quinta-feira, 2 de março de 2023

150 anos de puritanismo literário.

In 1873, the US Congress enacts the Comstock Law, making it illegal to send any “obscene, lewd, or lascivious” books through the mail. Above, the symbol of Comstock’s New York Society for the Suppression of Vice. COMBATER O VÍCIO. Um livro nunca pode ser lascivo. Um livro nunca pode ser sensual por mais ilustrado com essa intenção que seja. Um livro nunca pode semear o caos de per si, por mais instigador que seja. Um livro é apenas um conjunto de folhas de papel. Verdade é que seu conteúdo pode ser poderoso, revolucionário às vezes, e inspirar muitos diversos sentimentos, mas o livro em si é um menino bem comportado, fechado de preferência, se os outros, os demais, seus leitores, à conta de sua narrativa e de suas palavras, que transmitem idéias, algumas por demais poderosas, reagem com sentimentos abruptos, a culpa não é do livro certamente, será deveras mais de quem o lê, e sente talvez o que não devia. Ou deveria não sentir, uma vez que são só palavras. E o autor? Porque pôs palavras pirotécnicas na sua obra, capazes de provocar explosões, de promover discórdia, de excitar, acordando sentimentos adormecidos, acelerando percepções críticas, políticas, e, também, algumas, voluptuosas. O que nos leva à Comstock Act, onde tudo que for obsceno, sensual, lascivo, publicações "imorais" ou "indecentes" não pode ser enviado por correio, "through the mail" isso que a net faz a cada segundo em abundância, o Ato do Congresso americano classificava como transgressão vender, dar, oferecer, encaminhar, ou possuir livros obscenos. E o que é obsceno? É tudo que nos impede de ter recato, pudor, de sermos descentes. Logo é libertador. Vejamos: o pudor, a vergonha, é um sentimento restritivo, como todos percebem. Logo o que mos impede de uma restrição, é libertador. Não limita, não reduz, não contém, logo escancara, solta, liberta. Quem decide o que é moral ou imoral? Decente ou indecente? Fascenino, lascivo, licencioso, ou não? Tirado o passarinho da gaiola, ele voa, como sabemos. E os segmentos do poder os querem com os pés no chão, incapazes de grandes vôos, que estes alteram a realidade, e a pretenção do poder é controlar a realidade. Manter o status quo, estamentos desejáveis, para a boa ordem, os bons costumes, e se observarmos a raiz da palavra obsceno (obs, de obstar, impedir + genikós= público, geral.) logo verificamos que o combate a este sentimento, o do obsceno, se faz por restrições em geral, criando constrangimentos diversos, para contrapôr o que quer impedir a comunidade de ser descente, de ter vergonha. Posto que toda libertação é perigosa para o poder, retirando-lhe controle, ou seja domínio. Logo o ato de puritanismo, seja ele de que natureza for, religiosa, social, legislativa, ou simplesmente literária, é autoritarismo, pela rigidez de princípios de quem o promove, contra a brandura geral, que manifesta em sentimentos lascivos, sensuais, foram, e ainda são por alguns, interpretados como imorais, indecentes. Pergunto: O que pode pode haver de imoral ou indecente no ato de ler? Ler é uma relação pessoal consigo mesmo, única e exclusivamente entre o leitor e a leitura, nã implicando mais nada, nem ninguém. Não podendo portanto ser obsceno, porque falta-lhe o 'oikós' por ser ato individual. O Ato foi tentado repelir em 1878, sem obter sucesso. Sempre houve talibãs. Logo proibir seja o que for em relação aos livros, essas ações equívocas do puritanismo, é um contrasenso, se vizasse a sua leitura pública, ainda poderia ter algum sentido, mas seu envio por correio, é pura tolice, mesmo autoritarismo arbitrário. Se um desses puritanos pudesse ver os conteúdos enviados por correio, eletrônico agora, às toneladas, sendo-lhe facultado qualquer instumento de acesso à net, lhe daría uma coisa má. Mas sempre lhes poderíams explicar, que os podem deletar a qualquer hora.