domingo, 23 de janeiro de 2022

DAS GUERRAS DO ALECRIM E MANJERONA.

Com licença literária e sociológica de António José da Silva Coutinho, o dramaturgo 'judeu' de São João do Rio Meriti, na baixada fluminenese, no Rio de Janeiro, que deu no que deu, nem o rio há mais, licença concedida ao ser torturado e executado pela inquisição no Estaus em Lisboa, torturado por dizer a verdade. Foi no carnaval de 1737 dois anos antes deste assassinato do autor, quando, no Teatro do Bairro Alto, se encenou a Comédia de enganos, sua Ópera de bonifrates, ou, como ele a intitulava, sua ópera joco-séria... Pra que?
Na comédia, onde muitos ainda querem ver "exageros barrocos" está a crítica mordaz a Justiça, a Medicina, às rivalidades entre grupos "carnavalescos", onde os títeres, os engonços, e não os toome só numa, posto que há outras acepções que também se adequam ao termo, e que são tão atuais como foram contemporaneamente à peça satírica da sociedade portuguesa. Retrato farfalhudo de uma realidade que o tempo burilou, mas não modificou amplamente, porque a alma das gentes é, não direi sempre, mas muito, a mesma. .............................................................................................................. O Prodígio Português.................................................................................... ............................................................................................................... Este fabuloso pequeno país, que foi dono de meio mundo, e chegou mesmo a dividir o planeta ibericamente, forjou ralidades e mentalidades que ainda sendo as mesmas, são outras, ou sendo outras, ainda são as mesmas, dependendo da perspectiva que escolha, se de cá para lá, ou se de lá para cá. Enraizadas na matriz histórica, posto que cada um herda a mentalidade em que vive, que é a que encontra quando nasce, no inesperado da vida que vem a encontrar, e "ninguém sabe pro que nasce", diz com sabedoria e profundidade o Frederico Valério, não se esquecendo as diversas posições dos "alcatruzes da nora" quando diz, e não nos devemos esquecer nunca desta sua afirmação: "Não há roda que mais rode que a roda da má sina." E é neste engonço desengonçado que corre a água das maravilhas, essa que Portugal bebeu e fez beber ao mundo inteiro, nas proezas de sua gente, nos milagres que concertou. .................................................................................................................. E a razão de tudo isto, nas guerras que se travaram, as intestinas foram parricidas, matricida e patricida à vez, fratricida também, mas que não culminam no ato, pra que? Nesta pergunta toda a alma portuguesa, não usaram o fio da lâmina cruel, eliminando o contendedor, nem por ódio aos desvalidos ou por graças que se opuseram, desde Galiza, no condado denominador da nação, até uma revolução praticamente sem tiros no "dia inteiro e puro", passando pela intervenção da Santa, mãe do 7º rei, e nos demais reinados serenos ou conflituosos, só a república se fará sangrenta, mesmo antes de vir a existir, em seu prenúncio e ânsia malévola. Os reis nunca tiveram esse instinto. E esse instinto