terça-feira, 30 de março de 2021

(A beleza da dúvida 0) - O infinito metafísico.

 






Na busca da essência das coisas, o homem mergulha num mundo de dúvidas e questionamentos, que a pouco e pouco vai desvendando a causa primária de todas coisas, essas coisas que ele desconhece na totalidade inicialmente, mergulhado na escuridão de sua ignorância, porém à medida que as descobre as vai relacionando umas com as outras, entende que elas estão divididas em diferentes corpos do saber, que em cada questão não respondida, não tendo sido alcançado seu entendimento (na maioria dos casos por falta de tecnologia que as revele) por um lado, ou sendo confrontado com sua grandeza e amplitude, encontra muita dificuldade para ser equacionada, e envereda por um Universo de dupla característica: a 1ª a de que a abstração não consegue explicar o fenômeno, a 2ª a de que a fronteira a atravessar possa não ser alcançável.  A esse universo que fica circunstancialmente além de nossa compreensão, não equacionável, portanto, e que não conseguimos possuir, e/ou compreender, chamamos Metafísica.

Se os infinitos tivessem tamanho, poderíamos dizer que o metafísico, à medida que foi e vai sendo desvendado, teria se tornado 'menor', porque todas as descobertas realizadas em todos os campos da ciência retiram-lhe elementos, porque esses deixam a metafísica e passam ao físico, sendo estudado pela física e pelos outros campos do saber, tendo ao mesmo tempo que o outro universo, o físico, que, por outro lado, vai ficado em simultâneo muito maior pela própria infinitude que vai revelando com essas próprias descobertas realizadas. Caos é só um, e a origem infinita de tudo é a mesma, mas temos de compartimentá-la para lidarmos mais facilmente com ela, e buscar entendê-la.

A metafísica foi percebida muito clara e amplamente pela Arte (desde a que propriamente se chamou Metafísica, o Dadaismo, o Surrealismo, etc...) que buscava atingir ' al di lá ' da realidade, alhures, expressando-a, bem como pelas outras formas e manifestações artística, que intuem e percebem esse universo, antes e mais intensamente que a ciência, que a filosofia, todas sem a componente xamânica, pois, se aí a tivéssemos, nesse caso estaríamos tratando da religião. 'Al di lá', algures, nunca ninguém saberá se o alcançou, ou não. A busca para além da realidade física tem este inconveniente para a sua demonstração, que só uma perfeita equação matemática, o outro olho que vê a metafísica, cqd, com suas adequadas demonstrações, é capaz de comprovar, permitindo a seu tempo [quando houver tecnologia] sua cabal confirmação através da experimentação.  








quinta-feira, 25 de março de 2021

(A beleza da dúvida -1) - O duvidar.

 


No início tudo era duvida, e, evidentemente, havia duvidar de e em tudo. Hoje, num mundo cheio de certezas, muitas delas nem sempre as mais proficientes, duvidar é um ofício necessário, questionar, lançar indagações sobre a aparente realidade, e suas múltiplas facetas desvendadas, que fazem aparecer muitas outras ignotas, incógnitas, ignoradas. Na medida em que todas as certeza provêm de dúvidas anteriores, que sucessivamente se apresentaram, algumas mesmo para confrontar o que pode parecer lógico, como fez Copérnico com o geocentrismo, essa peta que nos prega o Universo, com o Sol a cada dia desfilando a nosso redor, fazendo-nos ver que tudo gira o redor da Terra, a maldição do Padre Nicolau, que cem anos depois tornou-se num inferno para Galileu, por ver que era assim como Copérnico havia dito, contradizendo aos ptolomaicos e à Igreja. Ao concordar com Copérnico, e com a verdade, devemos dizer, Galileu quebrava a ordem do universo, alterava a posição central do homem com o seu planeta, centro do Universo, que hoje sabemos ser um grão de areia no infinito estelar, descoberta cuja viagem começa com o Telescópio. É pois a tecnologia que ultrapassa fronteiras, para o infinitamente grande e longe da busca de Galileu, ou para o infinitamente pequeno pela porta que abriu van Leeuwenhoeck.   

Entretanto questionar, que muitas vezes além de perigoso e incómodo, ocasiona uma verdadeira guerra, porque cria uma onda de posição imensa ao que está estabelecido, é sempre luminoso e revelador, porque mesmo que não encontre a resposta ao que indaga, abre sempre uma fenda enorme no edifício das coisas estabelecidas (na ciência, na tecnologia, na filosofia, etcetera) trazendo o novo, com um insólito argumentário que abre possibilidades e probabilidades deveras reveladoras.

