sexta-feira, 28 de novembro de 2025

Os meandros do casamento - Leopoldina e Pedro.

1. O mundo deixava de ser clássico para ser romântico, o que era mais-que-tudo uma mudança na forma de sentir, penso não poder haver maior mudança, ao mudar a forma de sentir de uma pessoa muda-se tudo: seu pensamento, sua lógica, sua sensibilidade, seus gostos, seus hábitos, enfim sua forma de ser. Peço-Vos que não busquem nesse livro objetividade histórica, uma vez que vejo as coisas desde outra perspectiva, posto que não acredito na filosofia histórica, porque não vejo perfeição no mundo, nem em mim. Agora que se passaram quatrocentos e cinquenta anos de que este Rio de Janeiro se fundou na contingência de defender esta baía de águas tão calmas, onde os franceses se haviam instalado, promovendo a preocupação portuguesa de que o imenso território que tinha nas mãos teria de ser ocupado rapidamente se o queriam manter, e que passados duzentos e cinquenta anos daquela sua fundação, o vamos encontrar aqui como capital do Império, com o seu Rei morando nele, coisa nunca vista entre os Impérios europeus, tendo deixado Portugal, portanto a capital do Reino do Brasil, que no final deste ano se iria constituir, assumindo uma posição de destaque no cenário mundial, concernente à sua pujança, e as suas riquezas, que deixaram de circular já há sete anos por intermédio de interpostos negociadores residentes em Lisboa, para passarem a ser diretamente negociadas pelos próprios ‘brasileiros’, começando o Brasil a assumir a posição de destaque que lhe é devida, e, que, com este casamento, do qual lhes conto sua gênese até a faustosíssima festa que se realizou em Viena para celebrá-lo, mais longe irá, e em maiores alturas ousará planar, na consequência de um brilho e poder que não se poderia mais tentar ocultar e tentar constranger, e a ação de Marialva em Viena muito ajudará ao processo, como se verá. Alteração que mudando as relações da metrópole com a colônia, passando mesmo a colônia a ser metrópole, na inversão desta lógica colonial com a qual se passou a dizer, porque rima em português e irritava solenemente aos portugueses: ‘Encomenda sem dinheiro fica no Rio de Janeiro’. 2. Os anos se vão somando, e os séculos se completam, agora dois, sobre este casamento que mudou Portugal e o Brasil para sempre, duas centenas de anos que iremos reviver, porque a memória é vida, e tenho esta gente bem viva porque deve ser lembrada e relembrada pelo que fez, e quero que as personagens saltem do papel e venham dançar à sua frente, com suas qualidades e defeitos, com suas vontades e desleixos, com suas verdades e segredos, mostrando e demonstrando tudo o que se passou. Trazendo-vos o gosto das coisas, não mortas nem vivas, mas eternas, como são as coisas do passado, que como fatos imutáveis conquistaram este estatuto, e que devem ser apresentados em sua plena extensão para fazerem-nos viver com eles e com as personagens que os protagonizaram, com tudo aquilo que representam e que, chegados até nós, dizem-nos do rumo de nossas vidas, rumo que estas personagens traçaram com suas ações e omissões, e que foram estas mesmas ações e omissões, hoje eternas, que moldaram tudo que aí está, e a que chamamos ‘status quo’, ou realidade presente, e que é a materialização em somatório, como consequência, de todos os atos que se fizeram antes. E alguns se nos vão revelando por seus testemunhos, os quais vamos ocasionalmente encontrando e descobrindo. Aqui também assim foi. 3. Foi preciso sorte, disposição, ganas, perseverança, paciência, tempo e disponibilidade! Os pré-requisitos necessários, indispensáveis mesmo, para produzir uma obra como essa. Onde teremos que retirar do Danúbio suas ninfas, suas ondinas e todos os espíritos fantásticos que o habitam, para que venham prestar reverência a esta festa plena de maravilhas, assim como Strauss o fez com sua música no tempo da festa, quero eu fazer com meu pálido verbo ao relatá-la, quero dar vida ao ter memória. Náiades venham dançar! E como o Danúbio, também a Guanabara e seu perdido Janeiro, e também o Tejo, o Moldava, o Sena, o Lago di Lèsina, ou o di Varano, e ainda outras muitas hidrografias com suas entidades mitológicas, tágides, melíades, multíplices potâmides, e também venham seus fantasmas, seus espíritos benfazejos ou maléficos, para além de outras entidades manifestas que conformam a paisagem histórica, sem nada esconder, que estes são o invisível, o impalpável, mesmo o imponderável, sua alma, suas gentes e paisagens diversas, que sendo o que se pode ver e perceber de suas ações, pois tudo se combina. E que como ao sátiro de Bouguereau elas me conduzam a banho lustral, ou batismo, minhas noivas que são, e destarte ao destino revelador dos mistérios, pois os trazendo à memória, revelo-lhes a presença, personagens que estão conosco vivas, vivas na vida que nos legaram, na forma como as coisas se passaram e chegaram até nós. Vivas! Já que só vivem os que se fazem lembrar. Partindo desses três focos, o do contexto, o da materialização, e o da factualaidade, dediquei-me 25 anos a estudar esse assunto do elo entre o Brasil e a Áustria, que levou a Independência do Brasil, tendo como geratriz o casamento de D. Pedro e D. Leopoldina, que desaguaram numa série de acontecimentos que determinam a enorme mudança mundial do XIX, com a instituição da liberdade e voz dos povos, antes sujeitos ao silêncio do poder absoluto. Vos trago a reflexão toda a teia de interesses que eclodiram nesta época como nova realidade inesperada à conta de ideias novas que se espalharam pelo mundo, criando entendimentos, sentimentos e organização tão diversa da vigente até então. Com esses dados escrevi esse livro que Vos apresento como ferramenta para a compreensão da realidade a partir dos fatos que a moldaram com as sucessivas mudanças que foram ocorrendo.

