sexta-feira, 30 de setembro de 2016

MUSEU MIRÓ NO PORTO.







Neste dia pejado de significado, último do mês de Setembro desse dezesseis, quando enterraram o último pai fundador de Israel, Shimom Peres, e em que os dois Van Gogh furtados pela Camorra foram recuperados retornando ao Museu de Amsterdan, inaugura-se em Serralves, para que todos possamos ver, a exposição dos 85 Mirós (uma coleção igual a um museu pela diversidade e qualidade) que Pedro Passos Coelho e a Christie's fizeram de tudo para vender ao martelo, exceto desobedecer à justiça, mas que pela boa ação de vários cidadãos, entre os quais me incluo, mas cujo mérito é todo da Galeria Perve que se obstinou na luta, verdadeiramente impedindo o descalabro.

De tantas desgraças e misérias a que o nome BPN ficou ligado para sempre na história de Portugal, só uma coisa de bom irá resultar, não porque os do BPN tivessem qualquer intromissão ou nisto se empenhassem, nem porque os liquidatários do banco tivessem tido a visão mister a aproveitar a oportunidade, não, foi o povo, e a mão invisível do destino.  Conto a história:

Como se sabe a melhor maneira de se roubar um banco é sendo dono dele. E no BPN roubaram, e roubaram a grande, e foram roubados por sua ignorância e ganância, compraram porcarias, jogaram dinheiro fora, foram enganados. Acertaram nos Mirós, autênticos, como comprovaram os expertos da Christies, uma ampla coleção, abrangendo diferentes fases,  expressiva porque retrata diversos modus faciendi do artista, convidativa por conter variados tamanhos, modos e modelos da arte mirosiana, o que era um verdadeiro museu que caia nas mãos do Estado. Ora, como se sabe, Portugal é muito carente de expressiva arte pós picassiana, e mesmo picassiana de qualidade, pois não acumulou nesse período, salvo a coleção Berardo, pouco mais há de significativo, os endinheirados dos três primeiros quartéis do século XX, com o ranço de um país fechado a cegar-lhes, cultivavam os tardo naturalistas, quando o mundo era pop, era hiper realista, etc... Não empreguei a designação pós-moderna porque está ainda muito frouxa, e, apesar de Miró ser contemporâneo a Picasso, é, na verdade, pós picassiano, porque busca outros caminhos. Com a oportunidade faltava o entendimento, teve-o um grupo de cidadãos a que Portugal ficará sempre em débito, melhor fez a justiça, convocada à lide, e o destino que por um golpe de sorte põe no governo gente com visão mais clara, sem antolhos, com boa visão de futuro, com compreensão mais abrangente do que seja um país.

Bem mesmo com tudo isso sobre a mesa, o governo do PSD-CDS, queria vendê-la a todos custo, e o mais depressa possível, só as ações cautelares impediram-no, então, já com o governo do PS, foi entendido que há valores maiores que se pagar juros da dívida para um país que quer ter futuro, como tem honroso passado. Como com precisão expressou o Primeiro Ministro Antônio Costa, os valores que permanecem são os que são os mais importantes.

Bem, fica aqui o registro de uma realidade que com velocidade inesperada ultrapassou as intenções tolas, torpes e descabidas de políticos que só conseguem ver um palmo adiante de seus narizes, e que por pouco não puseram a perder uma oportunidade difícil de se repetir.  Fico feliz, está em Serralves. Vai me obrigar a ir ao Porto para vê-la, será um prazer tripeiro que me darei, que muitos se darão, e haverá turismo, haverá produção de riqueza, haverá futuro.



segunda-feira, 26 de setembro de 2016

"Ódio de classe, espírito de vingança..."






Agora que existem uns quantos idiotas que dizem que Jesus foi inventado pelos romanos, cegos que são por não entenderem (não sentirem) a dimensão espiritual de Suas palavras, é muito bom chama-las a colação (colação que significa comparar e confrontar, julgar não!).

As palavras Dele que aqui interessam são: " Não julgueis para não serdes julgados." e esse julgamento de que fala, não é o público, nem mesmo o espiritual, o divino, não, é o pior de todos, o próprio, aqueles a que nos expomos quando julgamos alguém, pois julgar é concluir em último grau, e esta conclusão que fazemos daquele a quem julgamos revela, para julgamento, tudo aquilo que somos. O que se passa é que não fazemos a avaliação do que foi que nos levou a julgarmos a quem julgamos, como julgamos, o que nos motivou a isto.

A dra. Maria de Fátima Bonifácio, uma mulher culta e preparada, só não é brilhante porque seu preconceito não deixa, e esse preconceito, como em todos nós, é fruto de seu tempo, de sua época e formação. Filha do Estado Novo, será certamente influenciada por ele, parte do salazarismo, viu-se contagiada, pretensão de um tempo que formava ou deformava, como preferirem, mais que as consciências, as almas, esta essência formadora e manifesta que nos faz ser o que somos, nos faz projetar o que nos ficou de mais íntimo como filtro e entendimento da realidade, ainda que esta possa não ser bem aquilo que percebemos, o é para nossas almas que vêm, como querem ou podem ver, aquilo que se lhes apresenta, ecostoma do intelecto, complemento e registro do ser que é razão e sentimento ao mesmo tempo.

