terça-feira, 13 de janeiro de 2015

Os sentimentos.






                                                                                "Nous ne sommes pas plus rien, que les autres"
                                                                                                          Henri Laborit.

                                                                                 "L'enfer c'est les autres"
                                                                                                          Jean Paul Sartre.

                                                                                  "Nous sommes faits pour la peindre, nous autres, et                                                                                                            rien de plus."
                                                                                                          Gustave Flaubert.




Nós somos eterna contradição.

Apesar do ar afetado, tão comum em tantos lentes universitários, sobretudo os que chegam à cadeira,  e também em sacerdotes por esta Europa fora, mas que, independentemente do ar, têm bom coração, na sua maioria, sendo esta uma postura tonta, distante, fruto da cultura do meio. Assim  criam-se sentimentos que podem não ser propriamente 'sentidos' mas são inspirados por uma condição, criados por uma ambiência, propiciados por uma situação.

Os sentimentos foram evoluindo até se consolidarem em alguns que são transversais pela condição de liberdade que é o primeiro de todos os bens do ser humano, passando a promover resposta homóloga, quase universal, a um mesmo empecilho que apareça, a um mesmo percalço que ocorra. 

Somos todos iguais na essência, somos todos essência igual na adversidade. Fomos todos Charlie na só resposta, somos todos os mesmos na contra-mão, nem mais nem menos, como irmãos da grande família humana da pertença de ideais e valores consagrados, sagradas conquistas partilhadas. E como um só organismo reagimos, qual colmeia inteligente e uníssona, vibrando no  mesmo tom de indignação. Sabemos ser um na adversidade, como numa certeza agostiniana de união. São valores há muito conquistados, para os quais não há dúvidas nem hesitações.

Tanto o ar afetado do lente, como a resposta igual de um continente, são caldo de cultura de algo que lhes ultrapassa, o sentimento inequívoco de pertença, e são como são porque fazem parte, e fazer parte é mais forte que tudo, é ser muitos em um e ser um em muitos, condição que possui uma força de coesão tão grande que nos anula, nos consagrando. Eu sendo um em todos e todos sendo um em mim.

Podemos é, tão intoxicados, num  momento sermos tão diferente que nos tornamos aberrações, porque os sentimentos colhem a média, escolhem um plano, recolhem as almas, igualam os distintos como distinguem os iguais, sua manifestação fará a obra e revelará a alma, que ovelha, seguirá ordeira a manada, que loba enraivecida, ferirá de morte a própria matilha. Os sentimentos são matéria sútil e inesperada, revelada na concórdia e na discórdia como coisa unida ou desirmanada.

A mesma vaga que flui em união, reflui em isolamento, na nossa natureza individual e absoluta, somos muitos, sendo um, e somos um em sendo nada.










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