quarta-feira, 12 de novembro de 2025

Da irresponsabilidade civil virtual, à peta da IA.

Salvo os filósofos, as pessoas não pensam nos arquétipos das coisas, e só vêem as coisas ou como absolutas, ou como arquétipos de outras coisas. Entretanto toda a Natureza serviu de modelo para a tecnologia humana - as aves e insetos aos aviões e mísseis, por exemplo, os cetáceos aos submarinos, o mimetismo à camuflagem, a pedra que se atira de várias formas, às balas e projéteis. No entanto as coisas não são absolutas! Como postulou Platão, as idéias são os arquétipos das coisas, logo as coisas não são manifestação de si mesmas, sendo fruto das ideias. Porém para quem olhe para as coisas, estabelece o senso comum, interpreta a realidade de modo a ver nas coisas a expressão absoluta do que existe, nelas mesmas, esquecendo-se do arquétipo que as gerou, a verdadeira fonte, ficando-se pela visão do mundo. Qualquer biólogo sabe que a intenção que rege a forma como a Natureza cria as coisas, traz consigo um método estruturado num modelo ideal que forja repetidamente este mesmo modelo, o reproduzindo inúmeras vezes com muitíssimas variações formais, e o faz matematicamente. Em química sabemos à exaustão das leis que permitem, ou não, as combinações das diferentes substâncias segundo as possibilidades de sua natureza, arquétipo criador de tudo que há. Ilimitada e ilimitável, a realidade das coisas se foi verificando regrada por modelos intrínsecos de sua natureza, modo pelo qual a ciência foi revelando o que já afirmava a filosofia, o arquétipo das coisas reside nas ideias, e, se as revelarmos, teremos desvendado o mistério, teremos decifrado o código, e faz-se a maravilha do entendimento, unica matriz das infinitas possibilidades a nível humano, posto que tudo mais é escuridão e apalpadelas metafísicas, até que consigamos entender e interpretar a realidade que observamos e as manifestações empíricas de tudo com o quanto lidamos, permanecemos no escuro. E se é assim a essência das coisas além do mundo sensível, uma vez que fixemos o olhar para além da ilusão da aparência das coisas, como, por exemplo, ao observarmos o percurso solar, a primeira ideia é que o Sol roda ao redor da Terra, quando sabemos que é extamente o contrário que ocorre, e ela só nos revelará a verdade, esta tão desejada luz que só se acende na dialética, permitindo libertarmo-nos da visão fragmentária superficial, para atingirmos o 'toú agothoú idéa', a ideia do Bem, abandonando a 'eikasia e pistis' para entrar na 'dianoia e noesis', exatamente como a neurociência veio a confirmar milênios depois, a concluão de Platão, rejeitando o acaso pela assunção da causalidade, como a Natureza há muito nos indicava, pois é fonte de toda ciência. Logicamente se tudo tem sua causa, não podemos deixar ao acaso a regência da realidade das coisas, muito menos as virtuais, uma vez que estas são as potenciais realidades susceptíveis de se materializarem por um lado, e por outro muito mais afetas a 'dianoia', ou seja às ideias que nos governam, constituindo imenso perigo porque o futuro é feito de ideias que, como fantasmas, abentesmas assustadoras, são os espectros voando como avejões na direção de suas aparições constantes, que, se toleradas, irão se materializar como imagens no espelho diáfano do entendimento, sendo depois aceitas por todos como verdades tegumentosas. Portanto devemos ter em atenção: 1. A responsabilidade civil na net só existe se for denunciada uma transgressão, e esta obtiver decisão judicial que a reconheça, diferentemente da vida civil onde qualquer transgressão denunciada (à polícia) obtém imediata resposta. Se alguém proferir injúrias contra você, é imediatamente silenciado, se o atacar, é primeiro detido e depois levado a Juizo pelo crime de agressão. Essa inversão da lógica da resposta à criminalidade, permite, no mundo virtual, ao criminoso praticar o crime impunemente e repetidamente por largo período de tempo, de tal sorte que se o ofendido vier, quando vier, obter as restrições misteres a serem imputadas a quem o ofende, o malfeito já estará consumado, e a injustiça consolidada, uma vez que ficou espalhada a ofensa, mor das vezes baseada em falsidade, e se viralizar poderá mesmo atingir níveis planetários, com milhões a ver, sem saneamento possível. Esta condição de impossível defesa, e falta de pronta punição, é a porta aberta a todos que com más intenções, pelas mais variadas razões, queiram prejudicar quem quer que seja. 2. A demanda pessoal de milhões (fofoqueiros, paparazis, mentirosos, mal-intencionados ou não, e seus seguidores) tem a capacidade de gerar correntes inteiras, de proporções industriais, não só contra indivíduos, mas como ação de desarmonia em velocidade inimaginável na oralidade, ou na escrita não tecnológica, prejudicando tanto pela intenção do falsificador, como pela ação disseminatória do consumidor que reproduz a desinformação ao consumi-la, tanto por sua própria ação, como pela ação multiplicadora dos algoritmos. 