Após tanto tempo da Humanidade conviver com certezas que sanaram dúvidas com as quais nos era doloroso viver, tornou-se quase uma segunda natureza humana questionar tudo e todas as "verdades" estabelecidas, criando veredas na busca do conhecimento a que chamamos ciência, filosofia, arte, etcetera, e aos homens a elas dedicados, cientistas, filósofos, e artistas, respectivamente. Deste paradigma ontológico institucionalizaram-se os processos de busca do conhecimento, como não poderia deixar de ser, uma vez que era imprescindível formar um corpo de saber para se dar mais um passo, para se poder ir mais além.  

Assim segue a Humanidade neste infindável duvidar, trazendo luz as muitos arcanos com os quais convivemos desde sempre, revelando muita coisa para logo encontrar muitos mais mistérios.

segunda-feira, 22 de março de 2021

A ÁGUA QUE EU BEBO.

 

                                                                                                   Para lembrar o dia mundial da água 22/3/21


A água toda deveria ser re-utilizada. Você deveria recolher a água em que lavou as frutas, ou as batatas,  para regar suas plantas. A água em que cozinhou os legumes, por exemplo, e usá-la para o arroz, para a sopa, e assim por diante. Mas é pouco. 

Todos deveriam ter em mente que sua presença no planeta pesasse o menos possível, porque o planeta é de todos, e tudo que eu desperdiçar vai fazer falta ao meu vizinho.

 E é pouco, porque esse bem é cada vez mais escasso no planeta, em três décadas metade da população do mundo não vai ter acesso a água, já escrevi um artigo sobre o tema e sobre as guerras da água, que estão aí e as pessoas não se dão conta, mas a escassez vai levar-nos a uma total transformação do modo como fazemos as coisas. Pensemos um pouco sobre isso.

A água usada, que é toda canalizada para os oceanos, muitas vezes poluindo praias e mares,  rios e canais, lagoas e lagunas, salvo a das sanitas, esse imenso volume de água residual poderia todo ser re-utilizado antes de ser mandada de volta para o ambiente, e em certas condições ambientais, por exemplo nas propriedades rurais, pode cumprir um circuito fechado que evitaria o uso de água limpa, que custa muito econômica e ambientalmente.

Com água limpa refiro-me a água potável, que requer, para ser obtida a partir das residuais, muita química, muita energia, muitos custos, enormes instalações e equipamentos. 20 % da população mundial não tem acesso a essa água (ÁGUA POTÁVEL) e outros 20 %  não a têm encanada, tendo de a ir buscar longe de casa. Ou seja hoje só pouco mais da metade dos seres humanos têm boa água, em 2015 será um quarto da população mundial, o que causará enorme pressão nos países bem abastecidos, Da Suíça ao Brasil, do Luxemburgo ao Irão, da Islândia aos EUA, à China, à Rússia e à colcha de retalho africana. E as respostas aos conflitos suscitados será muito diversa em cada caso.

Soluções misteres:     

                                A nova casa de banho (banheiros das casas particulares e hotéis).

                                Terá de haver coleta da água usada da torreira, e do banho, podendo mesmo haver um controle para a água que está sendo dispensada, se, por exemplo, for uma água usada com tintura de cabelo, seria encaminhada para o tratamento de águas residuais, porém se fosse a água de lavar as mãos, do banho, ou  com a qual se escovou os dentes, poderá ser acumulada um depósito (que existirá nas novas casas de banho) para depois servir para a descarga das sanitas, por exemplo.


                                A nova cozinha.

                                Toda a água usada nas cozinhas deveria ter encanamento próprio para que fosse encaminhada para as regas, para a lavagem de veículos, de ruas, etc, bastando para isso ser decantada. Isso pouparia bilhões de litros de água potável que são gastos todos os dias nesses misteres.


                                O velho novo comércio.

