quarta-feira, 7 de maio de 2014

PORTUGAL SEM SAÍDA, OU A SAÍDA É O AEROPORTO...

               




                                                               A GERAÇÃO MAIS QUALIFICADA DE SEMPRE...três vias X cinco paradigmas.


Trabalhou-se várias décadas, investiu-se, qualificou-se, preparou-se...Pais, avós, filhos e o país empenharam-se quatro décadas, até que conseguiram, por fim, obter esta geração que agora devera ingressar no mercado de trabalho português, e que é conhecida como a mais qualificada de sempre, e o é, com o mais alto nível cultural que jamais houve neste país, e a quem eu dedico este artigo. Sendo que quando penso nisto tudo a primeira coisa que me vem à mente é a frase do poema de Ferreira Gullar n'A Luta Corporal «As Pêras»: "As pêras concluídas, gastam-se no fulgor de estarem prontas para nada." onde o poeta nos lembra que não se pode parar o relógio.

Não há maior verdade para esta geração do que esta no poema do Gullar, pois que são pêras concluidas estes jovens, poder-se-ia dizer mesmo mais que concluídas, também selecionadas, perfeitas, fulgurantes, prontas, acabadas: A geração mais qualificada de sempre! Eis que assim como as peras concluídas, que atingiram sua maturidade plena, colhidas, escolhidas, fulgurantes na sua plenitude, prontas para serem desfrutadas, prontas para cumprirem seu destino. Eis que não há destino. Perdem-se no vazio, "gastam-se no fulgor". TANTO ESFORÇO PARA NADA!

Será que é assim? Fatal como o destino? Ou haveria, há, outra solução?

Eu vejo os países, sobretudo um pequeno e bem estruturado país como Portugal, como uma família alargada, uma família que deve se cuidar, uns aos outros, uma família que tem de responder nas horas difíceis com união e prontidão, na noção daquilo do que deveria ser uma família, que nem sempre é, unida, coesa e solidária. Portugal através da cabeça da família, seu governo, deveria ter assumido desde logo uma posição de prevenção de danos, de diminuir a nocividade da carga forte de veneno que se iria espalhar pelo país, com a terrivel situação de se recuperar financeiramente, entregue, que estava, à sanha dos mercados. Não foi assim! Esqueceram que a melhor, a mais valiosa, parte de seu investimento de décadas, e de realidades materiais e espirituais que se conjugaram, é esta sua geração mais qualificada de sempre, fruto do esforço conjunto das famílias e do Estado, que com meios inauditos conseguiram este assombroso feito pela vez primeira. E para que? Como no poema : PARA NADA ! O pior disto tudo é o futuro. Porque além de defraudar o presente de todos os que se prepararam e de todos os que se empenharam para esta preparação (todos, aí incluido dos professores e pais, até aos cidadãos que viram o recurso de seus impostos serem para aí mobilizados) é defraudar o futuro por várias vias: 1. A do descrédito, de que adianta se estar bem preparado em Portugal ? (Via muito perigosa, que dá espaço a se acreditar em outros caminhos diferentes, como se vem desenvolvendo na idéia de muitos jóvens hoje.). 2. A da desesperança, se se enganaram preparando tanta gente para nada, poderemos acreditar em outro caminho que vierem a apresentar?  (Dolorosa via, pois nada pior que se perder a esperança.). 3. A das impossibilidades, que fazer com esta geração mais qualificada de sempre? Se é impossível lhe dar aproveitamento, qual o caminho? (Via muito triste porque cumpre o paradigma perecível das pêras.). Enquanto a prioridade não for as pessoas, não se vai a lugar algum! A escolha do modelo é tudo!

 Eu penso que não é fatal, que havia, há, a solução de se fazer um esforço de empreendedorismo, de se aproveitar as potencialidades de Portugal numa outra lógica: A lógica da geração mais qualificada de sempre! E o que é isto? É voltar-se para o novo à partir das potencialidades imensas de que dispõe o país pelo seu passado. 1. Há o imenso mundo do idioma a explorar. 2. Há o fabuloso mundo do legado histórico a se capitalizar. 3. Há o imenso mar, outra vez, a conclamar (desta vez não à superficie mas mergulhando em suas águas). 4. Há as capacidades instaladas, e a melhor delas é o saber da geração mais qualificada de sempre. Se Portugal deu mundos ao mundo com uma gente medieval, o que não faría com estes jóvens pós modernos? Só que então havia um Rei, havia uma família, a ínclita geração, que governava o país, e o país tinha governo. Saiam do país sim, mas para voltar, a viagem tinha já marcada a sua volta, quando iam. Esta idéia de sair do país, de ir-se embora definitivamente, inspirou na irreverência brasileira a expressão: 'O último a sair apague a luz!' Triste antevisão.

Só se vai a algum lugar se conhecermos o caminho, mesmo que seja apenas onde ele começa. Sem o primeiro passo não se faz nenhuma caminhada, muito menos tendo o aeroporto como paradigma da redenção.











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