quarta-feira, 31 de agosto de 2016

"Brasil, mostra tua cara . . . "




Sabem a continuação da letra da canção?

O que prova o impedimento da presidente da república? Prova que há uma componente parlamentarista na estrutura governativa brasileira com esse instrumento do 'impeachment', e que a harmonia entre os três poderes é uma falácia. Que os instrumentos que possam haver no judiciário são utilizados, não para cumprir sua missão de poder aplicador das leis e garante da aplicação da justiça, mas que, extrapolando suas funções, se pode transformar também em executor de intenções justiceiras, e, por outro lado, o legislativo que quer poderes para além dos de legislar, ainda que com seu poder tudo possa o legislativo, desde que atue antes, assim tudo será conforme sua vontade, será como ele determinar, porém quer também o poder de atuar depois e impor sua vontade mesmo quando a realidade lhes é contrária modificando-a a seu talante. Um parlamentarismo, onde o poder do legislativo é preponderante e pode submeter o executivo tem em virtude desse seu enorme raio de ação, mecanismos que o controlam, o que não se passa no Brasil. O parlamentarismo é uma solução política, uma forma de se fazer as coisas adotada em inúmeros países, mas não no Brasil, só o foi por um breve período no tempo quando tivemos um primeiro ministro, o avô desse que hoje ambiciona o poder para desfazer todas as conquistas desses anos da esquerda. Querendo voltar certamente ao Brasil submisso, pedinte do FMI, e com um povo alheado e sem muitos direitos sociais, o Brasil antes de Lula, o Brasil quintal dos EUA como se dizia então.


"Qual o nome do seu sócio?"

Pois bem "essa droga que já vem malhada antes de" nascermos quer voltar. O Chico disse uma coisa muito notável, que antes do Lula foram 500 anos de outros interesses atendidos, não foram essas as suas palavras, mas foi o que ele disse, e é esse o dilema, é essa guerra que, travada, foi perdida, porque uma situação adversa se apresentou com a conjuntura internacional, dando azo a que as forças que esperavam vissem o momento de se insurgirem que o povo insatisfeito o acompanharia, ou não os impossibilitaria de prosseguir, e assim fizeram.

"Votem em mim!"

Sim, apesar de estarmos ainda aprendendo a votar, esse caminho é aceitável e sempre o melhor, apesar dos caminhões de mentiras que são despejados no processo, sempre a democracia, o pior dos sistemas excluídos todos os outros, quando  funciona se auto-regenera, e logo o erro será corrigido, e a alternância no poder permite que diferentes interesses sejam atendidos. Mas 500 anos é muito tempo, e largarem o osso era impensável, os dois períodos Lula eles engoliram, mesmo porque a habilidade política desse presidente não podia ser contornada e de qualquer maneira sufocarem o homem. Mas D. Dilma, mais dois períodos, e sabe-se lá se isso continuaria havendo uma sucessão exitosa, não, isso não, já era demais, e tentaram por todos os meios, até que por esse, o do impedimento, conseguiram. E a figura expúrea que atualmente ocupa a cadeira para a qual foi eleita D. Dilma, um negociata profissional, não foi para a China onde o esperavam, fez-se representar, para quando lá chegar seja como efetivo presidente, e não interino, como se isso fizesse alguma diferença para além de simbolizar, logo na China, o enterro de uma era, enterro que que patrocina com seu mercado de trocas, que o manterá no cargo. O que prova que os interesses, e só esses são os que falam mais alto na política brasileira hoje. Diferentemente do que se passou com João Goulart, onde haviam as forças das armas atuantes e evidentes, hoje são as forças dos interesses comuneiros pela gamela do poder, que  são as que atuam, mas de modo oculto, não  evidente, para que seu efeito exista sem comprometer e sem denunciar os que de lá comem e tem como seu moto e fito único defender esses seus interesses com trocas e baldrocas umas após outras.

"Não me convidaram para esta festa pobre. . ."

E nem me convidem, fico aqui aguardando o futuro, esse em que creio, e espero ser o desígnio de meu país, esse gigante poderoso que há de estar entre as três maiores potências econômicas do mundo, e que distribuirá com justiça e equidade seus  proventos. O povo enfim teve na boca o sabor de ter voz, de ter vontade, de poder comer um bom bife, não aceitará mais ser amordaçado.

"Confia em mim."



domingo, 28 de agosto de 2016

Marcito,




                                                                                   14/7/2016 - nos 80 anos de seu nascimento.













Márcio Emanuel Moreira Alves de seu nome, 14/7/1936 - 3/4/2009, casado, três filhos, carioca, jornalista, político, empresário.


Para que conste meu primeiro e único patrão. Tinha criado um jornal síntese, 'a morning letter' para empresários, que consistia na súmula dos diversos jornais do dia sintetizados durante a noite e com as notícias transformados no que chamávamos de pílulas, que era a síntese de cada notícia do dia, uma 'news letter' abrangente com todos os jornais condensados, ótima ideia para a época. Não deve ter dado lucro, pagou-me em livros, alguns dos livros que tinha adquirido nos alfarrabistas de Lisboa e com o qual depois abriu o Sebo fino, era bibliófilo, tinha olho clínico e acumulou enorme coleção.

Marcito era um político da velha guarda, um perfil de gente que nunca mais existirá, e quando se re-candidatou, esperava ver reconhecido seu passado, o famoso discurso que há de ter motivado o AI-5, mas qual? O Brasil é um país sem memória, tudo passa com a velocidade de um raio, e na semana seguinte não se fala mais nisso. As pessoas se esquecem depressa demais, por isso há tantos ladrões e corruptos públicos por aí. Eu o devia ter acompanhado nessa empreitada da segunda candidatura, mas a grande onda do PDT, que vim a fundar, me levou para outras bandas.

Marcito sabia reconhecer o valor das pessoas na medida justa, minha capacidade para escrever foi ele o primeiro a reconhecer e aproveita-la. O problema é que para um cara escrever tem de ter miolos e informação, dois fatores que que bem trabalhados juntos podem resultar em alguma coisa que preste. A história foi assim, o conheci no escritório do Matta Machado, meu amigo e advogado nas causas que movia contra a ditadura militar, e Marcito tornou-se próximo, e eu o frequentava, mais no escritório evidentemente que em casa: Mas num belo meio de tarde num domingo resolvi ir visitar o Marcito, as coisas que me passavam pela cabeça, havia um enorme 'gap' etário, cultural, social, e econômico entre nós dois, mas eu nesta época não via nada disso, minha obstinação era derrubar a ditadura militar, e lá fui eu para a casa do Marcito no Parque Guinle, pensei encontra-lo só com a Princesa Marie, sua esposa. Chegando lá, a casa estava cheia de gente debatendo política econômica.(Tradição do Juca's bar?) Entre a dúzia de personagens presentes Luís Carlos Bresser Pereira, Maria da Conceição Tavares, com aquele seu jeito ríspido e agressivo de bota à baixo, muito típico da esquerda portuguesa, Carlos Lessa de quem fiquei amigo, com seu jeito conciliador, uns quantos deputados do PMDB, e uns professores de economia da UERJ. Ouvi parte da discussão que acabara por se centrar nas diferenças da economia entre Rio e São Paulo, foi quando meti meu bedelho, a expressão deve ser entendida literalmente, porque meus trunfos deveriam ser os menores que ali naquela roda poderia haver. Aliás o Marcito com aquela sua voz rouca e nasalada, virou-se para mim, muito assustado, por eu intervir em assunto tão específico para o qual ele havia convidado tanta gente para os ouvir, como costumava fazer; seu olhar deixava claro que eu devia ter ficado de boca calada, não que ele me repreendesse, não era esse o feitio do Marcito, um democrata nunca veta ninguém, era o espanto por ver meu atrevimento. Contradizendo a opinião que se formara eu afirmava que o capital no Rio é mais especulativo, mais agressivo que em São Paulo. Todos me olharam muito assustados, alguns não entendendo bem o que eu queria dizer, e eu querendo explicar, mas faltava-me cultura econômica (faltava-me cultura mesmo, quanto mais econômica, estávamos em 1979, eu tinha vinte e dois anos, e cursava engenharia em Petrópolis) não tinha as palavras, quando a Maria com seu jeito impulsivo disse em sua rouquidão lusitana em perfeito português: "O fedelho terá razão . . .  o capital mercantil flutuante será muito maior no Rio que em São Paulo!"  Estava tudo dito, o Marcito ria-se por eu passar a perna em tantas sumidades. E quem ousaria contradizer a Maria da Conceição Tavares, aquela trovoada rouca que jaspeava coriscos?