                                 Ainda que essa medida que deverá levar a abandonarmos os plásticos, e promover a embalagem em outros materiais recicláveis ou biodegradáveis seja um problema transversal hoje a todo tipo de bem e a todos os países, na água, que não deixa nenhuma 'sujeira' nos recipientes que a transportam,  essa medida é quase uma obrigação. Como era antigamente, onde o leite, os sumos, os refrigerantes, eram todos comercializados em vidro. E é algo muito simples se conseguir isso, basta uma lei mui singela, nesses termos: É vedado o engarrafamento de água (e, já agora) de todos os líquidos comercializados em que o elemento principal (acima de 60% de sua composição) seja água, só poderão ser embalados em vidro. § único: revogam-se as disposições em contrário. E tudo mudava  de pronto nos supermercados e nas mercearias, e mais que tudo na Natureza.

                               O mundo está atulhado de plástico, um produto que demora milhões de anos para se degradar, e mesmo assim, se transforma em partículas minúsculas que se mantém no ambiente, se incorpora aos animais e plantas e em nossos organismos, com péssimas consequências para a saúde, muitas ainda desconhecidas, e apesar desta terrível realidade já nos afligir a todos, uma ação bem simples, como é a de comprar água em garrafas de vidro, é praticamente impossível.

                               A água que eu bebo.

                                Por razões pessoais prefiro o consumo de água das pedras, essa maravilha da natureza que tem suas fontes no Alto Trás-os-montes (em Bornes de Aguiar), e que pode ser adquirida em vasilhames de vidro, que uma vez vazios, podem ser re-encaminhados para a origem por via de sua devolução, motivada através de uma caução por vasilhame adquirido, que é reembolsada como retorno do vasilhame. Uso esse método há vários anos, retornando os cascos, as garrafas vazias, das águas que bebi, para o supermercado, onde há uma máquina que os recebe e recolhe, emitindo os créditos do retorno, para o reembolso da caução.

                                Com a pandemia optei, como muita gente, pela compra 'on line', para manter o confinamento decretado pelas medidas governamentais. Qual não foi minha surpresa que na lista de vendas 'on line' dos supermercados só se encontram à venda as garrafas de água em plástico, não podendo ser adquirida em vasilhames de vidro. Ora, esta é uma demonstração cabal da negligência com um problema seríssimo, posto que ninguém se está  preocupando com a enorme luta que vamos ter de travar contra a monstruosa poluição que se está acumulando, e destruindo o planeta, como se não fosse esta a próxima pandemia que iremos ter de enfrentar.

                                 O descuido, o descaso, o pouco caso, a indiferença e a falta de consciência continuam, como se este pequeno gesto fosse coisa de somenos (saírmos do plástico e voltarmos ao vidro) esquecendo-se do antigo provérbio alemão que nos ensina que "o diabo mora nos detalhes".

sábado, 20 de março de 2021

No país da poesia.


                                                                                                                ilustração de José de Guimarães.



 

Perdida entre opostos binómios

Terra de Antónios

Terra de Arys

Terra do exepcional Luís

Onde canta-se o demónio

E onde se canta na matriz

O Criador com seu maior fulgor

Com o sopro do harmónio

Nada te escapará, mesmo que por um triz

Frontal ou à socapa, transbordas


De tua matriz trágica fez-se a sentimental

É necessário drama para poder ser Portugal


Terra de Herberto

De Vitorino

Terra do inigualável Fernando

De Florbela, e de tantas Anas e Mários

Do grande Alexandre e do magistral Manuel Maria

E ainda de tantas Marias e de muitos outros sicários...


Da matriz trágica fez-se a sentimental

Com a necessária paixão para poder ser Portugal


A das Teresas, de Amália, de Sophia

Terra de todas essas forças, evoco-te a ti

Poder eterno, sobrenatural

A cantar em cada um, e em todos, de per si

Verso e reverso 

Nesse Universo

A que chamamos Portugal.








  

quarta-feira, 17 de março de 2021

Guerra contra a estupidez.

 



Há uma guerra surda, uma mortandade, um aniquilamento. Os números são de guerra! As repercussões são de guerra. As consequências, os resultados, tudo que tem acontecido no Brasil são de guerra, desde os cadáveres insepultos com 3.000 mortes por dia, até os hospitais cheios além de suas capacidades, são sintomas de uma guerra. 

O Brasil está em estado de guerra, sofrendo ataques sucessivos, passando pela dor da perda de milhares de entes queridos, como acontece numa guerra. Centenas de milhares de baixas na população inocente, morrem indiscriminadamente combatentes e civis, pela inconsequência da luta, luta que não deu o combate necessário, que acreditou em tolices, desde que o inimigo não era nada, até numa arma miraculosa que de nada servia. Luta sem generais, e quando a luta está se perdendo, e cada vez mais esta está sendo perdida, o chefe máximo troca o comandante no terreno. Nem o assassino do Hitler ousou mexer nos chefes durante a guerra, porque parar a ação da cadeia de comando só piora as coisas. 

