quarta-feira, 11 de março de 2020

De pandemias e pandemónios (futurologia).





       

                                                                               

>>>> Escrevo esta crónica como se já estivesse terminada a crise do Covid 19, faltava ainda ser decretada (já era entendida por mim) como pandémica, e foi decretada como tal na tarde de hoje, 11/3/2020.<<<<<

>>>> Alguns dos meus leitores me perguntaram, já várias vezes, se eu vivo num mundo paralelo, face à minha recusa em comentar casos banais, mas que, por vezes durante semanas, dominam o noticiário, como se eu estivesse ausente, ou deles não me desse conta, portanto para não passar por cima da crise do Covid 19 como gostaria, e para a qual, como para outras tantas, não pretendo contribuir, vou, então, fazer um pouco de futurologia para tentar demonstrar o descompasso, a desproporção que dão às coisas, e o desassossego (*) por falta de paz interior das pessoas, pela sua falta de contenção verbal e psicológica, e por fazerem ações desnecessárias, terreno fértil para que o tumulto se instaure. <<<<<

(*) Homenagem que faço a Fernando Pessoa com o emprego da palavra.

De pandemias e pandemónios (*).

E de Panegíricos e pânicos. Uma história com muitas possibilidades.

"Global panic" diz o The New Yorker de 2/3/2020.
"Wall street em queda livre. Dow Jones afunda máximo histórico..." Jornal Económico 9/3/20.
"... catastrophic Covid-19" diz o Literary Hub (Nem o Literary Hub escapou ao corona) em 11/3/20, desejando que a experiência nos tenha ensinado. (Ensinado o que?)
"... a vida está em suspenso..." diz um jornalista que não merece muito crédito no Expresso 11/3/20.

Há coisas tão distantes e tão próximas. Rochedos e ostras, céus e marés, alfinetes e horizontes. Já vivemos todas as coisas, ou não? Veremos muitas coisas  estranhas à conta do vírus!

Surgido intempestivamente, muito activo, mas não muito violento, ou seja muito contagioso, mas pouco virulento, portanto não fatalmente mortal em larga escala, mas, por sua capacidade de propagação, pandémico, eis o novo coronavirus.

O poder de transmissibilidade de um vírus determina a pandemia, juntamente com a incúria em preveni-la, o atraso em medidas essenciais, a pouca capacidade de prevenção e higiene das pessoas;  na gripe esse poder é de 1 a 2 infectados por agente transmissor, no Covid 19 é de 2 a 3, exponenciando o contágio ao longo da cadeia de transmissão, porque cria outras vertentes de contágio, tendo, portanto, uma dinâmica epidemiológica muito mais rápida e eficaz. Duas semanas para não manifestar-se, (quarentena) 5 a 10 dia
s para ser vencido pelo organismo, 9 dias para o vírus morrer sobre uma superfície qualquer. Espalhou-se pelo Mundo todo a partir de Huwan na China, onde terá surgido, provando os efeitos da globalização em muitos sentidos. Perigoso bichinho ágil!

Um elemento tão pequenino faz o mesmo para que foram necessários exércitos e guerras sobre os campos subterrâneos de petróleo, pondo abaixo o valor desse duvidoso bem transacionado por poucos, e consumido por todos, e ainda um pouco mais. Em 1990 foi a Guerra do Golfo, filha do crash de 87, que jogou os preços, as bolsas, e os mercado no chão, gerando alta volatilidade nos investimentos, com más expectativas esperadas e concebidas, hoje é um microscópico vírus que faz exatamente o mesmo, mostrando sua imensa força, sua capacidade de actuar sobre os equívocos humanos(**). Países inteiros em quarentena. Cidades completamente encerradas. Barreiras levantadas, impedindo o trânsito de pessoas. Histeria. Esgotamento de mercadorias. Boataria e sensacionalismo. Aflição em toda parte. Falta e roubo de máscaras e desinfetantes. Fake-news. Medo por toda parte. Prejuízos enormes para a economia. Bilhões de euros gastos para combater um mal colateral, para compensar o consumo, a falta dele, pois se as pessoas não consumirem acaba-se o mundo. Agressões nas ruas, reações ilógicas. Corridas a Supermercados. E a evidência da importância do pessoal da saúde, em alguns lugares levado a exaustão, quando nunca foi tão evidente como são imprescindíveis, e alguns ganham pouco mais que o salário mínimo, gente a quem louvo pela firmeza da ação, pela prontidão do esforço, pela capacidade de sacrifício, eis o panegírico. Empresas falirão. Empregos se perderão. Médicos aposentados serão chamados. Muita gente morrerá. Enfim, o Corona porá o mundo de pernas para o ar., eis o pandemónio.