Pois essa sua cegueira parcial, que alicerçada numa extensa base cultural, é ainda mais poderosa, porque ilude, pareidolia própria e difusora, em que percebe uma aparência como verdade, e essa suposta como Lei, pela similitude que assume no universo alargado do saber, tornando-se entendimento, e assim difundindo-se com razão e explicação das observações filtradas por essa via. Tenho grande admiração pelo intelecto da dra. Bonifácio, mas a sua alma, mesmo no tom que apresenta, sempre soou-me mal, algo que se deve estranhar, e que se deve observar mais detidamente, porque engana à primeira vista. Não é culpa dela, é fruto do que fizeram de sua alma, e tudo se revela em seu artigo, fugindo-lhe a boca, ou a pena, para a verdade, artigo publicado no Observador no vinte dois passado deste Setembro que termina, intitulado "Ódio de classe", onde põe a nu seus preconceitos, onde julga a Dra. Mariana Mortágua, como se essa fora  um inseto em observação. Vamos ao texto.

Em meio a afirmações do que, segundo a dra. Maria de Fátima Bonifácio, sabe e não sabe da Dra. Mariana, do que viveu ou deixou esta de viver, do que é, a seu talante, verdadeiro ou não, sempre naquele tom que me pôs de prevenção com ela, apesar de admirar sua cultura e lógica, mas o filtro, o impiedosos filtro da pareidolia da alma a gerar o ecostoma do intelecto, a transformar seu eu num eu preconceituoso, a destruir conclusões tão bem a alicerçadas, a corromper uma pessoa boa, digna da admiração de todos nós, alguém com centenas de quilómetros de leitura, uma pessoa preparada, e justa, tornando-se tão injusta, tudo culpa do filtro, mas esquecendo todos os julgamentos, e lembrado-nos do conselho de Jesus, e ultrapassando qualquer crítica a seu direito de julgar e levar a público esse julgamento sobre alguém que só conhece do que vê como figura pública, deputada que é na Assembleia da República a Dra. Mariana Mortágua, temos uma frase de Keynes, cerne do antagonismo da historiadora à economista, que a cita de cor, como mesmo afirma a dra.Bonifácio em seu texto, e que é lapidar: "Não vale a pena as empresas produzirem mais, se as pessoas não tiverem dinheiro para comprarem a produção." Apontando, como crê, uma desonestidade da Dra. Mariana ao repetir a frase, pois esta estaria defasada no tempo, um século depois, com a globalização do capitalismo que se deu entretanto.

Quem ler assim seu artigo, sem boa reflexão, dar-lhe-á razão, pois passado um século desde a afirmação de Keynes, o mundo mudou muito, e a frase acabou mesmo por perder sua asserção e seu asserto com  a realidade que se desenvolveu com o capitalismo globalizando-se, onde novos mercados eram conquistado, até que atingiu-se o mercado global que hoje temos, e a frase voltou a ser mais verdadeira que nunca, pois no mundo consome-se e anda todo à roda do mesmo, e terá de encontrar um ponto de equilíbrio, este mesmo que busca a Dra. Mariana com as sua afirmações, essa mesma que se colocou no centro disso tudo que se passa em Portugal, e, que com seu saber, análise, dedicação e ideologia, tem dado seu contributo, o mesmo que em maior ou menor grado damos todos, ricos e pobres, cultos e ignorantes, nas medidas de nossas possibilidades, e que a Dra. Mariana se colocou no centro deles, certamente canalizando para si além de todas as atenções, inúmeros ódios que traduzem-se no "espírito de vingança", aquele mesmo a que, fugindo-lhe outra vez a pena para a verdade, apela a autora do artigo que analiso.


Como Kirkegaard, que certamente como filósofo desagradará a Dra. Mariana Mortágua, quanto mais vejo o mundo, mais me torno cristão, e, como Saint Just, mas por outras razões, essas que certamente desagradarão a dra. Maria de Fatima Bonifácio, menos entendo o espírito de vingança.



domingo, 25 de setembro de 2016

Bratislava: Ou vai ou racha!





Terminou hoje a Cimeira informal de Bratislava onde os 27 chefes de governo dos ainda vinte e oito Estados europeus se reuniram, para se compenetrarem de que está tudo mal, o que já é de há muito sobejamente sabido. Sopra da reunião uma leve, muito leve, aragem de esperança, se esta aragem não se transformar num vento que sopre bem e sofre forte até a Cimeira de Roma, nesse crucial semestre que temos pela frente, para vermos flores na primavera europeia do ano que vem, estará tudo perdido, portanto, ainda que não o digam claramente, é: Ou vai ou racha.

Aliás rachar já rachou, as regras que distorcem a Europa, o dinheiro que flui para uns cofres esvaziando outros, e esse dinheiro, que se chama Euro, que funciona a duas velocidades, ou com duas funcionalidades como será mais correto dizer, é a mais deformadora arma que atua na Europa hoje, sendo a criatura a esganar o criador, o descumprimento das regras que é possível para uns e impossíveis para outros, a aplicação desigual dos pactos e tratados, levaram à saída do Reino Unido, e podem levar a total fragmentação da União.


É um triste e antigo habito político seguirem a assertiva de Lampedusa , sobretudo daqueles que exercem o poder, e, consequentemente, fazem com que as coisas corram a sua feição, o de mudar as coisas para que elas continuem como são. O grande problema Europeu deste momento, e que se os dirigentes não tiverem muito juízo, é que as coisas não podem continuar na mesma, com a Alemanha, a grande beneficiária do status quo, a manter o sistema de superavites, a acumular, como a França, com interesses homólogos, num jogo de faz de contas que vai empurrando com a barriga os problemas, também sempre à conta de atender aos seus eleitores, e, NÃO OS ENFRENTANDO, POIS TERÃO QUE DIZER-LHES, AOS ELEITORES, QUE, SE QUEREM EUROPA, AS COISAS TÊM MESMO DE MUDAR. Mas qual é o político que quer enfrentar e contradizer seus eleitores?

