segunda-feira, 17 de julho de 2017

Bi-centenário de morte de Jane Austen.








Escrever com o coração.


Esta mulher excepcional debitária de seu tempo, onde as mulheres contavam pouco, e das duras condições sociais estabelecidas, tempo de exclusão, tempo de preconceitos, e Jane os retrataria como ninguém, revelando as injustiças das limitações, ao mesmo tempo que criava uma hipótese de sobrevivência para quem as quisesse transgredir pelo reconhecimento do valor da mulher nesse difícil meio muito hierarquizado, muito delineado, com etiqueta muito rígida, e com papéis bem demarcados, cuja infringência era punida com a pena capital da exclusão social, a substanciação da morte em vida, do aniquilamento da pessoa, de seu afastamento no corpo da sociedade, para ela mesma, que obstinada e impetuosa, encontrou destino adverso, só o talento a salvaria. E que talento.

Numa lista das três dezenas dos mais importantes romances em língua inglesa 20% são seus. Seis em trinta, um quinto. Quem se ombreia com essa mulher? Em qualquer idioma quem pode reclamar para si um percentual tão alto da literatura que singrou desafiando o tempo? Pois que a lista não retém os romance que tiveram importância numa determinada época e não perduraram no tempo. Os Romances de Miss Austen ficaram.

Numa Inglaterra preconceituosa, ainda mais nos meios rurais, como os da sua Stevenson natal, mas que mesmo em Londres guarda um ranço de convencionalismos, num sistema que está arraigado nos ingleses até a medula, fez suas opções, recusou casamentos convenientes, refutou hipóteses sociais estabelecidas como máximas inquebrantáveis, e abriu janelas de esperança com sua escrita.

Recordamos sua presença física que ainda jovem nos deixou completam-se dois séculos hoje, e que eternizou-se na sua presença literária, tradução de sua alma única, uma forma de sentir diversa e exclusiva no panorama da escrita mundial, essa menina do Hampshire que legou sua percepção e entendimento das coisas muito para além das possibilidades femininas, que revelou um mundo interior até então escondido, rechaçado, sufocado, que emana de sua escrita como uma revelação, mostrando que é possível, muito para além do que seja ponderável, escrever com o coração.

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