Logo me chamou para escrever algumas crônicas com ele, algumas editadas na Tribuna da Imprensa,  outras n'O Globo. Ele tinha essa qualidade rara de reconhecer valor nas pessoas, e abrir-lhes espaço, coisa que se acabou, principalmente na política.

Era gordo, lento, homem de gabinete, mas de uma coragem indesmentível. Arranjei um caso com o Doutel de Andrade, quando na sede do PDT ao ouvirmos as falas diárias dos diversos candidatos Doutel vendo o Marcito falar, o classificou com a expressão 'enfant gatée', alusão a ser bem nascido, herdeiro de uma máquina de fazer dinheiro chamada Hotel Ambassador,  isso era, mas sua coragem posta à prova várias vezes, mostrou o homem na sua totalidade, nunca um menino, muito menos mimado, e eu lembrei-lhe o caso passado às portas do Hotel Glória, em que ele queria ir preso com os demais que protestavam, o caso das visitas aos presos políticos de Juiz de Fora, e havia mais, muito mais, mas ficamos por aí.

Marcito foi um amigo que me marcou muito por ter-me introduzido na mais alta sociedade carioca, não serviu para nada, não era meu destino, mas ficou o gesto, mais que tudo porque seu apoio incondicional me fez concluir que eu devera ter algum valor, o que me fez sempre nunca ter medo e levar avante a minha ideia fixa na época de derrubar a ditadura militar. O que afinal conseguimos.

Passados oitenta anos de seu nascimento e sete que nos deixou, fica esse preito de amizade e saudade, testemunho de um tempo onde e quando as pessoas tinham outros valores, que se reconheciam  umas às outras, onde a amizade contava muito, e Marcito sabia como ninguém cultiva-las.

sábado, 27 de agosto de 2016

Tons da Primavera - VISEU.






Street art, arte urbana, grafiti, entre outras designações, é como chamam a expressão artística que ilegal (ainda o era em Portugal há duas décadas) e detestada a princípio, conquistou mundo e atingiu um patamar do universo artístico jamais esperado ou imaginado, conquistando uma capacidade de expressão nobre, inclusiva, forte, próxima e, hoje, incontornável da realidade urbana de toda a grande cidade, onde ocorre irregular e esporádica. Entretanto adquirindo uma dimensão própria que demorou a ser reconhecida por causa de seu nascimento clandestino, rebelde e fora-da-lei, vai agora sendo apreciada e louvada em seus novos contornos. Modificou-se a Lei, incorporou-se a expressão, eliminou-se a clandestinidade, revelou-se o artista, celebrizou-se-lhe o perfil, institucionalizou-se o excluído, e a sociedade engolfou o marginal, reconheceu-o, estimou-o, elogiou-o, condecorou-o. A arte das ruas veio para ficar.

É bem possível que entre meus leitores ainda se encontre alguém que só veja o lado vândalo original desta arte, mas certamente, meio século depois de seu início, todo mundo reconhecerá seu valor ilustrativo, quando menos, porém segue sua escala de valoração, passando pela dimensão política (Quantos muros pichei contra a ditadura?) pela sociológica, ao que se designou arte de fronteira, pela dimensão humana, pela dimensão simplesmente artística, que divide a arte urbana do grafite, e até pelo ativismo social que muda as vidas, tanto dos artistas como dos consumidores de sua arte, ainda que, entre esses últimos, alguns involuntária ou compulsivamente. Não deixo de reparar que esse aspecto decorativo, ilustrativo, como que transforma a cidade num grande objeto, num grande livro, onde artistas promovem ilustração.

Sempre tive atenção por essa arte, lembro-me de ainda nos anos setenta comprar um livro que certamente se incluirá entre os pioneiros que registram essa forma de expressão, chamava-se Italia grafitti, uma capa branca com essas duas palavras uma por cima da outra bem no meio, porém, como perdi-lhe o rastro, não sei qual seu ano exato de publicação, ficando também por saber se é anterior, contemporâneo, ou posterior aos dois primeiros livros que abordam esse assunto na sua manifestação nos Estados Unidos, que curiosamente são de autores italianos, o Grafitti a New York de Andrea Nelli, e outro que nunca vi que é de Los Angeles, ambos também dos anos setenta. Era um princípio de um reconhecimento que hoje é geral.

Viseu, desde o ano passado, com segunda edição este ano, montou um festival voltado para a rua, que merece atenção, e que, com certo interesse, revela muito do que acontece nesse universo que vai deixando de ser paralelo. Com o nome desse artigo, Tons da Primavera, o festival tendo se realizado por quatro dias, de 19 a 22 de Maio ano passado, onde seis artistas discutiram no mercado 2 de Maio a arte urbana. Repetiu-se este ano nas mesmas datas, com quinze artistas convidados, e com um concurso local, desta forma Viseu vai constituindo sua coleção de arte das ruas, e nas ruas, lentamente, como o fez Lisboa, o faz Loures, a Covilhã, Águeda, Coimbra e Cascais entre outras cidades portuguesas, coleção de uma arte que há três anos já tem galeria, e pode dizer-se que é oficial e reconhecida, mas que é mesmo espetacular quando nas ruas. Já tendo seu turismo próprio, seu circuito próprio, seus admiradores, todo um universo que se estabelece e se estrutura em torno dela. É o século XXI no seu melhor!

O outro lado a se destacar desta arte é sua face inclusiva, porque apresentada em bairros tidos como problemáticos, cria toda uma atmosfera de respeitabilidade e, logo a seguir de turismo, que impõe os bairros como um espaço de orgulho e cidadania, o que é certamente um fator de maravilha porque com a instantaneidade da realização artística transmudam seu entorno, dando-lhes outras valências, que, de outra maneira seria impossível conquistar, muito mais, como em Viseu, no confronto com seu centro histórico já rico antes da nacionalidade, e, hoje, impossível de ser suplantado por qualquer construção ou arte contemporânea, dando, desta forma, espaço a outras manifestações, pois a vida continua, e não ficando mal mesmo nesse centro histórico, como é o caso da rapariga com o cacho de uvas na mão, alguma dessa arte.

Agora que se vai terminar o verão, é bom que permaneçam, e porque não? Para alegria dos olhos, os tons da primavera.

sexta-feira, 26 de agosto de 2016

DILMA COM CONDENAÇÃO PRÉVIA.







