terça-feira, 30 de janeiro de 2018

Como vampiros.







Zeca Afonso compôs e cantava uma canção chamada Os Vampiros que dizia: "Eles comem tudo, eles comem tudo, eles comem tudo e não deixam nada."e só ela me vem a cabeça quando vou analisar os números que Davos explicita com grande veemência.

Dezoito por cento para 99%, e 82% para um porcento, esses são os números, Davos os exalta, essa distorção absurda, essa contorção da realidade, essa violência ignominiosa feita a toda a Humanidade, onde 1% dela tem o controle absoluto de quase tudo que existe, onde essa absoluta minoria de 1% domina 82% de tudo que existe, de toda a riqueza, de tudo que é produzido, desde o leite que sai das vacas, até os mais complexos computadores que saem das fábricas, passando evidentemente por todos os materiais, produtos, dinheiros e alimentos que faltam á imensa maioria das pessoas, 99% delas, que só têm acesso aos restantes 18% de toda a riqueza,  para gáudio, para a pândega desta concreta minoria que controla todo o resto - são 82% de tudo nas mãos de 1%, excluindo os outros 99%.

"Eles comem tudo e não deixam nada" é o única raciocínio que pode resultar ao refletirmos sobre a incongruência dessa desproporção resultante de uma lógica da própria natureza do sistema, que é preciso contrariar. Como nada se faz sem capital, e esse, por sua própria natureza, se acumula cada vez mais nas mãos de uns poucos, devido a quem tem capital, serem os que tem capital, e, evidentemente, são sempre os mesmos, aqueles que lucraram com seus investimentos anteriores, aumentando o seu bolo, e como o rio sempre corre para o mar, eles irão repetir a façanha gerando sempre maior concentração de capital. Os investidores não têm culpa, pelo contrário, até fazem muito bem em investir, pois criam riqueza e empregos, e sempre essa riqueza é taxada produzindo mais escolas, mais hospitais, melhores condições sociais, longe de mim criticar de que maneira for aos investimentos, e também compreendo perfeitamente essa tendência para concentração que o dinheiro tem, pois como tudo se faz com dinheiro, só quem o tem o investirá, gerando mais dinheiro e passando a abarcar também aquela nova área de investimento, numa sucessão infinda de negócios. Então que fazer?

Antigamente como rareava capital, exatamente ao contrário de hoje, em que há capital a mais, para se fazer uma empresa eram lançadas vendas de debêntures, de ações, de títulos que permitiam a subscrição pública a muitos pequeninos aforradores para formar um grande bolo, uma grande quantia,  dispersando o capital do empreendimento que começava por muitos pequenos investidores. Em Inglaterra milhões de pequeninos investidores eram donos de empreendimentos em locais longínquos do mundo, desde plantações de chá no Himalaia aos canais no Egito e no Panamá, razão de haver tanta gente com recursos na Inglaterra, porque a riqueza se espalhou em muitas mãos, e foi assim que se consolidou uma classe média com capital investido, com rendas e com boa situação financeira, muito para além da que lhes poderia proporcionar suas reformas, por isso podiam cuidar de seus jardins, fazer colecionismo das mais variadas coisas, ler e escrever livros, viajar por todo o mundo entre outras coisas.

Deveria ser lei que as empresas tivessem disperso um percentual alto de seu capital em bolsa, o que em nada impediria aos seus criadores de controlarem as 'suas' empresas, posto que  mesmo com o capital muito disperso se pode controlar uma empresa. Basta apenas com um quarto dele nas mãos de um grupo para esse a poder controlar. Se obrigássemos a que 75% do capital de todas as empresas fosse disperso por pequenos investidores, onde cada um não pudesse adquirir mais de meio por cento de seu capital, e que todos tivessem parte de seus fundos de pensões constituídos dessa maneira, e assim como há taxações altíssimas do capital, que desestimulam os investidores, porque metade, às vezes mais, de sua riqueza vai para impostos, com o suposto intuito de promover justiça social, com as altas dispersões à cabeça, aquando da criação das empresas, essas dispersões sim criariam verdadeira justiça social, e os impostos poderiam baixar, desse modo, inclusive, as pessoas precisariam menos do Estado, como se passa ainda hoje em Inglaterra, como referimos, porque há mais riqueza nas mãos de cada cidadão. Também com essa medida as bolsas de valores deixariam de ser os casinos que são hoje para cumprirem a missão para que foram criadas, realizar capital, distribuir riqueza.

