segunda-feira, 31 de março de 2014

"Alors ils iront obéir !" II







Conforme disse no primeiro artigo com este título: Isto tudo  era um grande engano. Desde as afirmativas da ex-esposa do presidente eleito, agora já há outra ex, até a todas as promessas eleitorais do Sr.Hollande. Ou era a grande vontade de ver um governo socialista outra vez em França, ou era um grande equívoco das circunstâncias exepcionais que o  momento refletia, ou era tudo uma falácia eleitoralista, como tantas, e não importava o que afirmassem desde que se alcançassem o poder. Porém a afirmação título é posterior as eleições, é do momento mesmo da vitória, poderia ser a embriaguez desta, mas as promessas eleitorais eram de quem desconhecia totalmente a realidade econômica ou preferia desconhecer. Nem Passos Coelho em Portugal  ousara ir  tão longe.

O fato é que as promessas feitas eram absolutamente impossíveis de serem cumpridas na atual conjuntura econômica, como criavam expectativas que inviabilizariam a presidência desde o início, roubando-lhe a verdadeira possibilidade de fazer qualquer coisa para mitigar a situação em que a crise colocou os franceses. Portanto esta atitude era no mínimo estúpida porque roubava à partida a capacidade interventiva do presidente Hollande, roubando-lhe, destarte, credibilidade e possibilidade de ação. Não deu outra.

E como tudo tem um preço, o preço que os socialistas franceses irão pagar é  ficarem longe do poder à todos os níveis por um muito longo período. E já começaram a pagá-lo! À derrota acachapante de hoje nas municipais, seguir-se-á outra idêntica nas européias. E o PS francês ficará curado de líderes inexpressivos como eu descrevi no artigo anterior

Esta é uma boa lição partidária : Quando um partido permite-se ser conduzido por um líder pouco expressivo que ascende à liderança por qualquer circunstância fortuita ( controle da máquina partidária, ausência de outro líder que se lance, condições momentâneas de diversas ordens, etc...) for fraca, não pode estar na liderança, tendo que ser prontamente substituído, para não causar desgaste desnecessário ao partido. E, se eleito, ao país.

A insatisfação popular reflete a condição de terem sido enganados e de verificarem da falsidade das promessas eleitorais. E assim como os banqueiros que não obedecerão, porque há Leis, e estas são os limites da obediência, o povo insatisfeito não segue uma liderança enganadora e sem rumo. As lideranças políticas necessitam ser fortes e firmes, para o bem e para o mal.
  
O Sr. Hollande é uma alma pequenina e sem rumo que está fazendo a França perder tempo, precioso tempo, bem como permitindo que fantasmas de um passado de todo enterrado ressurjam, emerjam de suas sepulturas para virem assustar uma Europa que precisa de paz para promover a retomada do crescimento econômico e a sua condição como espaço unitário, a qual a crise revelou ser muito incapaz e ineficiente.

Le gens n'ont  pas obéi !





domingo, 30 de março de 2014

NEMOS NO MORE : IS IN THE AIR !





Os Amphripions ( 16 espécies) e um Premnas, pela sua beleza e graciosidade, chamaram a atenção dos que mergulham junto dos corais e também pela sua forma desordenada de nadar, como quem está à todo o tempo a fazer brincadeiras, daí o nome de palhaço que lhes é atribuído, e da relação de mutualismo que estabelece com as anêmonas, ficou-lhes o outro nome pelo qual são conhecidos.  Entretanto NEMO é a palavra latina para ninguém. Imortalizados na fantasia popular por sua participação em filmes, ganharam a simpatia universal. Admiráveis criaturinhas.

Os oceânos captam o CO2 da atmosfera, dissolvendo-o em suas águas e, por obra das correntes frias, depositam-no nas suas profundezas, retirando-lhes do circuito por milênios, promovendo desta maneira o equilíbrio do planeta. Porém, como tudo, tem seus limites. A excessiva  produção humana de gás carbônico no planeta, após a revolução industrial (desde a segunda metade do século XIX) criou um profundo desiquilíbrio das funções regeneradoras dos diversos ecosistemas, levando-os ao limite de suas capacidades. Os oceânos estão muito próximos de não mais exercerem suas funções globais de regeneração. O planeta é três quartas partes mar para ter um sistema poderoso que regenere as ações poluidoras da outra quarta parte. Porém está chegando a seu limite, porque o agente animal imperante, o homem, excedeu a sua quota de poluidor além do aceitável. Com uma excessiva produção de CO2 e sua consequente absorção pelos mares, o nível de acidez destes aumentou enormemente, tornando-os nocivos para muitos de seus habitantes.

 O aumento exponencial do pH dos oceanos retira a capacidade olfativa dos alevinos, impedindo-os de encontrar seus recifes de origem, fazendo-os vaguear pelos oceanos servindo de repasto a outras espécies que deles se alimentam. Devido a produção brutal de CO2 no planeta hoje, pelo tipo de sociedade que criamos, que acaba por ser absorvida pelos oceanos, esta carga excessiva de CO2  uma vez absorvida, tem como consequência gerar o aumento do pH das águas oceânicas, impedindo aos peixes dos recifes, especialmente os habitantes simbióticos das anêmonas, como os peixes palhaços, de sentirem os cheiros do oceano, não retornando a seus lugares de origem e perdendo-se na imensidão dos mares.

Num ambiente onde o meio é muito mais denso que o nosso, o aéreo, e onde os cheiros perduram, por isto, muito mais que no meio aéreo, a capacidade olfativa é essencial para a orientação de seus habitantes. Sem ela muitas das suas atividades ficam afetadas, entre elas a de orientação. E a orientação num ambiente onde a visão é muito mais limitada pela densidade do meio, é dependente de outros tipos de recolha de informação como sons, alterações elétricas e odores, sendo que estes últimos, os cheiros, dependem, para serem percebidos, de que o meio por onde se propagam tenha uma acidez baixa, para que as células olfativas os recebam num registro perceptível a sua identificação. Alterado o potencial Hidrogenio (pH) que determina a acidez da água do mar, esta perde a sua capacidade de elemento de transmissão de informação através do olfato, tão necessária à orientação dos animais que habitam os oceanos.

Os Nemos, estes adoráveis peixinhos do Pacífico, têm sido vistos, nas suas formas infantis, a vaguear pelos oceânos, perdidos, porque não conseguem cheirar os seus locais de residência para nadarem até eles. A vida imitando a arte tragicamente! Pois que no cinema o Nemo também estava perdido de sua casa. Agora estão mesmo perdidos! Se para sempre ou não, dependerá da nossa capacidade de agirmos para evitarmos a continuação de nossa ação danosa aos meios aquáticos.





sábado, 29 de março de 2014

E as 'Cantigas do Maio' viraram Cantigas do Abril.




Foi há exactos 40 anos no Coliseu de Lisboa. Era Março, neste 29, do ano da Revolução dos Cravos, dos cravos e de todas as flores que brotam com a liberdade. Liberdade de ser. Liberdade de dizer. Liberdade de sonhar. Liberdade de Cantar." Liberdade! Liberdade! Abre as asas sobre nós. E que a voz da igualdade seja sempre a nossa voz, mas eu digo que vem. Vem...."

