quinta-feira, 8 de fevereiro de 2018

Os plásticos são uma presença do passado, são fantasmas bem presentes.





Não se degradam, se pulverizam muito lentamente, demoram séculos, alguns mais de meio milênio. Um jornal demora entre duas e seis semanas. Os plásticos por definição não são biodegradáveis, são entretanto bio-pulverisáveis, o que significa que as ações dos elementos naturais conjugadas os vão partido em partículas cada vez menores até que não são mais perceptíveis no ambiente, entretanto estão lá, aos pedacinhos, em porções tão pequeninas que parecem não poderem fazer nada de mal, mas não é bem assim.

O  título de nosso artigo indicía porque é perigosa a presença dos plásticos. E o maior perigo está que como eles estão presentes nos alimentos, nossos e dos bichos, sobretudo naqueles bichos que comemos, os plásticos se acumulam ao longo da cadeia alimentar havendo concentrações sempre maiores daquelas partículas em animais com alimentação mais diversificada, mais velhos e nos que comem outros animais, como é o nosso caso, e uma vez impregnado em nosso corpo não é eliminado, haverá certamente um efeito nocivo de uma presença alienígena, exógena em nossos tecidos e órgãos, porém como ainda não se verificou nada de extraordinário, e como essa dispersão ainda não tem a distância temporal necessária para podermos avaliar bem qual poderá ser sua nocividade, e para que os efeitos se manifestem, nada sabemos ainda.

Os plásticos são um derivado do petróleo, muito bem, até aí todo mundo sabe; mas o que é o petróleo? É a matéria orgânica inorganicamente estruturada por centenas de milênios de evolução lenta. São os materiais que a natureza criou como folhas, ramos, frutos, sementes, troncos de diferentes tipos, e os muitos animais, que viraram pasta num dado momento, por conta do passado geológico do planeta, talvez quando acabaram-se os dinossauros, ou talvez quando houve um fenômeno que prendeu suas carcaças num ambiente sem oxigênio. Ou seja aquelas cadeias químicas longas formadas pela natureza, como são a da flora e da fauna, a partir dos minerais em combinações complexas, com milhões de anos da ação de outros agentes naturais, e sob condições especialíssimas, porque ficaram retidos em grandes áreas subterrâneas, que formaram os lençóis de petróleo que estão nas áreas onde hoje se abrem os poços para bombea-lo e darem as utilidades que modernamente encontraram para ele, fracionando o óleo em vários e diversos  produtos, como os muitos combustíveis que dele são produzidos, diesel, gasolina, os muitos querosenes, óleos lubrificantes, os mais diversos subprodutos, etc.. até o isopor, que em Portugal chama-se esferovite, que é como uma sua espuma solidificada, passando por inúmeros tipos de plásticos e similares que podem ser dele extraídos. Como vêm o petróleo é uma matéria muito complexa que se subdivide, logo seus elementos de formação eram também muito complexos, e tudo demandou uma porção imensa de tempo para acontecer, não se pode esperar que vá 'des-acontecer' em pouco tempo, e nós que habitamos presentemente o planeta não dispomos do tempo necessário para esperar que tudo se reverta, se é que essa reversão é possível. Logo o petróleo é um fantasma que por aí anda, e da mesma maneira que os materiais radioativos deveríamos ter muito cuidado ao lidar com ele.

A segunda metade do século XX vai ficar na história como o período do plástico, quando sua utilização e consumo subiu em flecha sempre e sempre, até que tornou-se uma desgraça ambiental, não se degradando e se acumulando, estando em todo o lugar, poluindo tudo, sobretudo os oceanos, com os mais diversos tipos de poluição, inclusive a visual. São dezoito milhões de toneladas todos os anos que os europeus jogam no ambiente onde permanecem, pois há outros oito milhões de toneladas que são recicladas anualmente na Europa, posto que o total dos refugos nos diversos países da União atinge os vinte e seis milhões de toneladas, é uma enormidade. Essa medida que a União Europeia agora toma em proibir o uso do plástico em embalagens, como o seus outros usos em que possa ser descartado, marcando como data para seu fim o ano de 2030, é a medida mais sábia e meritória dentre todas as que a União tomou a nível comunitário, co-obrigando a todos os seus membros. As pessoas e as empresas encontraram no plástico um elemento de comodidade e facilidade, por exemplo quando dão uma festa e não usam a louça, os talheres e os copos, que depois têm de ser lavados e guardados, não, preferem usar tudo em plástico que depois jogam fora sem terem mais nenhum trabalho que o de porem tudo na lixeira - ponto de entrada - porém todo esse 'conforto' do dono da festa vai ser a trabalheira da municipalidade, dos governos e de outras populações, pois esses plástico acaba num grande lixão, ou local de despejo - ponto de saída - e lá se acumula, e se acumula, porque não se degradam, tornando-se uma presença incômoda, alto preço pago pela comodidade de não terem de lavar uns quantos pratos e copos, e a indústria fez o mesmo quando acabou com as embalagens de vidro em muitos produtos, optando pelo plástico. Lembram-se os mais velhos do leite ser comercializado em vidro, muitas outras bebidas também deixaram o vidro migrando para o plástico, como muitos líquidos que se comercializam agora em plástico, eram comercializadas em vidro, e a manteiga deixou o papel para o plástico, e muitos lacto-derivados da mesma forma, não todos, porque a sua preparação exige no processo de fabricação, temperaturas que deformam o plástico, mantendo-se o vidro portanto, ou passando-se ao alumínio. A segunda metade do século passado foi a de uma migração para o plástico como nunca se viu, por suas qualidades higiênicas, sua maior leveza, sua fácil manipulação e preço barato, seduzindo os mais diversos setores a optar pelo plástico como embalagem.

