sexta-feira, 18 de novembro de 2016

Dar nome ao boi.






O PSD ficou sem opção. Como uma chama muito tênue não incendeia nada, eventualmente chamusca aqui, ali, e como contra fogos vivos, ativos, e com grande poder, alguns já antigos e estruturados, como o grande PS e o poderoso PCP, e outros chamas nascentes, que querem impor-se ao meio onde atuam, o agitado BE, e mais tênues os Verdes, pouco podem se deu que com todo esse fogo cruzado e com o seu antigo aliado só preocupado só com sua pele, restava ao PSD pugnar pelo que ficou evidente desde o começo da legislatura, aliás antes, quando aceitou tentar formar governo, governo que sabia que não formaria, mas para marcar uma  posição pensando no futuro, para poder vitimizar-se depois, e para dispor de argumentos que agora se esboroam na nova dinâmica político-partidária que se formou, e que se vai mostrando frutuosa, que era a única coisa que não servia para eles, onde só o falhanço dá opções, formou-se enorme nuvem de mentira que encobre interesses diversos. Vamos destrinçar isso. Vamos dar nome aos bois.

Tudo começa há um ano quando surgiu uma inédita coalizão das esquerdas com vistas ao PS formar governo. Não se coligavam, posto que os outros três partidos membros da coalizão não estabeleciam vínculos definitivos, nem assumiam funções governativas, mantendo-se  todos apenas dentro de acordos bilaterais, feitos individualmente pelo partido de governo, o PS, com cada um dos outros três da coalizão, estabelecendo princípios e metas para a ação governativa do PS, que assim assumiu funções. Imediatamente o partido que foi o mais votado individualmente (ganhou mas não levou) o PSD,  viu que sua única opção era apostar no fraco entendimento entre as partes que viabilizavam a governação, que, tendo posições muito vincadas e compromissos muito definidos com seus eleitorados, acreditavam, nunca iriam aceitar as restrições governativas de pertencer a UE,  esperando por uma rápida desorganização da aliança, pois sabia que esse acordo só existia para apeá-lo do poder, aliás o que traduzira a votação popular daquela eleição, mas que historicamente até aquela data nunca significou nada, porque  sempre o partido mais votado constituíra governo, ainda que minoritariamente, porque nunca as forças parlamentares se dispuseram a outra composição. Porém agora a situação era antagônica, podia-se dizer que fedia, tresandava com o odor da possibilidade de se estabelecer o governo PSD-CDS novamente, e houve inimaginada recomposição parlamentar.

Ora bem, com essa apreensão ditando as perspectivas, criaram a tal coalizão, e com isso estabeleceram novo arranjo de forças que evidenciava que se tivessem êxito, manteriam a direita por longo tempo afastada do poder, com o acréscimo de que essa só voltaria se conseguisse maioria absoluta, porque em caso de qualquer outra correlação de forças estava excluída, pois a partir de agora sempre à esquerda havia possibilidade de composição. Era uma perspectiva nova, com novo equilíbrio, o que certamente, a  se tornar natural e frequente, mudava o país de forma definitiva, mudava a política, mudava a assembléia da República para sempre. Consciente disso o PSD reage vitimizando-se e perorando a argumentação de esbulho e desrespeito às regras até então vigentes. Acertavam na segunda tese, pois havia desrespeito às regras que se praticavam até então, mas equivocavam-se na primeira tese, porque não retiravam a ninguém a posse do que não tinham, e o que tinham era uma tradição, uma hipótese, que acabou com a nova composição de forças, logo não havia esbulho. O PSD havia sido relegado para um papel secundário, onde se equiparava aos demais partidos, com o novo ingresso de todos no propalado arco da governação, foi o desgoverno para o PSD, de repente era igual ao CDS, sua antiga muleta como diziam as esquerdas antes, e o partido mais votado não aceitava ser muleta de ninguém! Por isso evocou o demônio, que não atendeu ao seu chamado, e de chifrudos misteres ao caso, surgiu o boi, que é um chifrudo inofensivo.