Tive que pedir licença poética a Niltinho Tristeza, Preto Joia, Jurandir e Vicentinho deste samba enredo da Imperatriz Leopoldinense para o Centenário da Proclamação da República do Brasil, que veio como decorrência da liberdade mais desejada, a liberdade de ser gente, negada durante séculos pela diferente cor da pele, para lembrar-vos que a liberdade de cantar era restringida. Neste concerto a censura avisara que Venham mais cinco, Menina dos olhos tristes, A morte saiu a rua e Gastão era perfeito não poderiam ser cantadas, por todos e por ninguém, que sendo iguais com a mesma pele, eram diversos porque sonhavam: O que dá o direito a quem quer que seja de dizer o que se pode e o que não se pode cantar? Porém Grândola pode ser cantada.

"Não me obriguem a vir para rua a gritar." Os soldadinhos já voltam do outro lado do mar"  " Na curva da estrada há covas feitas no chão E em todas florirão rosas (cravos) duma nação." "Têm um sinal que o indica". Do que se dizia, foram as frases proibidas entre outras, porém a insidiosa afirmação de que é o povo que mais ordena, passou. Por mais que proíbam sempre há maior força no dizer e no fazer que rompa a opressão, que singre o bloqueio. E assim subiram ao palco José Carlos Ary dos Santos, Janita Salomé, Adriano Correia de Oliveira, José Jorge Letria, Fernando Tordo, Nuno Gomes dos Santos e Manoel José Soares em Introito,  e com as Rendas de Metais Preciosos Carlos Paredes e Fernano Alvim, e José Barata Moura como a provar que a diversidade é a maravilha da existência, que se pode compor o Fungágá da Bicharada e  dissertar-se sobre Kant e sobre a Ontologia de Hegel. Isto, é claro, é um pouco demais para qualquer ditadura.

E depois foi Abril, como sempre costuma ser depois de Março, e floridos os canos das armas com os cravos ocasionais, passamos a outros tempos que aqueles não voltam mais. Ou virão assombrações a fantasmagorizar com lembranças indesejadas a esperança de um povo fadado? Por isto é preciso lembrar, é preciso cantar Grândola 40 anos depois e por mais 40 se assim tiver de ser. O que não pode ser é que o povo não mais ordene sob a sombra de um invisível, uniciente e unipresente Ditador virtual, que pela força de sua vontade ordene se cantamos ou não, seja Março, Abril ou Maio.

Por isto para que seja sempre primavera, para que sempre e a cada ano Abril volte, e para que aquela vila alentejana seja todo  Portugal, concito a poesia dos compositores da Imperatriz a fazer coro na eternidade com Zeca Afonso, nas vozes de todos aqueles que oprimidos, não se calaram, e evocando cantam : "Terra da fraternidade", traga a " Liberdade! Liberdade!





terça-feira, 25 de março de 2014

Que falta nos faz Churchill.




Churchill assumiu o compromisso pela Polônia e acabou não obtendo seu intento. Yalta foi como foi, os Americanos queriam o fim da guerra e esta, para cumprir o compromisso inglês inicial com a Polônia, teria que continuar contra a URSS e os americanos medraram. Aliás tinham seus interesses satisfeitos, graças a Hitler tinham se tornado na principal potência do ocidente e isto lhes daria um handcap de um século, já lá vão setenta anos e muito lentamente vêm perdendo a posição cimeira de maior potência mundial. A guerra que esfriava, mas continuava em outros parâmetros, fazia, no dizer fulgurante do primeiro ministro inglês, baixar uma cortina de ferro sobre aquelas nações do leste, satelitizadas ou incorporadas ao mundo soviético.

A história se repete primeiro como farsa e depois como tragédia.  A falta de coragem paga sempre um preço maior que a determinação. Os avisos históricos reverberam desde seu passado mais ou menos longínquo para avisar-nos de que a poltranice, a frouxidão, a incúria e o medo fazem vítimas indispensáveis no panorama que a política conjuga gerando um contexto incontornável, e a que chamamos, uma vez ocorrido, de História. E contâ-mo-la para que se não esqueçam os vindouros dos erros e acertos do passado. E, destarte, possamos ter uma noção de que uma determinada ação leva a outra e que uma tal ou qual reação,  gera infalivelmente uma determinada consequência. Sem esta noção transitamos na política como cegos ou como inconsequêntes.

A Alemanha que inconsequentemente fez e repetiu erros que levaram à mudança total do mundo como era até então, volta a cena, ou por cegueira ou por estupidez, açulando várias e velhas angústias soviéticas como esquecida da História. História a qual não pode esquecer, porque é matriz de sua estupidez antiga, que, repetida, não pode ter resultado diferente do que teve. Porém hoje sem ser potência bélica, preço de seu passado, cria o problema para que outros o resolvam. O comportamento Germânico na Ucrânia, gerando falsas expectativas, inquietando a Rússia, e comprometendo uma Europa desarmada é, no mínimo, estúpido.Se também cego, é então perigoso! Que pretendia a Alemanha a levar uma Ucrânia a se rebelar contra a influência russa, sabendo das idiossincrasias de uma ex-potência, e promovendo uma instabilidade que só o poder bélico pode sanar? (Lá também haverá as suas idiossincrasias.) Hoje, os USA e a Europa, andam a promover sanções que fazem rir quem conhece a verdadeira situação dos interesses da Rússia, como demonstram as declarações dos diversos sancionados. O ridículo em confrontos expõe o ridicularizado à fraqueza, que revela e absorve e assume, não mais se livrando da condição e da pecha : Ridículo!

A decisão firme de Churchill mais que tudo, sua posição convicta, sua visão incisiva, suas frases de estilo «They will never put their feet on our island!», seus dois dedos sempre a indicarem o V da vitória, seu desassombro; sua coragem foi 50% da resistência. Primeiro solitária, e depois aliada, também pela força da sua argumentação internacional. Que falta nos faz alguém assim! A determinação das pessoas caiu numa teia de interesses da qual não se conseguem libertar, porque falta-lhes por um lado convicção, por outro determinação e por todos autoridade moral, em sua maioria gente comprometida pela globalização dos interesses e das cumplicidades, mas também pela falta de visão histórica, posto que não entendem a totalidade de seus papéis, atores sem textos prévios, que improvisam  no arremedo das suas impotências e poucas convicções.

Está configurando-se a olhos vistos na esfera de atuação e preparação metodizada a qual vem se dedicando a Rússia (ou já URSS?) uma liderança imperialista que só será contida pela força das armas. O Coronel Vladmir Putim é um autocrata imperialista perigoso! E quanto mais tempo demorar a que se lhe imponham um limite, maior será o preço a pagar para impô-lo. Ele vem testando a disposição e força dos diversos países e líderes que vão mudando enquanto ele se mantém, e sempre num crescendo, e, nas diversas ocasiões sai vencedor pela tibiez dos adversários mais que por seus méritos próprios. Suas ações premeditadas e em oportunidades escolhidas têm a marca do intrumental que sabe-se lá em que fronteira irá parar. Há milênios Flavius Vegetius nos avisava: «Si vis pacen parabellun», infelizmente transcorrido este grande período de tempo (quase todo o nosso tempo histório) o aviso continua atual.