A única argumentação que poderá ser convincente, e esta será apresentar os fatos, é de que a Europa, mesmo com as alterações misteres, é um muito bom negócio para eles, pois sem as barreiras alfandegárias, com a configuração próxima de um só Estado, os mais ricos membros tem imensas vantagens, mas isso é mesmo assim entre Estados de um mesmo país, quando há uma federação (Brasil, EUA, Rússia por exemplo) há maiores vantagens para uns em detrimento de outros, e que o interesse destes, os Estados mais ricos no seio da União, compensa o ônus de prover os outros Estados, compensa os custos de participar para o progresso comum, onde o interesse de todos será respeitado, porque este será também o seu, e ainda lhes trará mais lucro. Só que convencer o eleitor disso não é fácil, sabemos. Mas agora não há outra alternativa!

Sim, para que continue existindo União Europeia, é absolutamente imprescindível que as distorções criadas no seio da União sejam ultrapassadas, é necessário destorce-las, concerto-las, endireita-las, é imprescindível ajustar o Euro para atender aos interesses de todos, e que não somente os déficites sejam controlados, mas também os superavites, e que haja uma efetiva administração central, uma união bancária, e imenso controle à ganância do sistema financeiro, com um Banco Central Europeu muito rígido e muito ativo, para controlar e evitar as insânias frequentes ao setor.


Vejo com alguma apreensão esse futuro próximo, a Hungria com um ditador, a França com um tonto, a Eslováquia com um premier que se opõe formalmente a um governo central Europeu, a República Tcheca com um cretino na cabeça do Estado, com a pressão dos refugiados, com o terrorismo mais atuante que nunca, com todos querendo salvar sua pele, só mesmo Deus poderá salvar a U.E., como eu acredito em Deus e reconheço seus milagres, fico só apreensivo, se assim  não fosse estaria desesperado. Ou todos se convencem de que só há um futuro, e esse terá de ser comum, com um projeto comum, e que esse não pode ser outro que não o da Eurolândia, ou seja que a União se transforme num país, poderá levar mais ou menos tempo, mas é a única saída.

Mas a direção, o rumo, terá de estar traçada até a próxima primavera, e às claras, a frente de todos os que estão no barco, com a consciência de todos, mesmo que com discordâncias e dificuldades. Com tudo isso para ser feito à nossa frente nos próximos seis meses, e com os dirigentes sem estatuto de líderes, salvo pouquíssimas exceções, vamos enfrentar momentos muito difíceis, mas a hora é chegada, soou a trombeta: Ou vai, ou racha!

quinta-feira, 22 de setembro de 2016

As sombras do passado pairam sobre o Brasil.






Quando aparece na SIC, a televisão portuguesa, um Coronel no ativo, vindo de lugar algum, a acusar o ex-presidente Lula de ser o chefe da quadrilha do PT, está tudo visto. Ou no Brasil se fomenta um golpe, ou o golpe foi esse que ficou dado. Os militares brasileiros, sobretudo os de maior patente, tinham escrúpulos nessas três décadas, após as anteriores duas de sua ditadura, de comentarem política, de darem a cara por qualquer ideia ou facção, o que, aliás, deveria ser o comportamento padrão.

Quando o anunciaram como um tenente-coronel,  achei que era um desgarrado, logo o próprio retificou, dizendo tratar-se de um coronel, isso mais o tom das declarações, porque foi mais um 'speech', um discurso, que uma entrevista, pois o sr. coronel tinha uma missa encomendada, um intuito, um objetivo, deixar dito o que deixou, o que, tudo junto, faz-me crer que seja uma articulação, uma ação da parte dos militares brasileiros, ou de um grupo expressivo, para firmar uma posição ao afirma-la.

As forças armadas brasileiras que, por razões históricas, sempre foram ligadas a direita, e sempre apoiaram, atuaram, forçaram e várias vezes golpearam o estado de direito no sentido de imporem a prevalência de uma facção sobre outra para além do jogo político entrando na 'real-politik' e impondo pela força essa facção com armas na rua quando necessário, alterando o jogo político, violando a estabilidade democrática e roubando ao soberano o Direito dever sua manifestação e decisão respeitadas, pois impuseram a facção que apoiavam para além do jogo político, contornando o sufrágio, impondo vontade, amassando a constituição, provendo uma ditadura mais ou menos declarada nas várias oportunidades em que assim agiu.

É bem verdade e triste que o PT com sua ganância do poder tenha dado todos os ensejos para que essa sombra do passado voltasse, conspurcando a democracia. Quando vemos e ouvimos Temer na ONU a declarar que tudo foi feito com respeito a constituição, vamos tomando ideia de um golpe orquestrado, ou propiciado, o golpe, pelo judiciário, o que é muito mal, ou com ele orquestrado, o que,  então, é tenebroso. Por outro lado enquanto Lula não foi formalmente apontado, não houve entidade ou personalidade que ousasse contrapor pretensões para além da rastaquera ação política diuturna, agora pretendem um banimento. Mas como banir a obra que trouxe ao Brasil um estatuto que nunca havia encontrado antes?

