terça-feira, 27 de maio de 2014

Tirar as consequências das eleições européias.





Estranha, muito estranha, a Europa sem rumo! Mas é assim que se encontra, como um barco que, à deriva, procura uma luz que o leve à costa para proceder a reparações, a Europa, e aí, bem compreendido, o sonho europeu de uma união, pode soçobrar por não ter aquilo que é básico numa união: coesão interna!

Coesão interna é uma força de união que se forma por cada uma das partes se sentir confortável no papel que desempenha, querendo o desempenhar, e atuando para se manter na condição em que se encontra.

A sabedoria popular clivou o anexim que afirma que «A União faz a força» pegue dois ou três gravetos e os tente partir, parti-los-á com relativa facilidade, reúna uma dezena e não os conseguirá partir. Porém quando você reune uma dezena deles, você  forma um feixe com esta união. A Europa com a reunião de 28 países não forma nada, exceto o que seja a própria União. Para que seja algo mais é imprescindível que a coesão desta União se expresse, ou seja, tenha uma força interior que, ao os manter unidos, os contenha em algo que os expresse. Falta à União Européia algo como aquele cordão que é posto ao redor dos feixes para os manter unidos, a este cordão podemos chamar solidariedade!

Quando você reune entidades autônomas e as quer mater unidas é absolutamente necessário que elas se congrassem em algo que as defina, para que elas, deixando, e continuando a ser o que cada uma delas é, se revejam nesta nova entidade que as une e as expressa em conjunto. Ou seja, apesar de serem quem são, abram mão de algo da sua individualidade para serem esta nova entidade que se formou. É assim por exemplo com uma família onde cada membro apesar de ser quem é, é no seu seio apenas parte, porque aceita a sua participação neste bloco, estando neste bloco, sendo  família, ele se anula um bocadinho, mas passa a ser algo forte e proveitoso onde ele se inclui. Só assim, com esta interação, se formam blocos unidos, famílias, grupos  onde há uma força de coesão interna que atua, porque há o laço de união que a propricia, aquele cordão que torna os gravetos, feixe.

As eleições para o Parlamento Europeu, uma entidade que, apesar de ter melhorado muito, é anódina, inexpressiva, ilusória, que apregoando representar todos os cidadão da Europa, não representa nada nem ninguém. Faz sentir a sensação de um parlamento sob ditadura, onde todos e cada um de seus membros estão reduzidos a serem 'yesmen' por que a discordância lhes é impossível, porque o verdadeiro poder de decisão não se encontra ali, eles figuram nos estamentos do poder, mas não resolvem nada, são só figuração. E dois terços da população consciente disto não se disponibilizou a dar seu tempo para eleger uma figuração, que irá progredindo a pouco e pouco, mas que ainda não os representa efetivamente.

Isto posto, o parlamento na Europa se demite daquela função de cordão de coesão, que tanto se busca, para que exista Europa. Logo pode-se admitir, pode-se permitir que em seu seio existam e convivam as mais difrentes expressões de individualidades que se possa imaginar, posto que nenhuma corrente se demite de seu caráter pessoal para fazer parte de algo que, os anulando, os funda, transformando-os em algo novo e restaurador, que realize o sonho europeu. Assim sendo, o sonho começa a morrer, contando já, num instrumento da sua constituição, dentro do próprio parlamento que deve formatar sua estrutura, um em cada cinco membros que lá estão para o destruir, que lá estão só para o corromper, para anular e aniquilar o sonho europeu, honestamente proclamando esta posição, que, diferentemente do enganador cavalo de Tróia, nada escondem, dizem claramente a que vêm, e proclamam sua intenção niilista, claramente desagregadora. E isto acontece porque a Europa está sem rumo, como afirmei, e está sem rumo porque este é o retrato consumado de suas lideranças. E isto gera por outro lado respostas políticas que querem assambarcar as propostas destas franjas, para, incluindo politicamente suas propostas, as excluir eleitoralmente, perdendo ideologia para ganhar eleições.

Assim encontramo-nos num impasse, a rua sem saída dos franceses, com a extrema direita sendo já um quarto dos eleitores manifestos, com o ressurgimento do Nazismo em vários pontos da Europa, já com ações físicas contra os Judeus, seu eterno alvo, às portas de Sinagogas, com um vetor desagregante e com uma quantidade de novas forças politicas se expressando, ainda que a maioria silenciosa, que acredito desejar este sonho bom de Europa, que suprime guerras e distorções e que bane estes fantasmas do nazismo, do xenofobismo, do totalitarismo e da imposição por ter força, para longe da Europa, se mantenha silenciosa, na expectativa de que surja alguém com pés e cabeça que naõ deixe este sonho morrer, não deixe este sonho acabar, para usar os versos do sambista, e, como conclui o sambista, para que isto aconteça é preciso que haja samba pra gente sambar, ou seja, que haja uma melodia que ponha todos no mesmo ritmo e que as individualidades assim motivadas participem e se revejam no projeto. O projeto da solidariedade que se transformou no projeto dos interesses e da farsa, da hipocrisía e da submissão, após Maastrich e Lisboa, assim é um projeto que acaba em sangue, não tenham dúvidas.

A igualdade dos números dos que se expressaram, e a esmagadora maioria dos que também se expressaram não participando da farsa, dão uma combinação perigosa e bloqueadora, como um cadeado trancando um portão de acesso, transformando em ingovernável a União, assim como muitos dos países que a constituem, como por exemplo Portugal (não digo Grécia, Chipre, França e Itália, porque estes já são não governados na expressão plena do termo, a algum tempo) que a repetir-se nas legislativas o empate técnico entre os partidos ditos do arco da governação, esquerda e direita, esta última com seu penduricalho de extrema, que pelo caminho de invisibilidade que assumiram as realidades partidárias na primeira análise dos resultados, que com cada força manifesta querendo manter sua posição, e mais fortemente na manutenção de sua cegueira pela ambição do poder, não viram e não querem ver, não se dando conta que este poder de nada serve ao país (servirá talvez ao recreio das ambições pessoais) pelo bloqueio administrativo que cria com a igual correlação de forças, inviabilizando as mudanças e o novo ciclo tão necessáriio, faz-nos lembrar-nos que nunca o Canto IV d'Os Lusíadas foi tão presente, trazendo à baila outro anexim que afirma que mais cego é aquele que não quer ver.

As instrumentalizações dos partidos que os foi lançando comodamente cada vez mais nas mãos de impreparados e incompetentes, muitos repesentando os interesses mais expúrios e inconfessáveis, e que permitiram que o poder nos partidos, que à seguir, eleitos, passam a ser o poder de fato, blindasse o acesso de gente interessada e válida, que passou a querer fazê-lo através de situação independente, ou constituindo outro pequeno partido que demorará a se viabilizar, desnaturando a hegemonia de ciclos alternantes de partidos que expressavam e garantiam a representatividade soberana. Criou-se um encilhamento, um coágulo, que impede a livre circulação do elemento vital que oxigene a vida democrática, necrosando o tecido político como um todo, mesmo que as franjas a juzante alternadamente invenenem e oxigenem pontualmente o tecido, o todo mantem-se em necrose, nem morrendo de vez, nem se revitalizando. Esta situação de forma mais ou menos grave, mais ou menos ativamente,  vem imobilizando todo o processso político europeu que subvertido e decaído em mãos dos interesses econômicos, já só serve à poucos dos que o constituiram.










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