terça-feira, 31 de março de 2020

Para louvar a Dra. Graça Freitas.



Louvar, e defendê-la da maledicência e incompreensão de que é alvo.

Imaginem-se por uns minutos no lugar da Senhora. Dia e noite, sem horário, com uma responsabilidade imensa, porque qualquer erro seu pode redundar em morte, essa palavra incontornável que se opõe à vida, que a Sra. Dra tenta defender, a de todos nós.

São milhares de avaliações à medida que a pandemia evolui, e há mudanças a cada instante, e ela tem de se adaptar, evoluir naquilo que pensa, e tomar milhares de decisões, dentro de limitações que haviam e das que há para ultrapassar, são problemas de toda ordem, a maioria para além das possibilidades de dar combate de qualquer ser humano. Mas nunca vimos a Sra. Dra. reclamar, ou se mostrar impaciente, ou revelar qualquer hostilidade, é sempre um lago sereno de águas paradas. Quando muitos energúmenos, por muito menos, se põem em armas, ou em bico dos pés, para afirmar seu enfado, e intolerância, ou sua supremacia no entendimento dos problemas. Só quem teve responsabilidades ingentes poderá avaliar ou conhecer de suas dificuldades, e poderá admirar-se de seu equilíbrio e controle, quando a maioria não consegue, e se exaspera. Não, a Dra Graça com uma paciência de santa, com uma tranquilidade única, porque sabe que qualquer desequilíbrio seu repercute na emoção de milhões, portanto tem de manter-se absolutamente calma e senhora de si, ultrapassando qualquer tremor ou agitação que poria tudo a perder.

E há tantos imbecis a discordar da senhora, gente sem a preparação e sem as informações misteres, atacam-na porque ela é o alvo. Até alguns mais lúcidos, como o presidente da Câmara do Porto errou, se queria não concordar com as decisões da Diretora Geral de Saúde, telefonasse à senhora, enviasse um e-mail, uma carta, mas nunca ir desacatá-la publicamente, como inúmeros imbecis o fizeram, não entendendo a gravidade do momento, mas que se pode esperar de uma Cavaco? De um Moura? De um Chicão? Gente que só sabe contestar e procurar oportunidades políticas para aparecer, desesperados por proeminência. Gente lastimável em todos os aspectos.

Quero fazer aqui um apanhado ficcionado de um dia da Senhora. 0 h e 20 minutos, tendo acabado de entrar em casa, já lhe ligam de um hospital do Porto a pedir mais gel, porque acabou tudo. A 1h pedem orientação sobre como reagir a um problema em um lar de idosos, onde há grande número de infectados, a Senhora Doutora que já havia começado a dormir, levanta-se, faz vários telefonemas, faz cálculos, pede mais informações, acorda um ou dois ministros, e consegue a solução, então volta a informar aos que esperavam a orientação, e tem tudo resolvido, pensa voltar a dormir. Vê, então, que ainda tem duas chamadas não atendidas no telemóvel, retorna-as, mais problemas, encaminha-os na esperança de poder, enfim ir dormir, volta para cama, já passa das três da madrugada. Busca o sono, sabe que tem de sair as seis, pois às 8H terá reunião com a Ministra da Saúde, e tem de ter muitos dados para esta reunião que ainda falta colher, para dar seguimento a muitos assuntos que ficaram pendentes, e se vão acumulando, e terá de dar resposta no dia. Acreditemos que conseguiu dormir duas horas e tal, toca o despertador: 6H, tem de higienizar-se, vestir-se, fazer o pequeno almoço, que poderá ser seu almoço afinal, num longo dia que a espera, e sai em busca de dados, muitos dados novos de medidas que deixou encaminhadas. 8H reunião com a ministra, muitas outras medidas para serem tomadas e encaminhadas, telefonemas, informações e solicitações dos secretários de Estado, reuniões, quando se dá conta, está já na hora do primeira conferência de imprensa, revê os dados mais atualizados, e vê curvas, números, e os dados anteriores, e os checa, e re-checa, para os poder passar ao país.