Yalta, curiosamente localizada na Ucrânia, nos lembra que os compromissos originários, aqueles que começaram tudo, podem não se realizar depois do que se começou e não atingir o fim, porque a determinação muita vez encontra obstáculos intransponíveis. Porque as circunstâncias históricas mudam muito rapidamente temos de avaliar a cada momento o que é possível e não deixar passar as oportunidades. Agora quando não há compromissos, não há determinação, não há visão histórica, não há avaliação de oportunidades, sobretudo quando não há coragem, estamos entregues ao acaso, e o acaso é uma fera perigosa, porque desvairada. É  o que se está a passar na Ucrânia hoje. Que falta nos faz um Winston Leonard Spencer Churchill.





sábado, 22 de março de 2014

Será que irão comemorar o 25 de Abril sem os do 25 de Abril ?







A foto que ilustra o artigo é do dia vinte e quatro de Abril de 1974  às 23:50 hs, ou seja dez  minutos  antes da meia noite e já o golpe estava em marcha. Nela vê-se o Almirante Américo Tomás em visita á FIL, onde transcorria  uma feira de antiguidades, e, na  sequência  desta  foto,   aproxima-se o  ajudante de ordens  do Presidente da República e fala-lhe ao ouvido, fazendo-o retirar-se  imediatamente,  sem   completar  a visita iniciada à feira, deixando todos os presentes intrigados, a resposta às suas dúvidas viria no dia seguinte  pela manhã.



Esta foto pertença de meus arquivos, tem como origem o antiquário Rogério O'Donnell Madeira, o que sorri ao Presidente Tomás, que visitava seu stand na FIL, e por amizade deste antiquário com os Capitães de Abril, foi-me solicitada (só eu tinha a foto) para uma exposição que os Capitães sobreviventes pretendem fazer para comemorar os 40 anos do evento.

Será, talvez, uma das últimas comemorações a contar com os Capitães, posto que no cinquentenário outros tantos não estarão mais vivos, e os que tiverem estarão em idade muito avançada para a intensidade dos festejos. Por isto decidiram fazer presença vigorosa da lembrança de seu ato heróico de há quarenta  anos, nesta comemoração. Como todos os anos as comemorações que decorrem na Assembléia da República convocam a classe política, filha, resultante deste ato do heroísmo destes homens. Não se esqueçam: Poderiam ter morrido, poderiam ter sido feridos e ficado inválidos, poderiam ter sido presos e exilados se o golpe não fosse bem sucedido. Foi, e resultou numa maravilhosa Revolução que trouxe a liberdade, Bem tão desejado, a Portugal, e junto com ela a Democracia que se vive nestes 40 anos de liberdades democráticas.

Como é expectável e seu Direito inalienável, estes homens, por tudo que fizeram, querem manifestar-se e, obviamente, é normal que assim seja. Entretanto são homens com sangue nas guelras, a idade não lhes roubou o valor, ou a força ou o juízo crítico; o que, certamente, não agradará ao poder atual que sabe que ferozes críticas emergerão de seu verbo forte, e que o atual Governo tem procurado sistematicamente calar, o que levou inclusive à sua exclusão das últimas comemorações. Tendo já avisado pela voz do Coronel Vasco Lourenço, brioso Capitão de Abril, que nada calará, que sem Direito a expressarem-se não participarão. Que esperavão os debitários da Liberdade, dos homens que a conquistaram? Que fossem menos do que são?

O governo está numa «encilhada», está sem saída. Ou os deixa falar e sabe de antemão, até como resultado do que fizeram em anos anteriores, que virão críticas reverberantes, fortíssimas, que exponenciar-se-ão pela boca de quem as faz e pela solenidade da data que deu a liberdade aos portuguêses, e liberdade tem um expectro bem amplo, sobretudo no entendimento destes homens que arriscaram suas vidas por ela; ou os exclue e suas vozes se ouvirão ainda mais tonitruantes, porque haverão inúmeros canais pelos quais elas se farão ouvir. Pôs-se neste curral o governo, como sabidamente há de se ter posto em outros, pelo simples fato de não ter querido reconhecer atempadamente um Direto inalienável que estes homens conquistaram naquele dia incontornável, enquanto houver Democracia em Portugal. 

Provavelmente descalçarão esta bota com a cara de pau do costume, mas que vai ser uma 'saia justa'... Ah! Isto vai! Porque não se pode comemorar o 25 de Abril sem os homens do 25 de Abril.








sexta-feira, 21 de março de 2014

Ayrton Senna : CARISMA.




Hoje o Google está lembrando que Ayrton Senna, se fosse vivo, completaria 54 anos. Morreu há vinte anos, completam-se no próximo primeiro de Maio. Nunca mais assisti a uma corrida de fórmula um, o que fazia costumeiramente naquelas manhãs de domingo, mesmo antes da era Ayrton, como por todo o tempo em que ele nos encantou, desde sua primeira vitoria no Estoril com sua Lotus negra. As corridas perderam toda a graça para mim desde aquele trágico dia em Bolonha. E as sucessivas vitórias sem emoção do alemão Schumacher nunca entrariam para a história sem a morte de Ayrton, porque não teriam acontecido.

Agora dou-me conta de que o trato pelo nome como se fosse íntimo, como se privasse com ele. Penso que privei, todos os que o seguimos privamos naquele final da década de 80 e começo da de 90 no século passado, no milênio passado, mas sua memória permanece, sua presença é incontornável se falarmos de fórmula um. Com ele o Brasil era o segundo país campeão, hoje terceiro, no mundial de pilotos, teria sido primeiro sem o acidente, ele tinha fome de vitórias.

Enquanto esteve vivo, seus gestos mais banais, como o de se envolver com a bandeira do nosso país, ou dar a volta da vitória com ela a tremular em sua mão saída da janela de sua máquina, o que nos fazia saber que estava a conduzir com uma só mão, suas brincadeiras com o champagne, suas declarações frontais e, por final, sua liderança incômoda dentro da fórmula, foram atitudes que marcaram tudo e todos, e que levaram a que sua  presença/ausência fosse/seja tão querida.

A dimensão humana das pessoas é a única que conta. Morreu uma dama também num acidente, aliás ambos acidentes difíceis de explicar, difíceis de engolir. O desta dama foi em Paris, no tunel d'Alma três anos depois do de Ayrton, e viu-se, assim como foi com Ayrton, a repercussão mundial de sua presença/ausência, tão forte que levou a Rainha, sua ex-sogra, a ir ao seu local de culto popular por flores como toda gente, situação inédita na História Britânica.

As coisas passam-se como se passam, pela presença da pessoa, pela força da sua presença. E quanto mais despretenciosa esta é, mais forte as torna. Houve os que fascinaram multidões como Ghandi, Mandela, JFK, Lady Di e Ayrton entre outros, não muitos neste universo seletivo do pendor popular, e que, penso, jamais serão esquecidos, como hoje lembrou-se de Ayrton o Google, e lembramo-nos todos, de tempos em tempos, destes que sutilmente se evidenciaram, com ou se mortes trágicas, pela força de suas presenças mais que tudo. A esta força  chama-se carisma.

quinta-feira, 20 de março de 2014

Poesia do dia da poesia.