Essa a única maneira de contrariar a tendência natural do dinheiro (do capital) de se condensar, de se multiplicar sempre nas mesmas mãos, dando oportunidade para todos de fazerem sua poupança-reforma, de irem a pouco e pouco construindo sua velhice, ou sua riqueza, dependendo do grau de investimento de cada um, promovendo justiça social desde a multiplicação original do capital, diferentemente do que se passa hoje onde há cada vez maior concentração, maior injustiça, maior descontentamento: com os pobres a criticarem os ricos por serem ricos, e os ricos a criticarem os governos por morderem-nos muito forte, com os governos a criticarem toda gente por quererem fugir aos impostos. Então sem que apenas uns poucos viessem "chupar o sangue fresco da manada" poderia haver melhor futuro.


sexta-feira, 26 de janeiro de 2018

SALDO DE DAVOS: Estão instaladas as condições para outra crise.





O que isso quer dizer é que há a liquidez necessária para que os mercados se aventurem em qualquer nova loucura. NÃO REGULADOS têm as mãos livres para lançarem-se num novo embuste, numa nova peta que se lhes venham oferecer como extremamente lucrativa, permitindo que se criem outra vez as condições de insolvência peculiares das crises, condições necessárias ao desbarate de todo o trabalho de recuperação econômica, de toda a poupança acumulada com essa década de padecimentos, e mesmo das fortunas que se criaram com as crises anteriores. E os governos serão chamados outra vez a sanear os mercados. COMO NADA FOI FEITO o campo está aberto à repetição das loucuras e engodos de que o mercado gosta tanto, ou poderemos dizer de que é useiro e vezeiro, práticas que sempre se instalam no mercado como uma moda ou como uma característica, uma praxe de sua existência como ambiente de lançamento de novos produtos que é, etiqueta da relação do investidor com as multíplices ofertas de aplicação.

Este é o saldo de Davos deste início de 2018, com a ponta de lança situada mais uma vez nos EUA, que tem agora a agravante de ter um ultra-liberal, não político, nem legislador, como cabeça de seu governo, ou desgoverno, se preferirem, podemos mesmo dizer que estão criadas as condições para a tempestade perfeita (a crise perfeita) que não sabemos quando virá, mas sabemos efetivamente que virá, porque quando você tem ovos batidos com pedaços de presunto à meio, postos numa frigideira ao lume, é evidente que em breve vai ter omelete, se mais cedo ou se mais tarde, tudo depende do fogo, se é com mais ou menos calor.

Uma ação excitante dessa conjugação de fatores é a participação cada vez mais presente da China sempre em ascensão nos mercados mundiais, desde seu ingresso na Organização Mundial do Comércio em 2001, em contraste com a pouca liberalização que se verifica desde então para novos agentes, diminuindo o mar para as pescarias, e a sede de água onde se possa pescar é cada vez maior, teoricamente infinita, mas deve se conter até que hajam peixes bastantes para a nova rede que irão lançar, e COMO NÃO HÁ REGRAS a malha da rede poderá ser tão fina que arranque até os grãos de areia do fundo do oceano. Porque a riqueza que a China vem criando com trabalho e inovação o que aumenta a base da pirâmide do dinheiro, riqueza chinesa que é colocada no mercado abocanhando boa fatia, cria por outro lado desequilíbrio às ganâncias por gordas fatos de outros que não trabalham tanto como os chineses, essa a razão de queixa do Sr. Trump em relação à China como grande centro catalisador de investimentos de toda a ordem, por isso agora não tem mais América a preeminência da atração desses investimentos. Isso lembra uma releitura do que possa significar para ele 'América first'.

O que isso quer dizer é que se está iniciando um novo ciclo econômico, onde imbecilidades como a Bitcoin imperam, ou seja onde ha cada vez mais espaço para a especulação, e nós bem sabemos onde isso geralmente nos leva. A opinião dos banqueiros se dividiu em Davos, desde os cínicos que só querem ver a boa maré (Sem ver que essa maré é de recuperação de uma horrível tragédia.) posto que são guerreiros muito acostumados com mortes e decapitações esses banqueiros que regozijam com seus momentos de boa onda, sabendo bem que com ela estão criadas outra vez as condições para novo maremoto, porém hoje é mais 'in' usar termo nipônico e dizer-se tsunami.

Não sabemos quando, não sabemos de que lado, não sabemos nem mesmo sob que forma, só sabemos que virá, e pode ser tanto mais devastadora a crise quanto forem os fatores que a criem, ou seja quão maior for a permissividade num MERCADO TOTALMENTE DESREGULADO. Tendo isso em mente só me ocorre cantar como Caetano no seu 'Um índio': Virá que eu vi!

terça-feira, 23 de janeiro de 2018

Feliz Ano Novo de incerteza crescente - Feliz 2018.