é o das gentes que o guardaram, o da concórdia, o dos ditos brandos costumes, onde há muito maldizer, e pouco malquerer, onde há forte contestação, e acordos dilatados, onde os "aristocratas avarentos" cansando-se de explorar o terceiro Estado, o povo, e este, como na caricatura de Bordalo Pinheiro, a carregar sempre a nação às costas, com seu trabalho, pagando tudo que se vê e que não se vê por estas terras à beira mar plantadas. Na guerras exteriores também sempre se buscou a solução pacífica, ou antes a neutralidade, por índole do povo, excessão feita a Castela, evidentemente, posto que aí sería o fim da nacionalidade, e sempre procuraram outras medidas, mesmo quando invadidos, escolheram outros caminhos, desvios, em que, mesmo assim, derrotaram gigantes como Napoleão e sua 'Grand Armée', prodígios portugueses, como o de ter o mundo sem o poder. Pequenino e falto de gentes, sem duvidar, desse modo, lançou-se na aventura da vida, esta que não cessa e segue em movimento, como a roda da nora, enquanto houver água no rio a correr......................................... ................................................................................................................ "...do alecrim e manjerona."
Nesta realidade pequena, não em pequenez, ou estreiteza, de pemsamento menos que tudo, uma vez que esse sempre foi vasto, mas na territorial e populacional, que assim é, porque assim se fez, pouca terra e pouca gente, mesmo muito pouca, para desmesurada ambição, e forjou-se uma nação estruturada em razões que se admitem centrais, a dos senhores das coisas em contraponto com a dos adeptos do lavor, cada um em seu papel, na comédia de erros e enganos, como é e quea vi, representada em palco, pela última vez no Teatro da Comuna em 1994, com seus 9 personagens: D. Fuas e D. Gilvaz, D. Nise e D. Clóriz, D. Lançarote, e D. Tibúcio, mais os criados Semicúpio, Sevadilha e Fagundes. O número bate certo, mas antes devo aqui dizer/escrever, precavendo-me de qualquer má interpretação ou eventual futura interpelação, defendendo a mim como ao António José da Silva, como se dizia/escrevia nas películas na década de trinta em Hollywood: "Toda e qualquer semelhança com pessoas, factos, ou situações da vida real é mera coincidência."
"Que comecem as guerras!" Pois bem, o número é o mesmo, nove, as personagens similares, 6 titulares e 3 criados, ou pretensamente serão criados, não sei, sendo duas mulheres, uma fina, outra tola; e Portugal vem com uma grande concentração na neutralidade, no centro de equilíbrio, onde estava o rei, e a corte a ele agarrada, com as franjas a puxar para os extremos, uma que demorou muito para puxar convencidamente para a esquerda, e outra séculos a puxar totalmente para a direita, e as críticas também são as mesmas, Justiça, Saúde, e os grupos também, carnavalescos que são, que seguem pelas ruas em arruadas, com suas graçolas e ataques, esses sempre mais importantes que a (in)dispensável discussão da realidade, e vão sendo feitas de parte a parte apenas críticas, na imoderação arraigada, que nunca vem em boa hora, pletora do alecrim e manjerona, tanto hoje como outrora.

