quarta-feira, 14 de junho de 2017

A síndrome africana dos 21 anos.





Escrevi para o El País um pouco antes de no primeiro mês do segundo governo Clinton, avaliando a importância de nos voltarmos para África, quando logo em seguida os EEUU tentaram estabelecer pontes com África para promover oposição à China que se ia instalando em vários países africanos, com multiplices negócios e assistências técnicas e científicas, e também promoções de intercâmbios culturais, visando estabelecer relações com países que somados formam, em todo o continente africano uma população de grande expressão numérica, que, com um pouco menos gente do que a China, é um sexto da população mundial hoje (*), e em expansão, sendo que a expansão africana será maior, e conforma um mercado onde 'tudo' está por fazer.

África vive de esperança, precisa da esperança, é no futuro que se há de realizar, porque é ainda um continente onde tudo que deve haver para o bem estar e a saúde das populações ainda não foi feito: saneamento básico, água de qualidade, limpeza, instalações sanitárias, hospitais e tudo tocante a saúde, controle alimentar, produção agrícola de qualidade e suficiente, ainda não existem em África de forma generalizada e bastante para décadas de esforço e contínuo trabalho.

Tudo está por fazer.

Na Europa as populações ficam cada vez mais velhas e em menor número, uma convergência desastrosa para o financiamento do Estado Social, em África simplesmente não há Estado Social, e em muitos casos não há Estado mesmo. A complementaridade entre os dois continentes, e a oportunidades que essa cria, era do que tratava eu quando escrevi para o El País, via o quanto podiam se ajudar, África e Europa, mas eu era um visionário, e a visita de Clinton, logo depois, confirmava minha boa antevisão, mas é claro que ninguém me ouviria, apesar das cartas que escrevi, e, como ademais as pessoas não estão dispostas a se ajudarem, nem que seja com o interesse de no futuro poder contar com esses a que ajudaram como seus parceiros comerciais, pois que o capitalismo exige contínua expansão, e quando África passar a contar como um local de grande consumo e de riqueza econômica estruturada será equivalente a China, e será vista como um conjunto emergente de países, hoje ainda não é nada e continua uma promessa, mas a China vai conseguindo com a sua visão de futuro (Leia a crônica A China vê o futuro, aqui no blog) ir criando progresso e parcerias, e estabelecendo trocas comerciais promissoras. É claro que muitas das empresas comerciais americanas e europeias não conseguiram ultrapassar as dificuldades de várias ordens que implicam comercializar com Africa, abandonando, ou não conseguindo  iniciar, o comércio com os povos africanos, diferentemente da China que com mais paciência se vai estabelecendo.

Esses povos tem uma faixa etária média, todos juntos, de 21 anos! E, portanto, acabam de entrar na maioridade civil, tendo pela frente toda a vida, que será tão mais longa quanto melhores condição tiverem, com mais Estado Social, com melhores condições para as populações, esse mesmo Estado Social que levou a Europa a envelhecer com cada vez mais expectativa de vida para as suas populações. E esse mesmos vinte e um anos que trazem em si inúmeras promessas, trazem também sintomas que constituem uma síndrome, uma vez que estabelecem condições que são uma série de exigências a atender, e dessa contradição conjunta que agrega todas as esperanças e todas as necessidades num mesmo ambiente, exige respostas, todos os tipos de respostas, a necessidades instantâneas que a cada segundo se manifestam nesse universo agitado de um sexto da população mundial dispersa por um continente que terá de encontrar seu destino, um continente com falsas fronteiras, com múltiplas etnias, línguas impostas, ódios latentes e manifestos, barreiras artificiais que criaram o que hoje chamamos África de forma falsa e tremenda, conformando impossibilidades que terão de ser ultrapassadas por mais impossíveis que possam parecer.

África tem todas as riquezas, todas as condições materiais e humanas para se estabelecer como um continente pujante, lá estão todos os minerais, todos os solos, todas as vegetações, todas as condições climáticas, todas as populações, gente com sede de sucesso, esse que é futuro só alcançável com assistência técnica, científica e financeira que permitam às riquezas naturais e ambientais se transformarem em progresso, uma vez estruturadas e consolidadas como matrizes do desenvolvimento, sobretudo o humano, que pela ação exógena que sempre minorizou África e os africanos, como se de crianças se tratassem, e como crianças as exploraram e tiveram, e têm, suas riquezas apropriadas, restando-lhe o enorme vazio da falta de tudo, essa condição tão africana que deve ser ultrapassada agora com sua nova condição de, no começo do eixo da curva do desenvolvimento econômico, virem a assumir, com sua maioridade civil, impulso que lhes permita entrar definitivamente no compito das rotas do progresso e da riqueza.

Em transformar as dificuldades em oportunidades reside o remédio, que a China lá vai aplicando, mister é promover as condições que levem o grande continente a superar sua síndrome dos 21 anos.







(*) Africa = 1.2 bilhões
      China = 1.3 Bilhões
      Mundial = 7.2 Bilhões.

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