O blog O Olho do Ogre é composto de artigos de opinião sobre economia, política e cidadania, artigos de interesse sobre assuntos diversos com uma visão sociológica, e poesia, posto que a vida se não for cantada, não presta pra nada. O autor. Após algum tempo muitas dessas crônicas passaram a ser publicadas em jornais e revistas portugueses e brasileiros, esporadicamente.
sábado, 25 de janeiro de 2025
XENOFOBIA, PORQUE?
Este sentimento de aversão, transformado em conceito, pode ser analisado de diferentes perspectivas, desde a sociológica, a antropológica, a psicológica, a política, até à jurídica, a jornalística, etcetera, etcetera.
Quanto menos culta, e informada, é uma pessoa, mais ela mergulha e se isola em seus medos ancetrais, e em suas crenças, crendices e preconceitos. Esses últimos prevalecem como asserções por falta dos conceitos que se revelem científica e filosoficamente como certos, comprovados e comprováveis, ficando-se por um universo mais desfocado e primitivo, ligado a percepções não científicas, devido exactamente à falta de cultura da pessoa, encontrando as respostas a seus questionamentos, em seus próprios preconceitos.
Incompatibilidade evolutiva.
Nossa mente e hábitos comportamentais vêm de uma forma de ser e estar de há muito tempo atrás, transmitida por hereditariedade, uma vez que incorporada se tornou genética. Nossa programação psíquica, física e emocional ainda não absorveu a nova realidade que, com a ciência e a tecnologia, as sociedades que se desenvolveram, criaram, e que é a nossa nova realidade e entendimento. Continuamos todos, de certo modo, ligados a entendimentos de uma realidade que não mais existe. Fomos moldados e projetados para viver nesta outra, antiga, realidade, que a nova baniu, ultrapassou, e para a qual não estamos ainda interiormente preparados para lidar com ela, vale dizer, não digerímos, com os sentimentos e o entendimento, o novo, de sorte que formemos as capacidades e as habilidades que estabelecerão a forma de estar necessária para lidarmos com essa nova realidade, mantendo várias barreiras da nossa incompatibilidade evolutiva, ou seja, nos deslocando, nos afastando, e até mesmo nos restringindo, da convivência (aceitação e bom relacionamento) com a nova realidade cada vez mais mutável e dinâmica, que todo dia nos força a nova ótica. Dado o deslocamento humano a nível planetário, surge uma rejeição aos que chegam.
A forma pelo conteudo e vice-versa.
Tomamos a forma por conteúdos que não mais existem, ou, às vezes ao contrário, percebemos conteúdos em formas que não mais existem também, porque sempre buscamos fórmulas e formas reconhecíveis, que aparentemente significam valores, substância, elementos e materialidade já inexistentes, devido a evolução e à nova realidade que se instalou, mas que interpretamos ainda pelo que a forma nos sugere.
Se é de fora é mau, é perigoso.
Essa forma de entendimento projetou uma grande generalização, em razão de algumas ocorrências infelizes, criando esse entendimento, raiz da xenofobia. Vamos olhar para elas no contexto histórico quando as localidades, as vilas, as cidades, eram muito pequenas, com poucos habitantes, o que permitia um controle social muito grande, que muita vez degenerava em algum tipo de rejeição ou de exclusão social em virtude da língua, da religião, dos hábitos alimentares, etcetera, firmando a ideia de que o que é estrangeiro, o que não é nosso, é mau, pode ser perigoso, e quase sempre deve ser rejeitado. E mesmo um grupo relaivamente numeroso de estrangeiros em nossa cidade pode representar um potencial perigo, devido a sua força como núcleo de ação com objetivos específicos, diferentes dos da urbe, ainda que sejam apenas fortúitos.
RACISMO.
O prato do dia é preconceito regado ao molho racista.
Um claro elemento fortemente mobilizador da exclusão é a cor da pele, o aspecto físico, bem como o comportamental, as vestimentas e linguagem corporal de um indivíduo, ou grupo, diferente dos demais, tornando-o reconhecível como estranho e, portanto, indesejável. Os buracos 'gaps' do entendimento, da integração, do reconhecimento, e da ambientação, vazios que pronto se estabelecem pela simples razão de ser diferente, sendo motivador de incompreensão, negação, rejeição, repulsa, raiva e mesmo ódio ao elemento, ou elementos diferentes que são classificados como estranhos, logo indesejáveis. Há que se perguntar: Indesejáveis porque?
O vazio sentimental.
Como todo vazio sentimental é angustiante, ele busca ser preenchido por alguma coisa para deixar de ser vazio, mesmo que essa coisa seja uma estupidez como a aversão, porque seja lá com o que for que preenchamos o vazio, isso irá lívrar-nos da angústia, que é o pior sentimento que há. Toda xenofobia está centrada neste vazio sentimental, ou seja, na falta de um sentimento positivo em relação aos indivíduos que desconhecemos, não os podendo apreciar, só por serem diferentes, causando um vácuo na sensibilidade de quem os aprecie, preenchendo este buraco com a estupidez da aversão denominada XENOFOBIA.