Poderá existir um suficientemente louco, é certo, mas mesmo os loucos têm medo da retaliação, da resposta à sua ação inconsequente, e consequentemente não tomam a iniciativa. Nem a besta do Kim Jong-un creio que será capaz, seria necessário um Hitler, um obsessivo-compulsivo fora de si para deflagrar uma guerra nuclear.

Então para que servem essas ogivas todas? Tantos mísseis? Todo este arsenal? Para que? Bem para usar neste planeta é que não é, pois ao fazê-lo a área atingida ficará comprometida por séculos, sem possibilidade de haver vida, as respostas efetivas riscariam os países da face da Terra, e arrasariam populações, ainda que o louco se possa pôr num bunker, não quererá ser regente de um país sem população, não é fato? Por causa disto já passados 70 anos ainda ninguém se atreveu a usar a bomba desse dito clube atômico, do qual fazem parte sócios cada vez mais incômodos, onde os estatutos previam restringir o número de sócios, mas para o qual, com o avanço tecnológico, sempre entram novos sócios, posto que dominar a tecnologia necessária à carteirinha do clube, cada vez é mais fácil, parece que a Asia vai cada vez mais se atemorizando, e é a região mais populosa do globo, mas o fato é que ainda o clube não recebeu como sócio um louco suficientemente louco para arrebentar com a sua relativa 'tranquilidade'.

Mas para que serve então fazer parte do Clube, cujos membros são 9, e as ogivas 14.500? A única utilidade dos mísseis nucleares é para nos defender dos ETs. Os meus amigos abduzidos já sentem comichões, mas não usei a afirmação para reforçar a ideia de uma guerra nas estrelas, tão em moda novamente nas telas, não, foi para marcar uma semântica do impossível, talvez também do absurdo, mas certa e primeiramente do desnecessário.

Esse 2017 que agora terminou, pejado de sua estupidez como todos os anos, (E isso só me faz lembrar o Christmas Carol, grande Dickens, que percepção, como via longe!) mais um ano com suas contradições e absurdos, repito, como todos os outros anos, mas que entre as muitas que se tiram da cartola, e os muitos que aparecem sem ser os coelhos do mágico, posto que a magia, enganosa como todas, é, ademais, trágica, e a deste ano foi a de dois idiotas a frente de arsenais nucleares se desafiando. Coisa demasiado perigosa para ser contemplada sem apreensão, porque afinal sempre os idiotas podem passar das palavras aos atos, porque dos atos, as palavras que os prenunciam estão recheadas de uma inconsequência fecunda que poder-se-á subitamente materializar, nunca é bom pagar para ver. Entretanto toda a diplomacia, toda a sensatez, todos os homens ajuizados que há, nada podem contra um psicopata com poder.

Perguntemo-nos se haverá uma guerra oculta, nem tão silenciosa, pois manifesta-se em alguns gritos esquizofrênicos esporádicos, mas que envolve outros interesses, onde diferentes atores movem-se no palco da desestabilização social e da propaganda, havendo hoje muitos espaços em que se movimentar, desde o ciberespaço, até o da implantação de notícias falsas alarmantes, ou mesmo ataques cibernética às redes e centros de poder causando um ambiente cada vez mais instável, onde devemos incluir a instabilidade econômica, onde subitamente uns países mergulham na perda de valor de seu produto, esse 2017 foram 20% dos países emergentes que foram estrangulados para que outros acumulassem riqueza noutros pontos do planeta, e apesar disso o crescimento econômico está em expansão, e é revisto com maior expansão ainda para 2018, devemos incluir também os terroristas, as guerras e as lutas para não perder, de uns, e para ganhar proeminência, de outros, cuja inevitável consequência é uma escalada na agressividade das confrontações, gerando maiores arsenais, cujos 'líderes' agem como crianças afirmando que seus brinquedos são maiores e mais numerosos que os do vizinho.

Temos portanto que, enquanto os ETs não vêm,  já contamos sete décadas de inutilidade atômica, que, infelizmente, mesmo assim vem se multiplicando com capacidade para destruir todo o planeta várias vezes, e, com a crescente participação de variados esquizofrênicos, dando-nos só uma certeza, a incerteza crescente. Mas é sempre tempo para dizer: Feliz 2018. (Pelo seu Janeiro já podemos quase dizer que passamos, falta só uma semana.)

sábado, 13 de janeiro de 2018

A CASCA E O MIOLO: Um rombo que só aumenta, e a culpa é de ninguém.





Já passam dos trinta bilhões, ou se preferirem trinta mil milhões, o buraco dos bancos com a crise de 2008, só no pequeno Portugal. E onde foi parar todo esse dinheiro? Não evaporou-se certamente, porque dinheiro não se evapora, muda de mãos, o que transforma a nossa pergunta em: Em que mãos agora estão esses trinta bilhões?