3. A multiplicidade de usos, bem como das diferentes intenções de uso, deste meio tecnológico para os mais inqualificáveis fins, permite a corrupção generalizada dos valores sociais, uma vez que o próprio consumidor não se alarma com as diatribes e absurdos que encontra nas redes sociais, as achando circunstanciais, ou serem restritos os desaforos e as invenções propaladas, portanto não serão graves, uma vez que no universo virtual não existe ação, assim como na guerra fria, que não deixa de ser guerra a conta disso. Deste modo o racismo, a violência contra as mulheres, os impulsos pedófilos, os descréditos políticos, religiosos e éticos, etc... etc... são difundidos sem que sofram nenhuma coibição. 4. A verdade subjacente às atitudes anti-democráticas, e criminosas permitidas na internet, é que há uma intencionalidade, muitas vezes perversa, nestas propagações de notícias falsas, posto que direcionam suas ideias a partir de um foco de onde dimanam a maioria das detrações de relevo difundidas, é a intencionalidade política. Já a razão das empresas servidoras permitiren isso, é econômica, não se importando com as consequências sociais, muitas delas criminosas. Não refrear essa difusão à cabeça, permite que se forme um ambiente de desinformação propício aos interesses mais esdrúxulos, propagando ideias intencionadas que servem a grupos políticos que desejam ver inculcadas estas ideias, as fazendo ser aceitas por número sempre crescente de desavisados. 5. A Inteligência artificial, fruto do adestramento político-social da máquina em sucessivos ângulos, conferindo-lhe hipotética lucidez em meio a escuridão geral, e conexões lógicas pelo nexo que apresenta onde há falta de tanto entendimento, permitindo, pelas imensas associações, simular pensamentos e inteligência, portanto assim se intitulando apesar de faltar-lhe sempre muito de imaginação, algo de concepção e um raciocínio verdadeiro, posto não ter espírito, e ser instrumento indissociável de quem a criou, nunca uma inteligência. Mas a ideia de inteligência é engraçada e encobre a autoria, por isto largamente aceita. Voltando à Caverna de Platão do preâmbulo, temos que as imagens refletidas, que só as podemos observar na parede (ecran) imobilizados pela forma como nos é apresentada a pretensa realidade em seu jogo de sombras, condiçção impossível à época da ideia da caverna, mas que hoje existe e chama-se computador, com a mesma iluminação às nossas costas, traz toda uma realidade, do mesmo modo que a parede da caverna, diria Glauco concordando, que contém os mesmos modos de distorção, gerando os mesmos 'prisioneiros crédulos' da única realidade que passam a conhecer, impossível à época de Platão que perspectivou toda esta situação, impossível no seu tempo, e que hoje, sem prospectiva, grassa, desinformando e alucinando aos usuários das redes, pleiteando por ser aceita cada vez mais, posto que só existe em potencial e não em ação, alega, por virtual que é, sendo para os que a controlem, poderosíssimo instrumento de ação, uma vez que "a essência das coisas está para além do mundo visível", como constatou Orwel, e este 'potencial' é capaz de tudo, impedindo inclusive a ascensão da alma para o mundo intelegível, fazendo com que permaneça na lógica do reflexo que lhe apresentarem. Não esquecendo que a ideia do Bem é a última a ser aprendida, e com grande dificuldade, toda e qualquer substituição desta ideia, proposta como verdade, tem a capacidade de engendrar as almas e o entendimento, logo também no mundo intelegível. Assim a dita IA, inteligência artificial, é o meio mais efetivo de incutir as convenientes informações de uma realidade que se deseje fazer crível, ainda que seja falsa, ademais supostamente sem autoria. Neste enorme perigo a que estamos sujeitos, nossa única esperança, essa qualidade nossa, exclusivamente humana, é a de que a 'ideia do Bem', arquétipo original, em sendo soberana, dispensa a inteligência, e mesmo a verdade, venha por fim prevalecer, posto que só ela engendra as almas efetivamente. Por agora devemos entender que estamos todos em perigo.