Justiça é ação.
Nenhuma resposta branda no campo da ordem poderá se estabelecer perante ideias consumadas em má percepção, que se expressam em sentimentos absolutamente primitivos, como o racismo e a xenofobia, nem qualquer entendimento filosófico, social, ou jurídico terá o condão de se contrapôr à incompreensão gerada pela irracionalidade da xenofobia, sendo ela mais forte por ser irracional(*). Só a força da lógica social expressa em norma de Lei, poderá, juntamente com a necessária ação que daí resulte, pela força da Lei manifesta, coibir a ação da estupidez que representam tanto a xenofobia como o racismo. Tudo orientado pelo sentimento avassalador que dirige os homens: a sua infinita estupidez, como nos alertava Einstein. Para a coibir e prevenir é mister forte ação da Lei e da Justiça em seus diversos intrumentos de civilização.
Do deslocamento das pessoas.
A par com tudo isso, vivemos um tempo em que as pessoas sentem-se insatisfeitas onde vivem, e buscam outros horizontes. O processo migratória reforça sentimentos alienígenas, quando de facto sentem repulsa aos que não são da terrinha, da localidade de onde provém os que formem certa comunidade, esquecendo que muitos desta comunidade também migraram. Imigrantes os que emigrantes são rejeitados, emigrantes os que os nacionais rejeitam, imigrantes os que buscam acolhimento, em qualquer caso condição equívoca do entendimento biunívoco, única realidade que satisfaz esses entrincheiramentos. Devemos aceitar o que não podemos mudar.
(*)irracional, advinda do cérebro reptiliano que sempre opta pela violência e preconceito como meios de defesa contra o que desconfie.
sexta-feira, 24 de janeiro de 2025
A Democracia na balança da Justiça.
'Uma pulga na balança, deu um pulo e foi a França.'
Parlenda folclórica brasileira.
FALTOU O PULO.
Desse ímpeto que faz mover todas as coisas, carecem os estamentos sociais e políticos de nosso tempo, pois, como que entanguidos pela estupidez imperiosa atualmente disseminada, soprados por um vento gélido, paralisassem, posto que atingidos pela falta de visão sócio-econômica, onde, prevalecendo só a parte econômica, pois apartam o social, entretanto razão única de existir do econômico, que isolado se permite as maiores crueldades e devaneios. Vivemos um tempo de falsidades e de máscaras. Dias de enganos, dias de agonia.
Não se devera buscar o pulo.
Onde o político afasta a civilidade, sua característica intrínseca, rui a civilização, assim como, com o maquiavelismo que impera, restam apenas suas espertezas, astúcias, e oportunismo, império da má-fé, onde a política, relegando sua estrutura nobre e acolhendo sua face prática, pura e dura, a dos interesses que a regem, que naturalmente esses interesses também fazem parte de seu todo, mas o todo a eles não se deve restringir, tem também de ter sua face social presente. Aí, neste estágio dos interesses tão somente, resta à Justiça o poder de atuar para manter um processo de equidade, cerne da Democracia. Porém quando a Democracia já se encontra no prato da balança da Justiça, é porque faltou, lhe foi retirado, o espaço civil ativo que lhe é mister, falindo seu exercício, uma vez que faltando civilidade não há Democracia. Eis quando temos desregulado, ou restrito, o espaço natural da Democracia, que, necessitando algum refúgio para manter-se, rompe-se e corrompe-se. E este refúgio, por mais nobre que seja, alcançado, faz-nos entrar numa anomalia, numa deformidade do tecido social, onde a Democracia, já sob ataque, fica a mercê de poderes que a querem eliminar. Como é evidente isto é feito à socapa, uma vez que se for dito às pessoas que estão atuando para lhes retirar o único poder que têm, estas, certamente, se oporiam, mas enganadas, alegando aqueles que querem defender seus Direitos, os quais, supostamente, a esse passo, teríam ficado diminuídos, ou não teriam sido sancionados, ou se supõem ameaçados por alguma contingência, de forma que os enganados alinhem-se com esses poderes, acreditando em redenção. Essa a raiz de todo golpe que busca no processo agregar poder para dar-se. Com a manipulação do econômico, vale dizer do social em reflexo, ficam criadas as condições para enfim agregarem as forças misteres.
Nem a balança, ou não.
Se esses interesses referidos, que se movimentam, alcançarem reunir forças efetivas suficientes para um golpe, então nada mais poderá ser feito, sendo que buscarão durante o proceso dispersar os elementos de civilidade, restando, se perdidos os poderes constituídos ativos, executivo e legislativo, o Judiciário como única possibilidade de resistência ao processo golpista instaurado, o da dita dura.
Tempo e circunstância.
A circunstância no tempo (num certo período temporal) bem como o tempo na circunstância (quando esta qualidade que causa ou acompanha um acontecimento num determinado período de tempo se manifesta) são determinantes da ocorrência ou não de determinado fenômeno, impossíveis de serem separadas do fenômeno. Quando o fenõmeno Democracia é submetido à circunstância de ser colocado no prato da balança da Justiça, seu último recurso, temos, nesse tempo, uma situação que só depende de sua própria eficácia, ou seja que os resultados que colha no sentido de restaurar-se, se operem, uma vez que a Democracia já estará corrompida no sentido de sua manutenção, ou, por oposição, no de afastar qualquer ameaça a sua existência já em franca desagregação.
