terça-feira, 8 de julho de 2014

A Era do ecrã.



Assim como o século XX, pode, indubitavelmente, ser considerado no tempo histórico, como o século do automóvel, tendo sido o ideal de consumo preponderante e vetor da expansão da sociedade desde que Ford criou a linha de montagem e generalizou o acesso a este produto, sem o qual não se vive bem atualmente, podemos afirmar que, agora, entramos na Era do ecrã, sendo hoje o elemento dominante no cotidiano pelas mesmas razões que o automóvel o foi, porém, neste último caso, é mais abrangente sua utilização, sendo quase uma generalização, posto que com este produto em que sua utilidade tem várias vertentes e diferentes meios de uso, atinge expansões a domínios não pressentidos.

Pessoas com bastante idade têm uma média de seis horas diárias em frente a ecrãs diversos, podendo este número ascender às 11 no caso de certas faixas da população, em média. Em números absolutos há valores que são alarmantes. Estes números médios de 6 e 11 horas representam 25% (um quarto do dia) e mais de 45% (quase metade do dia) respectivamente, do número de horas de um dia pleno e  que se compararmos com as horas disponíveis dos dias úteis (16 em vez de 24, considerando só a vigília) estes valores representam mais de 37% e quase 70% respectivamente. Para os mais jovens que disponham dos diversos aparatos em uso, todos com ecrãs de diversos tamanhos, permitindo-lhes acessibilidades diversas conforme a circunstância, estes valores podem chegar a 80%, dependendo da faixa da população, e até 110%, o que significa que estará roubando parte do tempo diário do sono neste caso, e terá aplastrado todas as outras atividades diárias, desde a alimentação às fisiológicas, muitas delas feitas em frente a um ecrã. Isto é absurdo! É, mas é também um fenômeno de culto que está sutilmente alterando hábitos por toda parte, e criando outros que, com as suas componentes de não dição e sedentariedade são verdadeiramente perigosos, gerando uma nova angustia, diferente daquela de Álvaro de Campos, mas deixando-nos também doidos à frio, lúcidos e loucos, alheios a tudo e igual a todos, da mesma maneira. Estes números mostram-se surpreendentes, quando pensamos que as pessoas têm de comer, tomar banho, fazer suas necessidades, e, imagino eu, olhar a paisagem...o que em muitos casos significa que se alimentam em frente a um ecrã, vão ao banheiro, wc, levando um ecrã, se locomovem olhando para um ecrã, etc... etc...é assustador, mas é assim, sobretudo os mais jovens. Vemos bem isto nos shoppings.

A vida passou a ser o ecrã e o que ele nos traz. Os diversos ecrãs, o da televisão com sua programação destinada a várias faixas etárias em diferentes horários e dias, sua necessária informação diária, e seu leque de opções de entretenimento que inclui uma seleção diária de diversos filmes e documentários para variados gostos; o do computador com seus jogos, suas informações expecíficas, seus meios de comunicação atraentes e dinâmicos, suas músicas, e, mais que tudo, com suas rêdes sociais; o do telemóvel e telefone, utilitário no princípio, mas que reproduz todas as linhas do computador por acesso conjugado, além de estar disponível para a comunicação direta, ao vivo, em viva voz; o dos pads, diversos, os de caráter privado, e o dos diversos serviços públicos que os utilizam, e, seu acesso, se dá tanto na vida privada como na profissional e estudantil de cada um dos implicados, e o dos diversos serviços que os utilizam desde para informar quando chega o próximo meio de transporte à plataforma de embarque, a que você é o próximo da fila. A realidade, agora virtual, conta o que se está a passar na pracinha da aldeia, dispensando o deslocamento até ela, dispensando a inclusão real, desestimulando a ação e criando uma nova forma de estar e de sentir que, penso, perigosamente, está transformando lenta e imperceptivelmente uma maioria avassaladora em outros animais diferentes daquele primeiro Homo sapiens que evoluiu até a Era industrial. Na pós industrial assume uma condição e um 'essere' que o torna outro, menos 'mobilis', menos 'habilis' características fortes do 'sapiens' e muito mais omnisciente e com acesso infinitamente mais alargado, agora praticamente instantâneo e ilimitado (não pesam mais as restrições temporais, espaciais e econômicas preexitentes) podem estar em todos os lugares e saber de todas as coisas, sem pagarem nada e sem saírem de onde estão. Eis a era do ecra!

Graças à mágica do ecrã estamos, sem estarmos, em toda parte, participamos, sem participarmos, de todos os eventos, inclusive dos que não nos dizem respeito, pensamos interagir com um sem número de situações e acontecimentos, em que na verdade não tomamos parte, e somos, destarte, OS AUSENTES MAIS PRESENTES NA HISTÓRIA DA HUMANIDADE! Aonde nos levará a Era do ecrã?




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