quinta-feira, 23 de maio de 2013

Fernado Pessoa o Outro.

                                                                                                                  Outra pessoa/outro Pessoa.
                                                                                                                   reeditado em 30/11/13 -
                                                                                                                    78 anos de sua morte.              

 Com o nome da personagem trágica do Hamlet, uma burguesinha lisboeta inspirou Fernando Pessoa uma história singela. O mestre da contradição existencial buscava solução para o seu Eu multifacetado? Certamente não sería esta Ofélia a redentôra de espírito tão arredio, mas havia um fascínio das coisas simples, que é o que toca ao comum dos mortais. Pesoa não estava infenso e, certamente, desejava a sua salvação. Sabedor da sua condição de alma danada, de corpo arquejante, de cérebro multifacético, brincando de Deus, se multiplicou e resolveu um dos seus problemas(o do cérebro). Terá atendido aos apelos do corpo e resolvido o outro? Acreditemos que sim... Faltava-lhe resolver o outro e talvez mais dificil, complexo e insondável....O da alma!

 O que buscam nossas almas? Buscam a redenção, e a redenção é um ato de amor. O amor é incondicional. O amor obriga  entrega.  Entegar-se é perder-se.  Como uma mente com tal força podia se entregar?
Entregar -se à quem? A História conta vários casos de escolha da pessoa a quem render-se: Temos para exemplo as duas de Napoleão e a de Marcelo Caetano, para não irmos mais longe. Fernando Pessoa não ousaria render -se: Não havia a quem !Para Pessoa a única entrega possível era nos braços da ceifeira da humanidade, que afinal chegou-lhe um pouco mais cedo, por tanto ter dado de beber à dor, dor infinda, inacabável, irreprimível que lhe danava a alma pela maior consciência de si e da condição humana.

 A história destas cartas que ficaram (Pessoa as podia ter destruido)melhor: a história que estas cartas nos contam, é a de uma busca, no mínimo de um desejo. O magnífico prefaciador da nova edição destas cartas, o genial Eduardo Lourenço, diz-nos que foi uma comédia de enganos para Fernando Pessoa, " todavia não era uma comédia cínica de libertino na alma..." e é claro que no final foi isto. Entretanto enquanto durou, ou o que fez começar a relação, é o que me interessa ! !! E fica-nos claro que Pessoa buscou, por isto a relação com uma ingênua (Ele que não o podia ser.)buscou uma normalidade que lhe era impossível,não se enganava nem por um momento, não a enganava igualmente...Foi uma tentativa! Foi uma vontade, que sua condição (de Deus, um pouco, e de alma danada muito)não permitiu. Mas ficou a tentativa. Poderiam alguns dizer que foi apenas uma experiência... Leiam as cartas e verão que não! Honestamente, como em tudo que fazia, Pessoa tentou ser outra pessoa, não conseguiu é verdade. Mas também não destruiu as provas da tentativa, para si e para os pósteros, moldando um outro e desconhecido heterônimo que se chamava Fernando António Nogueira Pessoa, tão somente Ele. O homem reto, honestamente em busca de si mesmo, em compasso com uma humanidade sabidamente inumana, sabidamente hipócrita.

 Assim " talvez porque a alma é grande e a vida perquena" ele não pode viver a experiência de uma vida conjugal,ou talvez porque a felicidade limite o homem e Ele estava reservado para grandes coisas,sua grande obra, não lhe foi consentido viver como um não trágico.Quando penso que Ele perdeu o concurso para o Conde Castro Guimarães, quando penso que Ele foi preterido pela Coca-Cola, com seu genial 'slogan'... Só mesmo dizendo como os árabes 'Maktub',estava escrito, estava-lhe destinado. E como acredito da mesma forma que Fernando Pessoa que amar não se conjuga no passado,e como vejo que Ele amou Ofélia. Amou-a para sempre, e isto é o que importa,pois guardou na alma e na mente mais esta faceta perdida de um outro Fernando, que, como heterônimo igual ao bilhete de identidade foi seu homônimo, e guardou-lhe uma virtude entre tantas: A de ter tentado!

quarta-feira, 22 de maio de 2013

Ficamos sem importância/ Brave New World.