Lula tinha carisma, presença, sabedoria política, e, mais que tudo, enorme prestígio pessoal que se traduzia em popularidade, essa alquimia necessária a se tornar intocável em política, mesmo se odiado e invejado, seus adversários não ousariam. Lembro-me do Obama dizendo-lhe: "You're the man". Na época da sucessão, se ele tivesse escolhido uma vassoura, ela teria sido eleita. Escolheu Dilma Roussef, que nada tem de política como uma vassoura, nada tem de jogo de cintura, como uma vassoura, e, deveria se sentir mal, muito mal, uma ex-guerrilheira, uma mulher honesta, de ter de negociar, o que é muito próximo de comprar, com aquela miríade de deputados e senadores que não são capazes de ver mais nada, além de seus próprios interesses, pobre Brasil! E, diferentemente de uma vassoura que se adapta à mão de quem a conduz, Dilma se opõe a muitos interesses instalados, e vai-se tornando 'persona non grata' à medida que quer fazer as coisas direito. Não tendo a sorte de Lula em seu tempo, agora a conjuntura internacional lhe é desfavorável, e, para manter os programas em curso terá de usar de certos recursos que roubam-lhe a independência mister a se manter com as mãos livres no cargo. Sofre uma campanha difamante ao disputar a reeleição, que cria o caldo necessário a rachar o Brasil, ficando este a 50 a 50, os dois brasis clássicos, mentores das séries de revoluções a que esteve sujeito, então, reelegendo-se por um triz, incorpora a situação de fragilidade que desperta todas as ganâncias, as mais incontidas pretensões, estabelecendo um jogo político de poder que nada mais vê que a obtenção da suprema cadeira, que as urnas haviam atribuído novamente à presidenta, como gosta de ser chamada, assanhando a virulência de um meio podre, corrupto, ganancioso e frio com o qual D. Dilma positivamente não sabe lidar.

Pensei intitular a essa crônica, como alhures fizeram, daquilo que é, Crônica de uma morte anunciada, no entanto os requintes de crueldade evoluíram e estabeleceram contornos de legalidade, podendo-se no Brasil de hoje, por uma soma de interesses confluentes maioritariamente, destituir o presidente da república para dar lugar a uma nova conjugação de interesses que reponha, ou disponha, benesses que venham atender novamente às expectativas e tramas excluídas, ou preteridas, nessa ganância sem fim que se tornou a assunção de cargos eletivos, mas vi que não há morte, nem há anúncio, há cumplicidade e expurgo, e razões que podem, querem, e propalam a justificação de assim serem.

Dilma vertical é Dilma frágil, porque a sinuosidade, a elasticidade, a resiliência imperam hoje em dia por toda parte, contra a retidão, a firmeza, e a resistência. Entretanto Dilma, a guerrilheira, não sabe fazer o jogo, não sabe contornar, tornear, enganar, dizer uma coisa e fazer outra. Só conhece a certeza, a frontalidade, a firmeza, a prontidão, valores que existiram e foram admirados na política de outrora, valores muito úteis a quem se quer opor com dignidade a um poder estabelecido, mas valores que minguam, esvanecem, diluem-se nesse mar de conluios e cumplicidades, nesse jogo de cartas marcadas em que se transformou o poder executivo, para quem quer governar, e que, sustentado por um legislativo que não é nada mais que a expressão máxima desse jogo, um toma lá, dá cá sem fim, asqueroso, mesquinho, sem visão de Estado que pudesse e possa criar um Brasil potência a serviço de seus agentes criadores, o trabalho e o capital, usa o terceiro poder como arma de arremesso para desestabilizar e desestruturar, num jogo de emoções inevitáveis, raiva, inconformismo, revolta, ira mesmo. Para os que pleiteiam transportes mais baratos, acesso a saúde, melhor educação, saber que centenas de milhões várias vezes foram desencaminhadas, roubadas, é no mínimo desesperador. Não há justiça social, nada disso, o que prevalece é um mar de corrupção onde gente que não investe nem trabalha, apenas tem o poder de obstaculizar, ou de deixar seguir os projetos, se locupleta das riquezas geradas no país, para esconde-las 'off shore' ou gasta-las em luxos e confortos de que não fazem ideia, que desconhece a esmagadora maioria da população, coisas de ricos, consumos de milionários, como são conhecidos os brasileiros que transitam nos circuitos do alto consumo europeu e norte americano. E que não o são, pois os milionários têm de alguma sorte o seu próprio dinheiro, o dinheiro dessa gente é o público, que é gasto à rodo por essa gente vil que dele se locupletou em negociações espúrias, em trocas de interesse, na corrupção mais desenfreada, como agora se sabe.

Dilma, a discordante, é um peixe fora d'água, é uma nota dissonante na imensa sinfonia composta por essas forças corruptas e corruptoras que desejam manter o 'status quo', por isso está previamente condenada e será retirada do cargo para o qual foi eleita, tudo dentro da legalidade, legalidade inquestionável, que oculta em suas entranhas os interesses mais escusos e inconfessáveis, que são o verdadeiro moto dessa condenação prévia. 



quinta-feira, 25 de agosto de 2016

Sua geleia de framboesa / Seu mundo de algodão / Sonegam toda beleza / E são faltos de explicação.









Resposta a Adília Lopes. (*)
                                          Apaixonado pela vida nesse planeta azul.                                           



Como gosto muito de framboesa
E do que se passa numa casa de passe
Passe o que se passe é uma beleza
Da qual não há porque cansar-se
Com as paredes de cetim forradas
Vou feliz pr’o matadouro
Até ponho geleia nas torradas
E bebo do chá sem fugir ao touro
Pois com as paredes forradas de cetim
Que a geleia então salpique,
Mas que agora salpique em mim. . .
Que eu também gosto!


(*)  O mundo é uma casa de passe
Com as paredes salpicadas de geleia de framboesa
O mundo é um matadouro disfarçado
Com as paredes forradas de cetim
E num salão
baunilha e sangue-de-boi
eu vim a mim
Gosto de gostar de si
num sítio assim"

Adília Lopes





Eu vi o colibri.







Em meio aos tenebrosos incêndios que grassaram por Portugal fora, eu vi o colibri, vi vários colibris, como chamo às pessoas que com uma latinha d'água iam aos focos do incêndio e as despejavam nas altas labaredas. Pouco ou nada resulta dessa ação, mas mesmo assim não se escusavam de prestar seu auxílio por mais insignificante que fosse, sempre era água, e, certamente, se perguntados, responderiam como o beija-flor, o colibri, de quem lhes conto a história.


Existia antiga e pujante floresta em lugar desabitado de gente e muito remoto, que, por combustão espontânea, incendiou-se, e o fogo espalhou-se devorando todo o mato rasteiro, propagando-se pelos arbustos até que engolfou árvores mais altas e passou às gigantescas árvores da colossal floresta, transformando tudo num mar de chamas enormes que iam desde o chão até às copas das altíssimas árvores que acabaram todas tomadas pelas chamas.


Os bichos todos fugiram o quanto puderam, indo, por fim, todos os que conseguiram escapar vivos ter a um ponto da floresta à beira do rio, onde, tomando a decisão de defender sua floresta puseram-se todos mãos à obra, enchendo suas bocarras d'água do rio e indo despejar ao fogo. Vieram os hipopótamos com suas enormes bocas que encheram com muita água, os bandos de macacos que tragavam grandes quantidades de água e lá iam sopra-las ao incêndio, os elefantes com suas enormes trombas que, como mangueiras de bombeiros, eram esvaziadas sobre o fogo.


Nesse afã prosseguiam incessante e insistentemente para tentar extinguir o fogo, todos indo à beira do rio recolher a água, para logo em seguida dirigirem-se às chamas onde iam despeja-la. Por várias horas empenharam-se nesse mister contra o violento incêndio.  


Numa dessas idas e vindas um grupo de elefantes deu de cara com um minúsculo colibri que carregava uma gota d'água, ou pouco mais, em seu bico, o que era nada, ou quase nada, frente da magnitude do incêndio.