Esta condição de estarmos numa excepcionalidade e numa indefinição política, com um presidente indesejado, uma presidente impedida, um congresso com sua maioria incriminada, com um presidente da câmara cassado, com o presidente do senado comprometido, e todos os altos postos do Estado ocupados por gente apontada como corrupta e sob suspeita, incriminada e que irá a julgamento, gente que é caçada pelo povo, e se andar pelas ruas correm o risco de serem justiçadas, e quando temos a fragmentação da estrutura do Estado, e se compreende bem, não se tolera, mas compreende-se, que outras forças entrem no terreno, forças que se mantinham em seu papel de estabilidade das forças que efetivamente devem atuar, mas a indignidade do comportamento dessas abrem espaço a exsurgência daquelas. Porque o Sr. Temer não tem ideia de que ele não tem representatividade, nem legitimidade, nem apoio popular, e os deputados e senadores na sua quase totalidade idem, e como é esta a que mais importa numa jovem democracia, porque só o reconhecimento popular pode de toda a sorte legitimar quem quer que seja que ocupe desde a presidência da república, e os cargos do governo em todos os seus múltiplos postos, bem como o legislativo e as representações parlamentares. Há um déficit de legitimidade que só o processo eleitoral poderá colmatar.

O texto legislativo da Lei de impedimento é incompleto e viciado, pois devera prever a devolução ao soberano a palavra, marcando prazo para as eleições se impedido o, ou a, presidente eleita. Com isso eliminar-se-ia a hipótese do interesse do vice, herdeiro do período sobejo do/a presidente impedido, forçando com o processo eleitoral a retomada da normalidade democrática e sofreando as outras forças, essas que existem normalmente em qualquer país, de se manifestarem, as obrigando, como deve ser salutar, a esperarem pela manifestação do soberano em eleições gerais.

No Brasil de hoje acresce que estas têm de ser uma enorme faxina a dar oportunidade a caras novas, e que a mister limpeza de toda essa gente comprometida e corrupta, com seu afastamento dos cargos que ocupam, pela vontade popular, possa o mais rápido possível reformar os agentes do executivo e legislativo, posto que na dependência do judiciário o processo é lento e moroso, cobrando alto preço a um país que tem de ter sistema ágil e operante,  condicionado tão somente pela vontade popular que o eleja.

sábado, 17 de setembro de 2016

Ninguém deve oferecer aquilo que não possui.






Está a ocorrer em Cascais, organizado pela câmara municipal juntamente com o grupo editorial Leya, um festival, já o segundo, chamado FIC, Festival Internacional de Cascais, onde reuniu esse ano sob a batuta da escritora Inês Pedrosa um leque de escritores nacionais e estrangeiros que, em painéis de excelente nível, debatem temas sobre a literatura, sendo esse ano os diversos motes dados por citações do grande bardo inglês, que estamos agora completando quatro séculos de sua ausência, assim como de Cervantes também, faz 400 anos que morreu, não tão bem lembrado, mas que eu não deixo passar, lembrando-o, e que não foi convocado ao festival talvez na antiga concepção de que de Espanha nem bons ventos nem bons casamentos, mesmo tendo sido convidados alguns autores espanhóis. Mas vamos ao assunto título.


Fazer cortesia com chapéu alheio! Quem tem berço guarda certos valores e certas noções que jamais esquece. Eu tenho em mim palavras ancestrais que afirmam: Ninguém deve oferecer o que não possui, nem aceitar o que não possa retribuir. Fortes noções, muito úteis me têm sido ao longo da vida, e que falta a muita gente, como a certos secretários de Estado, por exemplo, que aceitaram o que não deviam, e como a essa câmara de Cascais que ofereceu no programa uma apresentação o que não possuía. Um show no casino do Estoril, com a cantora Paula Morelenbaum, mulher do grande Jacques Morelenbaum, filho do maestro Henrique, que constava do programa,  e que sobre, no dia anterior ainda perguntaram uns amigos meus, quanto era o espetáculo, e foram prontamente informados que era gratuito, mas palavra foi dita de como obter o acesso, como se fosse só la ir e entrar, criando a ilusão de um oferecimento, pela facilidade, que não existia e que por maus critérios de escolha da programação se sobrepunha, como muitos outros eventos, o que era perfeitamente dispensável, com aconteceu com outros acontecimentos em horários sobrepostos total ou parcialmente, mas o problema de que trato aqui é outro, vamos a ele.

Feita a opção em virtude da superposição de horários, ainda na Casa das Histórias de Paula Rego, onde transcorrem, em quase sua totalidade, os eventos do festival, pedi junto da organização os bilhetes, todos feitos por reserva prévia, para o evento que se realizaria no Casino do Estoril. Não tinham os bilhetes nem qualquer informação sobre este evento, nem onde estariam os bilhetes, nem nenhuma informação válida do evento constante do programa geral, exceto aquela de que era gratuito, falta de informação que é no mínimo estranha. Adiantamo-nos pois,  este desconserto fez-me antever possibilidades de algum problema, e portanto era melhor dispor de tempo para qualquer eventualidade.

Lá chegados ao Casino do Estoril, grande surpresa, a apresentação se dava no' Garden' onde tudo sempre foi gratuito e aberto, franco, ou seja com entrada franqueada, face das antigas contrapartidas do jogo. Pois era dessa feita pago, a lista de reservas mal constava o nome da Leya, co-organizadora do evento, e, todos os demais tinham de pagar pelas mesas algo como cinquenta euros por mesa para quatro pessoas. (Consumo obrigatório) Só pude lembrar-me da frase ancestral familiar, cuja primeira parte dei como título a esta trapalhada.