quarta-feira, 1 de outubro de 2025

O pior de todos é o ignorante.

Desde muito cedo compreendi os perigos deste mundo, fui sempre uma criança e um jovem muito pensador, e os adultos notavam isso, e me faziam perguntas, algumas estranhas, outras profundas, ainda outras impossíveis, perguntavam num diapasão de "Licenciado Vidreira" como o engendrou Cervantes na sua novela deste nome. E entre as coisas que me costumavam perguntar, sobretudo quando sabiam que eu afirmava costumeiramente que o medo é uma perda de tempo, o que era o que eu mais temia (?). Minha resposta pronta era: Gente burra. E os leões? As serpentes? Os cataclismos? Eu respondia que os animais não se metem com a gente se não nos metermos com eles, e os cataclismos são raros e eventuais, agora gente burra há em demasia em toda parte, sendo difícil evitá-la, e devíamos nos precaver quanto a elas, e exemplificava com uma história de um assalto que corra mal. Se o bandido com a arma na mão não for estúpido, e mesmo que entenda usar a arma, dará o tiro numa perna, num braço; se acaso for um dos muitos imbecís que por aí andam, acertará em cheio na cabeça. Ação insensata e inútil à conta de uns trocos. E quem não for mesmo nada estúpido não praticará assaltos. Logo o mais temível no mundo é gente burra: Os muitos ignorantes de tudo, que por aí andam, cuja extensão de pensamento só dá para pensar burrices, e logo pô-las em prática, é que são o perigo. O estado mental deste tipo de gente é deturpado, representando um perigo ambulante para todos, inclusive para si mesmos. A ignorância, mãe da estupidez, gera ousadia inconsequente, impossibilitando qualquer forma de argumentação. E são um perigo, contra e a favor, já veremos. Vejam os políticos de extrema direita A VOLTA COM OS TRIBUNAIS, que ofendem os juízes, de Bolsonaro a Le Pen, que os ameaçam de morte, e mesmo condenados insistem. Este destemor e sensação de impunidade que têm, os leva a não terem limites, a não perceberem que as leis e as decisões judiciais são para cumprir. A sensação de poder ilimitado do - Kiss my ass- beija-me o rabo, expressa na mais vulgar e xula maneira, é a suprema expressão da burrice, porque todo poder é limitado, e estas posturas de superioridade não levam a lugar nenhum. A ilusão de que tudo podem, e muitas vezes podem por um período de tempo, é a expressão máxima da incompreensão do mundo. Posto que ignoram que tudo funciona como as ondas, batem e voltam, porque tudo que flui, reflui, na inafastável realidade boomerang que rege o mundo, a lei do retorno. Eu só temo aos burros, porque estes são cegos e sem reflexão, sendo capazes das coisas mais absurdas. A burrice em grau elevado chamamos psicopatia, porque o alto grau de descontrole destes pode atingir indiscriminadamente qualquer um, sem critérios e sem excessões. Um inequívoco perigo. Eu que não sou de vídro, mas, frágil como toda gente, mesmo os que não se crêem, como todos estou sujeito a ação violenta destes burros, que sem a menor razão nos podem atacar e mutilar de forma absoluta no descontrole psicopático de sua burrice. Os burros inteligentes. O critério avassalador do burro-inteligente é sua esperteza e sagacidade para certas coisas, em confronto com sua estupidez pegada, muitas vezes imitada, formando falanges de estúpidos seguidores do burro-mestre, que tem esse enorme poder de conformar séquitos, uma vez que a burrice-inteligente é contagiante a partir do ponto que se faz crer como uma realidade, ou narrativa, como muitos hoje preferem, forte e plausível, uma vez que expressa entendimento, na maioria das vezes empírico, perceptível, visível, que só o intelecto superior pode contestar. Desse modo por milênios acreditaram que a Terra ficava no centro de tudo, como se pode ver ao observar que o Sol anda à volta da Terra, assim como as estrelas, a Lua e tudo mais. As aparências enganam, como sabemos, mas não aos burros, que têm as profundas certezas de seu entendimento. Por isso os temo muitíssimo.