Dias bons e dias maus, há sempre  um qualquer assim.
Há  dias pra tudo , porque não pra poesia?
Se a tudo coube um dia, como cabe à tudo um fim,
como  há  poesia em  tudo, porque esta não ter seu dia?
                                    ºººxººº



O mundo muito carece de poesia para ser pleno.
Sem poesia falta-lhe  maravilha,
se esta não existisse, tanto mais se carecia, temo,
Faltava-lhe sonoridade e perdia a alegria.
                                   ºººxººº



Se não existisse cor, não saberíamos quão bonitos são
 os  matizes, as tintas, as múltiplas combinações,
as diferenças do alternar  de luz e tons.
Tudo que varia com a luz do  dia e nunca aborrece,
nem  esmorece o que de belo se nos toca com lirismo,
 horrível  o  monocromatismo.
                     ºººxººº



Tão triste um mundo sem poesia,
sem  luz, sem cor, sem música.
Sem música a vida não canta,
não  encanta, sabuja.
Porém cuidado:
Aquilo que não é da paisagem, a suja!
Porém atenção:
Má dição é  maldição!
                    ºººxººº



É no dia do começo da primavera nos hemisférios
como um aviso que temos flores, que temos cores…
É chegada a hora  de cantar!
Sendo dos  mais importantes alertas sem mistérios:
Vem aí inspiração, vamos sonhar!
                   ºººxººº



Neste  tempo de  amores,
não é isto que fazem os poetas?
Pobres poetas que cantam a ilusão!
A poesia é  das coisas mais dilectas,
 pra dizer  coisas na contra-mão.
                        ºººxººº



Para isto não se precisa dia, serve  um qualquer,
há dias que são dias e há os que não são,
dos que esperam que se faça o que puder,
 fica-nos bem ter esta noção,
carreando aquilo que vier.
                       ºººxººº



E guarde esta verdade transcendente,
que é  feita de som e maravilha,
a manter o ritmo condizente
e o fazer resplandecer em fantasia,
transpondo a melodia eloquente
à  fluir, fazendo-se poesia.
                 ºººxººº


É dia todo dia de fazê-la,
mais ainda dia, neste dia que a emoldura,
 pois cantam todos dias a bendizê-la
os que nela encontram seu ritmo e compostura.
                  ºººxººº


De todos ficam alguns, ditos artistas,
negam seus  eus atrabiliários,
assumem posição e dão nas vistas,
para que possam de ordinário,
fazer delas suas revistas.
                  ºººxººº


Retornando a elas todos os dias,
mais que nesse dia de sua eleição,
para expressar sem medo as fantasias,
que são a fonte de sua dição.
Todo dia é dia de poesia.
                ºººxººº


20/03
Olha que eu nasci nesse dia.

domingo, 16 de março de 2014

UE: Só o dinheiro impõe-se.




Perguntem-se, por exemplo, porque a Alemanha tem sempre a última palavra nos negócios da Europa. E a resposta é porque é a mais rica. Única condição que lhe dá tal protagonismo. Houve tempo em que os protagonismos davam-se por razões diversas em todos os aspectos: o internacional como é o caso, o nacional e mesmo no pessoal, cultivavam-se outros valores que tais: a capacidade, a cultura, a honestidade, a retidão, a autoridade moral, a autoridade intelectual e até o poder, bélico inclusive no caso das nações. Parece que tudo isto foi relegado a um segundo, terceiro ou quarto plano, hoje só importa o dinheiro.

Se não vejamos no caso da Alemanha referenciado, que capacidades se lhes poderia reconhecer para ter a preeminência que tem? Capacidade? Excetuando a técnica, que não é suficiente, não tem nenhuma política, diplomática ou de liderança, que lhe possa justificar a dianteira que tem. As capacidades culturais têm-nas na mesma medida que a maioria dos países de sua comunidade, não se lhe pode atribuir nenhum destaque neste campo. Honestidade e retidão não se podem avaliar como premissas para o caso de nações, diferentemente dos casos individuais. A autoridade moral que deve ser um fator importante para qualquer país que pense em liderar, esta, então, fica aniquilada, fazendo mesmo a exclusão da Alemanha desta possibilidade pela simples lembrança de nomes como: Auschwitz-Bierkenau, Buchenwald, Sobibór, Bergen-Belsen, Dachau, Falstad, Belzec, Sachsenhausen, Mauthausen-Gusen, Maly Trostenets, Jasenovac, a lista poderia continuar por muitas páginas. Foram mais de vinte mil campos! Dezenas de milhões de inocentes exterminados nos diversos holocaustos (além do Judeu, o Polonês, o Cigano, etc...). Não, a Alemanha certamente nunca terá autoridade moral. E poder bélico não dispõe. Porém tem a mais poderosa arma do mundo de hoje: O Dinheiro!

Agora que se aproximam os setenta anos do fim da segunda guerra mundial, é importante que se não esqueçam suas terríveis consequências e possa-se bem avaliar em que resultou este « Brave New World » passadas duas gerações. Neste mundo de valores distorcidos, certamente, destacam-se entidades pelas mais diversas razões, pelas mais diferentes questões e possibilidades, porém, efetivamente, o dinheiro é a mais eminente dentre elas. Para o bem e para o mal o dinheiro tornou-se no fator de eminência perante o qual curvam-se todos os outros e  vencem-se todas as reticências ou impossibilidades, só o fator bélico se lhe pode obstaculizar o caminho aberto e direto a todas as possibilidades, mas sabe-se a que custo,  permitindo-lhe uma escalada de outra forma imparável.

Este é com toda a certeza um mundo no qual não me agrada viver, e no qual não me reconheço, porque acredito em outros valores,  entretanto esta sumarizado o que realmente vale, e que nos primeiros vinte, ou talvez trinta, itens da lista está o dinheiro com seus diversos nomes: Capacidades financeiras, possibilidades econômicas, investimentos, participações, mercados, industrialização, tecido empresarial, banca, Fundos de participação, PIB, PNB, etc..etc...O mundo ficou reduzido a um ou dois fatores, quando a vida é muito mais rica e diversa do que esta simplificação abstrusa, que, na verdade, de desordenada não tem nada, absurda é que é.

Quando começou a união com a Comunidade Econômica  Européia (1957/8) não se pensava que a Alemanha pudesse se agigantar tanto, ao ponto de não ter um paralelo, que com Maastricht (1993) e com Bruxelas como a capital, pensou-se que com uma França poderosa, houvesse uma dicotomia, como houve, e que cada vez mais vai desaparecendo. A queda do muro de Berlim (9/11/1989) e com a consequente reunificação, criou, novamente, o monstro poderoso que é a Alemanha. Com toda a culpa que carrega teve a oportunidade única  de espiá-la, para fraternalmente converter-se no líder da comunidade, hoje União, e com isto assumir um papel histórico várias vezes tentado pelas armas, mas esta não é a Alemanha, não é o espírito de seu povo. Germânicos, homens de e da Guerra, sabem mandar, sabem realizar para além de qualquer dúvida, sabem, todos, sem questionar, seguir e construir um caminho e um grande edifício, mesmo que este seja o da institucionalização do extermínio como fizeram quando eram nazis. Aliás hoje andam lá mais em sintonia com o mundo, um mundo onde só o dinheiro se impõe.








sexta-feira, 14 de março de 2014

A estagflação portuguesa, um caso atípico.