-----------------------------------------------------------------------------------------NOTÍCIAS DO FIM DO MUNDO.-------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------- O calendário Maia estava absolutamente certo, o fim do mundo foi mesmo em 2012 ! Pelo menos o mundo como nós o conhecíamos. Nada será como dantes ! O pior é que as pessoas só muito lentamente se darão conta disto. E, pior ainda, ao darem-se conta, não sabem o que fazer. Tudo ficou absolutamente diferente,estando tudo absolutamente igual. Com as guerras, com os cataclismos, com as pestes, tudo ficava diferente mesmo, com esta situação em que nos encontramos parece que nada mudou quando nada mais é igual.As realidades individuais,no tocante às perspectivas, parecem as mesmas. Quer-se um emprego, quer-se uma opção de vida estável, quer-se uma perspectiva de futuro, uma casa própria, muitos querem;um casamento,filhos, outros tantos querem, uma aposentadoria confortável, os países querem um PIB maior... Ou seja tudo aquilo que foi a conquista recente na história da humanidade, e que nos levava a crer que a sociedade, ou algumas sociedades haviam resolvidos os problemas básicos do homem e que eram a construção de espectativas e ambições da humanidade. Ruiu ou vem ruindo tudo, mais ou menos visivelmente, pelo mundo fora. Modificando de forma permanente e inequívoca o mundo ao qual nos tínhamos acostumado--------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------Neste princípio do milênio aconteceram uma série de fatos que não mereceram a nossa devida atenção, gerando as modificações profundas que ora vivemos, e, talvez pela sua conjugação, estas alterações ganharam o caráter de permanentes, sem que nada se possa fazer para termos o nosso mundinho de volta. Foi-se e não volta mais! Vejamos:--------------------------------------------------------------------------------------------------------1. O September-eleven: Pois o onze de Setembro roubou para sempre,além da tranquilidade nos aeroportos, roubou uma certa condescendência que ainda existia para com as pessoas enquanto pessoas, transformando-nos todos em potenciais terroristas, eliminando a pouca respeitabilidade que o cidadão comum gozava enquanto tal,promovendo tensões que afastam cada vez mais o cidadão de sua cidadania.-----------------------------------------------------------------------------------------------------------------------2. A crise que se originou no sub-prime, que foi bancária/de investimentos, no seu começo, e que levou o descrédito aos investidores que não querem mais investir em nada que não seja seguro. Na verdade esta crise passa, como já passou tantas vezes, porém não se ter feito nada para regulamentar os investimentos com o fim de um absurdo de jogatina como foi este, para que esta não se repita,levou ao descrédito todo o sistema. O Obama ainda falou disso logo quando foi eleito, porém alguém deve ter-lhe dito para esquecer, e ele se esqueceu totalmente.---------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------3. A subsequente crise das dívidas soberanas, que levou à bancarrota muitos países, e que veio como consquência dos Estados terem se sobre-endividados para cobrir os bancos evitando-lhes a falência, após uma era de crédito fácil que pegou todo mundo com dívidas à mais, gerando uma inadimplência nunca antes vista, e esta a uma nova onda de falências ou ameaças de, que levou os Estados novamente a intervir, gerando o atual desiquilibrio mundial, que em muitos casos não tem solução.---------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------4. A crise da Unidade Européia que pôs à descoberto as fragilidades de uma união de direito e não de facto, onde as individualidades mantiveram-se, e seus interesses nacionais falam acima de qualquer interesse coletivo. Não há Europa.-------------------------------------------------------------------------------------------------------------5. O problema Norte-Sul dentro desta União que se chama Comunidade Europeia, ou Europa dos 27 como é atualmente,criando países de primeira e de segunda e uma Europa a duas velocidades.