quinta-feira, 29 de agosto de 2013

A máfia de António Barreto.

Ele não disse o que disse, mas disse o que devia ter dito.

   António Barreto é um sociólogo e político português, que já foi titular em dois ministérios e várias vezes deputado, inclusive constituinte. Admirável por seus pensamentos e sua visão da sociedade portuguesa,é conotado com o estatuto 'senatorial' no quadro  da atualidade política de seu país.

   Ao falar na Universidade de verão do PSD, este homem que tem caminhado da esquerda para a direita desde o início de sua vida pública, falou que havia como que um pacto entre a economia e a política, onde esta, assistida por aquela, lhe permitia a atuação e dava-lhe espaço para existir em parâmetros democráticos. Ao comparar com o  que em Itália, da máfia, uma coisa ruim, pudera advir coisas boas, revelou, talvez mais do que queria, mostrando, como profundo conhecedor da realidade portuguesa, como as coisas se processam, revelando-se preocupado que, com o rompimento deste pacto, até por impossibilidades materiais, a democracia sofresse instabilidade. 

   A verdade é que pela falta de recursos e pelo sobreendividamento do Estado, muita coisa tem vindo à tona de maneira inesperada e muito do pacto de silêncio e cumplicidade em mútua ajuda, desde há muito estabelecido por diferentes setores com a política, vem a se revelar, por muitas razões, rompido, tendo de encontrar outras maneiras, novas, de convivência. 

    Não esquecendo que a democracia sucedeu à uma longa ditadura que recuperara os valores de proximidade que sempre regeram as simbioses de poder em Portugal, António Barreto fugiu com a boca para a verdade na sua feliz lembrança, revelando assim que estes velhos valores se esvaneciam ante a nova dura realidade econômica. Esta mesma realidade econômica que tem dado cabo do Estado social, e que tem levado a caminhos inusitados para tentar arranjar soluções para uma realidade incômoda que enfrenta muitas barreiras, inclusive uma constituição que teimosamente atrapalha os planos do atual governo em obter as tais 'soluções' para a tal realidade. 

     Ora, António Barreto, desde sempre analista da realidade da democracia que ajudou a implantar,sabe muito bem tudo o que vai, ou melhor, sempre foi, como pano de fundo desta relação política que tem permitido consolidar a democracia em seu país. Esta herança subjacente, existe pelo mundo afora, com mais acentuada manifestação nos países latinos, não deixando de estar manifesta nos outros, assim como seu legado para países em formação possibilitou uma virulência ianudita nos meios e solicitações desta convivência, bem como desta cumplicidade e mútua ajuda, sendo portanto mais acentuada quando os países em questão são em formação e de orígem latina. Logo as republiquetas hispânicas das Américas e o Brasil não puderam evitar esta herança, assim como os d'África nos mesmos termos.

     Para contornar a situação de dar nomes aos bois, António Barreto lembrou que Portugal é o país do mundo com mais auto-estradas por habitante, ou por metro quadrado. E com isto fez-me lembrar a educativa anedota da conversa de dois ministros, um europeu e outro africano, quando da visita do segundo ao primeiro em seu país, sendo recepcionado em casa deste e tendo-lhe gabado a beleza da casa, foi prontamente informado que  a auto-estrada que existia nos arredores lhe havia  pago a casa, e a mostrava de uma de suas janelas de onde esta era visível. Mais tarde ao retribuir a visita, o ministro europeu foi então convidado à casa do ministro africano, casa que esmagadoramente ultrapassava a beleza,o tamanho e o luxo da casa do ministro europeu. E, então, a seu turno, o ministro africano, repetindo a ocorrência do que se passara em sua visita em casa de seu congênere europeu, também mostrou-lhe de uma de suas janelas a auto-estrada que lhe tinha financiado a mansão. Muito espantado o ministro europeu afirmava que não conseguia ver auto-estrada nenhuma. e o africano entre risos concordava, explicando que por isto sua casa era verdadeiramente maior, mais bonita e mais luxuosa que a casa do europeu.

    É: Fugiu-lhe a boca pra verdade!   

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