Indignado um dos elefantes questionou ao pequeno colibri pois não conseguia compreender o que fazia ao voar enorme distância até à copa das árvores para ir desejar aquela mísera gotinha, questionando-o abruptamente: Oh Colibri o que estás fazendo? E recebe pronta a resposta: Estou fazendo a minha parte.



terça-feira, 23 de agosto de 2016

ENGANO AQUÁTICO.







Deixei pousar a muita poeira que levantou a polêmica com o jornalista do New York Times que disse ter detestado a comida brasileira que todo mundo gosta, sem exceção, agora nem a sua, esta riquíssima culinária que fascina, que é debitária e herdeira de grandes culinárias. A portuguesa e mediterrânica, a africana, a tupiniquim, a oriental e ainda tem muito de outras influências mais esparsas. Pois esse senhor jornalista pichou essa maravilha, e tudo à conta de um biscoito de polvilho que lhe desagradou ao paladar.

Uma vez confrontado com algumas especialidades gastronômicas populares brasileiras, comida de boteco, ficou logo maravilhado, e eu dou o assunto por encerrado, por encerradíssimo, que certamente não iria ser essa andorinha solitária que, remando contra a maré, evitaria nosso verão (para os portugueses que me lêem, primavera) de êxito gastronômico mundialmente reconhecido, o fato é que não vi mencionado, nas diversas defesas que surgiram do referido biscoito, sua origem, sua história, sua razão de ser.

Antes, muito antes de haver a Globo e seu quase monopólio do biscoito, existia uma variedade grande de ambulantes vendendo diversas marcas das pequeninas fábricas e fabriquetas que se dedicavam a confecção do biscoito salgado de polvilho, e que tinham, nas mãos dos ambulantes que
com elas trabalhavam, garantida sua distribuição praieira e o escoamento de sua produção.  Em diferentes praias se encontravam diferentes marcas, e variavam um pouquinho no gosto, mas era sempre o mesmo polvilho salgado de hoje, um bocado de nada, que a marca Globo produz atualmente em grande escala.

Naquele tempo, meio século atrás, eu frequentava muitas praias, e passava o dia nelas, e o trunfo para enganar a fome, que só seria saciada no final do dia com a volta à casa e o jantar, era o biscoito de polvilho salgado, denominado, então Engano Aquático, penso que talvez por esse seu poder de enganar a fome. Tradição nas praias, era de bom tom oferecer aos vizinhos de toalha biscoitos de nosso pacote. Nunca esquecerei uma vez que meu pai ofereceu a um senhor, penso que seu conhecido, e cometeu a tolice de deixar o pacote em suas mãos, voltou vazio, e eu que me defendia da fome com eles, porque frequentemente não almoçava, fiquei sem os enganos aquáticos, tive que procurar o ambulante para papai me comprar outro pacote.

Não tenho dúvidas que o biscoito, muito leve, ganhou fama por ser uma defesa dos estômagos vazios, cheios de suco gástrico, pela contínua ingestão de água (líquidos) debaixo do Sol abrasador, sendo necessário algo para preencher o enorme vazio criado com esse comportamento. Quem faz as termas em Karlovy Vary, na República Checa, mais conhecida como Carlsbad, de seu nome alemão com K, sabe que um biscoito desse gênero foi responsável pela riqueza de uma família, os Pupp, de quem o GrandHotel guarda o nome, sendo lá a razão da ingestão do biscoito, equilibrar a grande quantidade de águas que se bebe na estação termal para limpeza e desintoxicação do organismo, e curas de várias doenças, águas que são mais ativas em jejum, ou com pouco alimento ingerido.

A história do biscoito brasileiro é dessa época de minha meninice, um pouco antes segundo disse meu pai, a checa é bem anterior. No Brasil é dos anos cinquenta do século XX certamente. Os havia de vários formatos, até que se fixaram neste de rosquinha. Eu, sempre curioso, lembro-me ter perguntado a meu pai, se ele em menino, ou rapaz, comia do biscoito, disse-me que não existia no seu tempo. Meu Pai era de 1921, logo nos anos trinta e quarenta não existia, surge nos  cinquenta, não saberei dizer se no princípio ou final da década, mas os investigadores que consultarem os registros fabris brasileiros logo darão com a época em que tornam-se frequentes, bem como saberão quando o hábito se difundiu.

Entretanto, e é com isso que quero terminar, o biscoito é uma ideia (no Brasil poder-se-ia dizer sacação) genial. Terá sido inspirada, ou copiada do Sr. Pupp? Não se sabe, e penso que nunca se saberá, mas a sua razão de existir é a mesma. E as grandes ideias costumam ficar, e pela entranhada defesa que motivou a querela, seus fabricantes poderão estar tranquilos quanto às suas vendas, o consumo está assegurado, pois é uma arca registrada hoje, um ex-libris o, perdoem-me os leitores não o referir de outra maneira, e por manter  essa  lembrança incontornável, pois para mim será sempre o: Engano Aquático!



quinta-feira, 18 de agosto de 2016

Non la horca, Lorca fue fusilado - 80 anos de um fuzilamento.







                                                                                   'En el tiempo en que se va cosechar las semillas.'




Foi há dezoito anos, num verão.  Se fossem vinte, a razão teria sido os sessenta anos de sua morte, mas não, acho que foi por ocasião de uma das buscas da sua ossada em vala comum, que não foi encontrada outra vez; porém seguíamos pela A-92, haviamos partido daquele sonho, verdadeiro paraíso na Terra, que se chama Alhambra, na 'Dehesa del Generalife', tendo deixado para trás a Sierra Nevada e seguido por Albacín, fomos ter a essa 'carretera' que busca Sevilha; adiante, em certo ponto, vejo ao longe uma imensa faixa que registrava a presença do Rei de las Espanhas num determinado ermo dessa depressão quase desértica pela qual segue a autoestrada andaluza, e que para os lados de Almeria, em Tabernas, é mesmo deserto, e onde, a espaços, se encontra uma das pradarias, 'las dehesas', que pontilham o vasto planalto central por onde corre a rota que percorríamos, o rei estava lá por aqueles dias com aquele enorme calor, porque naquele 'pueblo', o horizontal, da origem árabe de seu nome, Alfacar, no dezenove de Agosto de 1936, haviam assassinado Federico Garcia Lorca. Vinha purgar os erros do regime que o fizera rei no lugar de seu pai, que escondera a localização da vala comum onde enterraram o grande poeta, o dramaturgo de sonho, a alma de sensibilidade fina que o 'El país' do dia doze de Agosto de 2016 dizia que era uma galáxia, era várias, e seu fulgor atrairia às gentes e incomodaria o regime que a figura de um genial e proeminente homossexual vermelho só poderia empanar, é mesmo como diz Agustin Sanchez Vidal em seu texto a que muito oportunamente intitula Mito, diz que Lorca foi uma lenda em vida, e isso diz tudo, diz, ademais, do quanto poderia ser incômodo, e que morto e esquecido, com seu corpo em local desconhecido, é que era bom para o regime franquista.