segunda-feira, 17 de janeiro de 2022

Dos que não morrem...

30/3/ 1926 – 14/1/2022
Eu não sabia que tinha Direitos Thiago mos disse… …………………………………………… Fica decretado que as flores sorrirão para sempre Porque agora está entre elas a mais sensível flor Thiago de Mello Que resplandece de seu canto claro Canto no duplo sentido Posto que existia e cantava para mudar “a cor do mundo” … …………………………………………………….. Thiago não morreu, os poetas não morrem Despetalam-se em maravilha.

terça-feira, 11 de janeiro de 2022

ARTE NO FEMININO, tal coisa não existe.

Sendo verdade que na arte de algumas autoras como Paula Rego na pintura, como Colette na escrita, Maria Teresa Horta na poesia, Camille Athannaise, dit Claudel, na escultura, para exemplos, a condição do gênero facilite uma certa expressividade, nada impediria a nenhum homem de ter produzido semelhante arte com a mesma expressividade, como é igualmente verdade o oposto, qualquer mulher com igual talento seria capaz de fazer qualquer das obras de artes produzidas pelos homens. Logo essa ideia de uma arte como expressão do gênero, é um equívoco. A arte é agênera. A presente discussão tem origem verbis no livro que assim se intitula, "Arte no feminino", de Afonso Almeida Brandão, que queria dizer com esse título sem sentido, Mulheres artistas, referindo-se só às artes plásticas, não esqueçamo-nos que a Arte abrange um universo muito mais amplo, mas isso não importa para começarmos essa análise, nem o citado livro, que não é nada, é apenas um negócio, mas a ideia que passa seu título, esta sim, merece atenção e repúdio, por ter recentemente voltado à baila na discussão da arte disruptiva de Frida Kahlo, à conta de seu quadro "Diego y yo" que recentemente foi a leilão, onde discutiam a feminilidade da autora mexicana e suas manifestações.
Quererão alguns ver na maioria masculina no ofício das artes (o que em nossos dias se altera a velocidade galopante) 'capitis diminutio' para as mulheres, negando-lhes uma atitude crítica e interpretativa, mister, imprescindível mesmo, na Arte, esquecendo-se que assim foi, e infelizmente ainda é, em todos os setores da atividade humana por razões históricas, criadas artificialmente para controlar as fêmeas da espécie, temerários os machos de sua graça, que, muito ajudados pelas condições da procriação das fêmeas da espécie, com seus reflexos etológicos, o que dá excelente pretexto, sendo ideal mesmo para esse processo de exclusão, que o progresso histórico e as condições sociais vêm banindo a pouco e pouco. Aquilo a que denominamos 'ideleogia de gênero' é um conceito com profundo sentido em qualquer área, e muito mais na das Artes, onde é que tem mesmo plenamente lugar, posto que a identidade de gênero sói contradizer o que se lhe, crê-se, terá atribuído a biologia, muita vez sem a devida contribuição fisiológica, aparentemente mister para a evidência desta identidade, revertendo desse modo qualquer pressuposto. Pois é mesmo nas artes que este conceito se esvanece, onde só os sentimentos contam, logo, lato sensu, qualquer diferenciação adjetiva é descabida, pela simples razão de prejulgar, ou pré-estabelecer, desse modo, querendo mesmo pre-definir uma manifestação absoluta de identidade do artista, muito para além de qualquer restrição de alguma ordem, o que não há. Em arte só a integridade do que fica manifesto, e o modo como isso nos toca e afeta em sua absoluta expressão, é o que importa, tudo o mais é acessório ou pre-conceito, e neste caso mais ainda, uma vez que a rede neuronal é a mesma em ambos os gêneros. O argumentário que é muito vasto, desde a Academia ao Café da esquina, na percepção da Arte, define, o que significa que está implícito, as artes tocam longitudinalmente as diferentes sensibilidades, convocando-as, não as excluindo, não as adjetivando, nem tão pouco as apartando, e sua resposta é transversal. Sensibilidade é sensibilidade apenas, e quem sente e percebe, seja o que for, universaliza-o, do mesmo modo como quem os produz, logo haverá um ponto de fuga comum que implica essa universalização, e é só. Corroboradas pela ciência, bem como pela filosofia, e mesmo pela religião (esta última tão excludente em outros campos) a percepção da realidade, bem como sua expressão, ou manifestação, artística, ou não, é um alvorecer intelectual, e bem sabemos que as faculdades intelectuais não conhecem gênero, onde possa haver características muito próprias da sensibilidade por esta ser a de um homem ou a de uma mulher, ainda que haja percepção diversa, aceitemo-lo, mas esta alguma diferença de sentir, que possa haver, não delineia, muito menos define a arte e/ou sua expressividade, ainda mais que esta costuma ultrapassar os limites da própria realidade. Por fim a NEUROESTÉTICA. Observando-se as reações das pessoas às artes, fica claro que não existe diferença de gênero. A Estética-empírica prova-o, e o estado muito particular que a Arte proporciona ao cérebro, revela, como afirmava Picasso, que " O quadro vive através do Homem que o contempla," e este Homem é mesmo com maiúscula, a significar a espécie humana, que comporta ambos os gêneros, senão ainda muitos mais, como cada vez mais se tem revelado. P.S. Sugiro a leitura da crônica Diferença de gênero.

quinta-feira, 6 de janeiro de 2022

Foi em Reis há um ano.

