domingo, 3 de novembro de 2013

A DEMOCRACIA NA IGREJA



Pela primeira vez  na história do mais antigo Império autocrata que existe, vai se fazer uma consulta popular para determinar a opinião de seus membros e seguidores. A Igreja Católica Apostólica Romana que desde a sua criação, já lá vão dois milênios,  nunca havia decidido nada, ou mesmo encaminhado qualquer assunto de outra  maneira que não fosse autocrática. O  soberano deste Estado ao qual chamamos Papa além do mais é considerado infalível, portanto incontestável em suas desições. A própria legislação canônica dá-lhe este estatuto, dispensando toda e qualquer opinião. Agora em assuntos tão melindrosos como o casamento homosexual e o divórcio a Igreja vai consultar seus fiéis.


São sinais dos tempos dirão alguns. Pois são, mas o tempo se dá, ou se faz, com gente, e sem uma personalidade como a do atual Papa, isto nunca seria possível. Tão melindroso é o assunto que obrigou ao Porta-voz do Vaticano a mentir. O Sr. Frederico Lombardi declarou ser esta a 'praxis' da Igreja Católica. Só quem não conhece a história eclesiástica poderá afirmar isto, a Igreja nunca consultou nada nem ninguém. O Papa sabe que estes assuntos são melindrosos, e que têm até agora sido tratados com motivações antagônicas. Por um lado os preconceitos reinantes, por outros os lobbys. No próximo Sinodo estas matérias irão ser tratadas, e, para marcar a pauta, o Papa quer mostrar a seus Bispos a opinião reinante dentro da Igreja real, ou seja entre seus membros leigos, o bilhão de fieis que são o verdadeiro corpo da Igreja, e não ficar-se apenas pela opinião do clero, para tal ordenou um inquérito, que já está em marcha, à todas as dioceses e que servirá de base à discussão da pastoral da família.

                                            "QUEM SOU EU PARA JULGAR OS GAYS?"



" Faz mais barulho uma árvore que cai que uma floresta que nasce."


Francisco tem uma agenda complicada. Tem que tomar decisões adiadas por décadas, algumas por séculos, sabe que é chegada a hora, e ele não pretende se excusar. Por isto vai amealhando os apoios que pode. Para um tema que sabe que a opinião reinante na Igreja difere da do clero, precisa confrontá-lo com esta opinião, daí o inquérito. Com isto inovou numa realidade milenar, com isto instaurou um princípio da democracia. Como já havia destacado em outros artigos, como os dois intitulados Papa Francisco I e II, este homem tem muito de especial, e iremos ainda nos regogizar de, em nosso tempo, o termos à cabeça da Igreja. Este terceiro milênio tem se mostrado muito inquietante com a abertura de dossiês muito complicados, parece que soou uma trombeta deflagrando o começo de uma jornada incontornável. Sem a pessoa certa no lugar certo as coisas tornam-se muito mais difíceis, veja por exemplo a Europa que agora atravessa um momento tão fragilizante de sua história e não tem um líder europeu a altura do momento, calhou o rebutalho às lideranças européias. Francisco é um homem capaz de dizer em resposta ao caso do Monsenhor Ricca (suspeito de ter amantes) destacando que casos como o abuso de menores são diferentes,mas que quando uma pessoa pecou e esconde e Deus perdoa, devemos esquecer, assim como Deus esqueceu. Conhecem algum outro Papa que fosse capaz de afirmar isto?

Vício de forma.

Fomos acostumados, até pela califasia, a Papas que falavam coisas  distantes, bem comportadas, politicamente corretas, mas que tinham pouco à ver com a nossa realidade diária, difícil, conturbada, frágil, errada e errônea, de pecadores. Era muito preciso acabar com isto, é muito necessário inaugurar-se um tempo de verdade e de proximidade e fazer-se isto com o diapasão certo é mesmo muito difícil. É necessário não se ter máscaras e é necessário abrir-se mão da califasia, de uma postura empostada, é preciso humanizar-se. Sabem que eu acredito que o pecado é a condição intrínseca da condição humana, porque ele nos revela e nos renova na verdade humana da nossa limitação e pequenez. Por isto Deus nos perdoa, e no seu perdão nós renascemos. Por  isto Deus nos deu liberdade. É um processo, humano. Rejeitar tudo isto à mim parece o mesmo que rejeitar Deus. Por isto vai fazer-se agora esta bateria de perguntas, perguntas que implicam saber por exemplo: Se um gay procurar Deus através da Igreja Católica, esta não o deve receber e intermediar esta busca? As uniões irregulares afastam ou impedem os que nelas estão de comungarem com Deus? A Igreja tem uma resposta muito antiga para isto, que tem sido posta pouco em prática, mas que é reveladora, inclusiva e universal : Odeia o pecado, mas ama o pecador !

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