Ora todo mundo sabe que os buracos com a crise atingiram centenas de bilhões de euros no mercado financeiro mundial, e que o que causou a crise foram os investimentos gananciosos dos banqueiros,  dinheiro que foi investido em papeis que não valiam nada, que eram as fusões de dívidas e hipotecas que já existiam, como se elas fossem novas, e como ninguém vai pagar duas vezes o que deve, essas obrigações não obrigavam ninguém a nada, e eram um enorme embuste, uma fraude sem tamanho escondida sobre a ideia de que a obrigação original obriga obrigações agrupadas, ou fundidas, tudo uma enorme MENTIRA, assim como as bitcoins de hoje, uma invenção especulativa que também vai arrebentar qualquer hora. Eu devo ser mesmo muito estúpido, porque não consigo entender como isso é permitido e nada é feito, nenhuma atitude é tomada, para que quer arriscar dinheiro loucamente, há os casinos .

Pois evaporaram-se centenas de bilhões de euros ou de dólares, e quem foi preso por isso? NINGUÉM! Os que chegaram a ser presos foram por razões anteriores, ou por suas reações ao descalabro, porque estando dentro do processo de crise, e vendo toda a desgraça que haviam feito,  fizeram mais desgraça ou inventaram novas falcatruas para cobrir as antigas. No mais ninguém foi culpado, ou seja os autores do negócio que gerou a crise estão aí inocentes. Há uns quantos yuppies em Nova York que moram em palácios com Picassos nas paredes e centenas e centenas de milhões de dólares a sua disposição, e todo esse dinheiro foi para lá desviado nessas negociações fantasiosas, e que não sofreram nenhuma punição, e os criminosos gozam de vida regalada, é verdade que o Sr. Obama ainda falou em tomar qualquer atitude, porém logo o fizeram esquecer, mas que ao abrigo da falta de regulação do sistema eles continuaram escondidos e impunes da imensa fraude que praticaram. E, note, nem sequer o sistema foi regulado efetivamente para prevenir outras golpadas futuras, nem se lhes tocou num fio de cabelo ou num cêntimo da fortuna que recolheram. Tudo isso já foi detalhadamente analisado aqui por mim em outras crônicas, nas quais eu sempre afirmei, e volto a afirmar, que Na próxima encarnação vou vir banqueiro, porque os banqueiros são assim como uma casta divina, que sempre sai impune, não importa as misérias que cometam. Vejam por exemplo esse senhor Sérgio Monteiro, de Portugal, que ficou como responsável em vender o Novo Banco, um banco resolvido que surgiu das medidas que tomaram sobre o BES, o Banco Espírito Santo, que teria o transformado num banco bom, e que revelou-se mau, e que obriga agora o Estado português em mais cinco bilhões de euros nas efetivas negociações de venda com as quais esse senhor nada teve a ver. Pois esse senhor Sérgio Monteiro, além de não conseguir vender o banco, foi remunerado em algumas centenas de milhares de euros para ir tentando, ou fingindo que tentava, nessas funções especiais que desempenhou no Banco de Portugal com esse exclusivo intuito, já após todo o descalabro que havia feito, arranjaram-lhe esse pseudo-emprego com altíssima remuneração, e agora vai com alto salário outra vez ser diretor de um banco do Estado, a Caixa Geral de Depósito, num setor dela com grande autonomia, quase como se fosse um banco autônomo.Um perigo em suas mãos inúteis. O que vem a provar que os banqueiros nunca são atingidos façam as misérias que fizerem, cometam os desatinos que cometerem, e esse é um banqueirozinho por portas travessas, imaginem só os de casta, como o Sr. Ricardo Espírito Santo, tudo que lhe foi possível fazer, e está lá na sua mansão da Guia esperando a morte.  