---------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------6. O fim dos inimigos à vista, para uma guerra, mesmo que fria, mas que mantinha um certo equlibrio no planeta, que deste modo agora, precisa criar fantasmas para manter a sua atividade beligerante.-----------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------7. O acesso indiscriminado à informação instantânea permitindo tantas e quantas 'primaveras' como esta que se chamou árabe e que alterou o cenário geo-político, mudando para sempre os focos de ação estratégica dos países que atuam a nível global.-----------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------8. O filho mais cruel da globalização, que é, ademais da perfeita consciência que cada um tem hoje de sua condição, a ação apátrida e predadora dos grandes capitais, atuando firmemente para manter todos nesta mesma condição, gerando cada vez maior concentração de riquezas.-------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------9.O vazio americano de estar em toda parte e não estar em lugar nenhum.-----------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------10. A evolução tecnológica que em todos os setores roubaram e roubam centenas de milhões de postos de trabalho, feito agora pelas máquinas, que não reclamam, não comem, não vestem e não têm segurança social.-------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------11.A concentração populacional em Ásia que gera uma tremenda distorção eco-econômica global, havendo muitas centenas de milhões de bocas que farão tudo para se alimentar e ganhar Direitos que gozavam e gozam as outras bocas dos países onde se acreditava terem sido resolvidos estes problemas básicos, comuns à todos os seres humanos.----------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------12.As mudanças climáticas que sofre o planeta, sobretudo com a alteração da posição de seu eixo, onde muito sertão vai virar mar e muito mar vai virar sertão.---------------------------------------------------------------------------------------------------------------13.Países que estão no mapa e outros que não estão e não têm perspectiva de alguma vez estar, tal como grande parte das Américas,boa parte do sub-continente do sudeste asiático e toda África.------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------Pois todos estes fatores recentes e o que já se vinha fazendo, nos deram um mundo novinho em folha (brand new, como gostam os de fala inglesa)um mundo que perdendo a percepção de si mesmo, ganhou pouco discernimento e relegou a um plano de SEM IMPORTÂNCIA tudo e todos, exceto o dinheiro. Este, o dinheiro, já tem vida autônoma, até independentemente do que queiram os seus possuidores, ainda que sem muita consciência estes o que querem é multiplicá-lo ! Sabe Deus até quando.-----------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------Tudo isto somado tivemos o fim do mundo, do mundo onde as pessoas vinham primeiro,do mundo que tinha a família como célula estrutural e estruturante da sociedade, onde a economia atendia aos interesses das pessoas e não o oposto como agora. É claro que tudo foi conquistado com muita luta, nada nunca foi fácil, mas havia rumos, haviam soluções parciais que não malbaratavam tudo e todos. Hoje as soluções parciais, sempre serão assim, já que não temos um governo mundial, levam desgraça a não sei quantos, tiram de cena outros tantos e pôem no desemprego ainda outros mais. Vivemos um mundo sem fronteiras é verdade, exceto a doida da Coréia do Norte, o resto do mundo, quase todo, é acessível. Houve certa vez a Albânia e, creio, sempre vai haver as arábias, sobretudo a Saudita, mas é um mundo mais acessível. Porém apesar de se poder ir à todo lado, de não haver mais colônias e colonialistas, há dominados e dominadores e, o que é pior: Miseráveis sem perspectiva, miseráveis com perspectivas que não sabem como as implementar, e remediados que terão filhos miseráveis se não encontrarem caminhos para dar-lhes a condição de remediados.