domingo, 28 de setembro de 2025

Caetaneando-nos.

A vitalidade da MPB está nas ruas, nós, os insubmissos O verso do Brasil não se cala Nossos poetas estão nas praças "Esse cálice de vinho tinto de sangue" não precisará ser derramado" Nossos heróis nos vieram salvar "Sem lenço e sem documento" "O sanatório geral vai passar" Seu roteiro está nas letras Vamos Djavanear, Gilbertear, Buarquear, Paulinear, AlceuValencear, IvanLinsar Leninear, Frejatizar Tomar o "pileque homérico" Em todo o Brasil: "Atenção! É preciso estar atento e forte Não temos tempo de temer a morte." "Além do céu de Brasíia" "Aquele abraço" "Só vou caetanear o que é de bom" "Meu destino eu mesmo traço" "Enfrentou a tempestade" "Quero a louca liberdade" "Estamos marcados pra sobreviver" "Nossos inimigos estão no poder" A resposta é "Cresça e desapareça" "Ideologia ... pra viver" É termos cheiro de povo Milhões nas redes Milhões nas ruas A resposta está dada "Não passarão!"
Lista dos artistas nos atos: Simone – Maceió, Chico César – Brasília, Silva – Vitória, Bel Bertinelli – Dj Pítty Latuffe – Fernanda Takai – Júlia Rocha – Mc Mika – Rafa Ventura – e Renegado – Belo Horizonte, Aíla – Carimbó Selvagem - Gang do Eletro – Jeff Moraes – Joelma Klaudia – Júlia Passos – e Raidol – Belém, Caetano Veloso – Djavan - Gilberto Gil - Chico Buarque – Paulinho da Viola - Ivan Lins - Lenine e Frejat - Rio de Janeiro, em Copacabana para a expurgar de presenças anteriores. Camarada Janderson – Curumim – João Suplicy – Leoni – Luiz Thunderbird - Marina Lima – Otto – Rap Plus Size – Salgadinho – Sophia Chablau – e Thalma de Freitas - São Paulo, e mais vinte capitais, e mais não sei quantas cidades com o povo na rua. "Baste a quem baste o que Ihe basta O bastante de Ihe bastar" Eis nossa revolução!