Isso tudo se passa como uma podridão numa fruta, onde você vai e corta a parte podre, e fica com o resto da fruta perfeita, mas no dia seguinte a podridão está lá de novo, e então, assim, você vai e corta outra vez essa parte onde se manifestou a podridão, mas ela volta sempre nos dias seguintes, até você não ter mais fruta nenhuma. O comprometimento do sistema financeiro passou-se assim, com podridões sucessivas, sempre a espalharem-se, e na verdade não sabemos quando vai acabar, posto que sua ação ainda compromete o Estado e os contribuintes, os que sempre têm de solucionar o problema que os banqueiros criam, mas que nem por isso dispõe de poderes de regulação eficaz contra esses agentes e suas diatribes, nem consegue aplicar punição eficaz contra seus autores. A solução americana foi mais expedita, jogaram muitos e muitos bilhões de dólares em cima da podridão, como um remédio, como sulfa ou como penicilina, dinheiro para estabilizar o sistema, que afinal de contas nada mais é que papel colorido, no que os EUA são em grande parte os responsáveis de ser assim essa falcatrua mundial, dinheiro igual a papel, tendo em muito contribuído para o fim do lastro ouro, e o dinheiro passou a ser uma intenção de boas vontades que o câmbio regula em parte, e que a riqueza das nações que o detêm vai impor sua valia, ou sua  suposta pujança. Como é só papel, os EUA não tiveram dó em injetar bilhões e bilhões de notas de dólares para estabilizar o sistema. (>> Isso é fácil de entender como funciona, toda a roubalheira que houve, e a invenção de valores que não existiam, com as fusões das hipotecas por exemplo, posto que não existiam novas casas, as casas eram as mesmas, alargou artificialmente  as dimensões do sistema, logo o meio circulante não respondia pelas novas dimensões do sistema, e a injeção de dinheiro reajusta o sistema às novas falsas dimensões, como se riqueza real tivesse sido criada, como é tudo uma patranha mesmo, essa solução não se compadecendo em ser mentira, regulariza toda a estrutura, na Europa preferiram cortar, fazendo tudo e todos menores, menos ricos, mais pobres, o que tem mais relação com a realidade, mas dói muito mais.<<) Em ambos os casos era um perdão, uma amnistia prévia aos culpados.

E assim de embuste em embuste, mais ou menos consentidos, chegamos a essa permissividade geral, não regulada que é o sistema financeiro, que agora, nessas condições, só espera uma oportunidade para dar de novo um grande desfalque. A casca é a imagem que é vendida de que isso tudo é uma maravilha, essa aparência de normalidade, o miolo é a podridão que por mais que se corte, ela volta, e só com dinheiro se resolve o problema, porém aí é que mora o busílis, o Estado inoperante usa o dinheiro para resolver o problema, só que esse dinheiro que há é dos contribuintes, do pequeno cidadão que pagou impostos e esperava ver esse dinheiro empregue em melhores hospitais, escolas, e serviços em geral, e que vê sua riqueza ir cobrir o buraco que gerou uns quantos milionários que saem impunes. Acreditem que o absurdo mesmo grande, enorme, é a conivente falta de coragem em punir exemplarmente esses ladrões.

domingo, 7 de janeiro de 2018

Quem nos legou esse mundo foram os demônios do Bosque.




Foi nos anos noventa, quando a ganância atingia seu auge, e dos homens instalados no poder, entre os mais gananciosos, estava o presidente dos EUA que começou uma guerra pelo petróleo no golfo pérsico em mil e novecentos e noventa e um, abrindo espaço a Al-Quaeda, e depois ao Estado Islâmico, esse presidente que tem sua segunda edição com o filho, pelos mesmos motivos, pouco mais de uma década depois, a fazer outra guerra pelo petróleo, mas que tudo, como disse, começa com o pai,  cabeça de uma dinastia maldita, bem mais que familiar, a que chamo os demônios do bosque.

Bush de seu nome de família, cujo único interesse na política foi deter o poder para atender ao grupo no qual desde cedo participaram, primeiro o pai, depois o filho, os dois Georges Walters, um com H, outro sem (H de Herbert.) ambos emergentes dos interesses texanos, ambos de Yale, ambos membros da Deke, a mais antiga fraternidade secreta das universidades americanas, contando com cinco ex-presidentes entre seus membros, com muitos homens do gabinete e dezenas de expoentes em diversos setores da vida americana, a famosa ΔΚΕ, delta-kapa-epsilon, que alguns além de lerem Deke querem ler Ake para lembrar axis, eixo de poder por gerações, ambos a serviço das grandes petroleiras.

O poder da nação mais poderosa do mundo, por força dos lobbies, a partir daí cai exclusivamente na mão desses interesses, para desavergonhadamente revelar que governa a partir de princípios econômicos, vale dizer, consoante os interesses econômicos, o que evolui em duas décadas e meia para essa aberração chamada Trump: "America first." You will may know what America means to Mr. Trump. . .

Vivemos o fim de uma era, e eu que não sou americano do Norte, mas sim do Sul, este que eles sempre consideraram seu quintal, não deveria me preocupar, mas me preocupa o desequilíbrio de forças e o vácuo do poder, duas ocorrências muito perigosas na conjuntura mundial que abre espaços a manifestações das mais perigosas, como as da Coréia do Norte ou da Somália, cada uma em espaços que se lhes permitiram ocorrer e atuar por falta de liderança. Um enorme perigo! Tudo que se manifesta passa a existir e tem um peso ponderável na conjugação de forças, permitindo outras e diversas manifestações, numa reação em cadeia.