Mas que guerra é esta? Outros países também estão em luta, uns com mais sucesso que outros, mas em nenhum caso a guerra atingiu proporções tão perturbantes. Só nos EUA caminhava para essa situação alarmante em que se encontra o Brasil, mas lá trocaram o comandante supremo, substituído por outro que escolheu a arma certa chamada vacina. Até quando o Brasil se vai manter nessa condição, como se nada fosse?

Porque a fatalidade do vírus é incontornável, a de um incompetente a governar o Brasil, não!

A guerra contra o Coronavirus há de ser travada em toda parte com maior ou menor consistência, com melhores ou piores resultados. Com comandantes mais ou menos competentes, mas esse grau de ignorância e incompetência no comando do Brasil, não tem paralelo. A guerra contra a estupidez de um homem é impossível de ser ganha, sobretudo se o homem tem o grau de estupidez que revela o capitão Bolsonaro. É uma guerra em princípio inútil, e como resultado estará sempre perdida.

Para que a guerra cesse, para que as mortes parem, só há um caminho, o americano, despachar este estúpido pros quintos dos infernos!

segunda-feira, 15 de março de 2021

Sempre às sextas.

 



Deusa da música e das flores, da fertilidade e do amor, Freia, também é a deusa da Guerra e da Morte.


"Fridays for future" foi como a nossa pequenina Freia sueca, Greta Thumberg chamou à sua campanha de alerta para as medidas necessárias contra as mudanças climáticas. O mundo no acordo de Paris fala do aquecimento global, o que é pouco em termos de abrangência, e não é a mesma coisa. O movimento "Fridays fpor futuire" começou num 15 de Março, há três anos, 2018, parece que foi há 20, mas as respostas que começavam a aparecer, sucumbiram ante a pandemia Covid, resta agora fazer renascer o movimento.

No mundo não há muitas guerreiras, e, no entanto, necessita desesperadamente delas!

Venus, que tomou o lugar de Freia com o domínio romano num perfeito sincretismo, passando mesmo a designar-lhe o dia do friday, oriundo do antigo frigedaeg inglês, ou fiatag germânico, pelo venedi, e pelo viernes das línguas neo-romanas, sendo então outra deusa, era a mesma, e do dia que a pequenina Greta escolheu para dia de sua enorme luta, fica a marca oculta da deusa, esta que re-nata vem trazer o alerta, de que temos de mudar o mundo para podermos ter esperança de futuro. Nessa portentosa luta contra um vírus reside todo o ensaio contra a falta de ação dos governos no mundo todo, a grande guerra para repormos o equilíbrio perdido na nossa relação com o ambiente.

E, como louvo o esforço da pequenina deusa sueca, aqui estarei, estaremos todos, para exigirmos soluções, encontro marcado, sempre às sextas...  



A estupidez no leite.

 


Escrevi no face há 5 anos em 15/3/2016, e ainda hoje, como em 2016, e há mais de duas décadas, insisto na pergunta: Quando vão olhar para África pensando lá criar um mercado consumidor? África existe!!!

A estupidez generalizada: A Europa vai diminuir a produção de leite para fazer o preço subir, uma pseudo solução, uma dupla machadada.
Tanta gente no mundo passa fome, e há leite barato, é só fazê-lo ir ter onde é preciso. Por toda África aqui pertinho faltam milhões de litros todos pos dias. Nos países andinos também. Um pouco por toda parte, no oriente e por ocidente, a quem precise leite barato. Nos próprios países onde é produzido há gente que o necessita barato.
A solução era compra-lo todo a um preço satisfatório,continuar a pô-lo barato em seus mercados, e levar com um preço possível, à todos os lugares onde falta num mundo que sente fome.
Dimiuir a produção e aumentar o preço é o cúmulo da estupidez, solução de gente que não sabe administrar, que é só o que se vê. Não sabem fazer um projeto que não dê lucro, evidentemente só poderia ser um projeto público, que DÊ SUSTENTABILIDADE aos produtores, e dê oportunidade a todos os consumidores, isso não sabem fazer.

