sábado, 20 de outubro de 2018

A Ilusão Bolsonaro.







Quem não tem ideologia, tem impulsos. Quem não tem âncora vive à deriva, vive de ilusão, e se deixa constranger por modismos, por momentos, por expectativas, por crenças passageiras, e essa condição não é um privilégio brasileiro, vamos vendo a estupidez e o engano pulsarem por toda parte. Quem pode aceitar o que se passa na Venezuela? Ou nos EUA? Portanto a estupidez está longe de ser um privilégio brasileiro. Fica cada vez mais claro que as pessoas votam não em propostas, em projetos, ou nas capacidades dos candidatos, mas na sua capacidade de expressar as sua indignações, de corporificar suas múltiplas inquietações, os que são capazes de representar sua revolta, só que isso tudo é engano e erro. O mundo tem muita sorte de não ter havido muitos mais Hitlers, Stalins e Trumps, personalidades ao pé das quais O Sr. Jair Bolsonaro, além de ser um menino de coro é um sábio, pois não reúne nem toda a maldade, nem toda a estupidez ou a ignorância necessárias para ombrear com essas figuras, que chegaram ao poder por circunstâncias semelhantes que viviam seus países quando de sua ascensão,  ou souberam oportunamente lançar a inquietação, a mentira, a contradição, ou, mais provavelmente, tudo isso junto, os meios eram diferentes, mas os métodos eram os mesmos.

Mais cego é aquele que não quer ver.

O noticiário e os 'opinion makers' após o resultado da primeira volta no Brasil foram unânimes por todo o mundo fora, a sensibilidade das pessoas chocadas com a possibilidade de outro desqualificado e facistóide ascender, estampavam sua surpresa e indignação: O New York Times afirmava "Fears rise over..." The New Yorker afirma que Bolsonaro é metade Trump, metade Rodrigo Duterte, o fascista Filipino que se compara a Hitler e chamou o Papa Francisco de filho da puta, e tem toda sua campanha baseada em mentiras (fake-news). Até os vetustos jornais franceses não escusam em vê-lo como fascista.  Nos jornais portugueses todos os dias há comentários, e quase nunca são favoráveis, e todas as figuras públicas da esquerda a direita já expressaram sua opinião do atraso que representará a eleição de Bolsonaro. Os comentaristas todos já debateram lucidamente, expondo seu entendimento do atraso que será essa eleição, só os brasileiros seguem cegos, em Portugal desde Catarina Carvalho no DN até o José Carlos Vasconcelos na Visão que chama Bolsonaro abertamente de fascista, há uma unanimidade clara do que ele é e representa, não há enganos ou meias palavras, só no Brasil se instalou uma nuvem de ilusão. Porque o Brasil estará preocupado com a segurança, que certamente não será um item de se menosprezar, mas dar tanta ênfase ao assunto que se escolha um presidente por suas supostas qualificações para o combate à criminalidade, é menosprezar dúzias de outras prioridades que requerem igual ou maior atenção, subvertendo todos os valores de um país em troca de um único ponto que ressalta por certamente inspirar terror.

As pessoas estão perdidas e voltadas para um só ponto, desinformadas que são, menosprezando outras tantas soluções que deviam estar sendo debatidas, sobretudo a reforma partidária e eleitoral, maior prioridade.

Assim vem fazendo o Sr. Bolsonaro, despreparado, não vai a debates, ignorante, não apresenta projetos, inconsistente, não tem programa, lança ideias esparsas que servem de atração aos milhões de 'injuriados' pela má governação, que se sentem melindrados com a falta de governo eficiente, e se sentem ofendidos com a inoperância política em geral, e mesmo traídos pela opção que fizeram que usaram o poder para fins inconfessáveis. Por outro lado o Brasil vive desde há muito um 'encilhamento' político, que nem o Lula teve coragem de desmascarar. Deveria ter exposto o processo de negociatas que há em torno de qualquer negociação parlamentar para votar qualquer medida. Tendo evoluído o toma-lá dá-cá de uma negociação que atenda aos legítimos interesses políticos de qualquer deputado, ou grupo parlamentar, para uma outra que atende só a seus interesses pessoais, desta maneira institucionalizando-se e corrupção (Mensalão). NADA MUDOU! E nem 1000 salvadores da pátria na presidência poderão deter o surto de desgraça promovido por existirem dezenas de partidos, que atuam apenas como agentes de seus interesses e nada mais. O país está dilacerado por ter suas riquezas canalizadas para grupos de poder, em detrimento de gerar mais progresso, e de promover a melhoria do povo em geral. Se não fosse tão rico já teria falido! O Brasil deveria contrapor através de uma imposição constitucional não poder haver mais de meia dúzia de partidos. Partidos de denominação religiosa, regional, classista, deveriam ser absolutamente proibidos, não tolerados à luz da constituição. Ou o Brasil se reforma ou morre. Eu que amo tanto o Brasil, vou ficando convencido que não é mais pra mim, e que se vai transformar outra vez numa republica das bananas por culpa de terem deixado espaço para emergir uma extrema direita que conquiste votos porque a esquerda falhou em atuar no poder, e a direita falhou em ocupar seu espaço enquanto oposição e se preparar para voltar ao poder.

 Esses jovens que estão na rua hoje, deveriam começar um movimento pela reformulação da classe política, exigindo legislação que impeça a qualquer político, sua eleição para um terceiro mandato no mesmo cargo eletivo, para que possa haver uma constante renovação, sem permitir que se criem raposas felpudas, prontas a ludibriar o sistema, e negociar até o último centavo seu voto parlamentar, só visando atender a seus interesses particulares, ou ao enriquecimento pessoal, voto que só deveria ter em meta o interesse público. E numa postura de rechaçar um retrocesso, esquecendo a ignorância, sobretudo a política, que impera no Brasil, esses jovens gritam com propriedade: Somos todos anti-fascistas! Somos, os que sabemos o que isto é. 


Quem quiser leia a notícia do NY Times:

• The fate of the Amazon, the largest tropical forest in the world, could be shaped by the next president of Brazil
The front-runner in the Oct. 28 runoff is Jair Bolsonaro, above, a far-right congressman who has said that Brazil’s environmental policy is “suffocating the country” and recently received an unwelcome endorsement from David Duke, the former grand wizard of the Ku Klux Klan. 
Mr. Bolsonaro has promised to fold the Environment Ministry into the Agriculture Ministry, which tends to favor those who would convert forests into farmland. He also dismissed the idea of setting aside any reservations for native Brazilians, who have lived in the Amazon for centuries and may provide some of the best protection against deforestation. 
Separately, our climate team explains how climate change is affecting our future as well as our past in this week’s Climate Fwd: newsletter.

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