quarta-feira, 26 de outubro de 2022

CENTENÁRIO DE DARCY RIBEIRO - O HOMEM QUE QUERIA SER DEUS.

Neste vinte e seis de Outubro de 2022, o Professor Darcy Ribeiro faria cem anos. Seria um século de bons serviços ao Brasil, como pensador mais que tudo, mas como homem de campo, antropólogo, sociólogo, cientista humano, historiador. Mas nunca podemos excluir o criador cultural, o educador e o político, atuando da Universidade, desde a que criou, a de Brasília, até a escola primária que criamos muitas, atividade à qual Darcy se dedicou também com muito empenho. Eu que fui muito perto da família do índio cor-de-rosa, o Noel Nutels, esse genial médico judeu ucraniano/pernanbucano, que foi o precursor da FUNAI, antes Serviço de Proteção aos Índios, que se casou com a mãe do meu amigo Salomão, Elisa Tratchemberg, o que me levou também a aproximar-me dos irmãos Vilas-Boas, tudo gente com um sentimento de civilismo, civilidade, coragem e decência, que já não há, e que pra com os índios, que são tutelados do Estado brasileiro, é imprescindível. E eles foram empurrados para a exclusão e a morte, nessa sua minoridade política, por falta de gente que os defendesse, o que percebemos com antecipação, o que os levou a participação ativa na vida política, tendo começado com uma ideia do Darcy, quando fomos candidatos no Rio de janeiro em 1982, tendo ele convocado um cacique Xavante para o feito, Mário Juruna, que foi eleito com expressiva votação. Esse centenário do Darcy, faz-me voltar a velhas convicções, tão necessárias hoje, como esquecidas, faz-me voltar a sentimentos de gente ímpar, com capacidades e empenhos que são difíceis de encontrar - lembro-me da casa circular que o Prof. Darcy construiu em Maricá, sua oca, sua aldeia, num último preito aos selvagens que amou tanto. Se o Brasil tivesse vergonha na cara a casa já era Museu, sem terem-na deixado degradar tanto, e tendo preservado suas coleções. Faz-me voltar aos Brizolões, essa ideia do Darcy para que as criança pobres, sem apoio, para que fossem levadas para um ambiente são, onde fosse alimentada, instruída, cuidada. A Criança entrava de manhã, tpmava seu café, tinha as aulas, como nas outras escolas, almoçavam, tinham extenso currícilo de atividades COMPLEMENTARES pela tarde, desde o esporto à biblioteca, passando pelo cinema, atividades lúdicas, assistência médica, jogos, etcetera, etcetera, e faziam um lanche reforçado, para que, se não tivessem o de comer em casa, estarem bem. Um conceito moderno de educação e ensino, que tirava as crianças do mau ambiente da favela, e abria-lhes alargados horizontes educacionais. Foi um passo de gigante no ensino básico. Tudo issso faz-me voltar à FUNAI, ao Museu do Índio no Maracanã, a São Cristovão, o palácio que tinha as maiores e fabulosas coleções... Faz-me voltar a Amazônia, que eu aprendi a amar nas minhas pesquisas entomológicas e ambientais, faz-me voltar a me sentir gente, quando vivemos cada vez mais num mundo de bestas. As ideias e palavras do Darcy. E quando lhe perguntaram em campanha o que ele gostaria de ser se não fosse o pensador, o antropólogo, o político, sua pronta resposta, com toda a sinceridade assustou toda gente, e ajudou a perdermos a eleição: "Queria ser Deus, poder criar as coisas, fazer um mundo melhor." E, é claro, ninguém entendeu, e choveram as críticas. Caro Darcy, aqui fica nesta forma improvisada e abrupta, minha saudade e meu respeito, lembro-me de quando ligava para tua casa para falarmos, quando eu coordenava suas publicações de campanha a Governador, e você atendia: "Sou eu", ou "É de minha casa.". Uma personalidade singular e intensa, peculiar e com imensa graça, que, tolamente, o povo do Rio de Janeiro não escolheu para seu Governador, tendo recaído a escolha no pior que podia haver. Mas a política é assim, as mentiras uma fraude, a desinformação uma angústia, para quem deseja o progresso social. Cante aí em cima seu Daro Wihã, dance seu Kuarup, pois que há mais festa na alma, que as misérias da política, como você costumava dizer: "JÁ VENCEMOS PORQUE NÃO ESTAMOS DO OUTRO LADO".

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