Por volta das 14H tenta comer qualquer coisa, uns dias consegue outros não, tem uma série de medidas esperando sua ação, que vão desde o simples encaminhamento, até sua reformulação, e logo tomar resoluções, ou contactar outros membros do governo no sentido de poderem avaliar qual a mais conveniente medida em cada caso. E há uma infinidade de assuntos que querem sua ação.  Quando ainda não despachou nem metade, vem a assessora dizer que está na hora da segunda conferência de imprensa do dia e que já estão no seu telemóvel os dados mais recentes. Os analisa porque tem que informar ao país, e responder às mais imprevistas perguntas. Terminada a rodada de imprensa, lembra-se que tem muitos ainda esperando um telefonema seu. Pega na lista de recados e contactos para os responder. A secretária vendo que ela quase não comeu nada desde cedo, traz um sanduíche com um sumo de fruta.  Quando termina já passa já passam das onze da noite e tem mesmo fome, além de extremo cansaço. Deve ir para casa tentar comer e descansar para poder aguentar o dia seguinte que será igual, ou pior. Não consegue, ainda tem gente esperando para lhe falar. Despacha tudo que ainda tem de resolver, e só consegue chegara casa por volta da 1H da manhã. Quando, já sabemos, outros telefonemas a irão importunar, mas tem de descansar e se manter.

E as pessoas só têm críticas e dedos apontados à Senhora! Mas a verdade é que partiu dela a estratégia para conter a pandemia, e é a ela que todos reportam para saber as medidas a tomar. É com ela que a Ministra da Saúde tem de discutir e analisar todos os atos, bem como os diversos secretários de Estado é nela que se vão apoiar para tomar deliberações, e ela tem de consultar os técnicos, os especialistas, os matemáticos, o pessoal da sua direção geral, das Universidades, dos centros de pesquisa, do país e de outros países, para conhecer da evolução, e dialoga com inúmeros colegas, institutos, laboratórios, hospitais, empresas, diretores regionais, para avaliar terapêuticas, e métodos, e ponderar caminhos e descaminhos que lhe são sugeridos por toda gente, e deve contactar autarcas de todos os lados, aos privados da área da saúde, e ainda os do terceiro setor, para ajudar e pedir ajuda, coordenar valências, planear e discutir os Planos da emergência, os de contingência, os de prevenção, de gestão, de resposta, e de circunscrição, com as informações disponíveis, todas muito diversas e mutáveis, e decidir, e decidir, orientar e orientar, e ainda com todos, das demais entidades de saúde ou correlatas, avaliar casos para dar instruções, responder a perguntas, e perguntar, e ponderar uma infinidade de questões e incessantemente decidir, sempre decidir, faça-se isso, não se faça aquilo, a prioridade é esta e não aquela. Irá além da lei às vezes, estamos em regime de exceção com a decretação do estado de emergência, a Dra. Graça tem de assumir o peso de todas as suas decisões, boas ou más, dentro ou fora da lei, da lei que exista ou existiu, bem como da expectativa de muitos, cada qual com seu estado de ânimo particular, e temperamento diverso, com diferentes estados emocionais, lida com centenas todos os dias, e tem de manter o seu calmo e controlado, sempre com boa vontade, segurança e tranquilidade, as que tem de passar ao país. E falar dos mortos e dos vivos, dar conta de contas que ultrapassam tudo e todos, menos a ela, por ser a Diretora Geral de Saúde. E não se pode enganar, não pode esquecer, não pode titubear, muito menos errar, é tudo com ela, todos voltam-se para ela, é a ela que todos perguntam, é dela que esperam respostas, todas as respostas.

E já vai nisso há mais de mês. E sabe que lhe esperam muitos mais meses. Não merece louvor? Merece críticas? Está fazendo mal? Atire a primeira pedra quem se habilitar a fazer melhor!

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