Porém a força de suas palavras, seu teor material, a capacidade de plasmar  de sua escrita, continua a inundar consciências, e nunca deixará que seu nome seja esquecido. Desde que o rei, década e meia antes daquele dia, no golpe de Tejero, optara pela democracia, fizera-se mister repor cada uma das figuras maiúsculas do país, às quais o regime que lhe dera a coroa pusera em miserabilidade, ostracismo e esquecimento, porém não logrando alcançar nenhuma das premissas intentadas, por isso o rei foi a Alfacar purgar lá esse passado que o comprometia, e, assim, louvar o grande gênio espanhol em sua casinha última, na mesma Veiga natal, que mais uns quilômetros adiante sempre pela mesma 'carretera' em direção a Sevilha, em frente onde hoje há o Aeroporto com seu nome, encontra-se sua Fuente Vaqueros, o outro 'pueblo' granadino onde a cinco de Junho, em 1898, trinta e oito anos antes daquele fatal dezenove de agosto, nascera. Em meio a um calor terrível seguia com a mãe portuguesa de minha filha luso-brasileira por essa estrada nesse Agosto febril de 1998, descobrindo Al-Andaluz, que só essa parte guardou-lhe o nome mouro da península, e, com ele, reteve suas tradições de grandeza e de sonho, e foi com esses dois fios do infinito que se teceu a trama desse ser maior que hoje lembramos nos oitenta anos de sua morte, o homem que virou mito, esse que evocou Sanchez Vidal no 'El país' , esse mesmo mito como definiu Pessoa na primeira linha do segundo Canto da primeira Parte da Mensagem: um "nada que é tudo."

Pois Lorca, o homem-mito, a galáxia, o eterno, o inolvidável, para quem olharia Franco, já um Franco mais velho, e veria aquele rapaz, depois com os seus trinta e tais anos, e pensaria na força do povo que por fim conseguira dominar, e que, em seu meio, a qualquer momento, poderia ver surgir uma força como aquela força da natureza, aquela presença divina que foi Lorca, no que o divino pode ter de melhor, e todo seu regime seria nada perante uns quantos versos dele, e então, Franco, como um noivo ainda mal casado, poderia ter que se envolver em nova luta para não perder a noiva para milhares de Leonardos com quem essa fugiria milhares e repetidas vezes, pois a noiva, Espanha, sempre terá muitíssimo pretendentes. Noivos impostos, caudilhos pela força, ditadores pelas circunstâncias, nunca sabem, pois, até quando . . . Não gostam que haja personagem que os empane, figura que os possa criticar, mesmo mortas, pois até mesmo sua memória é perigosa, sua lembrança permanece uma presença incômoda, e suas ideias um perigo sempre ameaçador.

A sombra gigante com" Sete gritos, sete sangues, sete papoilas dobradas" com o que pode mudar tudo, como em seu poema dedicado a Margarita Manso, em que "Morto de amor" como foi, como viveu, revive e se projeta no infinito, substrato de um povo, de dois, que nessa península dúbia soem sintetizar, em seu longo tempo de história, duas duplas contemporâneas entre si à vez, uma do XVI e outra dos finais do XIX, Camões/Pessoa, Cervantes/Lorca, que nos dá, em cruzado, Camões/Cervantes, Pessoa/Lorca. Este último a sombra fantástica que à luz do "alho de prata agonizante" poderia sempre transmudar o colorido das coisas por força de seu apelo, na expressão de sua vontade bastando para tanto dizer: "Verde que te quero verde" e o vento, e os ramos, e o barco sobre o mar e o cavalo na montanha, levariam a sua mensagem com o amplo poder atuante de algum "Romance sonâmbulo" e, com ela, pudesse revelar e denunciar, e, destarte, perenemente evocasse verdade tão transcendental e pungente que, ao criar mundos insubstituíveis de realidades absurdas e fatais, traria, como o vento, ainda outras verdades tão mais potentes e reveladoras que inquietariam o sono dos poderosos desse mundo, que não conseguem perdoar aos Federicos.




terça-feira, 16 de agosto de 2016

Revelações das revelações da História do Brasil.





O título reflete uma faceta do que tenho feito que nunca revelei, e que chegou a encontrar resposta a um e-mais com uma pergunta de um leitor que se chama Tiago Alves. A pergunta do e-mail:
No dia 15/08/2016, às 22:44, Thiago Alves <tralves2016@gmail.com> escreveu:

Boa noite Helder!
Que legal, sou fã de Historia. Voce é de qual cidade?
Poderia me falar algo sobre seu trabalho de Historiador?
Grato!

Que motivou a seguinte resposta, que resolvi tornar pública, porque esclarece muito do que penso sobre o trabalho que desenvolvo nessa área. A resposta:

Caro Thiago,
                      É com gosto que lhe respondo, entretanto estou curioso de saber como chegou até mim.
A sua questão é meu trabalho de historiador.  Pois bem, a história se faz com documentos, documentação
que confirme ou altere a história que nos é contada. Tudo o mais é balela, oportunismo, ou repetição,
Balela é quando um ’historiador’ tira uma ideia do nada, porque acha que é assim, e escreve um livro para
expor essa ideia. OK, é uma hipótese, e daí?  Eu posso achar que D. João VI chegou ao Brasil vindo de 
Marte, e não de Portugal, OK, tenho todo o direito de achar isso, mas com que fundamento? Há algum 
documento, e documento é muita coisa. (Uma nave espacial, uma jóia, uma moeda, uma carta etc…)
repito, há algum documento que corrobore a ideia de que D. João VI tenha vindo de Marte? Claro que não!
Logo esta hipótese é uma balela. Outros escrevem livros recontando o que há em outros livros, esteja certo 
ou errado, repetem a história toda, às vezes com alguma graciosidade, e já está! Creio que 99% de todos os 
livros que se escrevem são sobre outros livros, uma coisa inútil e vã, porque nada acrescenta. É puro oportunismo, 
como esse livro 1808, por exemplo, só para vender livro. Outra coisa é a repetição histórica, onde um historiador
crítico revê tudo o que há sobre determinado assunto, e repete toda a chorumela que se conhece. O faz
com o melhor intuito, com a melhor das intenções, OK, mas o que é isso? Ao que leva isso? O que 
acrescenta? Nada.

                       Há muitos anos, por pura paixão, porque minha formação não é em história, venho pesquisando
muita coisa sobre momentos da história do Brasil e de Portugal, que acho que foram mal interpretados. Como
vivo muito perto de Lisboa, posso ter acesso ao maior acervo de documentos que há no mundo sobre história
das civilizações, que é a Torre do Tombo, o arquivo nacional português. A pesquisa é muito complicada porque
são centenas de ‘cartórios’ e entradas que repetem períodos, vêm das mais diversas origens, e, para uma pesquisa 
estar bem feita, tem-se que olhar tudo, e, mesmo assim, pode não ser suficiente, porque em História, há muita
verdade que não é dita, ou não está em documento algum, mas que pode emergir do cruzamento de dados, que
são muitas vezes reveladores de coisas que eram insuspeitas. por outro lado há muita informação em 
documentação privada que tem de ser descoberta, garimpada, para se conseguir alguma coisa de 
verdadeiramente nova e importante, há ainda que, após o enquadramento histórico de qualquer descoberta, 
se fazer toda uma recriação das implicações, para ver se aquela descoberta influenciou efetivamente a 
História. É um trabalho de paciência e escavação, como em arqueologia, onde o lugar das coisas importa, e
depois, como num puzzle, ver se as peças se encaixam. Ás vezes é necessário ir a vários países onde esta
informação circulou, para comparar os diversos estados da informação, para ver o que ela contém de verdade
ou de inusitado. É um trabalho lindo, mas que requer tempo, método e paciência.

                        Então, concluindo a resposta a sua pergunta e seu pedido, devo informa-lo que descobri em mãos
particulares muita documentação importante. Alguma pude adquirir, outra pude copiar, e ainda outra pude tomar
nota de sua existência para contextualizar sua importância, e ver se poderá ser útil. Venho fazendo essa brincadeira 
há décadas, até que consegui algumas conclusões importantes.

                        Agora por ocasião dos 200 anos do casamento de D. Leopoldina com D. Pedro, vai sair um livro
meu que irá aclarar, baseado em nova, rica e inédita documentação, muito da história de corm e porque o Brasil se 
tornou independente.