Não se deve organizar eventos sem uma coordenação única, e, como é de responsabilidade da câmara de Cascais, a esta competia gerenciar tudo, e ter gente com ideia de controle, e não pessoas que só estão habilitadas a conferir folhas, e que em nada mais se envolvem. Por outro lado, ao elencarem grande número de eventos, têm de tê-los todos sobre controle, e alguém como responsável máximo no terreno, para resolver qualquer imprevisto. Eu que já organizei e administrei muitos eventos desse tipo, só saía quando acabava tudo, estando presente até o final. Mas a câmara de Cascais não tem rosto, não tem responsáveis, não tem quem dê a cara por ela, oferecendo o que não possui, pelo menos o que não possui com o mecanismo de controle da ordem mister para oferecer e a que um evento se desenvolva, e o que é ofertado chegue a quem colhe a oferta. Se os colóquios decorreram em perfeição deve-se à boa curadoria da Dra. Inês Pedrosa, e nada mais.

sexta-feira, 16 de setembro de 2016

Sesquicentenário de Beatrix Potter.




Nesse final de Julho, a vinte e oito, completou-se século e meio do nascimento de Beatrix, esta pequena revolução politicamente correta, vitorianamente politicamente correta devo dizer, porque as regras vitorianas a que Beatrix esteve sujeita boa parte de sua vida, moldou-a, sem matar-lhe o desejo de mudança. Uma forma muito inglesa de ser, se sujeitar e de reagir.

Pedro seu mais fiel amigo, sua criatura e seu herói traz a dimensão do lúdico junto à do magnífico, assim como fizera seu 'irmão' mais velho que comemora século e meio também neste ano, e que em cuja toca caiu Alice, sendo esse branco, já Beatrix os irá pintar em variadas cores, desde seu Peter Rabbit aos láparos e caçapos de variada ordem.

Em 1866 nasce Beatrix, a toca em que cai Alice ganha mundo, e o mundo nunca mais será o mesmo pela mão da fantasia, tanto a surrealista do Reverendo Dogson como a bem comportada potteriana, que se projeta para além do tempo por sua veia conservacionista, que até sua morte, já em plena segunda guerra mundial, se mantém perseguindo esse seu objetivo. Beatrix desde que casa, após a tragédia de ter amado o tio Norman, seu primeiro editor, e com quem se iria casar, mas que morreu de pneumonia, então só aos quarenta  e sete anos irá, então, casar-se, passando a ser fazendeira de carneiros até morrer, e se  dedicando a comprar terras em Lakeland, para onde fora viver, comprando quinze fazendas, e reunindo 4.000 acres para preservar essa localidade, doando tudo ao National Trust.

Enquanto o Senhor Gregório ficava de cabelos brancos pelas travessuras dos coelhos em sua horta, Beatrix juntava dinheiro com essas travessuras de Peter e companheiros, podendo comprar sua primeira fazenda. E não parará mais pois suas histórias são um sucesso. Apesar de recusadas sessenta e nove vezes, só encontrando editor na septuagésima vez, as suas histórias encontraram um público fiel e crescente, encantado com a trama e com as ilustrações, e depois com as  novas histórias passadas em Lake district, no Sawrey, na fazenda Hill Top, essa que adquirira, e cuja região é convocada ao texto e às aguarelas.


Aqui estamos, levados pela mão de um coelhinho, no sesquicentenário do nascimento dessa mulher muito especial que encantou o mundo com seus desenhos e suas histórias, cuja sensibilidade de uma época irrepetível é um marco numa forma única de perceber o mundo.

domingo, 11 de setembro de 2016

O Saloio de M. . .




                                                                                                    Da Série: Os donos disso tudo.

Eu não queria escrever sobre esse assunto, mas houve tanto questionamento, de amigos meus que telefonaram, e de outros que estiveram comigo nesses dias, de gente do face, que, penso, agora, ser incontornável aborda-lo. Não queria escrever sobre o assunto porque como não tenho nenhuma simpatia pelo comentado, e, como exijo de mim ser imparcial sobre o que comento, preferia evitar o comentário face a exigência de imparcialidade que poderia de alguma forma violar.

Portanto começo por declarar porque não simpatizo com o Dr. Carlos Alexandre, não que antipatize-me com ele, não chego a isso, mas não gosto de gente que se auto-exclui da vida. E como ensina-nos Chico e Toquinho na música que fizeram para o Vinícius, essa luz que me encanta e a quem chamam poeta do perdão, e nessa palavra todo o entendimento da vida, quando afirmam, tributários que são do grande poeta: "A vida não pode esperar. A vida é pra valer, vida é pra levar." E é assim que eu penso, e, mais importante, é assim que eu sinto. Quando alguém se auto-exclui da vida em todas as suas facetas, por ser, verbis, "bicho do mato", por ser austero, ou por ser, ou querer ser, espartano, não gosto, não estamos em guerra nenhuma, não ficamos em excepcionalidade nenhuma a vida toda. Por outro lado o feitio de bicho do mato revela um antagonismo social, e tudo que é contra a sociedade, o todo, aquele de que fazemos parte, e, como parte nos devemos expressar, me incomoda, a ação contraria, excludente, ao excluir seja o que for, se exclui, e ao excluir-se não realiza a alma, essa que só se realiza quando se expressa totalmente, e todo aquele que não se realiza é incompleto. E eu, além de não simpatizar com coisas incompletas, tenho por elas certa repulsa e prevenção, assim como não simpatizo com coisas e pessoas rudes, primitivas, grosseiras.

Feita essa declaração de desinteresse, que efetivamente poderá afetar o curso deste artigo, procedo aos reparos irrecusáveis à entrevista do dito juiz de instrução, que era o assunto sobre o qual não queria escrever. Espanta-me alguém que diz não ter amigos, e mais ainda me espanta quem acha bem que assim seja. O espírito de missão que é algo que admiro, e no qual, desde muito cedo, fui instruído, termina quando afeta nossa existência, porque nossa saúde a todos os níveis deve ser preservada, até para que possamos prosseguir com nossa missão. Por isso entendeu a sociedade, e o legislador, oficializar ritmos, regulando as relações de cada um com seu trabalho, com o efetivo desempenho do mesmo em tempos de seu exercício e de descanso, para que seu desempenho não seja afetado pelo ato contínuo do mesmo, que esgotante, enervante, estressante,  "48 sábados em 52" diz o Juiz textualmente, promovam o mal desempenho do mesmo.