Subrepticiamente passa a haver deflação por toda a Europa, fruto de uma  moeda forte num contesto de recessão que não acompanha com riqueza tangível a "riqueza" contábil. Será uma resultante da distorção de um euro a duas velocidades, porém é mais que tudo um enorme aumento da liquidez numa economia que não cresce verdadeiramente e que financeiramente deverá ter crescido promovendo distorções abusivas e insanáveis. Disse deverá e não deveria porque o crescimento mencionável é fruto de uma riqueza contábil e não real e se verifica por repetida ação dos prestamistas, juros cobrados, e aumento da base econômica geral sem a consequente expansão da economia em si mesma, ou aumento da produtividade. Esta esdrúxula manifestação dá-se mais que tudo em virtude de um anormal aumento da liquidez sem o colateral crescimento da economia. A ditadura dos mercados, com uma moeda forte e um aumento do poder de compra, para quem não pode e não quer comprar é a razão de tudo isto. A esta manifestação europeia podemos chamar de Síndrome de Midas. É como se ficássemos ricos de repente sem que pudéssemos usufruir desta riqueza. É uma anomalia sistêmica de uma riqueza financeira e não econômica que está a se agravar por todo o 'mundo' rico.

Só que como em toda família rica há uns parentes menos ricos, ou que momentaneamente estão atravessando dificuldades, que no ambiente dos ricos pagam o prêço de e por não lhes acompanhar a pedalada. Assim os países que convivem numa economia aberta mas sem a saúde financeira para acompanhar a estas virtudes econômicas, onde muitos com bases econômicas sólidas se permitem a grandes aventuras financeiras ficando ainda mais ricos, e com uma liquidez perversa que gera uma moeda irreal que pode muito e que não permite respirar ao primo pobre que não tem um afluxo de moeda suficiente que lhe permitisse ser realmente rico. Abocanhando pequenas benesses do sistema, mas sem uma base monetária que lhe permita conviver com riquezas que muito lhe ultrapassam, criam distorções de ordem tal que desfiguraria regiões de um país onde isto ocorresse, quanto mais uma comunidade de países com moeda única, onde cada qual vive da sua riqueza mas no 'estilo' da riqueza dos outros, muito mais ricos, que podendo muito mais trazem para si todas as vantagens das riquezas e dos investimentos do sistema, deixando os primos pobres numa condição de párias, podemos denominar a isto distorção volumétrica, ou seja não podem conviver volumes econômicos distintos num mesmo ambiente, sem que os volumes maiores esmaguem os de menor volume.

É exatamente o que se passa hoje na Europa, e por mais QRENs que hajam não se corrigirão as distorções que o meio circulante gera. É uma novidade econômica, e, como tal, deve ser encarada e estudada, porém para uma situação na qual um pequeno país está no convívio com gigantes em pé de igualdade, o que é muito bom pelas oportunidades que oferece, mas é terrível pelas distorções que cria e possibilidades que sonega, esta pode ser esmagadora na luta pelos investimentos disponíveis e pela ação dos custos financeiros invisíveis.

Agora Portugal é um caso atípico, porque tendo entrado na crise do 'sub-prime' que logo sucedeu-se da crise das dívidas soberanas, não aguentou o repuxo, por não ter as contas estatais arrumadas e ter uma banca gananciosa que precisou de muito apoio para não soçobrar, por ter-se visto de uma hora para outra de calças na mão. Enquanto a situação serena e quer entrar num novo ciclo de desenvolvimento, só pode contar com incertos investimentos externos que não cobrirão a ferida rasgada com a crise de sua dívida. Como a recita do FMI para a solução da crise gera recessão, à qual agora vai somar-se a recessão européia, e num país que, não podendo mexer na moeda, teve de cortar salários e pensões, gerando mais recessão ainda, recupera-se financeiramente, mas perde-se economicamente, dispensando uma geração que a meio de sua carreira, inclusive contributiva, perde-se irremediavelmente para nunca mais se recompor. Este exponencial número do desemprego com uma moeda fortíssima e uma deflação caricata  gera o que podemos chamar de estagnação atípica, por não ter havido o ciclo benigno, e só suas consequências de muito dinheiro no mercado com um mercado ilíquido, porque a presença monetária era exógena, ou seja, não era fruto de um crescimento interno real do mercado, mas de sua estimulação artificial promovida pelo Estado para evitar falências no setor da banca. Esta situação esdrúxula propiciou toda a anomalia conjuntural no momento de crise, que somadas as defesas naturais dos agentes econômicos, e a uma já persistente anomalia estrutural de que padece o país, criou esta situação que sendo uma estagflação, também não o é. E como é isto? Havendo correção dos preços (sintoma inflacionário) num ambiente de deflação e moeda fortíssima, esta logo cessou. Poderíamos dizer, como descoberta econômica, que é a distorção das distorções. O que faltará inventar em economia?

Porque tendo todas as características de estagflação e faltando-lhe a única positiva que é ter havido o anterior ciclo virtuoso de crescimento econômico exacerbado, esta manifestação distorce o que já estava distorcido sobretudo porque não se refletiu na moeda, e tendo havido maior procura agregada não houve a correlata forte inflação, porque a força da moeda a travou.

Portugal vinha de muitos anos de baixo crescimento econômico e descontrole das contas públicas, exceto por um breve período de tentativa de consolidação orçamental. Meu pai era médico e tinha a teoria de uns quilinhos a mais para compensar uma eventual doença, ou seja  engordar-se um pouquinho para ter o que perder em caso de doença, não tendo o peso certo porque se acaso sobreviesse uma doença estávamos precavidos para enfrentá-la. O capitalismo exige esta teoria de meu pai, porque o capitalismo é a cura de uma doença recorrente que é o próprio capitalismo, e que se configura numa senóide de ciclos de crescimento e decréscimos econômicos alternados numa sucessão infinda, podendo haver distorções para outras curvas menos amenas. É o caso da estagflação portuguesa ! Desvirtuou-se a outra parte descendente da senóide para uma reta oblíqua que à seguir transforma-se numa reta paralela ao eixo horizontal, que prolongar-se-á enquanto não houver vontade política em alterá-la posto que as determinantes econômicas macro não se alteram por força dos agentes econômicos, mas dependem diretamente das políticas que as determinam.

A economia é uma ciência complexa cuja arte depende de muitas outras manifestações da vida social, entre elas a política, que pode não estar preparada para corroborar as teorias econômicas, ou corroborar e sustentar uma teoria econômica errada, para não dizer destruidora ou avassaladora.



quarta-feira, 12 de março de 2014

Dívida soberana : No Reino da Mentira.