Foi neste dia 6/1/21 em que o sr. Donald Trump se tornou definitivamente um criminoso, com o incitamento da Invasão ao Capitólio que resultou na morte de 6 pessoas inocentes. Espancadas até a morte, tendo sofrido ataques (cardíacos ou cerebrais) ou sendo mesmo baleadas num clima de guerra civil. Estas terríveis consequências do incitamento, passado um ano, continuam sem punição. É evidente que a culpa do crime é de quem o comete, mas se alguém favorece, apoia, ou estimula à materialização do crime, cabe-lhe um bom pedaço da culpa, posto que sem essa ação a favorecer e estimular o crime, este poderia não se ter consumado, ou nunca se ter iniciado.
No caso em tela deu-se um libertar de energias violentas que atingiram seu clímax em diferentes circunstâncias. Uma em que os estimulados acolheram um segurança que, no cumprimento de seu dever, foi espancado até a morte pelos invasores que lá entraram motivados pelo sr. Trump. Outros que incitados viram-se envolvidos pelas próprias emoções e energias despoletadas, a tal ponto que sofreram comoção fatal. Outros foram esmagados durante a invasão, e outra ainda que nunca se chegou a saber-se a razão (causa mortis). Fato é que todos morreram num processo criminoso de invasão de um edifício governamental, ato criminoso, incitado pelo discurso que ouviram momentos antes a pouca distância do local da invasão, num outro ato criminoso. Logicamente nem um, nem outro dos crimes pode ficar sem punição. DECORRIDO UM ANO NÃO HOUVE IMPUTAÇÃO DO PRINCIPAL CRIMINOSO QUE TUDO GEROU. Agravantes: 1- Tratava-se de uma tentativa de GOLPE DE ESTADO. 2- Todos os envolvidos eram apoiantes de um candidato derrotado, e estavam a seu serviço. 3- A incitação final é o culminar de um longo processo de convencimento de uma invenção de um não facto, supostas alterações do resultado eleitoral, mesmo antes de haver eleições, o que a torna dolosa ademais. 4- Com muita antecedência, vendo que ia perder as eleições, o instigador, em sua epifania, foi preparando esse convencimento dos seus apoiantes/invasores, criando uma cortina de fumo propícia a uma tomada do poder, posto que o que estava em jogo era não terminar o processo eleitoral com o reconhecimento do eleito, e logo da cabal derrota do incitador. 5- O edifício fruto da invasão ser a sede do Congresso. 6- Tudo baseado em mentiras e invenções, onde nenhuma prova, ou mesmo indício foi encontrado, e estes fatos configuram também um ataque à Democracia. 7- Teria havido mais mortes, como, por exemplo, a da Sra. Pelosi (Mrs. Speaker) se não fora a ação rápida da segurança do Capitólio, que a retirou do edifício. 8- A posição do incitador que na condição de Presidente da República em exercício, tendo afirmado que estaria com os invasores (ainda que fosse em espírito, imaterialmente) pelo alto cargo que ocupava criava uma força, um impacto, uma segurança imensa aos criminosos invasores para perpetrarem os crimes que cometeram. 9- As gravações do discurso que promoveu a incitação não deixam dúvidas da única e exclusiva responsabilidade do sr. Trump. Assim como as ameaças e as intimidações que fez a muita gente, inclusive a vice-presidente, durante o processo. 10- A preparação do golpe também fica provada com os telefonemas que deu desde para deputados de seu partido que lhe são mais próximos, até a chefes de segurança envolvidos, tudo para certificar-se do bom êxito do golpe que tentou, revelando uma rede criminal implantada.
Estes 10 pontos provam à exaustão os crimes ocorridos, assim como os cadáveres mostram as mortes, não se pode escamotear os fatos, lá estão como rochas, como lápides, que não deixam esquecer que ,se houve crimes, há criminosos, e no topo dessa pirâmide criminosa está o ex-presidente que esperamos ver na cadeia, comprovando que na grande democracia do hemisfério Sul, ninguém está acima da Lei, por mais que isso divida o país, ou crie instabilidade.