Quem matou Marielle?

 


                                                                                                        14/3/2018 - 14/3/2021 - 3 anos!

Passados 3 anos a questão permanece. Todas as evidências apontam para a família Bolsonaro, tendo o capitão mesmo tentado reiteradamente intervir no inquérito, dizem que para livrar o filho mandante. De qualquer maneira as investigações se arrastam mais do que o normal na Justiça brasileira.

Marielle Franco e o motorista que foram brutalmente assassinados no Rio de Janeiro, em virtude da campanha que a vereadora promovia que incomodava muitos interesses instalados. Marielle era uma estrela em ascensão, e incomodava muitíssimo a muita gente, inclusive s Bolsonaros.

ATÉ QUANDO VAI MANTER-SE A PERGUNTA: QUEM MATOU MARIELLE?

sábado, 13 de março de 2021

(A beleza da dúvida 4) - O infinito sentimental.

 

Sentir e pensar, não se consegue controlar, não é assim? Entretanto o mundo está repleto de sentimentos, a própria natureza é criação sentimental. E em nós, ainda que nos voltemos muito atentamente para nosso mundo interior, não conseguiremos desvendar todos os sentimentos que lá existem e se manifestam a seu turno, uns ligeiramente, outros enraizados, pois que toda introspecção não será capaz de expor a complexidade do infinito sentimental que nos habita.

Surgindo do nada (será mesmo do nada que surgem?), motivados certamente por um acontecimento, contingente, ocasional e incerto, os sentimentos são a resposta emocional a tudo que se nos apresenta a realidade, com a qual somos confrontados nas múltiplas situações a cada momento. Certamente haverá uma infinidade de sentimentos breves, ligeiros, bem como outras emoções que não têm nome, mas que fazem parte da lista imaterial de sensações a que estamos sujeitos, e que devem se manifestar como resposta a uma situação determinada, e que, numa escala, bem como numa sucessão determinada, manifestam-se, e são mesmo expectáveis, e se faltarem como resposta, esta não estará correta. e mesmo o entendimento ou a percepção do acontecimento, estará mal, talvez incompleto, talvez inadequado. [Porque os sentimentos são veículos da compreensão.]

Em sua ação cotidiana os sentimentos desplotam, destraçam, destrancam inquietações antigas e reações padrão, quimicamente estabelecidas em nosso soma, multi-milenares respostas efectivas a cada situação. Respostas padrão que a experiência ancestral provou como as melhores, as mais válidas, muitas delas se tornando sentimentos, ou sendo entendidas como tal. A mais compreensível destas respostas é a da adrenalina, a do medo, do susto, do pavor.    

Compulsivamente fomos ligados a estas respostas químicas inexoráveis, posto que há muitos mecanismos que as deflagram e que estruturados nos diferentes cérebros, têm suas origens remotas no reptiliano, fazendo parte de nossa mais antiga história genética, vale dizer que os sentimentos estão em nós, nascemos com eles, vivemos com eles, e não os modificamos. 

A expressividade manifesta no universo artístico (na oralidade, na escrita, e nas artes plásticas) é bem reveladora deste infinito sentimental, que real ou fictício congrega uma gama tão vasta da sensibilidade que sua manifestação é infinita, ainda que não nos demos conta que toda nossa expressividade é sentimental, desde a que resulta de olharmos de certo modo, ali está um sentimento, e este difere totalmente quando, ao mesmo acontecimento, nossa forma de olhar é outra. No universo sentimental nossa manifestação de dúvida é inguinal, uterina, profunda dentro de nosso ser, que se faz sentir muito interiormente, sabe-se lá onde, sabe-se lá como, sendo causa e efeito de reações múltiplas, ditas angustiosas, ou de expiação, ou êxtase. Entretanto nós rapidamente esquecemos nossas manifestações sentimentais, a pintura, a escultura, e a palavra escrita não. 




















( A beleza da dúvida 3) - O Infinito filosófico.



 As indagações e dúvidas humanas em suas sucessivas manifestações, formam e conformam um corpo de questionamentos, que, em sua lógica, estabelece o Universo filosófico, que tendo começado com as dúvidas de um só homem que se questionava, e depois de outros mais (os filósofos clássicos) evoluiu em áreas de dúvidas que se acumularam ao longo do tempo criando diversos e distintos campos de indagação filosófica. Dentro do campo racional, por exemplo, criaram a Lógica, e depois a Psicologia, e no campo do conhecimento a Epistemologia, criando desse modo, vários e diferentes campos bem delimitados em suas diversas áreas de questionamentos, demarcados pela natureza da indagação.  