E o Dr. Carlos Alexandre parece estar com os sintomas da fadiga laboral. Ele que se confessa anafado, está, visivelmente, macilento, desgastado, estafado, mais calado e cansado dizem seus conterrâneos. Situação que alguns médicos entenderão que o impossibilita no pleno desempenho de suas funções. E é exatamente sobre suas funções que fazemos a seguinte análise.

Alguém se sente escutado e não denuncia, nem faz nada, e, em sendo juiz, ademais tendo em suas mãos metade das cruciais alterações porque passará Portugal, porque dos desfechos dos processos que tem em mãos o futuro rumo do país, e que o alterará grandemente, é uma metade, a outra metade têm-na o governo, que comparte essa  responsabilidade entre centenas de pessoas com as mais diferentes tendências e entendimentos. O Sr. Juiz as tem sozinho, solitário, e em exclusividade,  e é sozinho, segundo seu feitio, que decidirá, mas sabe-se escutado. Não pode ser. O Paulo Baldaia bem lembra que  o Ministério público tem por obrigação  investigar a afirmação do Sr. Juiz, independentemente de denúncia, pois  é um crime de ação pública, e que o Ministério Público deve abrir inquérito. Alguém que se diz sem medo, o que prova que sabe que vive na corda bamba, estará sujeito a enormes pressões. Alguém que diz, sem ser perguntado, saber alcunhas, decisões políticas, jurisprudências, episódios, segredos dos maiores poderes do país que lhe chegaram aos conhecimento, e é detentor de excelente memória como diz, e como se sabe, para afirmar que "seria perigoso se eu usasse", para concluir que podia "ser muito perigoso se quisesse",  pois de tudo que sabe, e que não é público, poderia, afinal, utilizar, soa como um aviso pelo menos. Afinal sente-se ameaçado. "Tenho uns créditos hipotecário que tenho que os pagar." Quem não tem de os pagar?

"Minha mulher diz que é um sacerdócio" e crítica por si mesmo o ser acusado de justiceiro, ou fundamentalista, ou justicialista, e quando reponde sobre ser o super juiz, afirma: "Talvez eu seja uma pessoa de rituais..." o que, tudo junto, evidencia uma posição psicológica particular.  Insiste sempre no "sem luxos", "na austeridade", em ter sido uma criança que não recebeu prendas, uma criança com uma infância pobre, quase miserável, algo que não devia existir, as crianças deveriam todas ter uma infância grata, sabendo-se que teve as mais baixas profissões, apesar de que todo o trabalho seja digno, ser ajudante de pedreiro deve marcar uma pessoa para toda a vida. Tem um manual das secretas que lhe apareceu na caixa dos correios. E vai dizendo coisas sem as dizer. Eu penso que a insinuação é o pior recurso psicológico do diálogo, portanto há uma, não direi mutilação, mas uma ferida aí.

"Aceito o meu destino." Sou, sou muito falível." "Negar o impulso do MP seria terrível." Para ter a cabeça no cepo. "É a última palavra naquele concreto momento." Como a esquecer-se que um momento basta para destruir a vida de uma pessoa? "Uns são mais iguais que outros" Aplicar o Direito aos fatos" e quase inverte a expressão, mas corrige-se rapidamente.  E faz a análise do que se passou consigo, e não. Afirmando que "não tendo amigos na magistratura" para afinal revelar seu epíteto; um deles,  "o Saloio de Mação", esta localidade, que podia ser qualquer outra, por isso a indeterminei no título. Para afirmar ter um general amigo seu, esse que só sabe dos amigos que terá entre os que forem a seu enterro se não chover. Para dar a fórmula que lhe transmitiram: "Nervos d'aço, algodão nos ouvidos, e sangue de lagarto."E que a segue, parece, pela ênfase com que a afirma.

Amigos pródigos não tem, reclama de ser pobre e de não ser casado com uma das "senhoras ricas do Alentejo"com as que os juízes casavam antigamente, uma oportunidade não alcançada. Foge das gentes, não vai sequer a um restaurante, e afirma não ter amigos para ir almoçar, nem entre os seus pares, nem entre seus funcionários, nem entre seus próximos profissionalmente, por isso vai a casa, assim evita ser escutado, ser apontado, ser observado, "bicho do mato", se realiza.

Isso é tudo tão grave! Não podia ter dito muito do que disse e ficou dito, o fato é que o disse, e, penso que com isso, destruiu muito da convicção de imparcialidade e neutralidade mister a um juiz, enquanto colhia certamente alguns processos administrativos e judiciais, aos quais terá de responder, e, já por outro lado, terá, então, construído o perfil de homem empenhado que tenta administrar justiça forte, dividindo as opiniões das pessoas que se deixam levar por estas emoções (Vide redes sociais.). A verdade, que perpassa essas perspectivas, é a de que um homem  na sua posição não pode dar entrevistas.