Há, como é sabido, muitos reinos. O Reino da Fantasia como queria  seu Reino  Walt Disney.  Havia e há o da Dinamarca, no qual pressentiu algo de podre Willian Sheakespeare. Há o dos sonhos, onde muita gente vive. E ainda há outros que, cada qual tem um universo de ingerência específico que o proclama e define, são, destarte, voltados à sua manifestação intrínseca, nela existindo e nela encontrando sua razão de existir. Assim no Reino da Fantasia é o intento de criar ilusão e nela se expressar, que faz a razão de ser e existir deste Reino, ainda que não seja objeto e intento exclusivo deste Reino, como veremos. Assim nos diversos reinos territoriais existentes, em cada país em que existem, têm como objeto e objetivo os diversos elementos que os conformam, na Dinamarca o território do país e os dinamarqueses, suas coisas e instituições, etc...etc...  assim os outros e muitos diversos reinos espalhados por este mundo fora, mesmo que não tenham território ou gentes têm o material de que são feitos estes reinos : No dos sonhos os sonhos, no do chocolate o chocolate, e assim sucessivamente.

Entretanto no Reino da Mentira o objeto e objetivo do reino muda totalmente. Seu interesse é outro, sua intenção é muito diversa, não guardam a relação direta e lógica de causa e efeito inerente nos demais reinos, nem tão pouco dispensam a inclusão dos abrangidos pela ocorrência deste reino, afeta ao universo de interesse a que estão sujeitos os visados pela manifestação deste reino no seu mais simples objetivo : enganar.

No Reino da Mentira não há exceções. No reino da Mentira não há excluídos. No Reino da Mentira não existe solução, a sua situação permanece, na sua  condição sua imanência perdura, porque sendo a razão reinante um enfoque sem compaixão, não há interrupções, paragens ou término. Não se compadece de nada. Prossegue na sua auto implantação, na sua senda existencial. É porque é. Existe porque existe. Faz-se porque se faz. E nisto sua maior força e seu maior vazio.

Compreendido isto, pode-se bem avaliar o porque de uma vez começada a situação dos programas de estabilização financeiras dos países afetados pela crise da dívida soberana e sua solução, que mais que tudo foi um  fosso, como aqueles criados nos incêndios para evitar que estes se alastrem, estes programas não apresentaram nenhum efeito, salvo o de, por um lado levarem os mercados a um abrandamento do nível escorchantes dos juros, e por outro elevarem o valor das dívidas a patamares absurdos (com ou sem hair-cuts efetuados) porque sua intenção não era solucionar, mas mascarar o problema, era ganhar tempo apenas. E como quem sabe de economia sabe, que por mais que se atrase, iluda,  restrinja, prorrogue ou afirme que vai haver uma solução para a dívida, que estas dívidas são impagáveis. E todos sabendo disto insistem em manter esta situação de ilusão de possibilidade que vai, é bem verdade, retardando a bancarrota por um lado, mas vai elevando os números das dívidas a valores estratosféricos por outro. Até quando? Até onde? Não pode ser : É hipocrisia à mais!

Agora vêm estes setenta em hora tão importuna dizer que isto é, como é, sem solução, e que é mister uma reestruturação, ou seja arrumar a sua estrutura de uma maneira mais possível de se lidar com ela, e numa hora pessimamente escolhida, acrescentam seus detratores. 


Façamos uma análise isenta do que afirmam (em Manifesto congraçadamente se constituíram) e da oportunidade de sua manifestação. 1º - O que afirmam é sabido por toda a gente há muito tempo, mas não se diz. Não se diz que isto não tem solução por este caminho, não é de bom tom (Eu, aqui, desde há um ano, venho afirmando que esta dívida é impagável.) 2º - Então alguém quer ir  para o Ártico e dirige-se para Sul, e você vê isto e deve ficar calado? 3º - A cumplicidade deste imenso silêncio promove afastarmo-nos cada vez mais do objetivo a alcançar, ou seja soma tempo perdido ao tempo que já se perdeu. 4º - E vem um grupo de cidadãos notáveis dos mais diversos quadrantes políticos e sociais, estou em crer que quase todos com a preocupação central da situação em que seu país se encontra, e estão todos errados? ( Disse quase por que haverá ali e acolá um ou outro com também outra motivação, aliás toda unanimidade é burra, portanto sempre haverá uns espertos, o que não lhes suprime a motivação central : Portugal necessita um caminho.) 5º Agora que se vai entrar no pós Troika, ou seja que se vai terminar o ERRADO programa de assistência financeira, e vamos ter eleições europeias, não é a hora? Então qual é?

Dizem os que acham o Manifesto um absurdo, sobretudo pela sua inoportunidade, que ao falar-se em reestruturação estar-se-ia a sinalizar que assim como está, não se vai pagar a dívida, e que com isto os juros subirão. Pergunto: Então não sabem que assim como está não se vai pagar a dívida? E que se é isto que fará os preços do dinheiro subir, Deus nos guarde : Eles, todos, acreditam nas mentiras que propalam. E isto tudo não tem solução.

Como alguém há de ter bom senso nisto tudo, e que se devem livrar desta prisão terrível que é acreditarem que nesta ilusão vão ter a algum lado, repito aqui, por incontornável, uma acertiva divina :  Conheça a Verdade e a Verdade vos libertará.

Benditos 70 !









sexta-feira, 7 de março de 2014

Centenário de José Blanc de Portugal.




O grande poeta e musicólogo José Blanc de Portugal estaria completando seus cem anos de nascimento se estivesse entre nós fisicamente, mas estão conosco suas palavras, suas ideias e sentimentos, que permanecem nos seus escritos, vivas e pulsantes, como seu coração apaixonado. Todos passamos pela vida deixando maior ou menor impressão, mas só os apaixonados, aqueles que sentiram o latejar da vida em seu peito, deixam um legado.

O legado de José Blanc para além dos de  carne e ossos que entre nós vivem como seus filhos, seus netos e bisnetos é o da captação da sensação, rara capacidade que traduza na sua inteireza, atingindo o alvo, o leitor, o ouvinte, o espectador, aquilo que sentiu, atingido-os e impregnando-os com esta mesma sensação, transposta pela emoção, recriada através do filtro do poeta e sua capacidade de sentir, emocionar-se e emocionar.

José Blanc era um desses raros, que tendo ido para o meu Brasil desempenhar funções diplomáticas, logo se  inseriu no país e logo era brasileiro, o mais português dos brasileiros certamente, mas  sua capacidade de inserção e de sentir, fica clara em seus poemas desta fase, o que me levou a escrever, em sua homenagem, um poema que traduz esta sua sincronia com meu país. A relembrá-lo aqui, edito o poema.



         Uma sensação brasileira.  

                                                        
                                                          Parede, 12/06/2009.
                                                          A D. José Blanc de Portugal.      
                                                              (8/3/1914  - 13/5/2000)

                                  


Tenho aqui comigo a tua Ana
Na noite popular das marchas...
Que no culto de tua memória
Mostra-me o teu 'Descompasso'
Onde está o Brasil e sua história
E onde, por todas as graças,
Conseguistes restabelecer o laço.

E pediu-me uma quadra ao Santo Antônio
Quando ganharam duas marchas da mesma colina
Formando destarte um binômio
Que se não via desde que ela era menina

Fico-me por estas sendas alfacinhas
Mas às façanhas devo lançar-me eu,
Longe de quaisquer coisas mesquinhas
Para poder dar-te, a ti, recado meu.

