quinta-feira, 13 de outubro de 2016

Nobelizar diruptivo.






É claro que tudo no mundo está integrado, as coisas mais diversas estão integradas cada vez mais, decerto, logo não irei eu separar o que se uniu, longe disso. O que se passa entretanto é que por fazer parte de um mesmo universo alargado da culinária, por exemplo, não devemos por isso comer comer carne assada com marshmallow, ou com sorvete de framboesa, são todos alimentos, pois são, mas juntá-los todos no  mesmo alguidar, parece-me, no mínimo, de mau gosto.

Havia uma sintomatologia de deturpação notável nos comitês dos prêmios, o da paz, o norueguês, ao vir instituindo premiação por expectativa (Barack Obama, UE, Opaq etc. . .) e agora por singularizar uma ação para a qual são precisos dois para acontecer, dá uma ideia disruptiva da tradição do prêmio. Já acontecer isso era uma 'inovação' bastante forte para um ano que ficará marcado pela dirupção da tradição, uma infeliz derrocada que macula instituição tão nobre, porém a insânia foi mais longe.

Porque o comitê sueco ultrapassou os ditames do aceitável, vem pôr marshmallow na carne  assada.  A escolha de Bob Dylan altera a ordem estabelecida, num tempo em que precisamos tanto dela, e introduz descrédito num tão honorável prêmio. Não faltam certamente grandes nomes na literatura de nossos dias merecedores do Nobel, nem sobram razões para a escolha do compositor de cantigas.

Modus in rebus, mesmo que o arrojo da medida possa ter essa intenção transformadora, há coisas que não queremos ver transformadas. Queremos ver o Dylan ganhando quantos Grammys lhe queiram atribuir, até mesmo o Nobel da Paz, assim como queremos ver escritores e poetas recebendo o Nobel da literatura.

Nobelizar um compositor sem mais porque, cria dirupção intolerável numa premiação que se pautava por reconhecer grandes literatos. Ninguém em sua plena sanidade dirá que Bob Dylan é um literato, quanto mais grande. Dario Fo teve a sorte de melodramaticamente morrer para não sentir a vergonha que sentimos face do inusitado despropósito, não pelo que inclui, mas pelo que exclui.

Há uma centena de grandes nomes pelo mundo fora merecedores do prêmio, gente que dedicou sua vida à fina arte de tecer palavras, de contar histórias, de cantar a vida, preterí-las é no mínimo ignominioso, equívoco que contribui para o descrédito de uma importante instituição.

Todos os anos esperávamos ansiosos nestes princípios do Outono na Europa pela lista, o reconhecimento universal de gente magnífica, esplendores da civilização, que haviam devotado suas vidas ao progresso cultural e científico da Humanidade. Achincalhar essa tradição é corromper o que temos de mais Nobre na herança cultural que nos foi legada. Muito popularmente devo registrar três incidências que perdurarão: A primeira a do Sr. Alfred estar dando voltas em sua tumba pelo que andam a fazer com o prêmio que instituiu. 2ª a de irmos ouvir nossos jovens dizer em premiações futuras: Que literatura qual nada, até o Bob Dylan ganhou o Nobel. E 3ª O cristal só se quebra uma vez, as relações de confiança, uma vez partidas, nunca recuperam dos golpes que as destroem. Alfred Nobel confiou no povo sueco e norueguês para atribuir o seu legado, se o povo dessas duas grandes nações não se manifestarem contra esse equívoco, terá confiado mal.

Brilha o Sol negro da Escandinávia, não só da Dinamarca e não são estorninhos, são tordos, ou melhor atordoados que não tiveram lídima percepção.

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