segunda-feira, 19 de junho de 2017

Os mártires da EN 236.








Mártir - Pessoa que sofre tormentos ou a morte  por uma crença, uma ideia, ou uma causa.


Os autos de fé que terminavam geralmente com muita gente na fogueira, onde estas eram a representação do inferno na Terra para que todos vissem, foram a maneira pela qual a inquisição punia aos 'negativos', aos 'hereges formais' e os taciturnos maléficos'.
Acusação: <<Uma bezerrinha de marfim que tinha as pernas quebradas e os corninhos espontados>>

- Adesão absoluta do espírito àquilo que se considera verdadeiro. Religião, culto.

As atitudes humanas, todas, sem excessão, têm consequências. Umas boas, outras más, dependendo da perspectiva e dos resultados que elas provoquem, e para quem elas os provoquem. O que se passou na estrada nacional 236, com o resultado dezenas de mortos, foi um martírio para os que morreram nas condições em que morreram. Horror absoluto, Deus tenha pena de suas almas, Deus possa consolar os que os perderam.

Colocadas essa premissas, a análise do ocorrido leva-nos a nenhuma outra conclusão que a da estupidez dos fatos, da inocência das vítimas, da inculpabilidade dos responsáveis, da absoluta necessidade de se modificar a situação para evitar a repetição desses autos de fé. Chamo-os assim, porque tais, como os da inquisição outrora, essas ocorrências atuais terminaram com a queima nas chamas de inocentes, e só traduzem a estupidez humana, onde certamente, bem sabemos, haveria, segundo a presunção, 'negativos', 'hereges formais' ou 'taciturnos maléficos', onde na verdade só há inocentes, que, por ação de forças alheias, são transformados em mártires nessas circunstâncias abstrusas. Assim como o menino que brincava com a bezerrinha de marfim, que, por faltarem-lhes as pernas e ter as pontas dos cornos aparadas, foi associada a um objeto de culto demoníaco, inculpando toda a família do menino, que por isso foi queimada na fogueira. Esta a fé daqueles que só conhecem absurdos.

Os mártires resultantes das tristes ocorrências da EN 236, sofreram seus tormentos, por uma crença, uma ideia e uma causa que tem um único nome: Portugal profundo, que todos os anos arde, porque é de sua natureza arder, esse que dá unidade ao país, que lhe dá espaço geográfico, e que guarda um baixo percentual da população portuguesa, que responde pelo que podemos ainda chamar de espaço vital do país, que já pequeno, sem eles, seria miserável. Essa brava gente esquecida que existe para lá de todas as dificuldades e desconfortos, numa desproporção hercúlea, que merecia outra atenção.

Agora com os mártires da EN 236 vão discutir muito essa situação, vão haver debates, simpósios, comissões, espero que haja também solução satisfatória.





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