Louvar-te o elo de dois mundos tão diferentes e tão iguais
Que os jungistes e os fizestes mais
Por teu sentir, amar e bem dizer
Desvendastes o segredo da segregação,
Unindo o inconcebível no teu verbo lusitano
Para que não haja mais separação
E o torne ainda mais humano.

Há um batuque que se escute
Aqui, ali, acolá,
E que com meiguice desfrute
Deste rumorejar.

Refunde-se neste ato muita evocação
Do branco, do negro, do mulato ( tanto amor de perdição...)
Que se junta a este fato de haver sempre perdão
Com muito cafuso tato e muita cabrita alocução
Sem perdê-lo de fato, em ser nossa salvação.

Então desarmastes-te de europeu
E com pele de Romeu, entregastes-te ao teu querer.
Vestistes-te com a camisa listrada, que encaixou e que te deu
Como uma segunda pele, e pusestes-te a cometer.

Melhor seria, talvez, ter dito segunda língua,
Mas a língua é a mesma, fiel instrumento de trabalho,
Nem numa forma ou noutra o léxico mingua
Temos todas as cartas, pois não se amesquinha o baralho.

Muda é o ritmo, que neste calor já o sabemos dissoluto.
É o mesmo português que por aqui, porém mais hirsuto,
É filho dos mesmos sentimentos que foram postos a braço
Que para recompô-los  é necessário muito, muito descompasso!













quinta-feira, 6 de março de 2014

FOI NA ESCADARIA DA ASSEMBLÉIA DA REPÚBLICA.

Não foi por grupos da esquerda. Não foi por grupos da direita, Nem foi por gente das extremas desta duas facções. Não foi o povo revoltado e sem comando. Não foi  nenhuma das diversas classes sociais esmagadas. Não. Não foi.

Porém foi lá. Foi lá que caiu. Não terá caído, como anteriormente, só o comandante da polícia. Não terá caído o ministro da administração interna que não conseguiu manter a ordem pública, que não cairá por total falta de condições de continuar. Não terão sido vários elos da cadeia de comando. Não. Foi muito mais.

A confrontação política a que tem estado exposta população portuguesa para com os seus legítimos e ilegítimos representantes. Legítimos por que foram eleitos democraticamente para representá-los. Ilegítimos por que a insatisfação popular lhes retirou a legitimidade eleitoral, era só haver eleições e isto se comprova. A confrontação é o último recurso que restou ao povo para tentar impedir a situação de miséria em que foi colocado. Tentar parar a continuidade das medidas tomadas que só visam comprimir o fator trabalho, contra a largueza em que são mantidos os outros fatores, sobretudo ao financeiro.

E na escadaria da Asembléia da República o confronto tem sido físico e várias vezes vitimando os lados em confronto, no que é visível e paupável, naquilo em que acontece nas ruas. Entretanto o confronto invisível, o confronto que perdura  e perdurará, este não tem quartel por que as razões que o motivam estão presentes na vida das pessoas e não há nelas mais a compreensão ou aceitação de sua necessidade. Não digo, tendo em vista que algo é necessário fazer, que não entendam a situação, mas não da sua justiça, pois fica claro que só uma parte da população, ou seja um dos fatores está pagando a fatura e que a equidade, tão necessária sempre, e, numa situação extrema como esta, imprescindível, não tem estado presente nas decisões governamentais. Por isto pode se dizer que a situação se descontrolou.

O povo português, conhecido como um povo de brandos costumes, e que na sua atitude, quando uma parte dos manifestantes viu um dos seus colegas policiais ferido, cessou imediatamente toda e qualquer ação de confronto físico, onde porém o confronto espiritual se avoluma com o silêncio e o imobilismo, comprovam-se estes costumes brandos e o bom senso dos envolvidos. O que não retira, nem por instante, a tensão e o confronto por que estes só acabarão com a mudança das expectativas e, evidentemente, o recurso a solução democrática : deixar o povo falar em face de propostas concretas  que, por uma vez, não enganem o eleitorado e digam a verdade. 

O confronto que se deu na escadaria da Assembléia da República evidenciou que a situação chega a um limite. E este limite que por acaso, só por acaso, não foi mais grave, os brandos costumes, uma certa retenção de humores pelo coleguismo de classe, e, ademais, toda uma prevenção do governo em não confrontar os manifestantes, o que não fazem com os outros cidadãos em situação semelhante, o que previne, neste caso, toda a sorte de possibilidades temerárias. A presidência da Assembléia logo foi receber os manifestantes, o que nunca havia feito antes, sempre para prevenir e evitar o agudizar dos confrontos.

Porém nada disto descalça esta bota. Os problemas continuam, e as sua razões permanecem. E as razões dos confrontos idem. Não podem abrir exceção por que esta levaria aos tribunais a generalizá-las. Que fazer? Foi na escadaria da Assembléia da República que ficou claro que a atual situação não tem solução. Foi lá na escadaria que a máscara da possibilidade de haver solução para a condição em que Portugal se encontra acabou de vez. Foi na escadaria da Assembléia da república que ficou evidente, para além de qualquer dúvida, que ou se encontra uma outra política que permita um mínimo de justiça e equidade e que, ao mesmo tempo sofreie a faina destruidora da sociedade que tem levado a desordem humana e institucional sem limites que se atingiu, por obra da falta de perspectivas que criam as políticas implementadas até agora, ou...
Foi na escadaria da Assembléia da República. Foi.



terça-feira, 4 de março de 2014

Putin emprega contra a Ucrânia a arma mais poderosa.




          Vladmir Putin deu uma conferencia de imprensa que será histórica. Como um homem de bem, como um menino bem comportado, discorreu sobre a 'questão ucraniana' por mais de uma hora sem mostrar os dentes como naturalmente faz, talvez até por deformação profissional, coisa incomum aos que ocupam cargo como o dele, por quase nunca, ou mesmo nunca, terem sua origem em qualquer país civilizado. E por usar a palavra, foi o que mais mostrou-se Putin, civilizado, cortês, afável, até brincalhão ( naquilo em que um ex- Coronel da KGB o pode ser) dando a entender que quer uma saída diplomática, mas que também está disposto a deflagrar a terceira Guerra Mundial se for necessário.

Valendo-se dos erros cometidos pelo atual governo provisório da Ucrânia, de sua situação miserável em muitos sentidos, sobretudo pela corrupção reinante e pela dependência ucraniana da Rússia, colocando-se ao lado dos que estiveram na praça da independência e que fizeram cair o governo de Yanukovich, bastante cordial e compreensivo, Putim está a usar a mais poderosa arma neste momento contra a Ucrânia: a política.