sexta-feira, 12 de setembro de 2025

Afélio e Periélio

Duas palavras conhecidas e que quase nunca as utilizamos,e que em sua sucessiva ocorrência nos trazem as quatro estaçãoes, assim como a rotação da Terra nos traz os dias e as noites; ações que combinadas permitem aquilo a que chamamos VIDA esse bem tão precioso que contraditoriamente preservamos e desrrespeitamos ou atacamos à vez, na insania humana de gerar e matar, todos os dias, todas as horas, como se num determinado ângulo, o equívoco que encerra fosse natural, e só o é na medida em que carecemos de vida para mantermos vida, e aínão é equívoco. Assim quando o leão caça e devora a gazela, tira uma vida para manter outra, muito bem, é assim. No entanto quando matamos para que o outro não exista apenas, sem o propósito de manter a vida, abandonamos a faixa do normal, para ingressarmos na do injustificável, porque essa relação de vida e morte, permanente ação no Universo, foi quebrada no que ela tem de tangível, uma vez que abandona o natural, e torna-se abominação. Nos ciclos de vida e morte que gerem o planeta numa sucesssão infinda, tudo se manifesta à vez, gerando as possibilidades, mesmo quando esta possibilidade é a morte. Perguntem às flores de cada estação, aos frutos em cada época, aos bichos que comem outros bichos, inclusive nós que também somos bichos, e teremos as diversas possibilidades. A das flores tornarem-se frutos, estes que são alimentos, como os bichos devorados, e que mantém vida com a sua, e que manterá o equilíbrio das coisas, o da própria vida que desse modo estará mantida pela limitação gerada, uma vez que tudo tem limite. Assim pois, quando o Sol se afasta a caminho do afélio, leva seu calor consigo, nossa fonte de vida, ou o fruto devorado deixa sua semente algures, ou o animal, mantendo uma população possível aos que devora em seu espaço de existência, tudo opera para justificar que estes enormes contrários realizem esta maravilha tão banal e tão rara da Vida, vida que queremos plena, de tal modo poderosa manifestação, que justifica todas as mortes que gera. Temos em seu contrário que uma morte que não mantém ou gera vida, é absolutamente irrazoável, posto que inaceitável, como toda a estupidez o é. O despropósito recusa nada, inadmissível que é. E se assim é, porque a banalizamos em desrespeito ao que há de mais precioso? Assim parece. As guerras, do mesmo modo como o Sol, vêm e vão, só que o que deixam não representa nada além do grande fruto de nossa estupidez: mortes injustificadas. Passos sucessivos da inconsequência e irreflexão, resultantes de um menor descortino, os atos guerreiros que têm sido a História da Humanidade, são também a maior confissão de sua falta de entendimento, da manifestação dos impulsos precários que regem a violência, esta manifestação pronta da falta de entendimento verdadeiro, falta de questionamento e introspecção, cujo maior exemplo é a afirmação superior e determinante que é feita ante um grupo de homens irrefletidos. Conhecem a história. Trouxeram-lhe uma mulher sob a acusação de adultera, que, pela lei mosaica era passível de lapidação. Tinha já o grupo as pedras na mão, eram fariseus e doutores da lei que buscavam incriminá-Lo, e queriam por outro lado matar a mulher a pedradas. Envolvendo-O, incriminá-Lo-iam, porque sabiam que em hipótese alguma Ele aceitaria a lapidação, logo seria contrário a lei, portanto culpado, no entanto questionavam-no, insistindo: E Tu que dizes? Sua resposta dá-se colocando-se entre os agressores e a acusada, incitando-os: ⁷ Aquele que de entre vós está sem pecado, que atire a primeira pedra (*). Todos se foram, ninguém atirou pedra alguma das que tinham já na mão. Deixando de lado a autoridade de quem falou, ainda que seja quase impossível ignorar, o que a história nos diz, é que se abandonarmos os preconceitos, os maus intentos e as ambições, e refletirmos, abandonaremos nossos piores propósitos, entregando-nos à verdade que nos liberta de todo sentimento injusto. Como o Sol que faz seu percurso iluminando todas as veredas, nossos sentimentos e entendimento também se iluminam ante a luz da verdade, como indefectível resposta aos sentimentos mais negros, tão só à custa de alguma reflexão. (*)João 8:7

Ministério do Vício e da Virtude - um roteiro..

