quarta-feira, 24 de novembro de 2021

Como diria Louis-Sébastien Mercier: "Les extrêmes se touchent", 250 anos depois de seu 2440.

Dado que a enorme pressão que a emigração mediterrânea tem causado na Europa, não surpreendem as medidas agora tomadas para atrair imigrantes com capacidades, que julguemos possam ser integrados, atração através de 'vistos acelerados' (fast track visas) e promessas de residência permanente (matéria do The New York Times de 6/11/2021). É um despertar para extremos que se tocam e repelem: As hordas de emigração, leia-se mão de obra disponível, para as necessidades de imigração, leia-se mão de obra necessária, que carece a Europa. Opostos paradoxalmente, complementares na realidade possível, filhos de uma mesma mãe, que, como Janus, umbilicais e univitelinos, mais que isso uma só entidade, e como deus que tem poder sobre todos os começos, deus dos inicios, olha em direções opostas, a nos ensinar há milênios que o fim e o começo são a mesma coisa, e, apesar da lição, ainda não aprendemos que assim é, pois que era só um, assim como emigração e imigração é só uma realidade, uma só coisa, posto que não pode haver imigração sem emigração, e esta posição dúbia de exclusão nos lança definitivamente no campo da lenda, a mística visão, nesse caso, de um deus supremo a raptar a filha do rei da Fenícia, Europa. E perguntemos quem se irá transformar em boi para tão importante ofício, e, pelo meio, que Tebas surgirá desta contenda? A estupidez, e só a estupidez tem regido o abandono dessa situação tão propícia à Europa, rico e envelhecido continente, a oportunidade de sangue novo e valente vir bater à sua porta, e o rejeitam com se não fosse vital para manter e continuar sua existência. Estupidez configurada na exclusão, prolatada em sucessivas decisões despropositadas, e assente numa cegueira cada vez mais vasta, que, entretanto agora, com essa ligeira alteração, poderá se inverter [a lijeira alteração é a da foto acima de autoria de Laetitia Vancon para o The New York Times, com imigrantes a serem treinados em Dortmund. O que é, evidentemente, bem mais sensato do que se pagar bilhões (milhares de milhões) de euros (como pagaram à Turquia) para os manter afastados (Já são 4 milhões em campos de concentração naquele país.) posição que, para além de repugnante, é profundamente estúpida para uma Europa carente de mão de obra como tenho denunciado e reiteradamente apresentado soluções em muitos artigos (Num mundo superpovoado não pode haver vazios demográficos, Perfume fascista, LEMBREM-SE ELES SÃO SERES HUMANOS, O deslocamento das pessoas, Serão recorrentes, E nada é feito, Uma atmosfera brasileira: Emigração, A Europa dos quarenta mil, "À la recherche du temp perdue" VIDAS ESTAGNADAS, NOSSA VERGONHA COLETIVA, Como os pais do Super-homem, As vergonhas europeias penduradas em Idomene..., Não se causa aflição a um aflito (*) Formação, Até que o Mediterrâneo se tinja de vermelho! A realidade sempre ultrapassa a ficção, entre outros) onde, por diferentes ângulos tenho abordado o problema dos refugiados desde seu início, tendo este se agravado cada vez mais, sem que nada fosse ou seja feito de proveitoso, sem que o humanitarismo se manifestasse, e com sucessivas máculas de desumanidade (como no caso da Hungria de Órban e na Polônia de Moraviecki, confrontada pela Bielorússia de Lukashenko, por exemplo) gerando impiedosa repulsa a gente aflita, e vertendo "sangue, suor e lágrimas", para usar uma expressão que devera ser cara à Polônia, por ter sido criada para defendê-la (tão rapidamente se esquece a História, sobretudo que o que aflige hoje a uns, já afligiu, ou poderá vir a afligir, outros) e, numa visão estritamente economicista, se desperdiçe essa oportunidade única que se oferece a uma Europa carente de mão de obra, que a não quer enxergar.
Visando analisar essa imperiosa condição, fiz um estudo que levou-me à seguinte conclusão, e que retoma a lenda, e lembremos o que nos diz André Malraux: "Les evénémentes qui touchent à la lêgende promettent l'imprévisible, diffèrent le destin" e nesta promessa de diferente e imprevisível está o mito, coração da lenda, e Fernando Pessoa nos ensinou bem que "o mito é o nada que é tudo". Portanto fundemos Tebas, cumpramos o destino de Cadmos e Zeus, recebendo não só aos pretensos "imigrantes com capacidades", precisamos de todos, e vos mostro o resultado de meu estudo que evidencia que a Europa necessita entre 16 e 23 milhões de trabalhadores braçais (not qualified workers) por variadas razões, desde a falta de braços, até a recusa a desempenhar estes ofícios da nova geração com muita formação que a Europa rica pode criar, e que não se dispõe a trabalhos braçais (incluam aí também a falta de gente morta pela pandemia). Atualmente muita gente de pequenas populações em comunidades agrícolas pela Europa fora, estão sendo chamadas a salvar colheitas e safras, por falta da mão de trabalhadores sazonais. Temos portanto um buraco de mão de obra para serviços temporários e/ou descontínuos, como: 1. Plantios e colheitas, 2. Apanha de frutas, 3. Produções sazonais, 4. Limpeza das matas, 5. Múltiplas manutenções, 6. Serviços transitórios em períodos específicos, 7. Trabalho na época das chuvas, 8. Trabalho na época das secas, 9. Transportes pontuais, 10. Tosquias e transumãncias, etcetera, etcetera. E ainda vários outros trabalhoosn que evitei mencionar, sendo que cada um destes pontos também se desdobram em muitos mais, segundo suas especificidades e necessidades, que só se repetem de tempos em tempos, ou só mesmo extemporaneamente. A solução é muito simples: A. Criação do Sindicato dos trabalhadores braçais. B. Processo de seleção em consulados nas diversas nações onde há gente a emigrar. C. Teste de apetências e competências dos proponentes. D. Extruturação em núcleos (de naturalidade, familiares, e climáticos). Com essa medida simples, resolver-se-ia o problema de milhões de pessoas (refugiados lato senso) e de milhões de necessidaes de mão de obra (empregos nas carências existentes nos países ricos). Será que é querer muito? Será que só a visão maniqueista, de heresiarcas persas, ou da exrema direita pode prevalecer? Ou poderá, agora que inúmeras outras migrações irão começar fomentadas pela ação feroz do Clima, haver uma tentativa de Humanidade, que poderá vir a ser o ensaio geral de soluções que teremos de buscar para continuarmos a viver bem e em grande número populacional neste planeta? Nota: Mercier em 1771 publicou, mas não em França, em Amsterdan, seu livro" L'an de 2440, rêve s'il en fut jamais, boa premunição do prolífico dramaturgo francês, um dos primeiros utópicos e pai da ficção científica

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