quinta-feira, 16 de maio de 2013

E LA NAVE VA./The show must go on!

--------------------------A TOUTES LES GLOIRES DE PORTUGAL.------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------ São grandes e são muitas as glórias da França. Não são poucas, nem menores as de Portugal.Quando Versailles, o palácio residência do rei Sol, que o Reino de França em seu zênite construiu como morada esplendorosa, viria a se transformar,sob Luís Phillippe, em museu de História,este mandou escrever na fachada da ala de Luís XV com a ideia de reconciliar todo o passado de França numa unidade histórica de seu país:« A TOUTES LES GLOIRES DE LA FRANCE ».E assim era, ufanado-se de seu passado glorioso!-------------------------------------------------------------------------------------------------------- Em Portugal não há escrito em prédio algum uma frase ufanista, quererão alguns atribuir à conta da baixa auto-estima dos portugueses. Presentemente nesta crise européia que atingiu Portugal em cheio, esta ideia se reforça. Um país é empreendimento mais que tudo.Se seus cidadãos não tiverem a capacidade de empreender para conquistar um espaço entre as nações, este país não é nada. É tanto empreendimento fazer-se nós de corda bem feitos como fazer-se jatos supersônicos, ou qualquer outra maravilha que a tecnologia proporcione. Todas as coisas complicadíssimas e evoluidíssimas que hoje se fazem, começaram com homens lascando pedras,e cada desenvolvimento,cada gesto na História de um povo conta.----------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------- Portugal, um país de gente empreendedora, vem desmontando diariamente suas empresas, o número já se conta em dezenas de milhares; cada uma delas fruto da capacidade empreendedora deste povo, jogando destarte sua força interior no chão, com o ambiente péssimo de miséria que se vai criando, e miséria aqui é o estado social indecoroso, vergonhoso, indigno que se tem criado. No entanto não cairam os Jerónimos, nem o Carmo, nem a Trindade ( O Carmo que em ruinas se mantém de pé e a Trindade que os portugueses reconstruiram no local da anterior que o terremoto lhes levou, aliás reconstruiram toda Lisboa com arte e com graça).Pois seu passado lá está edificado a lembrar-nos de sua grandeza, sem nenhuma frase ufanista visível.------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------ Sabem, esta frase está escrita num lugar que não se vê! Está escrita no coração de cada português. Fale com eles, perguntem-lhes se se ufanam de seu país e saberão.Por isto quando muito se esfuma, muito ainda se constrói. Temos dois exemplos fortes da capacidade empreendedora deste povo: Um é um autocarro anfíbio que após recorrer o centro histórico de Lisboa, se atira ao rio para mostrar a cidade desta perspectiva. Quem conhece a História de Portugal sabe o quanto é importante a visão de sua capital desde a foz do Tejo. A ideia deste anfíbio é de um empresário português de nome Alvarez, que dando continuidade ao movimento criador e empreendedor das coisas, lá está arriscando suas economias, para dar curso, com coragem, à capacidade de empreender desta gente.--------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------- E desta gente o outro exemplo que ficará imortal, pela época, pela grandeza, pelo desassombro, é o de Joana Vasconcelos, que, após ter ocupado Versailles, como os Prussianos em 1870, Joana com suas tropas de beleza e com o sentimento e o consentimento geral, diferentemente dos alemães de 1870, invadiu o Palácio, nada lhe subtraindo e muito lhe acrescentando. Quem teve a oportunidade de ver a portuguesita no zênite de sua glória, com a força da sua arte inundar os salões de Luís XIV, certamente terá orgulho em ser português. Não obstante e incansável em repor a tão malbaratada auto-estima lusitana, Joana vasconcelos retomando a velha ideia do Portugal marítimo, vai recolher um velho símbolo da sua capital, na ligação com outros portugais menos evidentes, como Luís Phillippe a querer reconciliar seu país, como nas duas margens de uma única e mesma História, com arte, leva o velho cacilheiro pra Venesa! E dir-se-á : « E la nave va » como se foram as naus que deram mundos ao mundo, para não dizer mais da imorredoura glória portuguesa.------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------- Aí está que quando não se perde a coragem de empreender, um país mantém incólume sua alma, sua grandeza e seu passado,e, ademais, tem futuro em continuar a sua caminhada adiante,seguindo o curso da esperança, que é a matéria de que são feitos os sonhos.

quarta-feira, 15 de maio de 2013

Coisa rara.