Se na ciência haverá alguma esperança de remissão, na filosofia essa escapa. Inexoravelmente a filosofia estabelece novas confabulações, que inelutavelmente nos levam a outras dimensões da dúvida, que então abrem outras novas questões filosóficas desconhecidas, ou remetem ainda para outras, que, mesmo muito exploradas, agora se apresentam com nova roupagem face desta nova dúvida nova suscitada, tendo sido anteriormente desapercebida, não tendo despertado nossa sensibilidade para dar-lhe a atenção devida, com mais saber abre-se mais questionamento.   

São descobertas dentro das descobertas, revelações novas, novos caminhos que devemos percorrer para responder às perguntas, as incessáveis e incessantes questões que são propostas pelo simples ato de pensarmos sobre alguma questão.

<<Primum vivere, deinde philosophari>> diziam os antigos a gozar com os que, cogitando das coisas, não ganhavam seu sustento, aqueles que eram dados mais às coisas do espírito, secundarizando as da matéria, quase como na religião. Com a evolução da sociedade abriu-se espaço para esses, todos os que eram dados às coisas do espírito, que passaram a ser as coisas que mais importam (sucessivamente 4 revoluções industriais libertaram muito os homens da matéria) e fez-se o tempo dos filósofos, dos cientistas, etc... sendo estes hoje muito melhor remunerados do que os que antes priorizavam as coisas da matéria, excepção feita aos desportistas, ou aos grandes artistas, que lhes ultrapassam em ganho. Mudam-se os tempos mudam-se os valores e o que é valorizado.

Quem mergulha nesse universo sem fim, vê a beleza incrível que há nas coisas, e descobre seus padrões, os que, maravilhado, tentarão explicar, para achar suas razões e causas, perceber suas leis, suas regras de formação e existência, suas origens. Com a apreciação tão somente mental e sentimental das suas manifestações, uma vez que aquilo que se busca é, e permanece invisível, até que se venha dar a conhecer, e possa, então, ser reconhecido, ao revelar-se, o que antes era ignoto.

Como "o desejo não surge da inteligência", atendendo a assertiva de Unamuno no seu "Del sentimiento trágico de la vida", 1904, ao comentar a antiga máxima escolástica: <<Nihil volitum quin praecognitum>> que nos leva aos pontos cegos da observação, escotomas intelectuais, pois mesmo que não os percebamos, podemos ainda assim os desejar, uma vez que há toda uma gama de obscuridade que somos capazes de percorrer ignorantes na busca de um desejo. Esta a magia da filosofia, que mesmo sem contradizer o antigo apotegma escolástico o ultrapassa, uma vez que seu universo é atemporal e ilógico, e só em sua descoberta se tornará lógico, como consequência óbvia que resultará dos novos valores então descobertos. Camões em seu magnífico Soneto já nos prevenira: " Mudam-se os tempos, mudam-se as vontades." (Sugiro sua re-leitura completa.) 

Eis que este fascinante universo filosófico traz, nas suas dúvidas, beleza infinita, que ao enganar o cérebro, que não reconhece o que não conhece, permite que este se dê conta do invisível, que era até aqui inexistente, e possamos entender como Camões: "E afora este mudar-se cada dia,

                                                                                Outra mudança faz de mor espanto,

                                                                                Que não se muda já como soía." 



 

terça-feira, 9 de março de 2021

A JOGADA RESULTOU...

 

Quem visitar os jornais publicados em todo o planeta, e ler as diferentes notícias que dão conta da decisão judicial do Supremo Tribunal Federal que iliba Lula, ficará absolutamente convencido que o mundo inteiro não tem dúvida alguma que a condenação de Lula foi uma tramóia, uma jogada política, e devemos reconhecer que resultou. 

A justiça federal de Curitiba, leia-se Sérgio Moro, condenou Lula por uma só razão: EVITAR SUA REELEIÇÃO! Para permitir o acesso da extrema direita, para pôr esse ignóbil incompetente na cadeira de presidente. Posto que com Lula candidato ele não passava nem perto do fosso do Alvorada. Mas fizeram a jogada e a jogada resultou, o principal ator do logro recebeu o pagamento, sendo feito ministro da justiça - a injustiça dessa patranha é conhecida- mas o desejo de poder subiu-lhe a cabeça, se ele conseguia pôr um analfabeto no poder, como ele, Moro, medianamente alfabetizado não iria alcançá-lo para si próprio? E desta perversão todo o conflito que depois se soube.