Quem quer que seja que na Ucrânia tomará a decisão de efetivamente começar uma Guerra contra a Rússia, não o fará de ânimo leve, nenhum David, por mais corajoso e abençoado que seja, enfrenta um Golias com despreocupação, portanto a maior arma que neste momento poderia usar Putin contra a possibilidade de alguém se opor a seus intentos é, certamente, deixar claro que está aberto ao diálogo, e que, destarte, se este não ocorrer, não é por culpa sua, assim tem duas vantagens para duas hipóteses diversas. a primeira se houver Guerra, não terá sido ele que a começou, pois facilitou e tentou o diálogo que a evitaria até o fim. Segundo se não houver terá conseguido seus intentos, e o dirá a boca cheia, sem disparar um tiro sequer, desfazendo o " erro" de Khrushchov. Foi brilhante, deu um tiro só em que deixa caído por terra vários coelhos: O novo e inexperiente governo ucraniano e suas pretenções a manter a Criméia, a diplomacia internacional, seus opositores internos, e os que imputam-lhe um ato beligerante e invasor ( Os Estados Unidos incluído) e ainda deixa caído de amores por ele os saudosistas do poderio soviético que aos poucos ele vai restaurando.

Ademais neste último ponto, cerne de toda a conferência de imprensa, foi cabal . O Estado Ucraniano é um novo Estado, e com este não tem acordos de nenhuma natureza, os acordos anteriores eram com o anterior Estado que cessou de existir, desde o momento que depôs o presidente regularmente eleito, e que até haver novas eleições e restaurar-se a Democracia e o Estado de Direito, dos quais ele é paladino, não há legitimidade na Ucrânia, portanto seu único dever é defender o povo ucraniano ( todo e não só a maioria russa da Criméia) e por outro lado oferecer as condições  para se restabelecer a democracia, sem a ação perigosa dos nazistas que andam açulados no atual contesto ucraniano (este último ponto é verdade, como é absolutamente verdade o quadro miserável, a todos os níveis, com o qual descreveu a Ucrânia, infelizmente.).

Sucintamente digo que dá um cheque ao rei, neste xadrez internacional que joga, e põe-se no trono de 'tzar' sem disparar um tiro como enfatizou, e valendo-se do «golpe de Estado» ucraniano valida todas as sua atitudes, e por outro lado diz que não vai anexar a Ucrânia, e não vai, por que já a anexou! Não resta outra alternativa à parte pobre da Ucrânia que seguir a parte rica já em mãos russas. Não esquecendo que hoje metade do que comem os russos vem de fora, e sanções e embargos representarão uma forte lembrança dos tempos do partido único ( filas, restrições, racionamento) o que não é, decerto, uma boa lembrança, Putin quer voltar ao período soviético sem a parte podre, numa economia livre e para isto usa a sua arma disponível  mais poderosa,  e com uma competência que lhe não atribuía : a política!

Vamos ver onde isto vai parar...






domingo, 2 de março de 2014

Ucrânia: da iminência da Guerra Civil à iminência da Guerra.

Tendo saído lindamente e com o suporte da União Européia da iminência da Guerra Civil, livrando-se de um govêrno quase, ou mesmo, ditatorial pró russo e de Yanukovich, um presidente que é autor de crimes contra a humanidade (J'acuse!)  e tendo encontrando seu rumo maioritariamente europeísta, desagrada as intenções imperialistas de Vladmir Putin e coloca-se na difícil situação de ter de enfrentar a potência russa, não mais soviética, porém uma potência bélica, a mesma que liberou  a Ucrânia do domínio nazista na segunda Guerra Mundial, quando então começou, consentido pelos aliados, o Império soviético. 

Conforme sempre afirmei, após o esfacelamento da União soviética, que era dali que viria o perigo da terceira mundial, porque o grande império não aceitaria passivamente a sua desmembração, ainda que demorasse esta situação, conturbado pelas imposições internas, sobretudo de ordem econômica, todos querendo ser milionários num país onde só o Estado é que era, mas que serenada esta fase, voltariam as ambições imperialistas do Estado, consentida, não sei se desejada, pela sociedade russa.

Agora a amputação que se preparava, ou se prepara, é a da base naval que fica situada em Aqyar, Sebastopol como lhe chamam, e que está situada na Criméia, região de conflito internacional desde a metade do século XIX, tendo havido ali uma guerra quase mundial à época, e se situa mesmo junto aos Balcãs onde começaram sempre as Guerras mundiais. É conhecida a afirmação de que a Russia sem a Ucrânia é um país, com a Ucrânia é um império. Sabedor disto o homem da KGB, o coronel aparentemente, ou mediaticamente, simpático que presentemente dirige os destinos da Rússia, o homem que matou, torturou, conspirou pelo poder soviético, e que numa golpada de fidelidade e encobrimento foi elevado a 'tzar'. Vejo que muito dificilmente a Rússia deixará ir-se esta posição estratégica de Sebastopol, o que levou o Kremlin a imediatamente aprovar a invasão do território ucraniano pela Duma, sem pestanejar, sabedor que isto é uma declaração de Guerra, resta saber a quem. Se só à Ucrânia, se a NATO, que já declarou estar lá para apoiar a Ucrânia, se aos antigos aliados da Guerra fria, os mesmos da segunda Guerra Mundial sem a Rússia a grande potência incômoda que surgiu com a guerra contra a Alemanha que ela vence quase sozinha. A Russia elevada a grande potência pela ambição de Stalin, e  bipolo do pós guerra, foi o pior legado hitlerista. Ainda pagamos com sangue as consequências da megalomania daquele insano acompanhado pelo povo alemão.Temos ainda que este ano é o ano da guerra, pois completa-se um século da primeira mundial

Na localidade que sempre teve um estatuto especial dentro da Ucrânia, Sebastopol é cidade livre, como a capital, tendo sido fechada na época do domínio soviético, nunca tendo sido uma cidade como as outras,  e a Criméia é uma República Autônoma, a maioria é esmagadoramente russa  (mais de 72%) o que não justifica a invasão, nada justifica, porém é o pretexto perfeito para esconder os outros dois reais: a base naval de que não abrem mão os russos e o mais forte o desejo de possuir outra vez a Ucrânia, de que não abre mão Putin. Neste contesto o Ministro das Relações Exteriores russo, Sergei Lavrov mentiu há dois dias dizendo tratar-se apenas de exercícios, vinte e quatro horas antes da Invasão, me lembram os ministros de Hitler, e a NATO com falas mansinhas, prestem atenção!

Desenganem-se os que pensam que com toda a movimentação diplomática que irá haver para tentar evitar a Guerra, convencerão àquele coronelzinho da KGB a retroagir. Tudo que faz Putim é muito bem e friamente pensado. Ele é muito jovem ainda e deseja-se se manter pelo menos mais vinte anos no poder e o poder que almeja é o Imperial Russo, aquele ao qual serviu como chefe da secreta e que ambiciona agora ter em mãos. Está preparado para a Guerra e desde há muito se vem preparando, recuperando progressivamente o poder bélico soviético. Pois não se iludam " Si vis pacem parabelum" por que só uma grande intimidação, uma prova de decisão inabalável de arriscar a terceira mundial poderá intimidá-lo, e fazê-lo parar, mesmo assim.... Uma postura tíbia, que é tudo que os atuais líderes mundiais nas últimas décadas, à exceção da Inglaterra, sempre a Inglaterra, têm sabido mostrar, nos atirará à todos na Guerra. Não tenham dúvidas, num mundo globalizado, todas as guerras desta proporção serão mundiais.