Vejamos o que é isso: Desde os demônios dos bosques que o mundo percebeu que a motivação central dos EUA pouco tinha a ver com sua gênese democrática, e o mestrado dos founding fathers, porque se havia deturpado nessa coisa a que chamamos interesses manifestos, lobbies, jogos de poder, perdera sua preeminência, para atender às forças que detêm o verdadeiro poder do mundo, e que com essa  enorme estrepolia abrira caminho vertiginoso rumo a um valor que não tem, mas que cada vez mais se lhe atribuem e aparenta: O Dinheiro!

Ascendeu, ascendeu até que se tornou no objeto central das motivações existenciais das pessoas, e também nas governativas, deixando claro que o que movia os governos não eram, como dantes, as relações políticas que a democracia estabelece, não, agora só o dinheiro movia o mundo, e o pacto democrático ficara quebrado irremediavelmente. A antiga ideia de que o poder emana do povo, evaporara-se!  Era, para estabelecer uma comparação, como se a democracia fosse uma religião em que houvessem substituído o deus Populus pelo deus Moneta, e com essa substituição sobreveio a ditadura invisível dos régulos desse novo deus: Os mercados!

Mergulhado na maior de todas as imbecilidades, o mundo não soube reagir, e deixou-se enredar nessa mentira, a força política se curvou e ajoelhou-se ante as imposições da pretensamente absoluta realidade financeira, escudada em imposição econômica para sua efetiva maior maldição, e fazendo aos sucessivos fracos detentores do poder, vergarem-se a essa suposta verdade que se apresentava como absoluta, fazendo com que todos esqueçam os verdadeiros valores (Seguindo ao modelo Bush, pai e filho, de absoluta sujeição às imponderáveis econômicas como magister dixit, como supra sumo da verdade conhecida, sua nova religião) para viverem guiados por essa ilusão (Agora que o deus é outro e vendem-se as almas para se ligarem a ele, o novo deus entronizado, Moneta, o dinheiro, o supremo dinheiro.) e esquecerem os valores pelos quais os antigos se haviam batido, e os campos se haviam enchido de sangue por séculos, até que os que seriam os novos cadáveres não tombaram, tombou a res que se fez pública, mas não para o público, como logo se verá, mas tudo isso se deu durante muito breve tempo histórico, posto que o poder oculto que movia reis e nobreza, e que gerava a opressão, liberado, assumia já, sem rosto, o trono mais alto, pois agora não mais matava, mas consumia as gentes. O dinheiro imperava por fim!

Se nada lhe fizer frente, estaremos condenados aos demônios do Bosque em suas múltiplas versões, sejam ex-coroméis da KGB, sejam astutos homens de negócio, parasitas que subiram à conta de valores destorcidos da realidade econômica pela aplicação do financeiro com seu deus à cabeça. Se a política - πολιτικός - o politikos - que os gregos viram ser a forma única de haver administração da 'polis', um sistema onde o todo prevalecesse sobre o indivíduo, para que havendo alguma ordem social possa haver soluções de justiça que se generalizem como manifestações de pelo menos uma das quatro virtudes cardeais, talvez da primordial para que as outras também se manifestem, não reassumir sua primazia, o mundo, como o conhecemos, deixará de existir. E a  condenação por inação dos que, fugindo como o diabo da cruz ao enfrentamento com esse poder cada dia mais forte, e que cada vez mais assume o governo do mundo, vêm pondo-se em posição de servilismo ante esse poder, ou mesmo vêm sendo parte ativa de sua manifestação, esses novos políticos que vêm todos os dias dando prova de como os demônios dos Bosque fizeram escola, e de que hoje vivemos só em consonância com o poder praticamente absoluto do dinheiro.  



quinta-feira, 4 de janeiro de 2018

Maria Teresa Horta sócia do Real gabinete.






