sexta-feira, 11 de outubro de 2019

O segundo premio de Chico Buarque. A luz e a sombra.







  "O meu pai era paulista/ Meu avô, pernambucano/ O meu bisavô, mineiro / Meu tataravô, baiano"
                                                                                                                 'Paratodos'  Chico Buarque.

Para quem não sabe, Francisco Buarque de  Holanda, é um bem nascido, seu pai, Sérgio Buarque de Holanda, foi o maior historiador de seu tempo, intelectual de profunda formação humanista e com cultura vastíssima. Maria Amélia Cesário Alvim, sua mãe, era uma intelectual de grande pujança, tendo, pai e mãe, se amado, tanto na alma, como na mente, fruto desse amor, nesse lar, nasce o menino Francisco. Para mais os Buarque de Holanda são uma família com profunda ligação acadêmica desde suas mais remotas origens, sendo seu avô, Cristovão Buarque de Holanda, professor universitário ainda no século XIX, portanto são séculos de cultura ativa na família, assim como de políticos, governadores, deputados. E de estudiosos, de escritores, de gente que construiu o Brasil, criou universidades, e criaram um país com futuro. Os Cesário Alvim, da mesma forma, é um clã de políticos, também com deputados, governadores, senadores. Poderíamos incluir aí os Costa Carvalho, e muitos mais outros, mas basta, o sangue que corre nas veias de Chico, como todos sabem, é impossível ser de melhor cepa. Deixo, desse modo, em rápidas pinceladas a genealogia de Chico Buarque.

Agora o próprio Chico é doutorado pela USP, e, o mais importante tinha em sua casa, desde sempre, a intelectualidade brasileira, os amigos de seu pai, com quem convivia. Ganhou vários Grammy, prêmios de toda ordem, além de ser uma personalidade mundial. E atingiu tudo isso remando contra a maré. Porque Chico não pousou de bom moço, como lhe teria sido muito fácil, tendo nascido, onde nasceu, e tendo o berço e os contactos que sempre teve. Não! Chico se opôs a ditadura militar, e aí o busílis do segundo prêmio, lutou contra a ditadura e pagou o preço, exílio, prisão, afastamento do apoio estatal, como é óbvio.

Pois bem, isso não o impediu de ser um sucesso mundial por mais de meio século, não foi algo que aconteceu e acabou, não, está aí, em todo o mundo, a alegar e comover as pessoas, sendo um dos maiores nomes da música popular em todo o planeta, mas não lhe foi bastante. Revelou-se também dramaturgo, teatrólogo, escritor, poeta. E, entrementes, trabalhando em suas canções, ficou rico. Tudo junto é uma dose letal para a mediocridade de alguém como Bolsonaro, que do outro lado da trincheira, apoiando a ditadura que nós combatíamos, viu o reconhecimento mundial de Chico Buarque, o que, como as sua próprias canções diziam muitas vezes, era uma bofetada na ditadura, a mesma que Bolsonaro sempre defendeu.

O próprio prêmio Camões, motivo de recusa em o homologar, sem justificativa, por esse energúmeno, mal nascido, um ignorante, filho e neto de ignorantes, sem cultura, sem história, sem valor, e, mais que tudo, sem noção do cargo que ocupa, um capitãozinho do mato, não direi do honroso Exército Brasileiro, esse ao qual a minha família deu tantos oficiais, a maioria generais, não o posso dizer, porque esse cabra, só por descuido conseguiu ser capitão, e esse descuido tem um nome: DITADURA MILITAR.

Pois o escolhido pela intelectualidade lusófona dos dois hemisférios, é Chico, que por todos os méritos, não precisa de mais nenhum prêmio, nem do valor monetário do prêmio, mas que é escolhido justamente como uma resposta mundial ao que se passa no Brasil, ter a escumalha ignorante no poder.

E o incômodo foi de tal ordem, que o capitãozinho não conseguiu cumprir com seu dever, além do mais um dever internacional, o de homologar a vitória de Chico Buarque ao Prêmio Camões, o signo do grande poeta da língua, da raça, e da portuguesidade. Desse modo, concedendo um segundo Prêmio, como de pronto o entendeu toda gente, e ademais o declarou o premiado. Porque ao negar a aceitar a premiação, sua lógica, seu valor, sua importância, revela o quanto esta premiação o admoesta. E esta a medalha final para a vida deste homem que sempre pugnou, não se afastando nunca de fazer oposição aos torturadores, aos vendilhões do Brasil, que, por um momento de equívoco, voltaram agora a Brasília. O prêmio é ao Chico que defendeu, cantou, valorizou, e glorificou o Brasil do trabalhador, dos operários, dos negros, dos mulatos, de todos os que buscavam espaço social, desde as Genis, aos faroleiros "que contavam mentira" passando por toda a sorte de gente, e que, ninguém como Chico, entendeu que eram o Brasil, e, como tal, por serem todos representações da pátria, mereciam todos, sem exceção, reconhecimento e espaço, espaço político, o que é algo que pouca gente compreende da necessidade em reconhecer.

Este episódio é mais um marco na luta da Luz contra as sombras, essas nas quais se tecem as misérias da gente trabalhadora, promovendo sua exclusão e opressão. Mas nós estamos calejados de que temos de lutar, às claras, junto com a voz do povo, como as canções do Chico, com seu destemor, com seu apreço poderoso pelos simples, e sabemos que A LUTA CONTINUA, porque os agentes da escuridão movem-se nas sombras que veneram, para tentar esconder a Luz, mas, como sempre, a Verdade, a Dignidade e a Claridade, vencerão. Viva Chico Buarque! Viva o Prêmio Camões! Viva Portugal! Viva o Brasil!   
 

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