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Após o quinze de Setembro, teremos agora o dois de Março.Aqui não é como na Grécia já que este povo de brandos costumes não se deixa levar pela brutalidade comesinha ao gosto oriental, presente no sangue grego, tanto pela geografia mediterrânica, como pela herança desta época em que esta Grécia foi 'magna'.
Porém assim como quinze de Setembro nos lembra o onze, dois de Março, nos lembra o outro onze dos acontecimentos de Atocha em Madrid. No ano seguinte foi Londres, no sete de Julho...Passamos os primeiros anos do milênio a colecionar atentados da Alqueida, e, desde lá até aqui, a horrorizarmo-nos, talvez nem tanto, com uma série de atentados bombistas, suicidas ou não, num oriente mais ou menos próximo, que não deixou de ser africano, que nos terrificando no horário do noticiário, perdia-se rapidamente na memória das desgraças indesejáveis, recanto menos salutar do nosso cérebro. Ao esquecermos tudo isto tornamo-nos cúmplices( involuntários é verdade) de todas estes desequilíbrios que o exercício do poder gera.
Não os esqueceram certamente nossos irmãos em Kirkuk, Damasco, Ancara, Aleppo, Bagdad, Jenin,Grozny, Mandala, Quetta, Jijiga, Idlib, na Jerusalém de sempre, bem como em muitas outras das cidades de Israel. Todos estes atentados que se contam pelas centenas nos afetam e estão ligados a nós.
Entrei certa vez num parque em Shangai, que tinha escrito na porta um aviso colocado pelo governo colonial inglês que,com sua obljetividade prática, dizia assim : " Neste parque é proibida a entrada de cães, gatos e chineses." depois disso aceito qualquer coisa que os chineses façam, e eles estão só começando.
Todas as ações provocam reações, mais cedo ou mais tarde a resposta chega, por isto a única saída é não entrarmos, não fazendo a ação. Esta, uma vez realizada, sem outra possibilidade será reacionada na medida de si mesma, é infalível !
Agora por outro lado vivemos uma realidade 'erdmaniana' em seu panlogismo ao comentar Hegel, já
que a inteligibilidade da realidade provoca reações incompreensíveis na justa medida da desorientação a que estão sujeitos os povos que caíram nela. Agora foi a vez da Itália, anteontem, resolvendo não resolver nada através das eleições, dividida e confusa dando por outro lado espaço a um movimento de massas que não estava na história. Dos dois bufões do B, escolheram um terceiro, profissional mesmo, Peppe para quem o conhece, que emergiu desta conjuntura sem saber bem qual seu destino histórico ou não. O poder não é para todos, e no final das contas por qualquer razão que se o ambicione ou atinja, é uma doída responsabilidade.
A ideia de partido político vem da apreciação do todo social, onde para se estabelecer um pacto que o realizasse e governasse, contratavam uma série de ideias, ações e medidas que pretendiam levar a efeito, sendo pois um grupo separado (partido) que propunham e defendiam estas medidas no corpo da sociedade.
Traídos, enganados, miseriabiliasados, ludibriados, iludidos, falseados e falsificados os objetivos dos partidos tiveram como como consequência direta esta mesma série de qualidades refletirem-se no ânimo e na alma de seus eleitores, criando enfim a quebra do pacto social e o sentimento generalizado de insegurança e de descrédito que gozam presentemente todos os que se dedicam a coisa pública.
Aquelas ações violentas que vimos e vemos desfilar durante anos pelo mundo fora são a situação extrema do descrédito e da desesperança generalizada em que a ganância dos homens colocou os outros homens submetidos a ela. A imperdoável logística do poder levou a esta lógica perversa pelo mundo fora.
Estes desequilíbrios levaram ao empobrecimento de imensas regiões do globo que tinham tudo para serem ricas, até muito ricas por terem abundantes recursos, entre estes petróleo. Hoje são fontes de problema quando poderiam ser grandes países com comércio e importações, que gerariam riqueza e empregos nas outras regiões que atravessam a dura estrada da pós-industrialização, mas não foi assim. Não se fez assim !
Com tudo isto chegamos a situação presente de grande distorção do equilíbrio mundial e com uma miséria alastrando-se em maior ou menor grau por todos os países, pois que quando alguém empobrece, empobrecemos todos.
Como tudo está relacionado e não podemos fugir disto, e por uma simples coincidência de meses, Setembro e Março, na sequência temporal de acontecimentos deu-nos que pensar no que se irá passar amanhã, literalmente amanhã dois de Março na grande manifestação convocada para fazer ver aos membros do governo português que o povo não aguenta mais, diferentemente do que acredita o Sr. Fernando Ulrich, não aguenta, não aguenta.
O triste é que isto nunca se consubstancia em ações onde os culpados sejam indicados e se possa escrutinar a verdade interna que expôs de maneira tão inclemente, boa porção dos portugueses a esta situação maior, que lhes ultrapassa, como a todo mundo, porém para uns pode ser menos avassaladora por que o pacto social esteve atuante e diminuiu a brutalidade do choque.
Quantas canções cantarão o povo desesperançado até que se encontre um caminho? Quanto mais do tecido empresarial será destruído até que se possa entender que a vida é feita de trabalho, e há que garanti-lo como meta primeira e não como consequência das virtualidades economicas ?
Não vos posso responder, porém sei que este povo vai às ruas já cansado,vai às ruas com seu orgulho ferido, com a suas esperanças roubadas, com as suas vidas defraudadas e isto é perigoso. O menos que se pode dizer é que é perigoso. Quem conhece a história sabe que este povo que desde sua mais remota origem não aceitou bem nenhum domínio, levando a que muitos povos o deixassem existir mesmo neste pequeno pedaço de terra que lhes coube no extremo sul da Europa. Assim são os portugueses, e eu, que falei em bombas, não me esqueço que elas também aqui existiram no verão quente de 75, que atentados, muitos, aconteceram ao longo de sua longa história, para saber que há um 'surplus' de imprevisibilidade que, para surpresa de alguns, pode levar a um surto de reações generalizadas. Os analistas de cenários que auxiliam as decisões de todos os governos, já avisaram que o melhor é que as forças de segurança não intervenham a não ser em situações extremas, para não atiçar a irritabilidade geral e provocar forças que vão estar ao rubro no emocional da manifestação.
Faltam menos de vinte e quatro horas; quem viver, verá !
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