                         Com o melhor apreço, 
                                                               Helder Paraná do Coutto. 


No dia 15/08/2016, às 22:44, Thiago Alves <tralves2016@gmail.>




quarta-feira, 10 de agosto de 2016

To Mr. Eastwood.








Dear Mr. Clint,

                           Shall me remember you at Invictus, when you, like me, used to admire great men. When you gave us light. This very light we need to be better, to change the world, and to see the things how they have to be. I don't want to remember you telling people to vote Mr.Trump.  It sounds to us like a muddle, we all do miscalculations, blunders. How many I did?

                            I still want to remember you like the great actor you are, like the fabulous director that you are, remembering The Flags of our fathers and Letters from Iwo Jima, and not like the bad politician you proved to be.

                            Mr. Clint the life is a long way, very long to do things always well. But is always time for review. Do it! Show us that it was a not very well reflected moment,  show us that was a moment of fidelity with your party, and not a deep conviction. That may not prove to be your trump, you're better than this.

                            I don't want to take more of your time, but surely I prefer to understand all this like a big mistake, a trap of a tramp that you fell in.

                            Best regards,
                                                    Helder Paraná Do Coutto.

sábado, 6 de agosto de 2016

Não se apaga a História.






























Quem manda?






Grande erro comete quem tenta de alguma sorte esconder seu passado. As coisas foram como foram, não há nada a esconder. Se não gostamos de como foram, façamos um futuro diverso, construamos um amanhã diferente, mas nunca escamoteemos o passado.

Feito o preâmbulo, lembro que hoje faz 50 anos a Ponte Salazar. A que passaram a chamar 25 de Abril, como a querer apagar uma memória desconfortável, como a querer esquecer quatro décadas de História do país, pois por quarenta anos a história respondeu em Portugal com um só nome: Salazar. E assim chamou-se a ponte, e assim deveria continuar a chamar-se. A ponte que foi construída contra sua vontade, o que mostra bem seu feitio retrógrado num certo sentido, e que a moeda em prata de 20 escudos guarda o testemunho. Mesmo morto ensombrava a Revolução o Dr. Salazar, levando a que trocassem o nome da ponte. Mudaram o nome, não mudaram a história. Não a podem modificar.

Quem assim me lê e não me conhece, há de pensar já que sou um faxistoide, ou um conservador de direita zeloso da memória da velha senhora, ou do velho senhor, se preferirem. Por acaso sou de esquerda, se tivesse vivido aqueles dias provavelmente teria ido para Peniche, ou para o Tarrafal sem convite, mas não posso permitir essa tentativa cosmética da história. História é o que é, e é suja, porque comporta tudo o que foi feito para que ela acontecesse, e o que fazemos nem sempre merece um escrínio por ser jóia preciosa, ou um estojo por ser objeto de relevo. Não, bem sabemos que não, que muitas vezes os atos que ficam na história são os mais hediondos, vis, miseráveis, sórdidos e imundos, mas fazem parte da história, são a História! Uma tentativa de excluí-los, só demonstra fraqueza.

Que bem seria se a portentosa Revolução dos Cravos tivesse mantido o passado como era, tivesse conservado a ponte com seu nome, sem medo do fantasma, tivesse dado a César o que de César já era, no respeito ao passado, esse mesmo que não podiam mudar, ninguém pode, e na construção do futuro, esse mesmo que lançavam as bases expulsando a velha senhora. Só evidenciaria seu destemor, e mostraria seu respeito ao passado, esse que é como é.

Não sei se me faço entender, é claro que não se vá, não se concebe, erigir uma estátua a Hitler, o odioso; guardada as devidas proporções, Dr. Salazar ainda terá algumas repostas, pois ele não foi Hitler, mas  para quem achar que foi, olha, não vamos erigir-lhe estátuas, mas não podemos apagar-lhe a memória. Devemos enquadra-la bem historicamente, sem mentiras ou ódios, e entender que o velho senhor cometeu muitos erros, manteve-se demasiado tempo no poder, deixaram-no, até que uma cadeira fez o serviço que ninguém conseguiu fazer, e, na verdade, não tentaram com afinco efetivo, mas ainda que o tivessem escorraçado, e pendurado numa bomba de gasolina pelos calcanhares como fizeram ao falastrão Mussoline, eles fazem parte da História, e a ponte de seu nome também. e hoje em que se comemoram 50 anos dela, como lembra-la, e quem ela é? Não se apaga a História.

Secretário podado e apodado, é ápodo!







Terá pernas para andar? É a pergunta! Que coisa mais descabida manter um secretário, ou três, que não podem, por força de Lei, desempenhar na plenitude de suas funções. É como manter jogadores capengas. Deve se atribuir a esse jogador um mérito excepcional para essa manutenção, e o que explica o treinador? Nesse caso o treinador de plantão é uma pessoa que sempre admirei por sua lógica cartesiana. o ministro dos negócios estrangeiros  português, o dr.  Augusto Santos Silva, que, nesse episódio, prestou-se a papéis que vão contra sua lógica cartesiana, que vão contra sua postura de estadista, que enxovalham uma pessoa, que jogam no descrédito qualquer um. Ou esse (s) secretários são imprescindíveis por qualquer razão que não concebo, ou há uma amizade tão entranhada que os faz ser tão queridos, ou ficaram todos malucos. Eu já os tinha posto a correr a toque de caixa pela atitude censurável a que se prestaram, sobretudo num governo debaixo de holofotes e lentes de aumento. Não há mais nada a dizer.

Como fizeram o oposto com sucessivas medidas e alegações despropositadas, que todas juntas valem nada, pois nada pode apagar o que ficou feito, nem a devolução do dinheiro, nem essa em dobro, ou triplo, nem  cem códigos de ética, que ética se tem sem códigos, nem  mil padre-nossos, nem cinco mil ave-marias, o malfeito está feito, e só resta pegar no boné e ir-se embora. E poder guardar alguma dignidade. Essa insistência vil em permanecer, é tanto mais infame quanto incompreensível. Já andam a se perguntar que poderes maiores terão estas três figuras que não se arranjem outras que as substituam? Um disparate!

Ou o Antônio Costa higieniza isso quando vier de férias, e não desautoriza o seu segundo no governo, é simples: afirma que esse tomou a medida cabível no momento, mesmo porque não lhe compete demitir os nomeados do Primeiro Ministro, mas que ele, reassumindo as funções, já não pode contar com a colaboração dos três "patetas galpenses", como agora são alcunhados nas redes sociais, trocaram o alto cargo por um bilhete para um jogo de futebol, ou terá seu governo sempre debaixo de fogo numa área inconveniente, pois que serão sempre  apodados, posto que podados, incompletos, incapazes, em sua totalidade de atuação, já estão, o que não dá vaza ao mínimo bom senso, muito menos à lógica cartesiana.

Assim a resposta a questão inicialmente formulada só pode ser uma, não há volta a dar, estão irremediavelmente ápodos, como afirma mesmo o nosso título.





quarta-feira, 3 de agosto de 2016

Os 12 de Inglaterra - Seis séculos de uma galanteria.





Estou absolutamente convencido que os doze eram treze, mas isso não tira mérito nenhum aos seus feitos gloriosos, à sua proposta vívida, e à obra realizada; e por mais ao detalhe assombroso de que em todos os recantos não se encontrou, se não em Portugal, quem defendesse a honra denegrida das donzelas inglesas.