(*) Pandemónio quer dizer diabos por todos os lados. (**) Talvez no final venha a ser muito benéfico a nível económico, evitando a crise que se avizinhava.

Comparações:

As diferenças são grandes no Mundo, e as coisas tem aspectos incomparáveis, e sua apreciação, a dos números que as explica, como é fornecida, leva a muitos enganos e más interpretações tantas vezes, e os 'fabulosos' comentadores dos jornais, rádios e tevês, expertos em tudo, dizem enormidades porque sua superficialidade, e a necessidade absoluta em comentar os leva a isso, discutem tudo, o que sabem e o que não sabem, comentam procedimentos de internação (Porque temos nós, leigos em Medicina, de conhecer esses procedimentos, o que importa isso?).

3.000 pessoas na China são 20 em Portugal, uma fração dos que foram esturricados em Pedrógão Grande, e em Espanha são 94 proporcionalmente, ou seja, dois autocarros, mas, finalmente (digo assim face a intensa expectativa dos meios de comunicação) em 2 de março houve dois infectados em Portugal, que entrava para a lista dos países contagiados, e começa então o cerco que pretenderá conter as cadeias de transmissão, mas o corona é  muito eficiente, e lá se irá espalhando pelo país, dez dias depois esse número se multiplicaria por 50, (falo de amanhã) atravessando a barreira da centena, e seguirá em progressão, felizmente logo sem nenhum morto. Na Índia, o segundo país mais populoso do mundo, felizmente houve pouquíssimos casos circunscritos, o que é uma benção, e para quem conhece a Índia, e sabe como será fácil se alastrar uma infecção como esta naquele país, é a grande proteção de Brama (Shakti, suprema divindade.) a salvá-los?

Da escalada do surto.

No resto do mundo espalhou-se e espalhar-se-á, mas houve comportamentos que se revelaram frutíferos, como os de Macau por exemplo, isolar. E houve em outros lugares, onde cretinos sem caráter buscaram esconder a gravidade da situação, permitindo ao vírus espalhar-se livremente. Há de tudo!

Alta volatilidade x Alta volubilidade.

O surto irá seguindo seu caminho, como soem fazer os surtos epidémicos, infectando, criando cadeias de transmissão, matando uns, vacinando outros, e afligindo toda gente, gerando um outro surto muito mais perigoso e crítico, o surto da estupidez. Onde a pressão excessiva da imprensa, a divulgação de realidades sem a mínima importância, como a contabilização ao minuto do número de mortos, e infectados, a desnecessária avaliação de cenários supostos, que todos esperamos que não aconteçam, com questionamentos infundados e imaginários, que só aumentam a incerteza, e com a criação de um clima artificial de crise mundial, disseminando pavor, bem como expectativas irreais criadas, como se fossem-lhe bater à porta com uma bomba de vírus para o infectar. Quando, na verdade, iremos todos sobreviver (MAIS DE 99,9% das pessoas.), sendo que todos os anos as guerras que se mantêm activas geram muito mais mortos, e a imprensa não faz uma pressão dessa. Posto que é inevitável, a estupidez humana que comanda o mundo, cria verdades inexistentes, gera ambientes anormais, promove realidades abstrusas, levando muitos à histeria.

Entre todos os mais histéricos são os mercados, que 'electronizados' e 'algoritimizados' (permitam-me os dois neologismos) refletem com velocidade as reações, eis a volatilidade, fruto da estupidez da vontade que os impulsiona, a dos homens que investem seus dinheiros, essa matéria tão sensível da fisionomia dos investidores, eis a volubilidade. Onde a lógica e a serenidade deveriam imperar, mas onde vemos darem rédeas ao medo, e, muitas vezes, à histeria colectiva, o que deveríamos aprender a evitar, eis o que nos deveria ensinar essa experiência. Cobrará seus custos económicos a todos.

E vai ensinar mais porque vai paralisar o planeta, mas logo uma vacina dará cabo do vírus.

Irrisório e irrisor.

Diz-se comummente: 'Seria cómico, se não fosse trágico' para evidenciar uma patetice que levou a uma desgraça. A estupidez que grassa por toda parte, sem noção do ridículo, o elemento irrisor, leva a desproporção das atitudes em que a grande maioria dos seres humanos se lança, quando a reação mister, serena e inequívoca, é de pequena monta, o elemento irrisório, mas que, agigantado pelo profundo desequilíbrio interpretativo do que realmente se passa, ganha e confere dimensão inexistente. É assustador verificar a tendência humana para o precipício, e o facílimo contágio do desespero, assim como o do riso. 

Na verdade o surto pandémico será muito menor (eis a futurologia) que o surto pandemónico.

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