É importante. É muito importante. É mesmo imprescindível ter vergonha na cara. Ainda que a maioria da gente que eu conheço não tenha, sigo buscando. É raro um político que tenha, é raro um banqueiro que tenha, um negociante, um advogado, um vendedor de carros ou de casas...Não que não os haja, os há, mas são raros, raríssimos, quase inencontráveis, são como os diamantes de alta qualidade, há que se revolver tanta ganga, que cansa! Já os poetas costumam ter vergonha na cara, pois é de sua cara que vivem e da vergonha que possam ter nela. Vivem nas e das espectativas que criam nas pessoas e nas mensagens que passam aos outros. É assim também com o político ou com o vendedor de casas, porém com estes dois, depois de alcançados seus objetivos, eleger-se, ou a venda da casa, pouco lhes importa se tudo o que disse ou prometeu para alcançar seu intento se venha a confirmar. O poeta não, o poeta necessita da verdade como do pão para a boca, porque se esta lhe faltar, seu ofício perde-se, sua mensagem esvai-se, seu leitor foge, sua proposta decai, sua ideia anula-se. O poeta é um sofredor, porque lidar com a verdade, sua e dos demais, sobre tudo a sua, é das tarefas mais ingratas, põe em cada palavra em risco o seu futuro, o seu eu, as suas posssibilidades dissentes e vertentes, e à cada ideia temerariamente expor-se-á e revelar-se-á, revelando o mais profundo do seu eu (seu, dele e seu, vosso) para que tenha eco. O político também faz assim, mas a mentira só se descobrirá depois, o poeta não, é alí. É na hora. É na palavra, ao ser dita, ao ser lida... Que ou é plena de verdade, ou perder-se-á... Ou é plena na verdade, ou ensombrar-se-á, ou é plena no dizer-se, ou não dirá! Quanto risco nesta escolha... É melhor ser político!

segunda-feira, 13 de maio de 2013

Situação de entendimento.

                   Consenso-Dissenso-Infenso-Incenso
     

       A palavra do meio é uma evolução generalizada de dissensão, que é discordar, divergir, mas é, sobre tudo, sentir de modo diverso, diferente. O consenso pode ser anuência ou acordo. Sendo o primeiro significado apenas dar o consentimento, no segundo: acordo, ambas as partes chegam a um entendimento salutar e comum. Muitas vezes uma das partes está pensando em obter o consentimento e a outra quer chegar a um denominador comum, desta forma é muito difícil haver acordo.
         Só se busca consenso quando uma das partes sente de modo diverso da outra e portanto discorda de suas medidas, havendo, evidentemente, a necessidade de buscar um acordo possível, um meio termo onde as partes consigam conviver dentro do espaço possível de aceitação mútua. É tão mais difícil encontrar este espaço, quanto mais destoantes forem as opiniões em pauta para serem harmonizadas.
         No caso de se  verificar posições contrárias inconciliáveis,gera-se o infenso, que também quer significar inimigo, posto que a discordância põe as partes em campos opostos, significando que só lhes resta a contenda e a compita, tornando-as além de rivais e opositoras, inimigas.
              


Quando uma parte não está sinceramente interessada na participação da outra e só quer dar a demonstrar que buscou o consenso, que saberia não obter ou ter de ceder muito, o que não lhe interessava, para obter consenso. Muitas vezes simula seu desejo de obter um acordo, pelo incenso, a lisonja de oferecer um consenso para demonstrar uma boa fé que não tem. Antigamente na origem do termo incenso ( talvez se escrevesse com esse em vez de ce)queria significar, falta de senso, pois que o efeito do odor da terebentina, na substância aromática, ocasionava esta sensação, por isto estar ligada aos ritos religiosos. Muitas vezes estes falsos consensos, escondem a insensatez, a insensibilidade e a irrascibilidade de uma das partes. Haja boa vontade e tudo se resolve ! !

quinta-feira, 9 de maio de 2013

Mulher, sempre a vítima preferencial.