Conto a história, para relembra-la, antes dos comentários.  Com a morte do Príncipe Negro, seu pai, Richard, o segundo desse nome, já no ano seguinte com a morte de seu avô, o terceiro Eduardo, aos dez anos de idade sentar-se-á no trono de Inglaterra, e no de França, juntos a esse tempo, e será Lord da Irlanda e Príncipe de Chester, tinha coração tão diferente do anterior Richard, o primeiro do mesmo nome em Inglaterra, que foi guerreiro até na alma, já este segundo Richard, das rosas, foi um invisível beligerante, que Shakespeare arrasa para todo o sempre a fama e o nome, nome com o qual mesmo intitula sua peça, libelo acusatório para a eternidade, este Richard reinará por dois anos mais que duas décadas, quando será destronado por seu primo, terminando deste modo sua dinastia, indo os Lancasters sucederem aos Plantagenets. Tendo deixado uma situação má no reino, tendo se revelado portanto um rei fraco, o que, como se sabe, "faz fraca a forte gente" como está dito no Canto terceiro dos Lusíadas. Entretanto o que aqui devemos lembrar está no sexto, e é do tempo do quinto Henrique inglês, que é filho e sucederá ao quarto, que destronou ao primo, mudando a dinastia como ficou dito, e foi nesse tempo, estou em crer, que, exatos, uma dúzia de nobres, assim chamados por serem membros da nobreza, mas que de alma ou coração não tinham nenhuma, que, em sua arrogância tipicamente britânica, e com presunção estulta, acusam doze Damas, de não o serem, o que equivale a dizer que eram mulheres sem honra, pois de honra é que aqui se trata, e as zelosas senhoras ofendidas no que de mais forte e valoroso alguém pode ter, mas que, por imaterial, tem só resguardo na fé, e na certeza da preservação daquilo que é honor, pudor e pundonor, que lhes era e ficava roubado face a semelhante afirmação, ou como quer Camões, e afirma-o ao fim da estrofe 44 : "Dizem que provarão que honras e famas Em tais damas não há para ser damas" o que ainda mais perpetuavam num desafio, que impedia, como muro no caminho da verdade, a qualquer reabilitação, pois os doze presunçosos desafiavam a quem quer que as quisesse defender, que o fizessem com a convicção da lâmina afiada, ou seja, ao fio da espada, em liça, e que as viessem bater com as deles, as dos que acusavam, pois, convictos de sua verdade acusatória, mantinham a acusação, agora, já, como desafio.

Criou-se, destarte, impasse que só alcançaria solução, a reposição desejada pelas damas, com a defesa de sua honra em embate, em luta que atendesse ao desafio, para repor às damas o que lhes fora tirado pelos doze formidáveis cavaleiros que as acusavam. As damas procuraram defensores entre os da família, entre os amigos, entre os parentes, entre os dos reinos, e de muitos outros cavaleiros noutros reinos que se tratavam debaixo do mesmo rei a essa época, e não encontraram quem as defendesse, quem se batesse por sua honra, essa que fora conspurcada pelo libelo dos doze ingleses que lhes apontavam o dedo, as acusando, pode-se mesmo dizer que foram roubadas de seu mais precioso bem, pela dúzia de acusações que se lhes pesava, e que só na arena, só à força do sangue posto em causa para ser derramado, uma vez  sufragado na contenda, poderia defender e restituir o que lhes tinha sido roubado por força da acusação que as ultrajava, mas para isso eram necessários cavalheirosos cavaleiros, o que não encontraram nos diversos reinos onde os buscaram.

Deste modo, sem ter encontrado ninguém que as defendesse, por estarem todos temerosos dos doze possantes acusadores ingleses, as damas não sabiam que fazer, que posição tomar, uma vez  ofendidas, espoliadas de seu precioso bem, sob a força de uma imputação degradante, resolveram, então, procurar conselho, e aqui começam os enganos e erros que atravessam a história, muitos parecem-nos tão ridículos pelas datas, onde põem o valoroso John of Gaunt, Duque de Lancaster e Duque da Aquitânia,  que morrera em 99 como o conselheiro das damas, retrogradando com os fatos para o reinado do segundo Ricardo de quem lhes falei no início, o que levaria o caso para o século XIV, quando muitos dão como certo o ano de 1396 para as ocorrências que Vos conto, mas não há documentação que o prove. Camões também põe como conselheiro das damas John de Gaunt, o que poria de fraldas alguns dos portugueses que  protagonizam a defesa das damas ofendidas. Com a morte de John de Gaunt, o ducado passa à coroa porque seu filho Henrique, o quarto, tornara-se rei, tendo expulsado ao segundo Ricardo, como eu já havia dito, logo quem estiver no trono será o Duque de Lancaster, assim como hoje Isabel II é o Duque (não disse mal, não é duquesa é o Duque, conforme a tradição) de Lancaster. Após muita pesquisa estou crente que o ano terá sido 1415 ou 1416, por isso agora comemoram-se os seis séculos do ocorrido, mas se assim não for e tiver sido mesmo em 1396, comemoremos então 620 anos, um nobre feito merece memória seja em que contagem for.

E foi assim: tendo conquistado enorme e justificada fama em Inglaterra aos portugueses, por seu valor ao defenderam as damas inglesas que ninguém quis defender, e que elas mesmas não podiam defender-se, ou como foi dito por Camões na estrofe 45, sempre do mesmo Canto VI: "A feminil fraqueza, pouco usada, Ou nunca, a opróbrios tais, vendo-se nua De forças naturais convenientes, Socorro pede a amigos e parentes." marcaram a História com seu feito, que, com a rolança do tempo se foi transformando um pouco em lenda, e exceptuando Fernão Veloso que a contaria ainda século mais tarde, e o próprio Camões, que a este mesmo cita como fonte na estrofe 41 e em outras deste sexto Canto, onde ainda o faz de narrador. Fernão Veloso que Moçambique o nome guarda depois de Nacala junto ao mar, no dito canal nas águas do Índico, e que no Canto V é o herói que é algo covarde (estrofes 31 a 35) tornado cómico, e tendo seguido  Camões a Fernão Lopes de Castanheda (História, livro I, cap II) diverge desse com sua pilhéria, que ninguém registra, nem está no Roteiro de Álvaro Velho, e que Pessoa relembra no seu Bahia de Santa Helena (estrofe 30 e ss) tudo engrossando as brumas nebulosas do longo tempo que segue passando e acumulando poeira.

Não se sabendo ao certo o ano da ocorrida valentia, não havendo registro nas crônicas inglesas, afirmando uns serem os doze e seu magriço, o que leva a treze, que verdadeiramente é o número dos nomes que temos deles, mas que Camões diz onze, mais o magriço que chega em cima da hora, e que teimam em dar a Páscoa, ou a festa do Espírito Santo de1396 como a data do ocorrido, e isto levaria ao magriço ter treze anos de idade, a D. Álvaro Vaz de Almada e Soeiro da Costa, seis anos, pois ambos terão nascido em 1390, o que torna impossível 1396 como a data da galanteria, por estarem estes como participantes no feito e constarem entre os doze/treze, sendo esta questão de idade o que impossibilita este ano apontado como o da demanda. Outros esclarecimentos não vamos encontra à a lista dos doze, que  tem nomes sobres os quais pouco ou nada se conhece, assim se dá com os irmãos Mendes Cerveira, Álvaro e Rui, João Pereira da Cunha Agostim, o sobrinho do Santo Condestável, e Martim Lopes de Azevedo, todos que não sabemos quando terão nascido, nem sabemos mais nada sobre eles que nos permita estimar seus períodos de vida.