Quase primário, rastaquera, parolo, alarve, pacóvio, patego, simplório, ou, no outro extremo, verdadeira e perfeitamente um hábil e inteligente homem que, não querendo perder sua autoridade, prepara o público para o confronto de que após tudo o que fez em casos tão midiáticos, tudo irá dar em nada, mas não será por culpa sua. Logo saberemos! Seja assim, ou não, o último beneficiário, entre outros, dessa catastrófica entrevista, será o Sr. Engenheiro José Sócrates. "Há razões que a própria razões desconhece" que é um adulteração da frase de Blaise de Pascal, tantas vezes repetida, e que, mais sabiamente, se reporta ao coração, aos sentimentos, pois a razão ao ter outras razões de per si, e não as emocionais, porque a razão, a última certamente, a final, a que fica, não terá outras razões que se lhe oponham, muito menos que sejam desconhecidas, portanto esta é uma afirmação temerária no mínimo.

Em Mação, a tal sua vila, seu ritmo cerebral foi outro, ainda que a direção que quiz dar a entrevista tenha sido a mesma, defende a delação premiada, querendo obter outras fontes para conseguir informações para os processos. Confessa que recentemente, houve um episódio de saúde seu, e de um seu familiar, que o levou a repensar a vida, e vê que vive isso de forma... e obsessiva é a primeira palavra que lhe ocorre, para logo a contestar, e usa sentido de missão, o que traduz uma abnegação, essa que talvez não queira. "A gente nunca sabe" afirma ante a hipótese de ser detido, o que revela uma postura psicológica falsa, porque esta dubiedade maniqueísta é enganosa.

domingo, 4 de setembro de 2016

Morre uma das três Marias.







                                                                                                                  Nunca morrerão
                                                                                                                  Imortais que são

                                                                                                                              de um poema do autor.




Ave Maria Gratia plena! Maria Isabel Barreno, que ninguém esquece d'"A morte da mãe", e era a mais nova das três que um dia foram detidas, encarceradas, espezinhadas, reprimidas, processadas, à conta de umas novas cartas, sendo a primeira delas datada de 1/3/1971, data fatal, três anos antes da liberdade em Portugal, quando já fermentava algo novo numa correspondência absurda, voltada para o mundo, esse mesmo mundo em que Portugal não estava, desse mesmo mundo onde três Senhoras, com esses grandes, recusavam-se a não estar, a não pertencer, e não poderem participar. E na edição de seus poemas, seus ensaios, seus pensamentos, suas sensibilidades, juntas expressam nas ditas cartas, que também são, e são novas, e, para maior dos crimes, são portuguesas.

Vivia-se uma primavera, a marcelista, mas a estação suposta não aliviava o chumbo de um regime invernal de quatro décadas, que no ferrolho queria trancar as vozes dessas três nossas Senhoras, que recusavam-se a ceder, a curvarem-se ante uma vontade que não fosse a sua, a atenderem a um sentimento que não era o seu, aceitarem uma atmosfera que repudiavam, e estabelecendo essa correspondência imaginária, arrebanham o imaginário de seu tempo, sobretudo o feminino.


Na senda de uma tradição tri-centenária, desde quando Claude Barbin em 1669 publicara a tradução francesa, idioma que as três Marias também utilizam, de cinco cartas de amor de uma mulher, uma Mariana, como as Marianas que também evocam essas três Marias, aquelas eram cinco cartas que desde o tempo de Luís XIV revelam uma sensibilidade, um grito, aquele emitido desde um claustro, mas a mesma sensibilidade da mulher, e a razão, a mais perene de todas, amor. 'Ut ego amo te amo'

'Amor me ad vos', um desejo singelo, um Direito mesmo, tão reprimido, tão esmagado, que a sua só revelação é um escândalo, mas é uma expressão sublime de beleza que muda o caminho da literatura por existirem aquelas cinco cartas, e em existir se resume muita vez a razão de que as coisas sejam de um modo e não de outro, assim como existem essa novas.

Assim como existem também essas três Marias suas autoras, a Teresa, a Velho, e a Isabel que hoje nos deixa, mas da qual fica seu grito, uníssono com as outras duas que seguem guardando o testemunho, como aquele grito da Mariana Alcoforado, a anônima, que a partir de seu claustro fez ecoar pelo mundo fora, e que, pela sua  força e beleza, permanece e permanecerá. São suas cartas, que, assim como as novas, portuguesas ambas, revelam a magia de um tempo, cada qual de per si, neste lapso temporal de três séculos entre ambas, assim como existe um sentimento de mulher que cumpre seu desígnio, assim como há forças que se lhe opõem, haverá sempre a expressão desse sentimento que, feminino, vem revelar, quem sabe?, "O lugar comum" como queria a Maria do meio em seu primeiro trabalho publicado, essa Velho que esconde o nome de sua santa, uma Nossa Senhora, a mais portuguesa de todas as Nossas Senhoras, ou quererá a primeira a da santa que poderá ser a d'Ávila, a de Lisieux, preferida no diminutivo, a dos Andes, Edith Stein, a judia, ou a santa do dia de hoje, a de Calcutá, não importa, haverá sempre uma "Minha Senhora de Mim" a nos dar "Educação Sentimental" como ficará para sempre em nós a memória  da Maria que nos deixa hoje, do nome dessa santa portuguesa que foi rainha, certamente a mais portuguesa das santas, que n'"A Condição da Mulher Portuguesa", marcou a "Crônica do tempo" sendo um d'"Os sensos Incomuns" de sua época, que como mulher recusou-se a ficar n'"As Vésperas esquecidas" fazendo-se presente, expressando sua totalidade na plenitude de sua existência que hoje terminou. Ave Maria Isabel Barreno de Faria Martins.




sábado, 3 de setembro de 2016

O golpe na Venezuela já está, Maduro.