                                    GENERICÍDIO


       O neologismo genericídio, como foi genocídio há mais de dois mil anos atrás, vem repetir uma das mais velhas histórias da humanidade, e como o termo adequado já era usado para designar outra coisa, criou-se  então este neologismo.

          Genocídio, palavra formada por dois termos latinos: geno, que quer dizer mulher e cido, que quer dizer assassinato,e que hoje significa assassinato de um grupo de pessoas,e mais modernamente ligado a assassinato e extermínio de grupos étnicos. Originalmente, na Roma antiga, queria dizer dos assassinatos de cristãos, geralmente mulheres, que eram assassinadas em grupo quando professavam  sua fé. Ficaram famosos os genocídios praticados nas catacumbas, local de eleição para estas reuniões cristãs.

            Na The Economist de seis de Março de 2010 estava estampado numa capa preta o nome GENDERCIDE em cor de rosa, seguido de uma pergunta que não se pode calar: O que aconteceu a cem milhões de bebes meninas? Genericídio que vem a ser o assassinato de seres de um determinado gênero, portanto seletivo, veio a substituir o termo genocídio, para dizer a mesma coisa, com um diferente motivo. Agora se assassinam bebés antes de ele nascerem pelo simples fato de seu sexo ser o feminino.A The Economist dava conta deste número assustador de 100 milhões, porém com um estudo mais aprofundado do que se passa na China, na Índia e na África muçulmana, podemos constatar que a realidade ultrapassa os 300 milhões de vítimas. Com um custo inferior a 10 euros na China, o ultra-som, que identifica o sexo do bebe, permite a escolha pelos meninos, em vez das meninas, e o respectivo aborto, quando é o caso.

               A Natureza, na sua sabedoria eterna, mantém um equilíbrio entre os nascimentos nos dois gêneros 
com uma balança muito efetiva que tem promovido em todas as espécies a sua salutar prosperidade, e, quando não ocorrem causas externas, incontroladas pela a Natureza, estes procedimentos funcionam perfeitamente. Nas populações de animais afetadas por causas externas podemos observar as reações naturais para tentar restabelecer o equilíbrio. No animal pensante, com um poder auto-seletivo nunca esperado, as possibilidades de distorção são impensáveis e inimagináveis. Já se sabe que na geração atual   na  casa dos 20 anos na China,a desproporção de homens e mulheres vem causando distúrbios. A população masculina na China entre os 35 e 39, já atinge 88 por cento de solteiros, com as mulheres solteiras em um por cento, face a pressão da demanda por 'noivas'. Em duas gerações, a manter-se a prática de seleção artificial de sexo nos bebes, as distorções  criadas poderão promover desvios sociais incontroláveis. 

           Como as mulheres  até a última quarta parte do século XIX, não tinham alma( segundo as religiões, exceto a judaica) até ao primeiro quarto do XX não tinham conquistado o Direito ao voto, até a metade deste século o Direito à condições de trabalho idênticas a dos homens, nem em sonho! Excluídas, menosprezadas, humilhadas, as mulheres tiveram de conquistar seu espaço no mundo, atualmente a sanha se repete: genocídio. É intolerável esta situação. Por  razões diversas: necessidade de mão de obra para trabalhos mais duros, ou porque a herança das terras é exclusiva dos homens, ou porque a mulher se junta à família do marido após o casamento, deixando os pais sem apoio na velhice, ou porque a mulher requer dote ao casar-se, a preferência nestes países vem recaindo nos bebes masculinos. Agora como dantes o alvo sexual feminino é o escolhido para abater. O Genericídio é o genocídio outra vez na sua versão original, o assassinato de mulheres, só que neste caso elas não chegam sequer a nascer. 

segunda-feira, 6 de maio de 2013

Injustiça na Economia.

