Num mundo onde os livros vão perdendo sua importância, onde as pessoas cada vez mais isoladas vivem uma realidade paralela, uma biblioteca de grande porte cada vez mais se assemelha a um museu, um lugar onde a realidade está coleccionada, guardada, arquivada, protegida, muito longe da ideia original que concebeu os museus. As pequenas, das freguesias e dos bairros, sempre manterão seu caráter utilitário e lúdico, aonde ainda as pessoas frequentarão em suas disponibilidades de tempo, acompanhando os filhos, visto que estes ainda não nascem por encomenda, nem crescem ao abandono, logo uma ida a biblioteca sempre estará no programa existencial por longo tempo.
Mas e as fantásticas, as fabulosas e monstruosas que pretendem abarcar todo o universo de impressos existente, e conservar esses originais raros, únicos alguns? Essas bibliotecas são o brio de um povo, de uma gente que se orgulha de seu contributo para a humanidade, que se envaidece das maravilhas de seu país, ali registradas nas páginas dos livros pelos cientistas que as estudaram, e as maravilhas da Natureza, também rócio de uma nação, que refletidas nos estudos que lhe são feitos e editados, representam, materializadas em livro, um duplo orgulho, como também são duplos os orgulhos que sentimos ao visitarmos a literatura de nosso país, sua iconografia, sua imprensa, etcetera.
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Maior ainda é um desses gigantes quando se propõe, para além de ser o guardião intransigente desse passado, exercitar a preparação do futuro na difusão da informação e na evidenciação dos valores que preserva, com a lembrança necessária e contínua desses valores. Essa a missão que cumpre exemplarmente a BNP.
Essas cavernas de muitos Ali-babás, são o repositório dos verdadeiros grandes tesouros da humanidade, da excelência de suas realizações, da história viva na palavra de quem a viveu, registro fecundo de um passado que se projeta no futuro, gerando inúmeros filhos prolíficos, numa capacidade mirífica da multiplicação dos pães, eterno alimento, numa cadeia sem fim a repetir e a criar grandeza.
Em 1969 a grande biblioteca que reunira Portugal, desde o acervo privado de seus reis, até aos exemplares muitas vezes repetidos para o uso das gerações que a frequentavam, necessitava de uma nova casa em sua capital. Foi escolhido o local mais favorável ao pé da Universidade, onde todos os centros de difusão do saber se instalariam, e onde a torre de todos os tombos iria conhecer sua nova versão, importante elemento de conservação de passado tão largo, indispensável instrumento a futuro tão promissor. Assim nessas duas fabulosas casas, ANTT e BNP, estariam, como estão, reunidos os documentos do último milênio da existência humana em português, afetando a população habitante de mais de doze por cento da superfície do planeta, 25% da habitável, os lusofalantes.
Hoje, meio século depois, com seu destino traçado, a biblioteca nacional portuguesa ganhou muito maior importância, primeiro porque nesse mesmo meio século, o número de falantes da língua guardada em seus tesouros duplicou, segundo porque é o centro nevrálgico do país fundador da língua, terceiro porque está na Europa unida, quarto porque estabelece o contraponto entre uma pequena nação que preserva seus tesouros, com nações gigantes e fabulosamente ricas que os deixam perder e muitas vezes perecer. Viva a Biblioteca Nacional de Portugal! Vivam os portugueses! Viva Portugal!
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