Por toda parte.
Vivemos hoje, por toda parte, esse processo em diferentes estágios, com menor ou maior salvação, posto que o necessário resgate popular só pode se dar com um encaminhamento único, esse mesmo que lhe é negado por ser retorno à Democracia, esta mesma que pretendem suprimir.
terça-feira, 21 de janeiro de 2025
Países Estilhaçados.
Temos um grande número de países aos pedaços, como resultado de várias ondas que fluíram e refluíram fraturando o todo social e as instituições, criando várias tendências, com ou sem representatividade partidária, mas ativas em semear antagonismos e beligerância, que se vão cada vez mais multiplicando, sem que nada as pacifique, procurando sempre assumir o poder, e desconjuntando-o.
Estilhaçam-se ou por ação externa, quando existem pressões contra a normalidade do funcionamento das instituições destes países, como por exemplo ocorreu na Ucrânia, pressão que não atingindo seu intento de transformá-la num país fantoche, a invadiu e mantém uma guerra de conquista, decepando boa parte de seu território; ou, então, outras vezes por razões internas, quando os governos não aproveitam as potencialidades do país, ou pretendem instituir autocracias, em que temos multiplos exêmplos. Ou seja: ou são estilhaçados, ou se estilhaçam a si mesmos.
Nas Conferências do Estoril, tive uma boa perspectiva de que o mundo ainda não se deu conta de que caminha para uma enorme tragédia ambiental, que vai desde as reações climáticas às agressões sofridas, até a destruição de inúmeros habitats, com a poluição disseminada, e o plástico em toda parte, passando pela libertação de muitíssimos micro-organismos, que estavam presos (no gelo, em partes dos oceanos, etcetera) e com as mudanças de temperatura que agora ocorrem, foram introduzidos, ou reintroduzem no nosso espaço de existêmcia, o que irá matar milhões, muitos milhões de pessoas, por toda o planeta. Enquanto se vão acumulando energia que subitamente se liberam, causando enorme destruição, bem como gerando uma nova estrutura social dilacerada que se vem verificando em muitos lugares ao abrigo da insuficiência, ou ao descaso, da ação governamental para dar resposta aos ampliados e diferentes problemas que vão surgindo, e também com fruto do aproveitamento político que passou a ser feito nesta situação, barganhando votos em cada caso.
Sobre esse pano de fundo, o que deveria atrair as atenções de todos para o que é verdadeiramente importante, é esquecido e relegado, sendo onde movimentam-se as sociedades dos diversos países prioritariamente preocupadas com outras realidades, e não com a avassaladora realidade ambiental que as afeta, e cada vez mais intensamente as afetará nos diversos biomas, desestruturando-os, e criando tensões e desequilíbrios absolutos e irremediáveis, posto que a destruição que provocam só será superada com reconstrução física das desgraças ocorridas. O que demandará muito tempo e recursos.
O ódio alimentado pela ignorância visando atender aos ímpetos da ganância, é a razão central destas fragmentações - dividir para governar, como se sabe - promovendo situações que demandarão anos para se recomporem, décadas para sararem, e muito mais para encontrarem bom caminho para conseguirem alguma normalidade democrática, a única possível à convivência.
FRAGMENTAÇÃO. - Retalhados, estilhaçados, demolidos.
Sem tomarmos em consideração a realidade material de destruição, decomposição social, e inexistência de recursos para algo parecido com recuperação, como no caso da Palestina e da Síria, por exemplo, as razões orgânicas que levaram à fragmentação destes inúmeros países não atingiram solução, apesar da intensa mortandade, do aniquilamento do território e do edificado (na Ucrânia, acredita-se, serão necessárias quatro década só para a desminagem)chegamos a conclusão da futilidade desse esforço, da miséria do realizado, para nada, porque nada resolveu, ao contrário, agravou o ódio e a desgraça desses povos.
VÍCIOS E VIRTUDES - herança e realidade.
Os colonizadores deixaram tudo que têm de pior enquanto tentaram implantar suas melhores capacidades - idioma bem falado, literacia, base cultural, estruturas administrativas, etc... - sendo o cerne de seu legado sua percepção das coisas, essa que distorce nossa própria reaqlidade, ainda mais a alheia. O legado de opressão e exercício da força em solos conquistados, por mais que traga consigo avanços culturais e civilizacionais, muitas vezes para povos em estado tribal, incapazes de assimilá-los em boa medida, e que se nos indagarmos: Será esta a sua expectativa de AVANÇO? Talvez nos assustemos com a resposta...
Se, como na culinária, juntarmos os diversos ingredientes para fazermos uma só receita, em vez de obtermos um bom guisado, teremos como resultado uma mixórdia amarga e desconexa, como a de um vidro que partimos, donde só restaram os cacos.
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