Antes de Camões glosar o caso, o único registro publicado que se conhece sobre o mesmo, é o de Jorge Ferreira de Vasconcellos em seu "Memorial das Proesas da Segunda Távola Redonda", que, só pelo título, já remete o relato para o universo das lendas e fantasias, num episódio de cavalaria ocorrido mais de século e meio antes, o livro de Ferreira de Vasconcellos é de 1567, e Os Lusíadas de 1572, o que vem à seguir é o de Pedro Mariz, os Diálogos de Vária História, que é de 1599, que diverge de Camões, mais de150 anos depois dos factos, já sendo uma história com seis gerações pelo meio, é de se esperar que haverá de ter sido bem alterada, mas não a põe definitivamente no grupo das narrativas lendárias, por muito que lhes tenha sido acrescentado (Quem conta um conto apresenta um ponto, diz o anexim.).

Temos ainda na Biblioteca Pública Municipal do Porto, um manuscrito do códice 87, proveniente do Mosteiro de Santa Cruz de Coimbra, esse também quinhentista, o que também põe, faz transcorrer, pelo menos um século sobre o assunto, intitulado Relação, ou Crónica Breve das Cavalarias dos Doze de Inglaterra, texto que trata de história similar ao que é sabido, e ao que nos diz Camões e seu opositor Pedro Mariz, alguns acreditando ser o manuscrito sua fonte comum, o que é bem possível. Manuscrito que se for anterior a 1567, será o primeiro registro do feito português em Inglaterra, e que é apresentado com caráter de relato, e não de fantasia, como em Ferreira de Vasconcellos, fica portanto  a dúvida. Como as narrativas não são coetâneas, coevas, da época do ocorrido, a dúvida entre a lenda e o fato se justifica, parcial ou integralmente. O único documento de época é uma queixa dos Comuns, de 1397, de que damas viviam à conta do Rei, com séquito (Memorial, cap 46 - 5,1,6). Seriam as mesmas damas? Seriam outras? Se ocorreu em 1396 como quer a maioria de quem discordo, a queixa é do ano seguinte, e reclama do estatuto que mantinham as damas, o que será defendido pelos treze portugueses. Se ocorreu em 1416, como creio, é uma queixa antiga, já esquecida, mas evidência, de qualquer sorte, que há, que houve damas em vida airosa na corte. Fonte do incómodo dos doze acusadores. De qualquer forma não há dados para que saibamos com certeza.

Agora juntemos a outra meia dúzia de nomes que faltam à lista para completarmos os treze nomes dos Doze de Inglaterra, mas antes dando o nome do Magriço, assim alcunhado por sua compleição: Álvaro Gonçalves Coutinho que nasceu cerca de 1383, e morreu em 2/7/1445; são eles: Os meio-irmãos Pacheco, ou Fernandes Pacheco, João e Lopo, que seriam ambos de 1340, filhos de um dos assassinos de Inês de Castro, Diogo Lopes Pacheco, Luís Gonçalves Malafaia, filho de Gonçalo Peres Malafaia, de quem temos o registro de Luís como embaixador de D. João II (1445-1495) em Castela neste período crucial nas difíceis negociações entabuladas, que apesar de não termos ideia da data de seu nascimento, podemos tranquilamente enquadrar no tempo com esses dados. Pedro Homem da Costa, que será o primeiro  português desse apelido Homem, que terá sido filho de D Pedro Rodrigues de Pereira e de D. Maria Perez Grael, ignoramos de onde vem o Costa, quanto ao apelido Homem há duas lendas, o que, pelos dados que existem, é colocado no século XV, reforçando nossa hipótese. Temos ainda D. Rui Gomes da Silva, Alcaide-Mor de Campo Maior e Ouguela, que terá nascido cerca de 1360, e por fim Vasqueanes, Vasco Anes da Costa, elevado como o  primeiro Corte-Real em seu apelido por esse feito, ou por ter sido o primeiro a arvorar uma bandeira com as quinas nas muralhas de Ceuta aquando da tomada (1415) se seguirmos Fernão Lopes, posto que Azurara e Mateus Pizarro nada dizem.

Afinal como seguidor dos três beneditinos da Congregação de Saint Maur, a quem François Clément copiou no seu L'Art de vérifier les dates. . .   e como também gosto de verificar as datas, e com isso muitos erros tenho encontrado, vejo muitas possibilidades e impossibilidade nessa história, que não peca por ser desinteressante, e guarda o valor lusitano medieval, que logo se transformaria com a magia do tempo, na maravilha de, digamos, para continuarmos camonianamente, "dar mundos ao mundo", onde milhares de homens pereceram, e que aqui treze bravos venceram aos acusadores ingleses de damas inglesas que não encontraram, se não entre os lusos, defensores de sua honra.

Entre a magia que o tempo guarda, temos a deste Magriço, cujo adjetivo tornou-se, por seu mérito, designativo de paladino de damas, e que a maledicência também substantivará em defensor ridículo de coisas inúteis, uma vez que a distância temporal permite muita coisa. 




segunda-feira, 1 de agosto de 2016

E então? Cervantes e Shakespeare.






Eu, no dia 22 de Abril, o dia em que foi descoberto o Brasil, deste nosso 2016, falava dos 400 anos que passaram desde que nos deixaram estes dois gigantes da Humanidade, Cervantes que é o autor do  livro mais  vendido de todos os tempos. O top 1, agora que a J.K Rowllling entra em 10º com seu primeiro Harry Potter, lá está na lista, encabeçando-a, D.Miguel,desde sempre, desde que há imprensa, o Quijote, com sua graça, sua humanidade, seu entendimento da natureza humana. Pode-se dizer menos de Shakespeare? Repito, verbis, o que disse então: O que há de mais alto no mundo? Não só do literário, pois em tudo que há nesse mundo suas sensibilidades tocaram, deixando como herança a maior maravilha que o testemunho de uma passagem por esse mundo pode deixar: a grandeza dos sentimentos em seu entendimento mais profundo!

Foi há 400 anos, completam-se hoje, que os perdemos, mas como um grande navio atravessando tormenta sua obra perseguiu incólume, expressiva, brava, forte, atual. Que mais se pode querer das palavras? Que mais se pode desejar das ideias?

É nessa hora do encontro dos dois dias, o 22 e o 23, apesar de tudo se ter passado nesse 22, uns consideram 23 para Shakespeare, é nessa hora em que o dia finda que os lembro, imortais como são, inteiros no poder de seu dizer. Sua grandeza reside na mais poderosa característica que tem a Humanidade: a capacidade de rir-se de si mesma, e disso tirar proveito. 

Vejo passar cavalgando em seu rocinante um homem alto, muito magro com uma bacia de barbeiro na cabeça, seguido por um baixo e gordo em seu burrico. Mais adiante vejo um casal de apaixonados morrer dramaticamente pelo amor que os unia, que o ódio familiar desbaratou. O que não daria para ser um desses amantes? Daria meu reino, onde há algo de podre, certamente, por não alcançar aquele nível de sensibilidade emocional. Vejo um homem de vidro a falar das realidades mais profundas que, como é louco, tem suas palavras louvadas. Vejo fileiras de mulheres, alegres e tristes, vejo Aldonsa, Desdêmona, Cordélia, Julieta, Marcela, Helena, Isabela, Dulcineia, Adriana, Catarina, Beatriz, Viola, toda a intensidade de um mundo praticamente desconhecido e alijado do resto das coisas, prisioneiro de uma outra realidade que imperava, apartado da possibilidade de ser. Como as mulheres devem de sua libertação a esses dois senhores!

Nesse desfilar de gente mais viva do que gente que assim se julga, vejo desfiar grande parte de meu encantamento, e talvez maior parte ainda de minha compreensão. Há coisas difíceis de aprender, mas a mais difícil de todas é perceber e entender o próximo.  

E quanto entendimento devo a esses dois senhores...