O tempo passou, o falhanço orçamental não veio, as soluções estabelecidas pelo PSD-CDS  como as únicas capazes de salvar o país, que haviam sido administradas como o mais amargo dos remédios por quatro anos e meio, verificaram-se desnecessárias, haviam outros caminhos, o que repunha a opção que desejava o sr. engenheiro Sócrates com o PEC 4, vendo todo o país sob uma luz meridiana e clara que havia sido enganado, que talvez a troika não tivesse sido necessária, que haviam mesmo outras opções. Consolidados os resultados do OE de 2016, e as perspectivas do 2017, com discussão, negociação, e aprovação sem tragédias entre os partidos da coalizão e mais, com o CDS assumindo uma ação construtiva no processo o PSD via-se totalmente isolado, e passaria a ter que participar com propostas, para isso fora eleito. E agora que caminho tomar?  O que ocorreu-lhes foi anunciar a aparição do diabo para qualquer instante antes da proposta de orçamento para 2017 ser anunciada, que seria a primeira vez na história que o diabo seria um salvador, pelo menos para o PSD seria, e esse erro de insistir na espera do falhanço de uma estratégia que ia funcionando, e, pelos vistos vai continuar a funcionar, foi, é, a expressão de seu descrédito, que se traduziu logo nas sondagens, onde o PS sozinho sobe dez pontos, e assume a liderança passando a mais votado, passando a ter o que tiveram PSD-CDS juntos.

Pois bem, se se mantiver a tendência, isso é igual a maioria absoluta em 2019, o que até seria bom para o PSD, porque seria um retorno à velha situação, com o PSD voltando a ser o que sempre foi, uma opção, a opção à direita, mas não de todo a que sempre foi, mas sempre melhor, porque como está não existe, e o seu número de deputados eleitos irá cair drasticamente. Mas nunca será opção o seu atual líder, o que é o outro grande problema.

Esse é o grande boi sem nome que permanece e que será indesejável seja de que modo for, por isso começa a haver algum movimento dentro do seu partido. Vejamos porque: 1º porque na condição de êxito de António Costa, não é do PS, porque o partido PS inclui outras opções, que talvez não sejam, não fossem, de êxito, o contraponto político só pode apresentar como defeitos, o custo desse êxito, que são os buracos no Estado Social, as falhas na saúde, nos pagamentos devidos, as cativações, a perda da proximidade do Estado ao cidadão, etc... mas nesse âmbito que cara terá Passos Coelho para dizer seja lá o que for? Ele e Maria Luís Albuquerque, os campeões de esmagarem por todos os meios o Estado Social e os salário e pensões.  E se tiverem essa cara de pau, quem ira acreditar nisso? 2º porque na condição, não será de falhanço total, porque a geringonça vem se verificando efetiva, mas de retrocesso nas políticas, digamos, Passos Coelho é sempre símbolo de políticas piores. 3º. No caso do PSD, como propõe o Presidente da República, posicionar-se para assumir um papel de coadjuvante, o que seria sempre um papel secundário, o que o atual líder nunca aceitaria, porque já tendo sido primeiro ministro, não está moldado para ser o segundo em nenhuma situação. 4º. Num processo normal eleitoral, onde cada partido irá defender sua dama, que é o que se antevê como o mais provável, já tendo mesmo Gerônimo de Sousa falado que esse acordo não é para durar, ou seja os diversos partidos da coalizão se apresentarão como quem tem o trabalho resolvido, missão cumprida, e, agora, nas eleições, se discutirão as propostas para o futuro. OK! E vão a votos cada um por si. Que novidade trará esse PSD de Passos que seja credível ao eleitorado, para além daquele que lhe é fiel? Como crescer? A única criatura que não tem rosto para falar de futuro é o líder da Paf. O outro, que também não teria era o Dr. Paulo Portas, mas esse inteligentemente viu logo o futuro, e arrepiou carreira.

O que resulta disso tudo é que o Sr. Pedro Passos Coelho está morto eleitoralmente, e só ele não vê. Esse o boi que deve ser nomeado como carne morta, que não serve para nada, nem para um talho, porque tóxica.

Quem viver verá.



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