domingo, 25 de julho de 2021

Começaram as comemorações do Cinquentenário do 25 de Abril: Morreu Otelo Saraiva de Carvalho.

O imprevisível governa nossas vidas. Imprevistos que ocorrem e que antes nunca consideramos como possíveis, nunca computamos em nossas análises de perspectivas, e os relegamos a um plano que definitivamente recusam aceitar, e assim menosprezamos esse fator tão decisivo. Não consideramos sempre das imprevisibilidades supervenientes a todas as coisas e ocorrências, indissociável presença da qual, mor das vezes, nos esquecemos, assim são as coisas, ainda que hajam povos que busquem considerar imponderáveis ocorrências em suas análises, esse não é de nosso feitio e índole, e nunca foi nosso molde. E ademais temos consolidada a camaradagem, que num país pequeno é sua maior força e seu maior desastre. O 25 de Abril, marco imutável, que só no de 2024 será cinquentão, tem raízes anteriores, desde logo no 27 de Julho de 1970, cujo cinquentenário não foi assinalado por boas ou más razões, bem como na dita Primavera Marcelista, que completa nesse 2021 seu cinquentenário, até às Caldas com seu 5º de Infantaria, semanas antes do dia que ficará para a História, tendo passado por diversos episódios, cujos mais significativos ocorreriam no seio das forças armadas(*)(o beija-mão dos generais-os decretos de Sá Viana Rebelo-o 14 de Março-o 16 de Março-as prisões.)mas não nos esqueçamos da crise do petróleo, e o auge da Guerra fria, e do o pano de fundo da Guerra Colonial, todos em sua importância, resultando numa reação (MFA) que sem o acolhimento popular haveria de ter sido apenas um golpe fruto de reivindicações carreiristas, e que no imprevisto de sua abrangência, conflagra tensões invisíveis, e torna-se na Gloriosa Revolução. A alma dos acontecimentos é filha da alma das gentes, sendo a segunda que determina a primeira, se porventura as terão. Otelo Saraiva de Carvalho, a alma bufa da Revolução ("Se eu tivesse um cavalo branco era Napoleão") o operacional que, com a discrição de Salgueiro Maia e dos outros "capitães" tornou-se o centro, centro no qual se encontra, e não tendo a ambição napoleônica entrega o poder aos generais, destes, do mesmo posto ao qual será arvorado, para morrer coronel. Otelo será o retrato do povo português (**). O será por força do nome? Que, sem a maledicência de Iago não realizaria a trama, mas que, em curso, tinha em Otelo (o Saraiva de Carvalho) o elemento que estava a par de todo o movimento, e, portanto, poderia ter assumido o poder, mas só fez trapalhadas após o brilhante ato inaugural da concretização do golpe. E depois do adeus viria Grândola... Está no fatalismo das coisas seu fado, sua natureza absoluta, causa e efeito de sua existência, total razão e incongruência, moto e desfecho, valsa e desgraça, maravilha e desarmonia, conquista e perdição. Os portugueses que tiveram o mundo para o perder, tiveram todas as especiarias e o comércio do Oriente para se verem ultrapassados pelos ingleses, holandeses e outros mais, magnificência que degenera em paródia burlesca, na razão de sua liberalidade. Oh Portugal, tão grandioso e tão desgracioso, pudera fazer a escolha, pudera impor seu destino??? Otelo. Há figuras que são maiores que sua história, no caso presente dá-se exatamente o contrário. Criador do plano de ação do 25 de Abril, determinado herói romântico, suprema representação de um ator falhado, que exprime a alma de seu povo como ninguém, resume o antes e o depois de uma tragicomédia, e demarca, para além do expectável, uma condição, espectável condição de maravilhosa insalubridade, que no caso do Coronel Saraiva de Carvalho, para além do impossível destino, determina, em seu último ato de serviço ao país, inesperadamente, o início das comemorações do Cinquentenário da Revolução dos Cravos. => Oh Portugal, tão grandioso e tão desgracioso, pudera fazer a escolha, pudera impor seu destino???
(*) Das conversas que tive com o Professor Marcelo Caetano na Veiga de Almeida, onde lecionava, no Brasil. (**) Opinião formada de entrevista que tive com o Coronel Otelo em sua casa, levado por Rogério Madeira, seu colega de curso que não seguiu a carreira militar, dentro de uma série de visitas que incluem, entre outros, o Comandante Alpoim Calvão.

2 comentários:

  1. Não me parece que a morte comemore seja aquilo que for... a memória histórica, essa sim, poderá celebrar os factos que importam manter vivos na contemporaneidade que vivemos. Talvez mais quo o número redondo do cinquenta anos, são bem mais significativos os quarenta e oito anos que se completam em 2022, tantos como aqueles que durou o fascismo em Portugal a que o 25 de Abril de 1974 pôs termo, em coevidade com a efeméride do duplo centenário da Independência do Brasil e da Primeira Constituição Portuguesa, assim como o centenário da primeira viagem aérea de Portugal ao Brasil, protagonizada por Gago Coutinho e Sacadura Cabral.

    ResponderEliminar
    Respostas
    1. Caro desconhecido (o que é triste ser desconhecido)A morte é uma celebração (comemoração) em si mesmas, e a maioria das datas que comemoramos são de morte de alguém ou de alguma coisa /(vale dizer de alguma coisa que acabou). Sua superficialidade em enunciar datas, fica-se mesmo por isso, pela rama. O que meu texto evoca é a alma do povo português, releia por favor com atenção. [Desculpe-me a dureza das palavras, mas quem não se dá a conhecer não merece menos, só respondi em respeito aos demais leitores), de toda sorte agradeço o comentário. Helder Paraná Do Coutto.

      Eliminar