quarta-feira, 22 de fevereiro de 2017

"Cicatrizes da memória."





Foto de Domingos Duarte Silva.

É uma escultura/instalação de Júlio Quaresma que se encontra nos jardins do Casino do Estoril junto a fonte das águas dançantes luminosas, que traz esse estranho nome que dei como título desse artigo.

CICATRIZES DA MEMÓRIA - Cicatrizes são as marcas que ficam na pele de feridas ou chagas curadas, que antes grassaram ali. São também as impressões que um mal deixa no ânimo, e ânimo é alma, é o que temos de mais interior, como a pele é o que temos de mais exterior, e no trânsito entre esses dois extremos a consciência, essa poderosa entidade muitas vezes acusadora que nos submete, em sua autonomia, à sua inteligência, a seu entendimento mais elevado da realidade que perpassa, inescusável realidade com que somos confrontados, é o caso. Porém nem na alma nem na pele quis o artista situa-las, mas na memória, onde não as poderemos desvencilhar, onde sempre por ação da consciência serão um libelo contra nossa absoluta ineficácia, contra nossa plena estupidez.

Ao fazer aqui o que o artista faz na obra, fica tudo dito, uma acusação a nossa incapacidade em evitar flagelos, tentáculos de nossa mesquinhez, açoites da imbecilidade humana que deixam as marcas aqui relembradas: Sérvia, Bhopal, Srebreni, Bósnia Herzegovina, Alasca exxon Valdez, Etiópia, Uganda, hutus Ruanda, Sudão, Malawi, Darfour, Camboja, Alexandrí, Hoffner, Kwait, Indonésia, Chernobyl, Mar do Norte, Sarajevo, Biafra, Somália, e Hiroshima, entre outros.

Acrescenta duas catástrofes naturais, que terão deixado decerto suas cicatrizes profundas, tanto na pele do planeta como na nossa memória, não as incluo porque acho serem cicatrizes com as quais devemos viver por inevitáveis, todas as outras não, são absurdas cicatrizes da nossa incúria, mesmo aquelas que acidentalmente provocamos, pois temos responsabilidade em não as termos evitado.

Taz-nos Júlio Quaresma seu rol acusatório, sua lista negra da estupidez humana, um postulado de nossa malignidade, para além do humano e da humana compreensão!

E enfatiza essa tragédia com alguns exemplos gráficos do resultado desses processos geradores de fome, de doenças, de mortandade, de abandono, de destruição, selos abertos do apocalipse gerador dessa cicatrizes das quais não nos livraremos.

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