quinta-feira, 28 de fevereiro de 2013

Sede Vacante, ma non troppo...

   Sede Vacante, ma non troppo...
                     Tvi24  

                                      Eu senti uma sensação especial por este homem com quem não simpatizei nunca, quando ele, para defender a Igreja, diz que está feliz (o que não pode ser verdade) pois que sua missão como ser vivente terminou, por sua vontade (ou mais certamente pela falta dela) em não querer mais desempenhar as funcões de pastor máximo da religião mais organizada do ocidente, e que neste seu cargo cimeiro  tinha  a capacidade de influenciar muitos dos acontecimentos mundiais, ser contado entre os grandes do mundo, ter voz ativa no cenário político (e não só) de toda a humanidade.

                  Bento XVI escolheu a morte em vida! Na monarquia na qual assumira o posto de topo, peculiar
monarquia mais que absoluta - infalível e autocrata -da qual só se sai com a morte. Não podendo haver duplicidade de poder, ou, quando menos, um foco de representatividade temporal, ou mesmo atemporal, de uma fonte que não a do monarca reinante, este só é substituido com o final de sua existência terrena, sendo, 
pois, até o seu final, o detentor do poder no qual fora investido. Bento XVI escolheu o difícil caminho de 
deixar de existir, existindo.

     E se o Papa Emérito, como vai passar a ser designado, não se restringir à sua inexistência? Se por
qualquer razão o Papa vindouro desviar-se do caminho( pelo menos sob os critérios nos quais Bento,
o décimo sexto deste nome, acredita ser o caminho) e o Emérito resolver atuar? E se... não farei mais conjecturas elas não têm fim, bastam estas duas: O nosso morto-vivo é sempre uma reserva moral. Eu
que nunca apreciei este papa, por várias razões, desde a campanha eleitoral para a sua eleição, o que
nunca me pareceu legítimo, até pelo seu trabalho na cúria centro de todo o poder temporal da Igreja.
Porém como papa, devo reconhecer-lhe, mostrou uma espiritualidade e uma fidelidade para mim ines-
peradas, e de grande valor moral, que culmina, mesmo, e fortemente nesta sua resignação. E agora?

       Agora fica esta sombra, este ser  entre a vida e a morte, o que muitos quererão, talvez, ausente,
presumivelmente morto, que ainda vivo, presente, presumivelmente vivo, aparecerá, eventualmente, como um fantasma, que poderá, sempre se pode, enquanto há vida há esperança, interferir de alguma forma com uma realidade que, já, sendo-lhe totalmente alheia, não o é, e nunca o poderá ser, em verdade, plenamente.

       Esperemos para ver... Posto que no papado depois de muita covardia, algumas tentativas de assassinato, uma bem sucedida, outras não, depois do medo surge esta condição diferente da renúncia.

      A sensação especial que senti, tinha a ver com tudo isto, porém tem muito a ver com o futuro,que
se revelará nas possibilidades, bem como nas necessidades, de todo o legado deste homem que  pen-
sou, sobretudo pela fé, poder governar esta Igreja, de certa forma, ingovernável.



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