Na interpretação religiosa de 'cura das almas', ou na essencial de 'execução de uma função', o ministério visa um trabalho, um ofício de resolução de problema que exista no seio social, com a a necesária atuação de força que aja com esse propósito, e destarte consiga sucessos promotores da paz e bem-estar social. Além dessa função, ou melhor, emerge desta função o שפיר - shefer, o benigno, uma vez que todo processo de realização do Bem traz consigo em paralelo todo o terreno místico, o universo das razões incompreensíveis, coisas imperscrutáveis que se manifestam pela simples presença do ofício, este que deverá ter função clara e determinada, o que quer dizer que tem propósito e intenção, ou seja existe como razão, como causa, e não como resposta. Eis o ministério. Por isso temos os problemas carecendo de resolução, que são muitos, havendo ministérios específicos para cada yn deles. De modo que temos em sociedades diversas, diversos ministérios dedicados a múltiplos problemas, muitos são os mesmos, posto que os seres humanos por toda parte carecem das mesmas coisas, entretanto há especificidades locais que requerem outros ministérios para enfrentá-las.
No Afeganistão criaram o Ministério para a Propagação da Virtude e Prevenção do Vício, cuja finalidade última é implementar as regras islâmicas por toda sociedade, sendo uma agência estatal para a implementação da lei islâmica, conforme determinado pelo Talibã,temos portanto o religioso, que entendem esse ofício como o de cura das almas, por ministrarem o credo, um santo ofício que ao longo dos tempos sempre cuidou de impor suas regras comportamentis a toda sociedade.Ministerium, ministerii, a palavra ficou por significar as ocupações, os cargos, as funções e o serviço profissional do corpo de auxiliares neste mister. Este ministério afegão visa a fiscalização das mulheres, tidas como um mal, agente de corrupção, que devem obedecer a estrictas regras, desde suas indumentárias, aos seus comportamentos, para tanto havendofiscalização de suas vestimentas, , bem como de seus modos.. O outrongrande mal está na música, que deve ser proibida por seu caráter libertador, que abre janelas, às vezes portões, para a sensibilidade humana, retirando-a da prisãodo comportamento - a própriapalavra comportamento vem de colocar portas, ou seja trancafiar as emoções e os sentimentos, prevenindo sua expansão.Na Arábia dos Sauds, a família que domina e governa o país, há o "Mutaween", uma comissão com a mesma finalidade (Comissão para a Promoção da Virtude, e Prevenção do Vícioo E o vício e a virtude? A quem cabe decidir o que é vicio e o que é virtude? Estes que se alteram com o tempo, numa mesma sociedade de um determinado país, houve tempo que um certo comportamento era considerado vicio, e evoluiu para virtude, mas mesmo não escoljendo o exemplo estremo, este de um vicio passar a ser virtude, mas quanta coisa que era má e passou a ser boa e vice-versa. É certo que está em ós esta noção de bem e mal, do bem e do mal, como dizem como se fossem entidades absolutas, todavia seu entendimento evolui, e que a noção mais profunda que temos mantem-se, e revalida-se, como bem mostrou Machado de Assis em seu adorável conto "A Igreja do diabo." Mais além do entendimento médio do que seja virtuoso e vicioso, podemos sempre aquilatar que defeitos e imperfeições fazem parte da natureza humana, e os devemos compreender, disse compreender, que não é aceitar e muito menos legitimar, e aqui temos o magnífico exemplo que nos deixou Jesus, como nos relata João, no início do capítulo oitavo de seu evangelho apresentando um caso de depravação e libertinagem (que quer dizer vicio) o da mulher adúltera. E quantas vezes lapidamos pessoas com palavras e atitudes, julgando-a despresivelmente, quando já nos foi dada a lição: "Atire a primeira pedra..." Erro de ofício, defeito, imperfeição, perversão, pecado,mau-hábito, tudo que é apontado como vício, quantas vezes não é, antes de mais, um pedido de socorro. Induz ao bem e a evitar o mal, boas quaidades morais, pudicícia, castidade, eficácia, validade, força, vigor, tudo que é apontado como virtude, quantas vezes não é, é máscara. A cada expressão tanto do vício, como da virtude, podemos descreditá-la como taal. Comecemos pelas virtudes que são mais difíceis de se ver como não podenso ser, o que se acredite que sejam. Das várias dezenas de virtudes classificadas, mais de 50, uma das menos evidentes de que possa resultar no oposto, é assim por exemplo com a fraternidade e o companherismo, duas virtudes muito favoráveis, mor das vezes. Mas quanta fraternidade levou a mortes? Quanto companherismo é mal interpretado? Dir-me-ão: mas a culpa não é da virtude! Decerto, taanto quanto não é da arma o feito de matar, mas de quem lhe puxa o galiho, certamente, mas se não houvesse a arma, não haveria gatilho a se puxar. Muito bem, então escolhamos outras: A amabilidde e o comedimento, ambas mal interpretadas dão em desgraça muitas vezes, como o comedimento que interpretado em fraqueza faz escalar a situação em desgraça, para não irmos mais longe. Com as mais exaltadas, as teologais e as acrdeis, dá-se o mesmo. Não culpemos as vitudes, mas elas são muitas vezes degraus, caminhos, instrumentos para o pior. Com os vícios dá-se o mesmo, sendo bem mais evidente que sempre se pode extrair o bem do próprio mal, considerando os vícios um mal.