                                     O  FIM DO ESTADO SOCIAL.

       Para termos consciência de como são frágeis as nossas instituições, para podermos avaliar que, mesmo em democracia, não podemos fiar de que as nossas conquistas enquanto sociedade são efetivas, ou que toda e qualquer situação de bem estar social que se tenha atingido, vá perdurar, temos o exemplo do que se passa agora na Europa. Esta instável estrutura que é o coração de todo e qualquer país, a alma de toda e qualquer sociedade, a que chamamos economia, é instável demais pela dinâmica de poder dos capitais, sobretudo os mercantis, que se permitem especular, e o que é pior, nós permitimos que especulem gerando a desgraça generalizada.

       Fizeram o que fizeram ao longo de séculos ( quem conhece história, há de se lembrar de datas que, entre outras,são de crise econômica: 1427,1509,1557,1560,1575,1696,1607,1627,1647,1652, 1662, 1720,1826/29, 1847,1857,1866, 1923, 1929,1987, 2002, 2012)  fazem o que fazem sem que haja punição, logo após a crise do sub prime, falou-se muito em regulamentação, hoje ninguém fala mais, permitiu -se que houvesse todo este descalabro que gerou um pequeno número de milionários que gozam sua vida à tripa forra, enquanto outros, muitos milhares, perderam as economias de uma vida inteira de trabalho honesto ,milhões o emprego, dezenas de bancos faliram,e igual número foi saneado, e isso agora vai se agravar com o fim do Estado social, garantia de qualidade de vida, pago com o dinheiro do trabalho, para dar a todos melhores condições sociais, que agora tornar-se-ão letra morta em muitos países.
  
        Em países como Portugal, onde um governo de direita( talvez de extrema) vem promovendo que a factura da crise (das últimas duas na verdade) seja paga pela parte mais fraca do corpo econômico e social que compõe a sociedade, o que levou ao enxugamento das contrapartidas sociais que usufrui  à conta dos descontos ao longo de anos em contribuições para criar e financiar as estruturas de saúde*, educação**, segurança social***, que compõem a parte da ação do Estado dita social. Agora com as últimas medidas de austeridade propostas pelo governo deste país, teremos que estas duras conquistas, pagas com trabalho durante anos, sejam desmanteladas, como consequência de uma crise, que por arte da globalização se generalizou, afetando mais a Europa que escolheu medidas da velha escola, que não estão a resultar.Vê-se a uma desagregação do tecido econômico, sem que ninguém faça nada para impedi-la, em países como a Grécia que a crise atingiu situação de bancarrota, nem é bom pensar onde irá parar o Estado social.

          Para os verdadeiros autores da façanha, nada de mal lhes aconteceu, para outros grupos econômicos que lucraram indevidamente com o movimento de capitais e que participaram de negócios ruinosos para o Estado, não está prevista nenhuma taxação, para não dizer punição, vivem num regalo, como se a crise não fossem com eles. Já que legalmente, socialmente, politicamente, e, parece, como consequência, moralmente, não há nada de mal nisso:  Está decidido: Na outra encarnação Eu quero vir banqueiro!

     * Era, idealmente, programa de saúde que incluía todos os tratamentos, internações e medicamentos, para todos os trabalhadores e reformados, como a seus dependentes.
    ** Era, idealmente, oferta  de educação gratuita a todos os níveis, para toda a sociedade.
  *** Era, idealmente, baseado em 16 princípios, o fundo comunitário que garantia condições de vida a todos os trabalhadores garantido-lhes pensões e reformas justas, prestações familiares, cuidados de saúde e auxílio em situação de desemprego.