produto extra com os mesmos fatores de produção (portanto sendo gerada mais riqueza com os mesmos trabalhadores) o que permitiria melhor remuneração a cada um, o que dava maior margem, mesmo aos das classes inferiores, mas que era mais visível e notório nas classes do meio, porque como eram mais instruídas, eram mais eficientes.

A ganância, as finanças e a falta de poder de pressão política por parte da classe média, vem afastando cada vez mais a riqueza dos bolsos dos do meio, concentrando sempre e mais intensamente a riqueza criada na mão dos de cima, aumentando continuamente o vazio do meio. E outras e novas teorias econômicas surgiram para justificar, estruturar, e explicar essa nova realidade. [Repetidamente, com o "Primeiro é preciso fazer crescer o bolo para o poder dividir", peroravam.]

Sem justiça social, ou seja sem o efetivo uso daquele elevador, não apenas cultural e tecnicamente, gerando gente mais qualificada sem que seus salários acompanhem sua efetiva maior capacidade (fator de maior produção), ou seja, sem o reflexo absoluto na remuneração de todos ( e real repartição da riqueza) fará com que o oco se torne tão maior e vasto que acabará por rachar a pirâmide. A história da humanidade depois da efetiva organização das classes na sociedade moderna tem sido a da constante luta dos trabalhadores por melhores salários por qe sentirem cada vez mais excluídos de uma riqueza que toca a poucos, uma vez que não há um sistema automático consistente de repartição desta riqueza criada entre os diferentes fatores de produção. Existindo somente estruturas tênues que tocam ao de leve na questão. 

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