Com a continuada ação jornalística que se seguiu tentando desvendar esta terrível jogada, tudo ficou conhecido, a traição de um juiz à Justiça, com adulteração de provas além do mais, e a de um procurador, que em conluio com o juiz, Moro de seu nome, arranjaram meios de 'prova' para incriminar um inocente. Mantive-me calado, porque enquanto a patranha não estivesse completamente desmascarada, tudo que dissesse era apenas uma argumentação de defesa, defesa que sempre fiz, portanto não valia a pena entrar no jogo. Teria de esperar e desesperar com tanta imundice e matreirice da jogada, e de suas sucessivas artimanhas; mas por fim a verdade veio ao de cima. E aí está,  pra todos verem, clara como água de nascente: LULA É INOCENTE! A condenação foi toda preparada adrede, com o artifício de que fosse julgado no Paraná, incompetente para o feito. E desse modo retiraram Lula da disputa, na qual se teria reeleito Presidente do Brasil. A única outra hipótese era matando-o, o que não ousaram, sobretudo pelo medo de terem além de um estadista, um mártir a os assombrar.

Porém o que penso, além de que Moro deva ser condenado por prevaricação, já havia expresso, é que Lula transformou-se numa ideia, a ideia de um Brasil grande e possível, com riqueza e justiça social, e não se pode matar uma ideia.  => Repito aqui o artigo: Uma ideia chamada Lula.

                                                                                      "Não me convidaram Pra esta festa pobre
                                                                                      Que os homens armaram Pra me convencer"
                                                                                                                                          Cazuza.



Sim há uma ideia chamada Lula, um misto de sonho e desejo, uma fusão de avanços e possibilidades. Há impossibilidade também. E o que significa isso? "Uma ideia misturada com a ideia de vocês." disse o próprio como que a desmaterializar-se, assumindo que não seria mais ele a representar-se a si mesmo, mas que seu legado ficava, imaterial como tudo que se sonha, e, também como lembrou para assumir-se culpado, muito material, pois promovera progresso social, chances e possibilidades, onde todos teriam melhor alimentação, estudo, emprego e poderiam sonhar com filho na universidade, boa comida na mesa e casa própria, coisas tão simples e óbvias que não deveriam ser discutidas, deveria ser um direto de todos, mas, como nós sabemos, são coisas fora do alcance de uma imensa parte da população, por simplesmente serem pobres, e não lhes ter sido dada a oportunidade para deixarem de o ser com a força de seu trabalho, essa a miséria da exclusão, por que se alguém é excluído por sua falta de vontade, porque não quis lutar e vive na flauta, nós não temos pena dele, mas se, por mais que lute, é posto de lado, porque as oportunidades que lhes são dadas só servem para não o deixar morrer de fome, nunca abrindo perspectivas para criar um futuro melhor, então mais do que nos apiedarmos, nos revoltamos, porque isso é expressão de injustiça, e a injustiça revolta-nos.

Mas, como sabemos, existe um grande número de cegos, sendo mais cego aquele que não quer ver, e não quer porque lhe é conveniente, a quem a injustiça não revolta, porque não a vê, não quer se dar conta dela, serve a seus interesses deixar as coisas pra lá, porque assim não lhe falta nada, ao se dividir muito o bolo os pedaços vão ficando menores, devo lembrar, na mesma proporção em que vão ficando mais justos, mas há muita gente que quer comer o bolo sozinha.
A ideia chamada Lula sempre existiu, e atendia pelo nome de justiça social, porém nunca fora posta em prática, nunca se soubera que é possível, com o poder sempre impondo outros interesses que, como passar do tempo, quase que convenceram toda gente que isso é assim, que não há outra hipótese, que todos deveríamos nos conformar com a correlação de forças <<pobre nasceu para ser pobre, e os demais para viver bem>> como a configuração da suprema injustiça. Porque a injustiça não está em se ser pobre ou rico, mas na falta de oportunidade de se ser o que se deseje e se esforce ser.

