quarta-feira, 3 de agosto de 2022

A lã da cabra e a lei do aleatório a darem fé.

Vivemos o tempo da insânia, imprevisível e realizavel à vez. Tudo ao acaso, tudo à ventura, entregue ao fortuito, no gozo pleno do presente, supremo engano das possibilidades, quando só o impossível nos espreita. E a lucura vem. Para vencermos tudo isso, a única possibilidade seria abandonarmos nosso individualismo e termos um projeto global para salvar o planeta. Vocês acreditam ser isso realizável? Vocês estão a ver metade do mundo, ou mais de metade, abandonando seus interesses para se dedicarem a uma tarefa comum em prol de todos, única forma de nos safarmos? Esqueçam as expressões: Vai correr tudo dentro do previsto. Como nós prevíramos... De acordo com programado, etc... etc... Não cabem mais nesse nosso mundo de hoje, nesse estado de coisas, que é o de não terem estado algum. Hoje o estado é de contingência, de calamidade, de emergência, de sítio, mas sobretudo o estado de alerta, que não nos dá descanso, e o léxico tem de ser compatível. ATENÇÃO: Não é que tenha falhado o estado da arte, pois tudo era sabido, o que faltou foi coragem. E ainda falta. Nada é provável. Nada é dentro do conforme, ou das possíveis expectativas. Expectável? Nada mais é expectável, ou dentro do previsto, não há previsão possível seja para o que for. É mesmo dentro das impossibilidades que vivemos. E assim é por nossa culpa, única e exclusiva. Recitemos repetidamente o 'Confiteor'. "Num domingo qualquer, qualquer hora... Sei que nada será como antes, amanhã... Sei que nada será como está Amanhã ou depois de amanhã Resistindo na boca da noite um gosto de Sol. ... Ventania em qualquer direção." Nas palavras premonitórias de Milton Nascimento e Ronaldo Bastos. (Guerra, detruição, incêndio...) "Que notícias me dão dos amigos? Que notícias me dão de você? Alvoroço em meu coração". Este terrível sentimento de perda e desolação que nos aflige. CONTRATEMPOS X CONTRA-SENSOS. Contra-abertura, contra-acusação, contratualizado não, contra-alisados ventos, contra-alegação. Contra ventos e marés, contra a corrente, contra a vida, incômodo, atentado, crime, contra tudo, contra naturam é que são. E vamos todos pagar a conta. A lã da cabra, que será quase nada para a ovelha, é tudo neste mundo para a cabra. Nós somos as cabras da Natureza, e não nos devíamos deixar tosquiar. Sofrida a machucadura, não haverá lanolina suficiente para pomada que nos possa curar, nem será o pisão tão forte que se a obtenha da suarda mister, estará já tudo perdido. As contrariedades serão muitas, contratempos absolutos a nos obstaculizar, e não há como os esgrimir ou contornar, sua existência independente e autoritária nos oprimirá para a morte. Brincamos com o perigo, não ouvimos os avisos dos cientistas, estabelecendo contra-sensos aos quais não conseguimos fugir ou ultrapassar, e os políticos a brincar de pequenos deuses, deuses da fatalidade que são. À BEIRA DO PRECIPÍCIO DÃO O PASSO SEGUINTE. Que esperam? A polarização, a forçada multilariedade, o extremo partidarismo, a generalizada bipolaridade em tudo e por qualquer razão, para estabelecer linhas divisórias que atendam conveniências e às diversas áreas de influência, às contigências geográficas e mesmo a determinante estupidez que está por todo lado, tudo leva-me a crer que sempre estarão dispostos a dar o passo seguinte em toda e qualquer direção. Esse artigo já estava escrito há meses quando o Senhor engenheiro Guterres veio agora avisar que enfrentamos o "suicídio coletivo", e ninguém dá ouvidos. Eu bato nesta tecla há décadas, mas eu sou ninguém, se não ouvem o Secretário Geral da ONU, a quem ouvirão? Por isso, entretanto, não publiquei o artigo, inútil que o reconheço, foi de momento esse aviso do Guterres o que me motivou , e só o faço por fé de ofício, mas sem esperança, eu que sou tão otimista. Quando uns imbecís fazem guerra, outros pioram mais a situação com mais poluição e mais perda de tempo, e a maioria nada faz por absoluta falta de consciência, que esperar? Para adiantarem serviço podiam já começar uma guerra atômica, modo em que o fim seria menos doloroso, posto que na hecatombe nuclear morremos logo, na climática seremos assados lentamente. Esses pretensos "líderes" são assassinos antes de mais, e serão logo a seguir suicidas, mas aí já será tarde demais para todos. Lana-caprina política, busílis da Humanidade crucial de nossa existência, à cada dia estamos perdendo tempo, tempo que se pagará com vidas e mais vidas, mortes melhor dizendo. Enquanto houver um resto de lã, irão tosquiá-la. A ganância infinita do poder político e geopolítico, da supremacia pretendida, do poder econômico, do crescimento, dos mercados, da fatalidade financeira, dos fatores que governam o dinheiro, ou os que o dinheiro governa, como preferirem, assim o determina. Os homens não sabem parar, já o disse. Segem em sua Insânia analgésica. Até onde irão nesta loucura? Só quem viver, fugazmente verá.

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