domingo, 9 de abril de 2023

Não houve um.

Parece incrível. Entre as mais de duas centenas de países não houve um que acolhesse ordenadamente os migrantes. Os acolhem, aliás não resta opção posto que os têm já em solo nacional, salvo a opção húngara e trumpista de espezinhá-los, e pô-los borda fora, deportá-los. Por isso, é verdade, cristãmente os acolheram, mas foi por falta de alternativa, e, repito, não houve um país que se organizasse e se dispusesse acolher para integrar os imigrantes. Mesmo os países em inverno demográfico, que precisam deles como do pão para a boca, para manterem-se em funcionamento pleno, onde falta mão de obra em muitas áreas, que as levas de imigrantes podem suprir. Mas não, nenhum se preparou para recebê-los com o desejo de mantê-los como residentes, passando a integra-los na sociedade de forma efetiva e definitiva. Muitos destes que entram nos países por seus próprios meios, se integram por vontade própria, por ação assistencial de entidades diversas, como também por envolvimento amoroso que ocorra, criando família nos países de acolhimento, eventos que fazem o trabalho de inclusão que devera fazer o Estado. Agora que vai começar nova temporada de afogamentos no Mediterrâneo, com o Veráo chegando, e que novas e sucessivas hordas se movimentarão em direção a Europa, vimos novamente alertar para a necessidade de se estabelecer acolhimento ordeiro, pré-planejado, segundo uma lógica que vise resolver o problema. E que sejam recebidos antes de atravessarem o mar, para que haja ordem na recepção, e transporte que não os leve à morte. Refugiados. Com os refugiados, que são coisa muito diversa dos imigrantes, onde então opera uma ação estatal mais visível, sobretudo com os de guerra e os perseguidos políticos, religiosos e raciais e étnicos, e de nacionalidade ou pertencimento -os ditos sociais- com ainda outros mais específicos, diversos tipos de refugiados que têm uma mais acentuada proteção, por via de acordos internacionais que existem em vários países. Para os ucranianos foi criada a proteção temporária, com duração de um ano renovável por mais um. Agora com os refugiados ambientais, os que fogem da fome e da miséria em razão das alterações climáticas, há diferentes apreciações, algumas classificando a muitos deles como imigrantes econômicos, que são aqueles que deixam seus países em busca de melhores condições, que são ditos econômicos para não lhes chamarem miseráveis, assim retirando-lhes, deste modo, com a nova classificação, o estatuto de refugiados, e, na maioria das vezes, encontram aí forma de não os admitir ns países a que recorrem. Serão trinta milhões os refugiados neste 2023, vindos principalmnte da Síria, da África subsahariana, do Sudão e do Sudão do Sul, da Somália, da Eritréia, do Congo, do Ruanda, da República Centro Africana, do Burundi e do Afeganistão, entre outros, número que consubstancia um problema de razoável dimensão. Estando a maioria em países de acesso, em campos de concentração, a espera de acolhimento que nunca virá. Emigrantes da pobreza. O desejo de uma vida melhor está na alma de todos nós, sendo justas as pretenções de qualquer um desejar melhores condições econômicas para si e para os seus, e aqueles que vivem em ambiente de pobreza por maioría de razão. E quanto maior for a pobreza, a miséria existente nestes países, maior a força que os arrastará para fora, tornando-os emigrantes que não pretendem voltar, gente que foge da miséria, tenha ela orígem climática ou não. A falta de oportunidades, de emprego, saúde, pão, habitação, coisa que vemos mesmo em países ricos, onde os governos são pressionados para solucionarem este problemas, já em países pobres a única alternativa é fugirem, emigrarem. Imigrantes à porta. A realidade adversa, onde quer que ela aconteça, nos deve chamar a atenção para a tentarmos solucionar, mais ainda se soubermos que ela em breve nos virá bater à porta. Os primos pobres, a gente doente, os que carecem de uma refeição, a todos devemos assistir. O egoísmo e a indiferença leva-nos à cegueira do próximo, a quem não vemos porque não os queremos ver, preferindo ignorar, preferindo desconhecer. Nos muitos artigos que escrevi sobre esse assunto, afirmei que muito antes de chegarem até nós, deveríamos agir para evitar que o problema viesse acrescido do caos, das doenças, da morte, da violência, da exploração, ou da miséria aumentada ao longo da jornada. Deveríamos agir atuando para promover soluções que gerassem saídas frutíferas para toda gente. Um exemplo do que é possível é mandar-se um agente a qualquer um desses países de onde as pessas fogem, e convidá-las a formarem uma cidade num determinado ponto do país que os vá acolher. Desde uma pequena vila trasmontana, até uma grande cidade em desenvolvimento num país maior, onde quer que necessitassem de habitantes ou mão de obra, com um plano que podería ser de uma atividade agrícola que no local se poderia desenvolver, ou uma fábrica que pudesse ali se instalar, criando riqueza e ordem para os que viessem, os imigrantes, para os que lá já vivessem, veríam progredir sua região, para o país, este ficaría mais rico, com mais impostos que entrariam em seus cofres, sem vazios demográficos, com gente para produzir e prosperar. Não. Infelizmente não conseguem ultrapassar a barreira da xenofobia, do medo e da rejeição aos outros, sentimentos que moram em várias almas, por isso os partidos que defendem esses preconceitos não conseguem ver a mais valía que é essa gente com vontade de refazer suas vidas, vontade de criar coisas, e de viver bem e em paz, esses partidos alimentam e se alimentam desses preconceitos vazios. Essa gente com um pequenino impulso fariam maravilhas, criariam um mundo novo. Seguindo o exemplo da Natureza, que só cria, mesmo nos locais e condições mais adversas, cria, smpre cria. “We forget that nature itself is one vast miracle transcending the reality of night and nothingness,” - "Nos esquecemos que a própria Natureza é um vasto milagre transcendendo a realidade das trevas e do nada." como disse John Muir, posto que ela é inimiga do vazio e se seguirmos seu exemplo de criar e criar, teremos vida cheia, plena e feliz, mas há uma preferência mórbida pela destruição, essa mesma que a Natureza abomina. Fico a pensar que os que me lêem acreditarão que eu sou um sonhador, lhes responderia como John Lennon na canção "Imagine", mas prefiro levá-los à reflexão do quanto, por exemplo, ganharia a Rússia se ao invés de criar destruição e morte, usasse esse esforço que empreende em guerras matando dezenas, centenas de milhares de pessoas, para criar cidades nas enormes áreas que possui, posto que é o maior país do mundo em extensão territorial, e com uma fração do que tem gasto em armas e bombas, criaria 'um país' de progresso, acolhendo gente, e promovendo VIDA E NÃO MORTE. Se não a Rússia que é enorme, mas destrutiva, qualquer outro país que houvesse, por muito pequeno que fosse, poderia fazer muito com essa gente que quer trabalhar e produzir, os acolhendo. Mas não, não houve um.

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