A ideia chamada Lula mostrou ser possível o contrário, e se todos não a largarem ela acabará por se materializar, deixando de ser ideia para ser realidade. Todas as coisas que existem começaram comedidas, começaram com possibilidades remotas. E o Brasil que se encontra agora no vórtice, no olho do furacão, à beira do abismo, a um passo do caos, mas sabemos que esse abismo existe com grande montanha junto que deve ser escalada. Ou se pode subir para um outro patamar, ou se pode lançar na queda do turbilhão, do buraco, do vazio, do retrocesso. A voragem em que vivíamos, expressão das profundezas do atraso e das injustiças sociais, estão sempre a espreita de um povo que não busque progredir sempre, elas são o contraponto insidioso. Eles retiraram Lula da possibilidade de voltar, para evitar a escalada, aquela que vimos se realizar, bastante tímida, é verdade, faltou a reforma agrária, faltou a institucionalização dos avanços sociais, todos os avanços que houve ficaram como sendo projetos, facilmente suprimíveis por outros governos, faltou muita coragem para mudar tudo definitivamente, porque era um governo democrático, avisa Lula, porque não tendo escolhido a via revolucionária, como aconteceu em Cuba, por exemplo, deveria fazer as coisas comedidamente. Não sei, para mim o voto vale mais que uma bala de fuzil, apesar que nem sempre tenha o mesmo efeito. (... mas sempre houve avanços...)

Porém seu verdadeiro legado é a ideia, a ideia de que é possível um outro Brasil, que podemos criar riqueza, distribuindo-a. Que poderemos vir a ser uma grande nação para além do grande país que o Brasil já é. Esta mudança de parâmetros, traz-nos a perspectiva de que o povo terá tomado consciência do que pode alcançar, tanto em sentido pessoal como no coletivo, tanto o indivíduo, como a nação. É esta a ideia chamada Lula. Esperemos que seja forte o bastante para se manter. Só ela pode nos afastar do precipício.

sábado, 6 de março de 2021

PCP AOS 100.


Esta expressão 'aos 100', é muito usada para designar aos cem quilômetros por hora, que foi durante muito tempo uma velocidade muito alta, ainda o é, para andarmos e nos deslocarmos, sendo portanto um marco histórico do desenvolvimento humano. 

Ainda que os 100 aqui referenciados sejam os anos que neste 6 de março de 2021, completa a existência desta máquina de sonhos e possibilidades que se institucionalizou em partido em Portugal, como em outros países, o partido dos trabalhadores, do operariado, como então se dizia, uma fórmula para a ascensão social dos excluídos, que estabelecida como partido, iria atuar no universo da representatividade estabelecida para conquistar Direitos para os trabalhadores, sempre afastados das decisões políticas que habitualmente os excluía e rechaçava, abrindo desse modo uma janela de esperança a classe obreira, com seu menor e afastado de influência nos centros decisórios do poder. Para colmatar essa lacuna existe o PCP.

Muitos poucos partidos que se dedicaram a este ideário conseguiram realizar qualquer coisa, ou mesmo se manterem como esperança, ou possibilidade de consecução das expectativas dos trabalhadores. Em Portugal conseguiram! O Partido Comunista Português é um marco único nesta luta do pequeno contra o grande, do mexilhão contra a maré, e momento mesmo houve que pode ser a maré ele mesmo, por ser o único organizado para se opor a opressão de um regime, ainda que na clandestinidade esse partido mantinha as estruturas e a ordem de um partido. Ininterruptamente por um século houve quem sonhasse, houve quem lutasse, houve quem morresse por este ideal, vozes inconfundíveis num ambiente de privilégios contra o qual se insurgiam. O PCP é uma glória nacional portuguesa.

Para mim que não sou comunista, não sou português, mesmo partidário não sou, e como também não sou cego, e para todo aquele que não for, nem for preconceituoso, olhando o cenário histórico-político deste país que amo tanto, não possa, eu não posso, deixar de reconhecer que a existência do PCP, mesmo nos dias que correm, bem menos sombrios que outros que se viveram, é muito válida, valorosa, imprescindível (emprego bem o termo: imprescindível!) por tudo que fez e representa para Portugal.

Só nos resta dar parabéns a estes homens e mulheres que com o empenho de suas vidas, espiritual e materialmente falando, nesse século de lutas e apreensões, hipotecaram suas ações para manterem essa GLÓRIA NACIONAL PORTUGUESA que se chama PCP, e desejar que venham mais 100.