Minha amiga  Maria Teresa Horta foi distinguida sócia honorária do Real Gabinete Português de Leitura, merecida delicadeza e prerrogativa que se lhe atribuem os membros daquela distintíssima instituição brasileira

Da honra merecida não se discute, prendo-me na imaterialidade da atribuição, posto que Maria Teresa nunca irá caminhando pela praça Tiradentes em diversos dias, pisando as mesmas pedras portuguesas, iguais às de seu país natal, e ao passar por lá saudar D. Pedro com seus índios, chapéu ao alto destapado em gesto largo, no seu garboso alazão, alegre ou não, no convívio central da carioca, e imbicar pela Rua do  Teatro, e tendo passado por ele, o João Caetano, donde saí preso duas vezes, a primeira no protesto estudantil de 1974, e aí então poder ver no escaparate o que está em cartaz. E não saberá certamente que João Caetano foi um menino de Itaboraí, antes de ser o grande ator dos finais do XIX, e talvez também não saiba que esse teatro, hoje com o nome desse ator fluminense, era o antigo São João em homenagem ao Rei que o construiu, e que também foi seu, dos ancestrais de Maria Teresa, que alguns viveram no Rio, e que ali Tiradentes, a praça, era o Rossio, o antigo Campo de São Domingos transformado, depois  Rossio Grande, numa referência ao Rossio de Lisboa, e que depois foi o Largo do Polé por conta do pelourinho que ali havia, e sendo a seguir muito conhecido como o ‘ponto dos cem réis’, em razão do custo dos bondes que ali faziam ponto final, aos quais Maria Teresa certamente preferirá chamar elétricos, ainda que os primeiros que por ali passaram e fizeram ponto, fossem puxados por burros. E nesse ambiente, decerto notará que ele muito se assemelha, não topograficamente, mas espiritualmente, ao do espaço que vai do Alecrim à Nova do Almada pelo Chiado dentro, com suas livrarias, teatros e cafés.

Mas finalmente entremos pela Rua do Teatro com sua forçada curva, sem prosseguir por ela, para pronto ganharmos a primeira a esquerda, podendo logo ver ao fundo desta na qual entraremos, de chofre, o imponente prédio do Gabinete de que agora é sócia, tendo ainda que, caminhando um pouco mais, irá atravessar a Luís de Camões, pois que o Real Gabinete fica do outro lado desta rua, transversal da avenida Passos, e que é a homenagem da carioca ao grande poeta, que inspirou a todos nós, com o qual Teresa se identificará, lusitano como ela, poeta como essa mulher que ora homenageiam, mal sabendo eles que os terrenos onde tudo isso se passa, no coração da homenagem, foram outrora pântano, como são os intrincados terrenos da história, pois que estes pântanos que D. João, o nosso príncipe regente de tão boa memória, o sexto desse nome como rei de Portugal e o primeiro como imperador do Brasil, mandou dragar e sanear, tornando-os aptos para a construção de seu planeado teatro no amplo largo do Rossio Grande, onde as carruagens diversas podiam estacionar durante as funções teatrais a espera de seus donos, já que estes terrenos eram pertença de  D. Beatriz Anna de Vasconcellos, que vem ser parente de Maria Teresa Horta na ancestralidade da grande Dona Leonor Tomásia de Lorena e Távora, que era neta do Primeiro Duque de Cadaval de quem Beatriz Anna também descende.

E lá no Real Gabinete, e esse Real é do Imperador Pedro II, último Bragança a reinar nesse mundo, uma vez tendo entrado no magnífico edifício que lhe lembrará Lisboa, com sua riqueza e fausto, com suas fabulosas bibliotecas, e ao dizer Lisboa, digo Mafra, digo Porto, digo Coimbra, poderá pedir entre dezenas de edições e estudos críticos, a edição prínceps de ‘Os Lusíadas’, ‘As Ordenações de D. Manuel’ de 1521, saber d’ ‘A verdadeira informaçam das terras do Prestes Joan’, de 1540, ou consultar o manuscrito do ‘Amor de Perdição’ de Camilo, ou outra escolha entre as mais de trezentas e cinquenta mil obras a seu dispor.

Tendo ali, naqueles pântanos, parte de seu passado, podemos dizer que Maria Teresa Horta, sócia do Real Gabinete, assim sendo, o é, e nada mais justo, quanto mais não fosse por ainda inumeráveis outras razões mais relevantes, que o Real Gabinete Português de Leitura da Mui Leal e Heróica Cidade do Rio de Janeiro, a Cidade Maravilhosa, tenha concedido à menina Maria Teresa da Mui Nobre e Sempre Leal  Cidade de  Lisboa, Felicitas Julia Olissipo, o título de sócia honorária. E, direi eu, Mui ilustre Sócia do Sempre Mui Nobre, Mui Heróico, e Mui Leal Real Gabinete Português de Leitura, e leitura é tudo o que querem os autores, como Maria Teresa, certamente.

Nada mais a propósito!


  

segunda-feira, 1 de janeiro de 2018

Francisco o herege.