Tenho pena da experiência Venezuelana. La República Bolivariana de  Chaves, um sonho andino, como outros que morreram, mas esse morrerá particularmente pela incompetência do sucessor chavista, Nicolás Maduro Moros, tem a competência de um porteiro, dá a cara como os porteiros, fala, dá indicações, se algo corre mal põe-se aos gritos. Assim como os porteiros que não passam disso, não administram nada, não criam nada, não geram soluções, não promovem respostas às questões que têm de ser resolvidas , não resolvem problemas. Ficam ali na porta recebendo as pessoas, e pouco mais.

O Sr. Nicolás Maduro é um incompetente, uma nulidade que chafurdou a Venezuela no caos. Eu esperei muito para escrever esse artigo, na esperança de que em respeito a si mesmo, em respeito à memória de Hugo Chaves, na expectativa de que defendesse o legado que representa, que tivesse um pouco de pejo, que com um resquício de vergonha se desse conta que esgotou, que nada mais que diga ecoa, mesmo que encontre toda a direita Venezuelana conspirando numa sala com armas e explosivos  e os prenda à todos, não tem mais moral para alegar nada. Esvaziou-se porque permitiu que a situação do país chegasse a um ponto que tornou sua (e nesse sua a do pais e de quem o governa) situação insustentável. Tudo o mais é ridículo.

Dói-me ter que dizer isso, porque como homem de esquerda que sou, tinha a viva expectativa que esse projeto de esquerda desse certo, que Venezuela, que sempre foi explorada por interesses alienígenas,  tomasse o rumo de sua gente. Esse Sr. Maduro fez tábua rasa de minha expectativa, mas muito pior do que isso, destruiu o projeto de vida de milhões de venezuelanos, tudo por causa de sua incompetência. E o pior é que não se dá conta de que ele é um saco vazio, e que seu partido poderá não o ser, e que devera dar espaço a esse  para poder recomeçar. Se tivesse a mínima noção do que é dignidade, parava com esse combate absurdo contra a direita, por mais cheio de razões que possa estar, e de pronto convocava eleições, pedindo perdão do ponto a que deixou chegar a situação, assumia em toda a extensão a responsabilidade que é sua, e só sua, e desaparecia por um longo tempo (para não dizer para sempre).

Entretanto sua arrogância, sua bazófia, sua fanfarronice sem fim vai levar Venezuela ao ponto de desgraça. De ruptura já está, de difícil e demorada recuperação também, só falta agora a desgraça, que pode advir na forma de uma guerra civil, de uma intervenção que redunde numa ditadura, e em mais mortes, mais fome, mais miséria.

sexta-feira, 2 de setembro de 2016

Cinema ideal, ideal de cinema.






Foi há dois anos que inaugurou em Lisboa, o face me vem lembrar, que em 2/9/2014 louvei a ideia, torno a fazê-lo, fica na Rua do Loreto, junto ao Camões, segue com êxito, felizmente, tem preços ótimos, refeição mais cinema sai a E11,00 por pessoa se fores com a na morada (o), e terás acesso ao que não há nos circuitos comerciais, recomendo vivamente. Segue o artigo de há dois anos.

Abriu corajosamente em Lisboa uma sala fora dos circuitos comerciais, onde há espaço para sonhos, mesmo, diria, para ideais, e não fica limitada ao incontornável objetivo de dar lucro, finalidade única dos circuitos comerciais comandados pelos Estados Unidos, que produzindo muita coisa boa, é verdade, a grande maioria do que é produzido, serve apenas para, como indústria que é, colocar um produto que acaba por ser consumido pela força da imensa inércia que provoca tão poderosa indústria, quase nunca abrindo espaço para o diferente, ou 'outsider'.
Há uma máquina que é bem visível anualmente nos prêmios da academia de que faz parte toda a indústria que se auto-promove através desta premiação que ganhou o nome dado à estatueta que o simboliza. É um rolo compressor, pensar-se em cinema de outra matriz é quase impossível, não abrindo espaço nem mesmo para o seu passado, só, e sempre, exibindo mais do que é produzido massificadamente por esta indústria com raríssimas exceções.
Agora com esta nova sala, com o seu que de cinematógrafo, uma conquista de outros tempos desta Lisboa, esta sala de agora que, alcunhada de Cinema Ideal, tem como ideal o cinema, os valores mais exponentes desta arte que é tida como a sétima. Oxalá não se vá perder pela necessidade do lucro, fator inarredável de qualquer realidade comercial. Abrindo espaço àquele universo fora dos circuitos que produzem filmes quase por fé de ofício, por teimosia, ou sei lá mais o que que os motiva, cumprindo o desígnio que lhes é imanente de serem realizadores, porque diferentemente da indústria hollywoodiana que contrata realizadores, na indústria 'outsider' quase toda é o realizador que tem o sonho de um filme e vai reunir recursos para realizá-lo, não que isto não aconteça também no universo norte americano, ou estadunidense, se preferirem, no entanto a distribuição para os 'insiders' está garantida, e para o resto não, normalmente não há espaço.
Na supressão desta lacuna, no oferecer um espaço a quem não o tem, quase uma missão governamental, com uma vocação e cultura, que o ministério deste nome devera ser o ator, esta sala vem cumprir um ideal de cinema antigo e desejável, colmatando a principal brecha no universo cinematográfico 'outsider', sua falta de espaço para exibir-se.
Este espaço do cinema ideal vem suprir esta impossibilidade.
Como respeito e louvo tudo que deixa de ser impossível pela força e coragem de alguns que laboram para tornar possível o que antes não era, deixo aqui este registro na expectativa de que possa ajudar a convocar para o mesmo, todos aqueles que gostam de se surpreender com algo inusitado para além do reme-reme disponível nos ditos circuitos comerciais.