segunda-feira, 16 de maio de 2022

Portinari em Paris.

Um rapaz de 26 anos, paulista de Brodowski, no interior matuto do grande Estado de São Paulo, Brasil, só com a quarta classe, vai para o Rio de Janeiro cursar Belas Artes, e ganha o prêmio de viagem. Irá passar todo o ano de 1930 em Paris. Tinha o fogo em si, e queria provar o grande pintor que realmente era. Aborda diversas temáticas que irá retomar mais tarde, produz incessantemente, sempre com a ideia de superar-se.
O rapaz Cândido descobrirá nesta estada um mundo novo, muito diferente do Brasil-caipira que ele conhecia tão bem, e que retratara desde o começo de sua carreira aos 9 anos, e que sempre iria retratar em suas particularidades, como os casamentos-na-roça, tão expressivos, como um que eu adoro, que pertencia à Coleção Colagrossi (Rio de Janeiro), mas esse conhecimento da Europa revela-lhe todas as fragilidade e misérias brasileiras, revoltando-o, levando a querer fazer qualquer coisa para mudar essa situação. Porém deste inconformismo nasce uma temática na sua obra, este será o tema que mais o lançou, e deu uma grandeza particular a sua arte, as figuras brutais dos trabalhadores, homens e mulheres, dos jovens, das famílias campesinas. Retirantes, ou não. Meninos tortuosos como os da fazenda de café onde nascera. Toda essa química está nos painéis da Guerra e Paz que fez para a ONU, local onde se iria evitar a guerra e promover a Paz.
"Vou pintar aquela gente com aquela roupa e com aquela cor…" Essa característica da sua arte, é a sua visão do Brasil, que ele decidira retratar nas suas múltiplas perspectivas e expressividades diversas, que tinha esse aspecto rude pela carga laboral do povo, que Portinari soube captar como ninguém. Entretanto essa raíz mista de rusticidade e grandiloquência sempre estivera presente em sua arte, como podemos ver nesse trabalho seu da época de sua estada em Paris, uma maternidade, forte, intensa, violenta mesmo, que já continha aquela componente de influência da arte tribal africana, verosimilhante, que Picasso tão bem soubera captar.
Essa 'Maternidade,de 1947, tem um raro registro de sua estada em Paris, posto que há um desenho da época de Paris, que reúne as linhas que depois explodem nesta obra, desenho que já continha a intensidade da denúncia da pobreza, das dificuldades, mesmo da dor. Numa plasticidade de força inequívoca, obtida a partir de uma posição superior - 'vista de cima' - o que é muito raro, e mostra-nos essa mãe com sua criança ao colo, sendo do período de maior pujança da arte de Portinari, que vai desde o final da 2ª Guerra mundial aos painéis da ONU, essa década fantástica na vida do pintor paulista, mas o croqui de Paris já guardava a memória das caboclas de Brodowski, mesmo com o autor longe, na cidade Luz.

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