                             “Santo Padre, com profunda aflição, mas movidos pela fidelidade ao Nosso Senhor Jesus Cristo, o amor à Igreja e ao papado, e a devoção filial a Sua Pessoa, vemo-nos obrigados a dirigir a Sua Santidade uma correção, devido à propagação de heresias produzida pela exortação apostólica Amoris Laetitia e de outras palavras, atos e omissões de Sua Santidade.”
                                Trecho de uma carta enviada ao Papa por 40 padres e teólogos onde o            .                                 acusam de herege.



Consideram-no herege por afirmações como a que fez sobre os homossexuais, sobre as mães solteiras, sobre o divórcio, sobre o confessionário, sobre sua visão de futuro da Igreja, por sua postura comprometida com as misérias do mundo e com os que nelas estão, que, segundo estes que o criticam, afastam-no da sua condição de Papa, e remetem-no para sua condição de chefe de Estado, sendo portanto mundano, herege, que somando às suas afirmações "blasfemas" na opinião de vários membros da Cúria que reafirmam esse rótulo de herege.

Mas quais as heresias de Francisco? O que terá afirmado de tão medonho? Disse num outro artigo recente sobre a situação do Papa, onde abordava sua homilia natalina e o Urbi et Orbi do mesmo dia de Natal, o seguinte: Sim esse homem é extremamente perigoso para aqueles que não querem a revolução completa da palavra do Cristo, e assim mantêm as exclusões, as de gênero, as de padrão de conduta, as de diferentes padrões econômicos, as daqueles que estão na condição de sem pátria, sem trabalho, sem lar, sem futuro. Todos os excluídos que Jesus evoca e convida para a sua ceia. Onde alertava para o recrudescimento do conflito interno do Vaticano, para logo a seguir afirmar: E é fácil de perceber porque esse homem é mesmo muito perigoso, e ademais incômodo, porque insiste não só pelas palavras como também nos atos, na sua preferência pelos excluídos, pela justeza, pela verdade, e pela dignidade humana. Poderá haver comportamento mais perigoso? Mais em contra de interesses estabelecidos? Como se passou no Banco Vaticano, que fora transformado uma enorme lavanderia.


                               Dos homossexuais: “Se uma pessoa é gay, quem sou eu para julgá-la?”

Nessa preferência pelos excluídos encontram-se os homossexuais que não podem participar da comunhão, assim como as mães solteiras de quem disse:

                           Das mães solteiras: “Essa mulher teve a coragem de continuar a gravidez"

E dos divorciados que também excluídos do seio da Igreja são repudiados, e os que se casam novamente são considerados adúlteros. Francisco na sua revolução silenciosa, mas nem tanto, afirma que o divórcio pode ocorrer por diversas razões, até para a defesa dos filhos, e que a separação não pode ser motivo de exclusão, recomendando a inclusão dos casais onde há divorciados, pois não os quer afastar de sua fé, não se arvora esse direito, tendo afirmado sobre o divórcio, verbis:

                                           Do divórcio: “Existem casos em que a separação é inevitável”

Pois sabe que assim é, porque entende o humano e deixa essa posição de superioridade e de dedo acusador que sempre se atribuiu a Igreja Católica, numa pretensão e pretensiosidade absolutas da discricionariedade a que se arvora sobre a vida dos fiéis.

E concluía eu na certeza da revolução que Francisco representa, e no Bem que ela traz: Sim esse Papa é o centro de um perigo que representa mais que o perigo pelo perigo de suas ações, mas um perigo porque suas ações legitimam uma igualdade que ofende os privilégios, que revoga a superioridade, que rebaixa as classes superiores, e eleva as inferiores, esse Papa é um homem muito perigoso, sim. E bem sabemos para quem!

Francisco é um revolucionário, partidário da revolução final, a revolução de todas as revoluções, a interna, a da alma, a mesma que Jesus (outro homem muito perigoso) pregava, mas que a ambição, os complexos, a ganância, a ligeireza, a indiferença, a superficialidade e o desamor dos homens vem evitando que se deflagre, essa mesma condição que deu sucessivos Papas não revolucionários, logo não representativos do Cristo.

Francisco é a revolução num lugar perigoso, Francisco é o perigo da revolução, Francisco é a voz que tem de ser ouvida, que se fará ouvir como revolução que é e representa incomodamente, fortemente, absolutamente, plena revolução na palavra e nos atos, que esperamos dê frutos.

Repito largamente minhas palavras como faço com as orações por Francisco, por que desejo um mundo melhor, onde haja menos preconceitos, onde a Alegria do Amor (Amoris Laetitia) impere, e sinto que esse homem, sim o homem mais que o Papa, que estando nessa sua posição, pode e tem contribuído para construir. Tarefa difícil com tantas mentes estreitas que há no clero, mas esta é sua luta, e espero bem que a ganhe.