MICROPLÁTICOS

Quando você lava sua roupa, ou freia se automóvel, está liberando microplásticos. A abrasão no pneu libera partículas invisíveis que irão se juntar à poeira urbana, que acaba toda no mar. As fibras sintéticas das roupas soltam-se com a lavagem e seguem com sua água, e vão acabar também nos oceanos. A poluição do microplástico traz consigo uma desgraça acrescida, é invisível, e só os pesquisadores podem nos dar conta de sua grandeza. Quem ler o relatório da IUCN - International Union for Conservation of Nature -ficará aterrado, pois passará a saber que já um terço das milhões de toneladas que poluem os oceanos são microplásticos, e nós não as/os vemos, e fizeram todo um trajeto que não podemos impedir. Foram pelo ar, ninguém pode parar os ventos, foram pela água driblando os filtros mais apertados que usamos para as águas residuais, pois são minúsculos. Porém o número que nos assusta é que essa quantidade é tão grande, a invisível, que equivale a uma bolsa de plástico jogada nos oceanos todas as semanas por cada um dos oito bilhões de seres que habitam o planeta, é uma enormidade, e continua a se acumular, de tal forma que em três décadas poderemos ter mais plástico que peixes no mar. Portanto como nada pode ser feito no ponto de saída, porque essas partículas são tão pequeninas que não as podemos manipular, temos que fazer algo no ponto de entrada, ou seja evitando que elas entrem, e para isso é necessário que elas não existam. Essa primeira barreira que a UE põe restringindo o uso de microplásticos é um começo absolutamente necessário, mas insuficiente, porque com sua acumulação primária nos oceanos e a sucessiva na cadeia alimentar, não sabemos ainda que perigos esconde, podendo alterar o metabolismo dos animais, atuando em seus sistemas digestivo e reprodutor.  E há nos plásticos muitas outras substâncias perigosas, como o Bisfenol A.

Reciclável e reutilizável

Como há toda uma indústria com numerosas fábricas de plásticos, sendo este um setor importante da economia, sua eliminação acarretaria sérios problemas laborais e econômicos, porém o maior problema é que a quase totalidade dos alimentos são embalados em plástico, ou têm uma sua participação mais ou menos expressiva no processo, sendo necessário bom tempo para a reversão dos meios de embalagem empregados, o vidro, o papel, o cartão, o alumínio, são as outras opções a serem introduzidas, ou re-introduzidas. A outra solução é que as embalagens sejam reutilizáveis, em alguns casos, poucos, podendo voltar ao fabricante do produto adquirido, na maioria terão outras utilidades domésticas, não sendo desta forma jogadas no lixo. Por fim a mais difícil das soluções, a da recuperabilidade, onde o material da embalagem plástica poderá ser reciclado em novo plástico, evitando sua dejeção, dando-lhe um novo ciclo de vida. E é pela positiva que a UE está planeando sua interferência nessa vertente, aumentando o lucro dos que reciclam, com maior preço na tonelada reciclada, ao mesmo tempo que pretende aumentar a eficiência da reciclagem, pretendendo impulsionar a pesquisa com a destinação de 100 milhões de euros para que se procure encontrar plásticos mais inteligentes e recicláveis.

Bisfenol A

É cancerígeno, reduz a fertilidade humana, gera problemas cardíacos, está presente em mais de três quartos dos plásticos produzidos, os ingleses têm 90% de seus adolescentes contaminados com o bisfenol A.

Finalmente depois de décadas de alerta dos ambientalistas, e de muitas atividades que visam aumentar a consciência ecológica e denunciar a inconveniência do plástico no ambiente, essa ressurreição maligna de uma matéria em aparição fantasmagórica de estruturas que o tempo havia transformado em petróleo, e que o homem transformou em muitas coisas diferentes, inclusive nessa perigosa aventesma que assume muitas formas 'plásticas'.

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