"Há que dizer-se das coisas" e das pessoas.

Poucas coisas serão mais legítimas, verdadeiras, absolutas, quanto a integridade, essa condição de inteiro, onde não falta nada, onde nada está alterado, posto que as coisas só são o que são em sua totalidade e em sua inteireza, toda outra condição ou circunstância é uma forma de lesão, onde a pureza primitiva foi subtraída, e a intenção original terá sido retirada, roubando-lhe, de certa maneira sua integridade, essa que não admite rupturas, ou desagregação. E me vêm as palavras do grande poeta Carlos Ary dos Santos, imenso poeta, em seu poema "O Objeto" onde diz: "Há que dizer-se das coisas o somenos que elas são." e fazendo muitos questionamentos nos lembra que algo que se parte transforma-se em caco, parte desintegrada do original, perdendo sua pureza primitiva, que, não mais intacta, passa a ser outra coisa, deixando de ser o que era, condição diversa, nem melhor nem pior, podendo vir a ter qualquer uma destas novas condições, mas ainda que ficando na mesma, passa a ser outra coisa. O artista prima pela materialidade de sua obra, uma vez que entende que a concatenação das partes só é perfeita no todo original, aquele que motivou sua realização, sem tirar nem pôr, o impulso original deve perpassar inalterado toda a obra, preservando a mensagem, para que nenhum caco sobrevenha. É curioso notar que as falas introduzidas pelos atores num texto original no teatro, chame-se justamente caco, uma vez que são pedaços outros, não a matéria original com que se fez a obra. Deste modo a luta principal de um autor é conservar sua inteireza original, que tantas vezes é alterada em virtude de um entendimento mais fácil, de uma simplificação de natureza vária, até mesmo comercial, uma vez que nossa obra não é nossa, assim como os filhos, quando tomam corpo assumem a autonomia própria de todas as coisas, e aqui outro imenso poeta, libanês este, Kalil de seu nome, que nos lembra que a ânsia da vida tem seu papel, e que esta afasta de nós nossa obra, nossos filhos. Muitas vezes lutamos para que não seja assim, pretendendo reter a originalidade, que nos será sempre roubada em sua relação com o mundo, este que tudo altera e corrompe. A razão desta minha reflexão reside nos ventos originados duma conversa que tive com a Lídia Jorge, por quem já confessei minha admoiração e meu apreço profundos, em que eu perguntava dos livros que saíram no Brasil, e ela disse-me que "O vale da Paixão", de 1998, foi a segunda escolha, já tendo sido publicado o "Misericórdia", mas que ela exigiu que se repusesse no 'Vale' seu título original: "Diante da manta do soldado" que evidentemente tinha sido alterado por razão que ignoro. Não tive coragem de perguntar a razão, poderia ser uma, não direi imposição, mas uma sugestão insistente da editora, que tem todo o direito de ver o lado comercial da coisa, e que aceitamos, devido a tudo que envolve a publicação de um livro. Calei-me. Entretanto fermentou em minh'alma esse detalhe. E deu-se aquilo a que os franceses muito sensivelmente chamam de 'clocherie', torre sineira, lembrando que sempre algo badala para nos lembrar uma coisa que nos tenha escapado, Lídia Jorge quiz restaurar a pureza original de sua obra "Diante da manta do soldado" preterindo o título "O vale da paixão" já com tanto sucesso editorial. A isso chama-se INTEGRIDADE, fidelodade às coisas e a si mesma, talvez por isso, e só por isso, mais que todo o resto, Lídia é o que é, tem o sucesso que tem, e revela uma grandeza nas pequeninas coisas oriunda desse caráter, tenho vontade de dizer canino, desta natureza que tanto apreciamos e respeitamos nos nossos aigos de quatro patas, e que muitas vezes subalternizamos nos humanos como nós, esquecendo que "Há que dizer-se das coisas o somenos que elas são" pois só se é grande quando se é inteiro.