O blog O Olho do Ogre é composto de artigos de opinião sobre economia, política e cidadania, artigos de interesse sobre assuntos diversos com uma visão sociológica, e poesia, posto que a vida se não for cantada, não presta pra nada. O autor. Após algum tempo muitas dessas crônicas passaram a ser publicadas em jornais e revistas portugueses e brasileiros, esporadicamente.
sexta-feira, 12 de setembro de 2025
Afélio e Periélio
Duas palavras conhecidas e que quase nunca as utilizamos,e que em sua sucessiva ocorrência nos trazem as quatro estaçãoes, assim como a rotação da Terra nos traz os dias e as noites; ações que combinadas permitem aquilo a que chamamos VIDA esse bem tão precioso que contraditoriamente preservamos e desrrespeitamos ou atacamos à vez, na insania humana de gerar e matar, todos os dias, todas as horas, como se num determinado ângulo, o equívoco que encerra fosse natural, e só o é na medida em que carecemos de vida para mantermos vida, e aínão é equívoco. Assim quando o leão caça e devora a gazela, tira uma vida para manter outra, muito bem, é assim. No entanto quando matamos para que o outro não exista apenas, sem o propósito de manter a vida, abandonamos a faixa do normal, para ingressarmos na do injustificável, porque essa relação de vida e morte, permanente ação no Universo, foi quebrada no que ela tem de tangível, uma vez que abandona o natural, e torna-se abominação.
Nos ciclos de vida e morte que gerem o planeta numa sucesssão infinda, tudo se manifesta à vez, gerando as possibilidades, mesmo quando esta possibilidade é a morte. Perguntem às flores de cada estação, aos frutos em cada época, aos bichos que comem outros bichos, inclusive nós que também somos bichos, e teremos as diversas possibilidades. A das flores tornarem-se frutos, estes que são alimentos, como os bichos devorados, e que mantém vida com a sua, e que manterá o equilíbrio das coisas, o da própria vida que desse modo estará mantida pela limitação gerada, uma vez que tudo tem limite. Assim pois, quando o Sol se afasta a caminho do afélio, leva seu calor consigo, nossa fonte de vida, ou o fruto devorado deixa sua semente algures, ou o animal, mantendo uma população possível aos que devora em seu espaço de existência, tudo opera para justificar que estes enormes contrários realizem esta maravilha tão banal e tão rara da Vida, vida que queremos plena, de tal modo poderosa manifestação, que justifica todas as mortes que gera.
Temos em seu contrário que uma morte que não mantém ou gera vida, é absolutamente irrazoável, posto que inaceitável, como toda a estupidez o é. O despropósito recusa nada, inadmissível que é. E se assim é, porque a banalizamos em desrespeito ao que há de mais precioso? Assim parece.
As guerras, do mesmo modo como o Sol, vêm e vão, só que o que deixam não representa nada além do grande fruto de nossa estupidez: mortes injustificadas. Passos sucessivos da inconsequência e irreflexão, resultantes de um menor descortino, os atos guerreiros que têm sido a História da Humanidade, são também a maior confissão de sua falta de entendimento, da manifestação dos impulsos precários que regem a violência, esta manifestação pronta da falta de entendimento verdadeiro, falta de questionamento e introspecção, cujo maior exemplo é a afirmação superior e determinante que é feita ante um grupo de homens irrefletidos. Conhecem a história.
Trouxeram-lhe uma mulher sob a acusação de adultera, que, pela lei mosaica era passível de lapidação. Tinha já o grupo as pedras na mão, eram fariseus e doutores da lei que buscavam incriminá-Lo, e queriam por outro lado matar a mulher a pedradas. Envolvendo-O, incriminá-Lo-iam, porque sabiam que em hipótese alguma Ele aceitaria a lapidação, logo seria contrário a lei, portanto culpado, no entanto questionavam-no, insistindo: E Tu que dizes? Sua resposta dá-se colocando-se entre os agressores e a acusada, incitando-os: ⁷ Aquele que de entre vós está sem pecado, que atire a primeira pedra (*).
Todos se foram, ninguém atirou pedra alguma das que tinham já na mão. Deixando de lado a autoridade de quem falou, ainda que seja quase impossível ignorar, o que a história nos diz, é que se abandonarmos os preconceitos, os maus intentos e as ambições, e refletirmos, abandonaremos nossos piores propósitos, entregando-nos à verdade que nos liberta de todo sentimento injusto.
Como o Sol que faz seu percurso iluminando todas as veredas, nossos sentimentos e entendimento também se iluminam ante a luz da verdade, como indefectível resposta aos sentimentos mais negros, tão só à custa de alguma reflexão.
(*)João 8:7
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